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Transformei o cabresto em liberdade
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Transformei o cabresto em liberdade

Voltei ao ponto em que tudo terminou e senti o gosto amargo do abandono na boca de novo. Olhei para os meus sapatos, como fiz naquele dia, e senti tudo aquilo voltar. Senti o mundo girar e a náusea aparecer. Com a diferença de que agora ela vinha diferente. Ela vinha com a liberdade.

Aquele dia eu me senti sufocado. Sem ar. Como se não tivesse mais o que ser feito. Como se a minha vida tivesse acabado. Como se eu tivesse um cabresto. E hoje, o que senti foram os ventos frios e reconfortantes da liberdade enquanto minhas tripas se reviravam.

+ A volta do que jamais deveria ter partido

Sei que o gosto amargo é o preço que paguei por ela. Gosto de sangue e sal. Mas hoje não sinto mais o nojo porque você sabe exatamente que premeditei cada passo meu depois daquele dia azul e ensolarado de novembro. Hoje, já é dezembro.

Naquele dia, cheguei chorando em casa e enfrentei meu pai. Dormi o resto do dia. Eu amava aproveitar o clima de fim de ano. Hoje, estou indo para minha casa. Minha. Só minha. Que construi apesar de você, a partir da minha liberdade.

Sabe, naquela época eu pensei que queria ter a autoconfiança que tenho hoje. Eu queria levantar mais alto e me impor. Dizer que você era pouco demais pra mim. Ou que eu era demais pra sua existência de merda. Você sabe que é um fracassado e não precisa de mim pra dizer isso.

Mas, caso não saiba, eu repito. Você é.

Você não se importa com o sentimento de ninguém além dos seus. Você diminui os outros para se sentir maior. Você quer que todos sejam tão pequenos quanto você. Que vida, hein?

Hoje estou aqui, parado. Do mesmo jeito que estive naquele ano. E percebo o quanto mudei por conta de todos os silêncios que você me respondeu. Eu cresci, eu mudei, eu me machuquei. Mas me libertei.

Hoje olho pra cima e vejo o teto, vejo o céu. Antes, tudo o que eu via era minha angústia, o meu cabresto. Agora tenho a liberdade de mãos dadas comigo, não você.

Deve-se viver apesar de
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Deve-se viver apesar de

Tem uma frase da Clarice Lispector de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” que diz que devemos viver apesar de. Que é o apesar de que nos empurra pra frente.

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

+ “O Livro dos Prazeres” abre o Festival do Rio de 2021
+ Resenha: Felicidade clandestina, Clarice Lispector

Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”

E, recentemente, venho pensando sobre trabalho. Apesar de, temos trabalho pra fazer. Todos nós. Alguns trabalham para ter o que comer. Outros trabalham pra ter uma casa limpa. Outros trabalham fazendo terapia. Todos trabalham limpando a bunda. Tudo isso é trabalho. Higienizar, dar brilho, manter… É tudo trabalho.

Existem coisas na vida que são prazeirosas e coisas que não são. E existem coisas que são apenas trabalho. Não são nada, mas ainda sim devem ser feitas. E deve-se viver apesar de.

Encarar o trabalho dessa forma tem feito o trabalho ser mais leve. De vez em quando, me sinto sobrecarregado. Culpado. Triste. Queria viver só sendo escritor de ficção e me sinto mal de ter que escrever coisas da vida real para ganhar dinheiro e sobreviver. Mas isso é manutenção da minha vida social. Manutenção é trabalho. Precisa ser feito, não precisa sempre dar prazer. E nem sempre vai.

Talvez nada na vida sempre dê prazer. É ingenuidade pensar assim. Talvez nem se eu fosse um escritor de ficção em tempo integral tipo o Stephen King, eu teria prazer sempre.

E o fato é que isso me mata. Eu sou comandado pelo princípio de prazer, pelo ID, como chamaria Freud. E outras pessoas conseguem encarar o trabalho apenas como trabalho e viver apesar de.

Eu não consigo. Me mata encarar o trabalho como trabalho e encarar como algo que precisa ser feito.

Precisa ser feito apesar de.

O coração humano é um instrumento de muitas cordas
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O coração humano é um instrumento de muitas cordas

Nicholas – 1:13 AM: Oito horas amanhã. Evite atrasos. Era a mensagem do meu namorado no visor do meu celular que fazia meu coração vibrar de ansiedade. Fazíamos um mês hoje. Um mês que a minha vida tinha mudado definitivamente, apesar dos primeiros passos terem começado meses atrás. Viajaria para São Paulo em algumas horas, eu queria tudo perfeito em mim mesmo. Queria estar impecável, porque ele não merecia menos que isso, jamais.

Ok, eu me atrasei quarenta minutos. Peguei dois ônibus. Porra Gabriel, você não consegue cumprir horários não? Cheguei ao terminal rodoviário e fui à procura dele.

Gabriel – 8:44 AM: Onde você está????? Cheguei.

+ Muito para o meu final feliz
+ Você sabia (e usou isso ao seu favor)

Vi-o vindo ao meu encontro no exato momento em que pressionei enviar. Nick me envolveu naquele seu abraço cheiroso mais uma vez. Feliz um mês. Um mês, cara. Um mês que eu havia contado aos meus pais que estava apaixonado por um garoto. Um mês, que esse mesmo garoto me levou ao cinema e me pediu em namoro. Um mês desde o dia que eu esperei minha vida toda. Um mês que eu era a pessoa mais feliz do mundo.

Vamos comer? Pão de queijo e Toddynho? Eu amava essa combinação mais que qualquer outra. Comemos frente a frente, e, porra, como seus olhos eram perfeitos. Como sua boca era um paraíso. Eu podia observar Nicholas por horas sem nem mesmo pensar em enjoar. Observar cada centímetro da sua pele, cada detalhezinho que eu tanto amava.

Leia ouvindo: Today was a fairytale, Taylor Swift

Embarcamos, finalmente. Não sei como Nicholas se sentia, mas eu me sentia refugiado da realidade quando estava em seus braços, longe de casa. Sabe aquela sensação de insegurança que sentimos quando começamos a sair sozinhos e que sempre nos acompanha como uma pontada interna? Não existia com ele. Não existiam medos, nada. Seus braços ao redor de mim eram tudo o que eu precisava, ali.

A viagem começou tranquila e levou cerca de duas horas. Duas horas de beijos intermináveis, duas horas de ar rarefeito, duas horas de comemoração. Um mês. VOCÊ CONSEGUE ACREDITAR? Às vezes é difícil até pra mim. Sabe, pensa na pessoa que você mais gosta nesse momento. Pensa agora, na sensação de fazer um mês de namoro com ela. Um mês de promessas cumpridas e felicidades plenas. PENSOU? Isso talvez seja 1% do que eu sinto. Lembra que eu dizia que nosso problema é sentir demais por quem sente de menos? A nossa solução, é sentir demais por quem tem reciprocidade. Preenchimento.

Nick e eu temos gostos parecidíssimos. Chegamos em São Pauo para a nossa comemoração, então. Eu sempre fui aquela criança fascinada por histórias. Talvez seja por isso que tenha começado a criar as minhas. Mas era fato que eu sempre gostei de saber de onde as coisas vieram e pra onde elas foram. Eu tinha aquela curiosidade.

Certa vez, quando tinha sete anos, pesquisei uma apostila de cerca de cem páginas sobre histórias em geral. Imprimi, acabei com a impressora da minha tia. Ela não ficou brava, mas me prometeu me levar ao museu algum dia. Eu nunca havia estado em um, até então. Mas o mundo dá voltas e ela nunca foi capaz de cumprir sua promessa. Eu sendo criança, jamais esqueci. Mas crescemos também, e certas coisas ficam para trás.

Quer ir ao Museu da Língua Portuguesa? Tremi, e sem pestanejar, aceitei. Eu finalmente iria a um museu, então? Assim, sem nem me preparar? UAU. Entrei com meu namorado no elevador, e logo estávamos numa sala escura diante de um corredor enorme ladeado por uma televisão de caralhocentos metros. Nicholas me abraçou por trás enquanto eu apreciava aquela visão e tirava umas fotos. Era minha primeira vez em um museu, eu mal conseguia falar. Sabe, não é o museu em si que te deixa sem palavras. É o ato de ter uma promessa cumprida. Talvez não pela pessoa que a prometeu, mas existe o desejo dentro da gente mesmo quando as promessas não são cumpridas. Porque elas criam expectativas. E agora, com ideia de 1% do meu sentimento de fazer um mês, acrescente a realização de uma promessa, com a melhor pessoa na sua vida.

A entrega saiu melhor que a encomenda, não é como dizem? Esperar dói, mas retribui uma hora.
Apreciar museu é uma arte que poucos têm capacidade de fazer. Não são todos que tem paciência para acompanhar a história de uma coisa. Ainda mais a história da língua que se fala. Você pode pensar, assim como eu, que isso talvez seja meio absurdo, impensável. Mas é normal. Extintos são aqueles que são curiosos. E acrescente mais isso na minha lista de sortes na vida: Nick sabia apreciar museu da maneira que eu gostava de apreciar. Ele tinha aquela paciência de me abraçar enquanto eu via algo, dar suaves beijos no meu pescoço e murmurar coisas ao meu ouvido que me faziam sentir infinito. Assim como era o meu amor por ele.

Nosso primeiro beijo foi caloroso ao som de Hozier. Naquele desespero, eu jamais imaginaria que estaria beijando-o apaixonadamente meses depois dentro de um museu sobre língua e literatura. Sim, eu tinha mania de transformar minha vida em episódios que dariam um livro. E cá estou. Sentindo aquele amor capaz de incinerar o mundo ou ergue-lo em glória.

Andamos de mãos dadas por um bom tempo, despreocupados. É ótimo viver em lugares onde a probabilidade de encontrar alguém conhecido é praticamente nula. Andar de mãos dadas foi uma coisa mágica, porque é um gesto que poucos entendem. Trata-se de manter o contato, falar sem palavras. É algo do tipo “quero você comigo, não vá”.

Saímos de lá quando crianças de escolas surgiram por todos os lugares. Não me entenda mal, mas realmente não tem como apreciar um museu lotado. E já tínhamos visto tudo, então pegamos um metrô rumo à Paulista.

Eu gostava de lá, eu costumava dizer para os meus amigos que era um pedacinho de Nova York no Brasil. Podíamos encontrar tudo lá. Eu amava, apesar de nunca ter andado de verdade por ela da maneira com que queria. Eu sempre via todo mundo caminhando em suas melhores roupas, com tempo de ver cada construção diferente, o ápice de ser hipster, talvez. Mas nunca tinha feito isso. Queria muito.

Nick me levou para lá, então, e ia me contando histórias conforme passávamos por lugares icônicos. Eu amava isso nele. Meu vô foi meu contador de histórias preferido da infância, porque ele foi o único – até então – a compreender minha fascinação sobre como as coisas surgiram. Nicholas fazia o mesmo, contava histórias sobre como as coisas sugiram, citava nomes que eu jamais seria capaz de repetir… Eu gostava de vê-lo empolgado contando isso, e juro que tentava absorver o máximo possível do que ele falava. Claro que ficava hipnotizado inúmeras vezes pelas suas feições, mas quem nunca?

Depois de caminhar um pouquinho, fomos para “A” Livraria Cultura. Sim, aquela que vemos nas televisões e babamos pelo tamanho. Quantas vezes já não pedi para meus pais me levarem lá? No mínimo umas sete. Mas poucas pessoas se importam com o que queremos. Nick se importa, e é isso que o faz tão raro. A maneira singular com a qual ele cuida de mim e consegue tirar meus mais sinceros sorrisos. Ele nem precisava se esforçar pra isso.

Fiquei claramente entorpecido pelo milhão de títulos que meus olhos alcançavam. A livraria era interminável, e o cheiro, maravilhoso. Gostou, amor? Esse garoto existia mesmo? Seu recorde de me deixar sem palavras era cada vez maior. Já não sou uma pessoa de muitas palavras, mas sempre soube o que falar. Não agora.
Eu amei. Eu te amo, amor. Nós temos que chamar as coisas pelos nomes delas. Por isso o chamava de amor.
Sei que perdemos um grande tempo ali, e depois em uma livraria anexa, onde me deixei perder por um livro qualquer no chão. Eu poderia ficar por ali, com Nicholas, pra sempre. Era um escape tão genuíno da rotina, da realidade, que eu não queria que acabasse jamais.

O resto do meu dia, dos brilhos da minha constelação, transcorreu da maneira mais mágica possível. Nick rindo das minhas graças, nossas mãos entrelaçadas em público. Beijos na testa mostrando proteção. Alguns outros no pescoço que fica marquinha. Sabe, o amor nos faz imortal. E o meu amor por Nicholas, que já era infinito, ficou muito maior. Porque citando diretamente Charles Dickens, eu definitivamente o amava, e jamais me cansava de dizer isso. O coração humano é um instrumento de muitas cordas. O perfeito conhecedor dos homens, sabe fazê-las vibrar todas. Será que estava aparente que todas as minhas cordas dançavam em perfeita harmonia entre si, como jamais antes? E aqui, até concordo com Jane Austen, Ninguém jamais poderá amar verdadeiramente mais de uma vez na vida.

Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia. E sim, Nicholas, eu te amo, e te amarei até o dia em que eu morrer, e caso tenha vida após isso, eu te amarei por lá também. Se é que já não te amo de alguma vida anterior porque as tais cordas do Dickens não vibram por acaso, nem por força de destino. Elas vibram porque simplesmente foram feitas para serem tocadas única e exclusivamente pelos seus ágeis dedos. A vida é isso. A eterna busca pela alma gêmea que fará suas cordas vibrarem.

Não é fácil. Não são todos que conseguem. E é isso que torna a sensação tão rara e especial. E, nossa, dentre os meus azares, tive a maior sorte do mundo. A sorte de te (re)encontrar, alma gêmea. Amor das minhas vidas.

Você e eu poderíamos ser a melhor coisa de todas
Autorais, Livros

Você e eu poderíamos ser a melhor coisa de todas

Engraçado. Improvável. A melhor coisa de todas. Um mês desde que a gente se viu pela primeira vez e agora estávamos indo para São Paulo de novo. Improvável porque era uma terça-feira qualquer em que, eu provavelmente acordaria entediado para ir ao trabalho. Mas não hoje. Acordei mais cedo, um pouco feliz, o que é raro e fui ao shopping, andando para te encontrar. Não era o shopping do primeiro dia em que nos encontramos, mas isso não importava.

Leia ouvindo: Timebomb, Tove Lo

Estava indo para te encontrar e ir para São Paulo com você, mais uma vez. Pode parecer besteira minha, mas isso contava muito para mim. Sou fã das coisas pequenas e que não contam muito para as pessoas comuns. Mas eu não conseguia ser comum, apesar de tudo. Podia até tentar em vão, mas eu não conseguia. A beleza, para mim, sempre esteve na imperfeição. E o segredo em acreditar no improvável.

+ Os últimos momentos
+ Eternamente responsável por aquilo que cativo?
+ Aquilo (não) foi real

Acreditar no nosso país das maravilhas, sabendo que ele não é e nunca seria para sempre. Sabendo que poderíamos ser a melhor coisa de todas. Nós não somos para sempre, mas você e eu poderíamos ser a melhor coisa de todas… Enfim, só devaneios.

Devaneios póstumos, eu arrisco dizer. Coisas que pensei ao te beijar, sempre como se fosse a primeira vez. Devaneios que tive quando olhei no fundo dos seus olhos claros, decifrando coisas que você nunca teve coragem de dizer em palavras. Ou coisas que só existiam nas fantasias da minha cabeça. Nunca vou saber.

Nossa cabeça é meio vadia e eu lembrava de você nas coisas mais ridículas, como andar no nosso parque de volta do meu trabalho e sem querer falar ai meu deus, e ouvir sua voz sorrindo e repetindo a maneira com que eu falava. Porra, você e eu poderíamos ser a melhor coisa de todas.

Automaticamente, seu gosto volta à minha boca e as memórias preenchem o meu peito, de uma vez, como um soco naquele ponto que você sabe que eu tenho cócegas. E então, eu penso que, mesmo com tudo, a pior coisa que poderia ter acontecido, pode ser a melhor coisa de todas.

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria
Autorais, Livros

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria

Eu sei que fui eu quem nos incendiou. Eu sei que te abracei e pulamos juntos para a fogueira. Eu sei que fui eu quem nos colocou nessa combustão eterna. Mas eu não queria. Eu não tinha a intenção de queimar tanto. Eu não sabia que ia doer tanto.

Sempre fui intenso e vi que você também é. Nossa intensidade sempre nos completou, sempre nos levou além de qualquer olhar incompreensivo. Até que o olhar incompreensivo era o de nós mesmos. Eu, incrédulo e pegando fogo, você, crédulo mas frio como gelo. Não era o que eu queria.

+ Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Sabe, eu sei que não era assim que você imaginava. Eu sei que sou uma pessoa inconstante e que muda a cada estação. Ou melhor, a cada hora do dia. Eu mudo, eu muto, eu me transformo e não acho que isso seja um defeito meu. Sinto muito que você pense assim. Não, não é papo de que nasci assim e vou morrer assim. A única constância que eu tenho é a da mutação. A única certeza que carrego é aquela de que vou mudar. Prometo mudar.

Leia ouvindo: Afterglow, Taylor Swift

Eu sei que sua fantasia nunca foi essa. Te peço desculpas, mesmo sem dever. Minha fantasia também nunca foi essa, quiça minhas expectativas. E não espero desculpas de você por isso. Espero que você não seja aquilo que eu espero. Dói não ter minhas expectativas correspondidas, claro. Mas eu estou aqui para incendiar e espero que você pegue fogo junto. Sim, eu sei que sempre sou eu quem nos incendeia e sempre é você que apaga o fogo. Mas isso não é necessariamente uma coisa boa.

Eu sei que você tinha expectativas altas e talvez, uma delas seja de que eu fosse diferente. Santo eu não sou, já te disse. Muito menos um robô. Tenho pavor de corresponder as expectativas dos outros. Nasci para corresponder as minhas e por elas, já dou um duro danado. Eu me cobro demais, eu espero demais de mim mesmo. Sofro pra corresponder a isso. Imagina só se eu ia conseguir ainda corresponder as suas? Desculpa, amor. Não vou e desculpa pela frieza que vou pegar emprestado de você agora: não acho que exista algum ser humano vivente capaz de correspondê-las. Nem mesmo você.

Eu sei que nem você se corresponde. Porque eu também não me correspondo. Ninguém corresponde a ninguém porque expectativas são fantasias. E fantasias são feitas para serem queimadas.

Não quero seu roteiro por mais que eu implore. Não preciso de algo que sequer vou ler ou sequer vou seguir. Sugiro que em vez de me dar, procure por alguém que esteja disposto a seguir a dança conforme a música. Eu não estou. Eu sou torto e quero seguir a dança ao contrário. Quero trocar o CD e colocar a música no aleatório. Eu não estou disposto a ser congelado.

Eu sei que isso tem um preço e sei que, com ele, fui eu quem nos incendiou. Eu não queria porque sei que você é gelo e eu sou fogo. Você também pode sair dessa dança. Porque já dizia minha terapeuta: quem não ouve a melodia, acha maluco quem dança.

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também
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Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Se eu te disser sorrindo de orelha a orelha que acordei um pouco triste, você vai acreditar? Sabe, eu mascaro muito bem os meus sentimentos. Menos aqueles que são seus. Esses eu acho que demonstro demais. Eu quero demonstrar muito. Quero demonstrar em dobro, quero querer em dobro, mas só se você quiser também, afinal, não há como eu querer por você.

Talvez você fuja de mim. Bem feito. Queria que não, mas se fosse eu, talvez eu fugisse também. Mas eu sempre fico. Talvez no vácuo ou sem, com apenas esses ecos dos meus pensamentos gritando seu nome repetidas vezes. É que nada disso faz sentido, sabe, mas me faz sentir.

+ Eternamente responsável por aquilo que cativo?
+ São quatro da manhã no meio da noite

Entre tantos devaneios e lágrimas, me descobri tão desastrado. Entre o país das maravilhas e a terra do nunca, acabei por tropeçar e deixar cair sobre você todo o amor que eu tinha a oferecer. Eu quero que seja assim. No planeta do Pequeno Príncipe, com lágrimas nos olhos eu disse que te amo. E foi significativo, foi em voz alta.

Dizia em um livro que amo, Coração de Tinta, que tudo ganha vivacidade ao ser falado em voz alta. Eu te disse as três palavras repetidas vezes, em voz alta. Eu sou caos. Nada de bom poderia vir de mim, não é isso que você diz?

Leia ouvindo: Sad beautiful tragic, Taylor Swift

Caos total. Eu sei, nem eu mesmo me encontro, sabe. Mas no meio dessa bagunça toda eu ainda conseguia encontrar o meu amor por você. Que saco. Era como ver o céu escuro e estrelado e encontrar a Lua. É certo, é imediato. É brilhante como nada mais, ilumina a escuridão, leva luz para todas as extremidades e me ilumina em sorrisos.

Mas não, para você, eu sou um caos. Sou indigno de te dar amor e você é bom demais para receber o meu amor. A gente dá aquilo que tem e eu sei, dei amor demais e você se sentiu sufocado, sem ar. Foram longos anos de martírio e de terapia para mim. Você dizia que eu era emocionado.

Se não for pra ser emocionado, não quero nem ser. Eu sei querer em dobro, em triplo, em quádruplo… Eu sei querer mais que você, sei querer por você. Mas só vou querer se você quiser também.

E infelizmente você não quer, então, faça o favor e vá para o inferno.

O Pequeno Príncipe: Eternamente responsável por aquilo que cativo?
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Eternamente responsável por aquilo que cativo?

“Vamos ver ‘O pequeno príncipe’ hoje de noite?”, propus a ele. Eu estava responsável por alguns convites por conta do meu blog. Fomos. Pegamos as habituais poltronas no fundo da sala. Sempre que íamos ao cinema, não víamos o filme por conta dos beijos que não se acabavam – não reclamando, óbvio. É maravilhoso. Sempre é com ele. Incrível se torna pouco para descrever tanto.

Nós sentamos e o filme começou. Eu sempre amei o pequeno príncipe. Foi um livro que meu avô comprou, deu ao meu pai e ele me deu. Na sexta série, escrevi uma resenha sobre ele com uma reflexão que emocionou a professora. Mas isso era coisa de conexão. Nós nos conectamos com certas palavras. E eu me conectava com esse livro, então, fiquei bem animado para o filme, apesar de ser uma espécie de releitura.

+ Resenha: O Pequeno Príncipe
+ Vlog: O Pequeno Príncipe

Sentei-me abraçado a ele. Seu colo era tão confortável, seu abraço era capaz de me fazer esquecer qualquer outra coisa. Seu cheiro era único, do tipo que te deixa alerta. Eu estava calmo, mas meu coração dava cambalhotas e era o grande responsável pelas borboletas no meu estômago. Ele era analgésico. Diziam que nossos signos jamais combinariam, mas quando queremos, fazemos. Quando queremos, noite vira dia, vazio vira cheio e o quebra-cabeças se encaixa.

“Eu gosto muito de você, sabe?”, ele disse e meu coração tremeu em felicidade crescente. “Muito.”

“Eu também”, respondi, tímido. As palavras travavam um pouco ao saírem assim, em voz alta. Era medo da decepção.

“Queria te dizer uma coisa…”, ele começou e eu só assenti. Porra, eu também quero te dizer uma coisa. Eu quero. Eu sabia o que ele ia dizer a seguir. Tinham algumas lágrimas no seu olho e essa era a cena mais linda que tinha a honra de estar acontecendo comigo. Nunca nada tinha passado perto do que eu estava sentindo ali, naquela sala escura que parecia iluminada pelos seus olhos. Cada centímetro meu sorria, cada célula do meu corpo dançava Macarena em velocidade máxima. Na tela grande, a raposa dizia Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas… Se me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo…”

Tudo sorria em mim, tudo explodia como jamais antes. Minha mão estava em seu rosto e meus olhos estavam nos seus quando finalmente ouvi. “Eu te amo.”

E eu não soube explicar como milagrosamente sorri mais. Como minha felicidade transbordou e me paralisou, tirando minha voz e minha capacidade de pensamento. Eu só conseguia olhar para ele, me perder em suas entrelinhas. “Eu também te amo… Muito”, falei por fim, um pouco paralisado por ser a primeira vez responsável em voz alta com alguém ouvindo.

Era tão sincero que eu sentia meu coração bater em cada centímetro da minha pele. Mas era como deveria ser. Eu o amava, estava convicto de tudo. Convicto de que estava perdida e irremediavelmente apaixonado. E sabe, além de tudo. Contra a razão. Contra a promessa de jamais permitir. Contra a paz. Contra a esperança. Contra a tristeza. Mas, acima de tudo, eu o amava contra todo o desencorajamento que poderia existir. E foi ali, com meu filme preferido de plano de fundo numa quarta-feira fria de agosto, quase dez da noite que eu ouvi e admiti uma das melhores coisas da minha vida.

Sempre escrevi romances sem jamais ter chegado perto de viver um. Sem jamais ter entendido o infinito dentro de mim. Porque sim, posso dizer com propriedade agora: amor não machuca, conserta a alma. Não tira os pés, dá pezinho. Te eleva nas nuvens, como uma âncora de garantia. Não dói, sorri, dança…

Dizem que cicatrizes vem de machucados e naquela noite fui marcado de um jeito eterno e inexplicável em palavras. Só feche os olhos e imagine a sensação de se explodir em um infinito de galáxias brilhantes… Talvez chegue perto. Pouco, mas chega.

Isso te faz sorrir todos os dias e te dá novos motivos para acordar todos os dias. Te deixa mais que completo e, ao chegar em casa com o cheiro dele cravado em mim, sinto o melhor tipo de saudade. Aquela que só passa quando engulo a sua presença. E eu, fico sem palavras.

É algo novo pra mim que sou exagerado e vivo falando bosta por aí. Aconteceu sem enredo, sem ensaio ou histórias pré-escritas por romancistas fãs de finais felizes. E sabe, talvez isso já estivesse destinado a acontecer, porque voltando, vejo que O Pequeno Príncipe me define no momento mais que qualquer outra coisa.

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” Impossível me definir mais. Ou “Se tu vais, por exemplo, às onze da noite, desde as nove eu começarei a sentir a sua falta e te querer ver de novo.”

Lembra quando eu disse que existia alguém responsável por te abraçar tão forte que juntaria todas as suas partes?

Então, meu dia finalmente chegou.

Sempre tudo em mim sorri
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Sempre tudo em mim sorri

Lhe escrevi da última vez no ápice da minha angústia. Desabafando sobre uma perda que eu não sabia se aconteceria. Pois é, não aconteceu. Mas, eu estava sendo forte por fachada porque simplesmente eu precisava. Aquela história de passar uma força que não temos. Agora, cada parte de mim sorri.

Mas hoje, lhe escrevo de uma maneira totalmente oposta. Estou no ápice da minha felicidade. É impressionante como ele me faz feliz, sabe? Poucas vezes me senti assim na vida. Talvez nunca. É tão bom tê-lo comigo. Eu o amo tanto, sabe? Muito. Cada coisinha. Amo vê-lo concentrado, sorrindo… Ah, que sorriso. Seus olhos são algo em que me perco fácil. Meu coração falta capotar. Tê-lo abraçado a mim me faz sentir como a pessoa mais feliz do mundo. Mais forte, capaz de qualquer coisa. Eu estou convicto de que o amo mais que tudo mesmo. Sempre estive, presumo.

+ Escuridão do cósmico segredo, Gabu Camacho

Ele é meu primeiro e último pensamento ao acordar e ao dormir. Ao tomar uma decisão. Ao fazer qualquer coisa. É bom ser feito feliz. Nunca tinha ficado nesse estado antes. Acostumado a ser fechado e triste, estou no meu ápice. Por favor, me deixe ficar assim pra sempre.

Porque não quero nada menos que isso com ele. Porque sempre tudo em mim sorri. Tudo. Cada célula deve sorrir, porque, mesmo que eu deva, não consigo ficar triste. Bate aquela saudade sempre, mas é impossível ficar mal tendo ele comigo. E sabe, eu o amo tanto… Daquela maneira que saem lágrimas dos meus olhos ao dizer. É grande, sim.

Parece que nunca terei perdas porque ele é suficiente para suprir qualquer coisa que eu precise. Dizem que existem dois tipos de amor: aquele capaz de incinerar o mundo e aquele capaz de erguê-lo em glória mesmo após a incineração. O meu, poderia ser erguido em glória mesmo após a incineração.

Sim, estavam certos: amor é pezinho.

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?
Autorais, Livros

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Ilustração acima que me inspirou a escrever o texto é da Grazi França

Minha mãe certa vez me disse que eu não sabia fazer nada sozinho. Fiz anos de terapia por isso. Eu realmente não gostava de fazer nada sozinho e por isso, fui presa fácil pra você. Eu estava solitário quando você veio e, aos poucos, cerceou meus pensamentos, reprimiu minhas ideias e dilacerou minha cognição. Esse é o preço que pago por não ter aprendido a fazer nada em vão.

Você veio como tempestade. Mas, na época, parecia um tranquilo por do sol laranja no parque. Andar de mãos dadas com você na trilha lotada era lindo. Mas andar sozinho na trilha vazia é bom também. Pelo menos eu sei que não vai ter nenhum ataque sorrindo.

+ Aquilo (não) foi real

Agora, vivo o nascer do sol na minha cabeça porque percebo que com você, vieram as nuvens pesadas que nublaram cada uma das imagens do meu coração. E quando eu nublei, você puxou ainda mais as rédeas do seu poder de adoração.

Você calculou milimetricamente cada atitude sua para ser penhasco quando eu era ponte. E você me fazia pensar que essas nuvens e trovões eram parte da mudança. Afinal, o que muda sem temer? Qual amor se ama sem doer? Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Você me fazia pensar que você era o sol e eu precisava orbitar ao seu redor como um corpo celeste qualquer que pode entrar em combustão se sair da linha do seu jogo. E eu saí. E eu entrei. Você queimou cada célula minha e fez acreditarem que eu era um monstro cuspidor de fogo.

Eu estava tomando chuva. Levando descargas elétricas de sentimentos difusos. Mas, você dizia que eu era o próprio coração confuso.

Meu bem, eu sei que santo eu não sou, mas também sei que paguei por você muito mais do que você valia, porque o paguei com uma moeda de troca cara demais: eu, à revelia. Eu fui sua moeda na boca, seu troféu, seu réu… Seu álibi e seu baú de insegurança. Uma criatura oca.

Por muito tempo continuei não indo sozinho ao parque vazio. Porque quando te encontrei, flores cresceram nas partes mais obscuras da minha mente, quando te conheci, a tortuosa tempestade começou a cobrir a gente, mas…

Foi quando te deixei, que o sol voltou a raiar novamente.

Aquilo (não) foi real
Autorais, Livros

Aquilo (não) foi real

“Pode parecer que não, mas eu tô com saudade”, e eu também estava. E meu coração palpitava ao ler isso. Dava aquele famoso pulo e ameaçava sair pela boca. Mas não ia admitir, não podia, óbvio que não.

Mas então, te vi de longe e o sorriso apareceu sozinho, abriu, como o sol abre após a chuva. E minhas pernas aumentaram o ritmo, sem que eu pedisse. Simplesmente foram, e eu não tentei impedir. Fui, me deixei.

Te abracei, então. Seu braço ao redor da minha cintura naquele pufe dentro da biblioteca antiga. Sua letra parecida com a minha na ficha branca. “Deita aqui”, era a deixa que eu precisava e hoje penso que eu parecia um cachorro. Deitei apoiando no seu braço e de repente eu estava de novo no país das maravilhas, me perdendo mais uma vez. Me perdendo e perdendo… E você sabia.

+ Entre as nuvens cinzas de paranóia

E o beijo logo depois, com seu gosto, aquele gosto que eu era incapaz de esquecer ou encontrar em qualquer outra boca. Porque era único, exclusivo. Tudo único. E então, você me puxa pela mão por entre as árvores com poucas folhas por conta do inverno. Eu parecia um boneco nos seus braços. O chão também estava cheio delas, secas pelo frio. Os coelhos brancos e pretos saltitavam ao redor. Os patos, observavam como os cúmplices que jamais me fariam esquecer de que aquilo havia sido real, apesar de eu preferir que tivesse sido apenas um devaneio erótico e doido da minha mente.

Eu havia finalmente chegado ao país das maravilhas, estava perdido nele, fingindo que seria eterno, ou eternamente numerado, limitado. Sabendo que, apesar de perdido ali, era só um escape da minha realidade inútil. Do real nojento.

Os coelhos dali observavam ainda, cúmplices de que aquilo era real e não algo da minha cabeça. Mais provas de que nunca me deixariam esquecer por mais que eu quisesse. Cúmplices de que eu estava, mais uma vez, me deixando perder nas suas linhas tão cuidadosamente escritas do país das maravilhas.

Embaixo daquela árvore, nada mais importava, de qualquer jeito. Nada. Só o que eu estava concluindo, como um fotógrafo de retratos.

Sempre disse que amava fotos porque elas eram a prova de que tudo era perfeito, mesmo que por um milésimo de segundo. Mas, além delas, as nossas lembranças provam isso. Ou tentam. A lembrança primitiva é da sensação boa, que aos poucos é envenenada pela sua presença nojenta. Meus olhos estavam fechados, não tenho lembranças visuais. Todos os sons do mundo sumiram. Não tenho lembranças auditivas. Mas há a lembrança do toque sutil seguido dos apertos montanhosos nos meus braços. Quase agressivos.

Há a lembrança do seu cheiro de amaciante nas roupas. O mesmo cheiro daquela primeira vez. Há a lembrança do sabor, aquele que só você tinha. Não, não me refiro à menta de cereja, que era de morango. Me refiro ao seu sabor mesmo, aquele que é só seu. Aquele, mesmo, que conheço tão bem e que hora e outra volta à minha boca e me deixa desperto. “É o sabor dele”, o cérebro diz para o coração em uma descarga de adrenalina contínua. Hoje sei que isso é um alerta.

Não sei se isso tem explicação científica além de síndrome de Estocolmo. Sinceramente, como seu gosto volta à minha boca, assim, do nada? Cérebro, o senhor está cúmplice do coração? Até você?

O sol baixava conforme o céu se alaranjava. Ainda entre as árvores do país das maravilhas, você disse “Pula”. Pausa. “Não confia em mim?” Pulei, de olhos fechados, como havia pulado desse penhasco de sensatez em direção a maré dos meus sentimentos. Pulei, sem pensar. Pulei.

Você me segurou. Literalmente, e mais uma vez, como todas as outras. Você me prendeu. Fisicamente. Metaforicamente. Você me segurou. Será que eu estava seguro com você?

E então, veio o beijo lento, devagar, lento, lento… Explorador. Cuidadoso, como jamais havia sido. Calmo, sem aquela pressa ou urgência. O tempo no país das maravilhas passava mais devagar. Era um efeito contrário à você, afinal, você o fazia correr.

E o que fiz de novo era sorrir. Porque eu soube que não importava quantas vezes perdêssemos o caminho para o país das maravilhas, sempre o encontraríamos, de uma forma ou de outra.

Hoje, me pergunto: quero mesmo encontrar? Aquilo (não) foi real?