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Autorias: A volta do que jamais deveria ter partido, por Gabu Camacho

Talvez você tenha pensado que eu escreveria sobre você. Sobre como eu sonho com a sua volta triunfal. Sobre como você talvez tenha pensado que poderia me conquistar de novo, como fez da primeira vez. Você não poderia estar mais enganado. Afinal, escrevo sobre a volta de mim mesmo. Sim, aquele eu que você sugou a força como um vampiro. Você era uma pessoa vampira.

Pessoas vampiras são aquelas que ficam ao nosso redor só esperando para sugarem qualquer coisa que te faz feliz. Elas te paralisam como dementadores, e te afastam de quem você é de verdade. Nunca gostei de ser mudado, ou domado. Mas era além de mim, era involuntário.

Eu escrevia cada vez menos, algo que nunca julguei viver sem. Não lia mais nenhum livro. Não conseguia forças para prestar atenção naquela aula maravilhosa de Comunicação que a professora tanto me amava. Era impossível ficar sem olhar para os alertas do celular, e pensar em que parte de mim você estaria literalmente destruindo agora.

Cada parte destruída, era uma parte de mim que eu deixava para trás, sim, evitava sentir. Evitava admitir que estava cada vez mais longe de mim mesmo. Então, você destruiu por completo o que eu tinha e em um lapso de sanidade que um outro alguém me trouxera, te expulsei com um feitiço do patrono, daqueles fortes, daqueles que usamos a memória mais feliz que alguém pode nos trazer. E infelizmente, ela não vinha de um momento com você. Ela vinha, de um momento qualquer. Não é estranho? Que um momento qualquer possa me trazer mais alegria do que todos aqueles com você?

Então, você tentou voltar, sem sucesso, várias vezes. Eu não deixava mais, jamais deixaria de novo. Estava retornando a mim mesmo, a quem eu realmente era antes de você. Mas sabe, me afastar assim de mim mesmo não foi de todo ruim. Voltei melhor, decidido de quem eu realmente era, e do que eu realmente queria. Sabia agora quem eu queria ser, e aos poucos, conquistava de novo a minha liberdade antes privada e assistida. Era a minha volta. A volta do que jamais deveria ter partido. Era meu sangue retornando às minha veias, sim, aquele que você tinha engolido como o bom vampiro que era. Mas sabe, é preciso perder para encontrar, não é assim que dizem? E eu me perdi, me perdi tremenda e dolorosamente nas entrelinhas das suas presas, mas consegui encontrar o caminho de volta.

E isso, foi contra tudo o que eu acreditava antes. E eu consegui voltar. Consegui ressuscitar e não foi graças a alguém de fora. Foi graças a mim mesmo. Então, por favor, pelo seu próprio bem, não tente mais atravessar esses portões maciços de novo, porque eu não vou me quebrar com seus golpes, por mais forte que seja o seu aríete. O único quebrado aqui, meu amor, é você.

Quebrado por si mesmo.

Porque, obviamente, pessoas completas e intactas, jamais precisam de partes das outras para sobreviverem. E você, precisa muito.

Por isso, ainda tenho um sentimento por você. Ele é leve, mas existe.

Chama-se pena.

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