Ilustração acima que me inspirou a escrever o texto é da Grazi França
Minha mãe certa vez me disse que eu não sabia fazer nada sozinho. Fiz anos de terapia por isso. Eu realmente não gostava de fazer nada sozinho e por isso, fui presa fácil pra você. Eu estava solitário quando você veio e, aos poucos, cerceou meus pensamentos, reprimiu minhas ideias e dilacerou minha cognição. Esse é o preço que pago por não ter aprendido a fazer nada em vão.
Você veio como tempestade. Mas, na época, parecia um tranquilo por do sol laranja no parque. Andar de mãos dadas com você na trilha lotada era lindo. Mas andar sozinho na trilha vazia é bom também. Pelo menos eu sei que não vai ter nenhum ataque sorrindo.
Agora, vivo o nascer do sol na minha cabeça porque percebo que com você, vieram as nuvens pesadas que nublaram cada uma das imagens do meu coração. E quando eu nublei, você puxou ainda mais as rédeas do seu poder de adoração.
Você calculou milimetricamente cada atitude sua para ser penhasco quando eu era ponte. E você me fazia pensar que essas nuvens e trovões eram parte da mudança. Afinal, o que muda sem temer? Qual amor se ama sem doer? Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?
Você me fazia pensar que você era o sol e eu precisava orbitar ao seu redor como um corpo celeste qualquer que pode entrar em combustão se sair da linha do seu jogo. E eu saí. E eu entrei. Você queimou cada célula minha e fez acreditarem que eu era um monstro cuspidor de fogo.
Eu estava tomando chuva. Levando descargas elétricas de sentimentos difusos. Mas, você dizia que eu era o próprio coração confuso.
Meu bem, eu sei que santo eu não sou, mas também sei que paguei por você muito mais do que você valia, porque o paguei com uma moeda de troca cara demais: eu, à revelia. Eu fui sua moeda na boca, seu troféu, seu réu… Seu álibi e seu baú de insegurança. Uma criatura oca.
Por muito tempo continuei não indo sozinho ao parque vazio. Porque quando te encontrei, flores cresceram nas partes mais obscuras da minha mente, quando te conheci, a tortuosa tempestade começou a cobrir a gente, mas…
Foi quando te deixei, que o sol voltou a raiar novamente.