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Casa das Rosas abre inscrições para o CLIPE nas categorias adulto e jovem
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Casa das Rosas abre inscrições para o CLIPE nas categorias adulto e jovem

O Centro de Apoio ao Escritor (CAE) da Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura abre as inscrições para o CLIPE (Curso Livre de Preparação de Escritores) nas categorias adulto e jovem, pelo site do museu, no período de 13 de dezembro de 2021 a 5 de fevereiro de 2022. A Casa das Rosas integra a Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e gerenciada pela Poiesis.

Com o objetivo do exercício livre da criatividade por meio da palavra escrita, o CLIPE é direcionado às pessoas interessadas pela criação literária em todas as suas etapas e gêneros. A proposta é que autores e autoras iniciantes, até mesmo a parte que busca escrever e publicar obras literárias, recebam capacitação técnica e recursos de profissionalização. É gratuito tanto para o público adulto, quanto para os jovens.

+ Vestibular: Dicas de livros para se dar bem nas provas

Entre os docentes, estão nomes de escritores como Luiza Romão, Marcelo Maluf, Bruna Mitrano, Rafael Gallo, entre outros.

O resultado das listas de seleção será divulgado até 25 de fevereiro de 2022 no site e nas páginas do museu no Facebook e Instagram , além das pessoas selecionadas serem contatadas pelo Centro de Apoio ao Escritor. As inscrições e os cursos são gratuitos. Ao final, alunos(as) recebem um certificado.

Colaborando na criatividade e apoiando a publicação de títulos literários

Iniciado em 2013, o Curso Livre de Preparação de Escritores – Adulto colaborou no aperfeiçoamento de 570 escritores, o que resultou em mais de 100 títulos publicados, muitos deles com prêmios de incentivo para publicação. E realizado desde 2014, o Curso Livre de Preparação de Escritores – Jovem ajudou na formação de mais de 240 participantes.

Entre os títulos com apoio institucional do CAE, por meio da Casa das Rosas, o mais recente é o livro Chão Vermelho (Urutau, 2021), escrito pelo coletivo Terracota, formado pelas ex-alunas do CLIPE 2020 Prosa: Árizla Ismália, Jamille Anahata, Jéssica Moreira, Júlia Matelli, Lara Galvão, Luciana D’Ingiullo e Thamires Andrade.

CLIPE Adulto

Para participar das turmas de prosa e poesia, com 40 vagas cada uma, é necessário ter mais de 18 anos e preencher o formulário de inscrição disponível no site do museu Casa das Rosas a partir do dia 13/12.

As pessoas interessadas podem se inscrever para um ou mais gêneros e devem enviar uma pequena amostra do próprio trabalho em prosa e/ou poesia, seguindo o formato especificado no formulário. O início das aulas está previsto para 5 de março de 2022 e com a duração de oito meses. Além disso, serão aplicadas no formato híbrido, com encontros presenciais e online às quartas-feiras, das 19h às 21h, e totalmente online aos sábados, das 14h às 16h.

CLIPE Jovem

O CLIPE Jovem continuará integralmente no formato virtual, como foi em 2021. Para fazer parte da turma com 30 vagas, os interessados devem ter a idade entre 14 e 18 anos. O formulário de inscrição também ficará disponível no mesmo link e durante o mesmo período, entre 13/12/2021 e 05/02/2022. No momento da inscrição, candidatos (as) precisam apresentar uma pequena amostra de textos autorais.

Os encontros serão realizados às quintas-feiras, das 14h às 17h, em quatro módulos mensais, com início previsto para 9 de março.

A racista que existe em mim: uma reflexão sobre o livro “Pequeno Manual antirracista”, de Djamila Ribeiro
Colunas, Livros, Resenhas

A racista que existe em mim: uma reflexão sobre o livro “Pequeno Manual antirracista”, de Djamila Ribeiro

A racista que existe em mim não queria escrever este texto. Porque, antes de tudo e acima de todos, ela não se acha racista. Afinal, ela tem amigos negros, um marido negro e uma filha negra, então, como ela poderia ser racista?

A racista que existe em mim sente uma necessidade constante de reafirmar que não é racista. Ela repete de novo e de novo, como um mantra, uma canção que adormece o monstro que ela sabe que dorme dentro de si. O monstro do racismo.

+ Qual é a minha cultura?

Eu odeio esse monstro. Mas também sinto medo dele. Medo de ser dominada por ele em algum momento e dizer ou fazer algo que eu não queria. A racista que existe dentro de mim acha que manter o monstro adormecido é o suficiente, pois, enquanto ele dorme, ninguém sabe que ele está ali. Eu sei.

Djamila Ribeiro afirma em seu livro “Pequeno Manual Antirracista” que “é impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista”. E, no Brasil, nós somos criados em uma sociedade racista que normaliza o negro como bandido, associado à pobreza, falta de cultura e pouco estudo.

Nós não nos incomodamos por não vermos negros nas propagandas de marcas famosas na televisão ou por que a maioria dos personagens negros nas novelas são de empregadas domésticas, motoristas ou algum núcleo de escravos em uma novela de época. Ou do núcleo da favela, não podemos esquecer. Afinal, a maioria dos personagens traficantes ou pobres são negros.

Nós não nos incomodamos em abolir expressões racistas do nosso vocabulário, como mercado negro e criado-mudo e justificamos contextos racistas em músicas e obras literárias com a boa e velha “era a cultura da época”. Repassamos isso por gerações como um patrimônio histórico. O patrimônio do racismo.

Em seu livro, Djamila também diz como o antirracista acaba virando o “chato” porque, a partir do momento em que você escolhe cutucar todas as feridas de uma sociedade construída em cima do racismo e da desigualdade que esse racismo traz, você fica mesmo muito chato.

Assim como bem aponta a autora, o racismo no Brasil é estrutural, portanto, vive nas entranhas da nossa sociedade por muito mais tempo do que gostamos de admitir e isso é realmente muito “chato”. Tão chato que falar sobre racismo é um assunto incômodo, um tabu, pois ninguém quer ser o primeiro a cutucar a ferida.

Essa ferida deve ser cutucada. E, digo mais, cutucada por quem criou ela: os brancos. No “Pequeno Manual Antirracista”, Djamila Ribeiro faz uma afirmação interessante de que o racismo foi criado pelo branco. Nada mais verdadeiro e mais óbvio, porém, pouco pensado dessa forma e, muito menos, discutido.

E é interessante pensarmos sobre isso porque, antes da escravidão, os povos negros viviam em etnias, culturas e línguas ricas e diversas, mas foram reduzidos pelos brancos a, simplesmente, “o negro”. Assim como todo o continente africano foi reduzido a África (acredito que deva ter gente por aí que até pensa que é um país só). Ou como tantos povos com suas histórias e tradições foram reduzidos a nada.

O branco tem muita dificuldade de entender o seu papel no racismo, mesmo sendo o seu criador, praticante e maior defensor. Ele acha que não faz parte porque ele não é racista. Ele nunca escravizou ninguém. Ele tem amigos negros. Ele emprega pessoas negras e jura que a meritocracia funciona.

Eu concordo com a Djamila quando ela diz que não ser racista não é o suficiente. Devemos ser antirracistas. Devemos nos incomodar por, em um país com 56% da população sendo negra (o que torna o Brasil a maior nação negra fora da África), ter tão poucas pessoas negras em cargos de poder. Devemos nos incomodar pela falta de autores negros nas bibliografias de cursos superiores, nas antologias, em cargos de gerência e até no núcleo rico da novela.

A racista que existe em mim sabe que goza do privilégio branco e que as coisas não são nem de perto como deveriam ser. Mas é cômodo para ela ficar quieta, continuar usufruindo de seus privilégios e fingir que essa luta não a pertence. Afinal, ela não é racista. Ela não escravizou ninguém. Ela tem amigos negros.

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria
Autorais, Livros

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria

Eu sei que fui eu quem nos incendiou. Eu sei que te abracei e pulamos juntos para a fogueira. Eu sei que fui eu quem nos colocou nessa combustão eterna. Mas eu não queria. Eu não tinha a intenção de queimar tanto. Eu não sabia que ia doer tanto.

Sempre fui intenso e vi que você também é. Nossa intensidade sempre nos completou, sempre nos levou além de qualquer olhar incompreensivo. Até que o olhar incompreensivo era o de nós mesmos. Eu, incrédulo e pegando fogo, você, crédulo mas frio como gelo. Não era o que eu queria.

+ Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Sabe, eu sei que não era assim que você imaginava. Eu sei que sou uma pessoa inconstante e que muda a cada estação. Ou melhor, a cada hora do dia. Eu mudo, eu muto, eu me transformo e não acho que isso seja um defeito meu. Sinto muito que você pense assim. Não, não é papo de que nasci assim e vou morrer assim. A única constância que eu tenho é a da mutação. A única certeza que carrego é aquela de que vou mudar. Prometo mudar.

Leia ouvindo: Afterglow, Taylor Swift

Eu sei que sua fantasia nunca foi essa. Te peço desculpas, mesmo sem dever. Minha fantasia também nunca foi essa, quiça minhas expectativas. E não espero desculpas de você por isso. Espero que você não seja aquilo que eu espero. Dói não ter minhas expectativas correspondidas, claro. Mas eu estou aqui para incendiar e espero que você pegue fogo junto. Sim, eu sei que sempre sou eu quem nos incendeia e sempre é você que apaga o fogo. Mas isso não é necessariamente uma coisa boa.

Eu sei que você tinha expectativas altas e talvez, uma delas seja de que eu fosse diferente. Santo eu não sou, já te disse. Muito menos um robô. Tenho pavor de corresponder as expectativas dos outros. Nasci para corresponder as minhas e por elas, já dou um duro danado. Eu me cobro demais, eu espero demais de mim mesmo. Sofro pra corresponder a isso. Imagina só se eu ia conseguir ainda corresponder as suas? Desculpa, amor. Não vou e desculpa pela frieza que vou pegar emprestado de você agora: não acho que exista algum ser humano vivente capaz de correspondê-las. Nem mesmo você.

Eu sei que nem você se corresponde. Porque eu também não me correspondo. Ninguém corresponde a ninguém porque expectativas são fantasias. E fantasias são feitas para serem queimadas.

Não quero seu roteiro por mais que eu implore. Não preciso de algo que sequer vou ler ou sequer vou seguir. Sugiro que em vez de me dar, procure por alguém que esteja disposto a seguir a dança conforme a música. Eu não estou. Eu sou torto e quero seguir a dança ao contrário. Quero trocar o CD e colocar a música no aleatório. Eu não estou disposto a ser congelado.

Eu sei que isso tem um preço e sei que, com ele, fui eu quem nos incendiou. Eu não queria porque sei que você é gelo e eu sou fogo. Você também pode sair dessa dança. Porque já dizia minha terapeuta: quem não ouve a melodia, acha maluco quem dança.

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também
Autorais, Livros

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Se eu te disser sorrindo de orelha a orelha que acordei um pouco triste, você vai acreditar? Sabe, eu mascaro muito bem os meus sentimentos. Menos aqueles que são seus. Esses eu acho que demonstro demais. Eu quero demonstrar muito. Quero demonstrar em dobro, quero querer em dobro, mas só se você quiser também, afinal, não há como eu querer por você.

Talvez você fuja de mim. Bem feito. Queria que não, mas se fosse eu, talvez eu fugisse também. Mas eu sempre fico. Talvez no vácuo ou sem, com apenas esses ecos dos meus pensamentos gritando seu nome repetidas vezes. É que nada disso faz sentido, sabe, mas me faz sentir.

+ Eternamente responsável por aquilo que cativo?
+ São quatro da manhã no meio da noite

Entre tantos devaneios e lágrimas, me descobri tão desastrado. Entre o país das maravilhas e a terra do nunca, acabei por tropeçar e deixar cair sobre você todo o amor que eu tinha a oferecer. Eu quero que seja assim. No planeta do Pequeno Príncipe, com lágrimas nos olhos eu disse que te amo. E foi significativo, foi em voz alta.

Dizia em um livro que amo, Coração de Tinta, que tudo ganha vivacidade ao ser falado em voz alta. Eu te disse as três palavras repetidas vezes, em voz alta. Eu sou caos. Nada de bom poderia vir de mim, não é isso que você diz?

Leia ouvindo: Sad beautiful tragic, Taylor Swift

Caos total. Eu sei, nem eu mesmo me encontro, sabe. Mas no meio dessa bagunça toda eu ainda conseguia encontrar o meu amor por você. Que saco. Era como ver o céu escuro e estrelado e encontrar a Lua. É certo, é imediato. É brilhante como nada mais, ilumina a escuridão, leva luz para todas as extremidades e me ilumina em sorrisos.

Mas não, para você, eu sou um caos. Sou indigno de te dar amor e você é bom demais para receber o meu amor. A gente dá aquilo que tem e eu sei, dei amor demais e você se sentiu sufocado, sem ar. Foram longos anos de martírio e de terapia para mim. Você dizia que eu era emocionado.

Se não for pra ser emocionado, não quero nem ser. Eu sei querer em dobro, em triplo, em quádruplo… Eu sei querer mais que você, sei querer por você. Mas só vou querer se você quiser também.

E infelizmente você não quer, então, faça o favor e vá para o inferno.

O Pequeno Príncipe: Eternamente responsável por aquilo que cativo?
Autorais, Livros

Eternamente responsável por aquilo que cativo?

“Vamos ver ‘O pequeno príncipe’ hoje de noite?”, propus a ele. Eu estava responsável por alguns convites por conta do meu blog. Fomos. Pegamos as habituais poltronas no fundo da sala. Sempre que íamos ao cinema, não víamos o filme por conta dos beijos que não se acabavam – não reclamando, óbvio. É maravilhoso. Sempre é com ele. Incrível se torna pouco para descrever tanto.

Nós sentamos e o filme começou. Eu sempre amei o pequeno príncipe. Foi um livro que meu avô comprou, deu ao meu pai e ele me deu. Na sexta série, escrevi uma resenha sobre ele com uma reflexão que emocionou a professora. Mas isso era coisa de conexão. Nós nos conectamos com certas palavras. E eu me conectava com esse livro, então, fiquei bem animado para o filme, apesar de ser uma espécie de releitura.

+ Resenha: O Pequeno Príncipe
+ Vlog: O Pequeno Príncipe

Sentei-me abraçado a ele. Seu colo era tão confortável, seu abraço era capaz de me fazer esquecer qualquer outra coisa. Seu cheiro era único, do tipo que te deixa alerta. Eu estava calmo, mas meu coração dava cambalhotas e era o grande responsável pelas borboletas no meu estômago. Ele era analgésico. Diziam que nossos signos jamais combinariam, mas quando queremos, fazemos. Quando queremos, noite vira dia, vazio vira cheio e o quebra-cabeças se encaixa.

“Eu gosto muito de você, sabe?”, ele disse e meu coração tremeu em felicidade crescente. “Muito.”

“Eu também”, respondi, tímido. As palavras travavam um pouco ao saírem assim, em voz alta. Era medo da decepção.

“Queria te dizer uma coisa…”, ele começou e eu só assenti. Porra, eu também quero te dizer uma coisa. Eu quero. Eu sabia o que ele ia dizer a seguir. Tinham algumas lágrimas no seu olho e essa era a cena mais linda que tinha a honra de estar acontecendo comigo. Nunca nada tinha passado perto do que eu estava sentindo ali, naquela sala escura que parecia iluminada pelos seus olhos. Cada centímetro meu sorria, cada célula do meu corpo dançava Macarena em velocidade máxima. Na tela grande, a raposa dizia Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas… Se me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo…”

Tudo sorria em mim, tudo explodia como jamais antes. Minha mão estava em seu rosto e meus olhos estavam nos seus quando finalmente ouvi. “Eu te amo.”

E eu não soube explicar como milagrosamente sorri mais. Como minha felicidade transbordou e me paralisou, tirando minha voz e minha capacidade de pensamento. Eu só conseguia olhar para ele, me perder em suas entrelinhas. “Eu também te amo… Muito”, falei por fim, um pouco paralisado por ser a primeira vez responsável em voz alta com alguém ouvindo.

Era tão sincero que eu sentia meu coração bater em cada centímetro da minha pele. Mas era como deveria ser. Eu o amava, estava convicto de tudo. Convicto de que estava perdida e irremediavelmente apaixonado. E sabe, além de tudo. Contra a razão. Contra a promessa de jamais permitir. Contra a paz. Contra a esperança. Contra a tristeza. Mas, acima de tudo, eu o amava contra todo o desencorajamento que poderia existir. E foi ali, com meu filme preferido de plano de fundo numa quarta-feira fria de agosto, quase dez da noite que eu ouvi e admiti uma das melhores coisas da minha vida.

Sempre escrevi romances sem jamais ter chegado perto de viver um. Sem jamais ter entendido o infinito dentro de mim. Porque sim, posso dizer com propriedade agora: amor não machuca, conserta a alma. Não tira os pés, dá pezinho. Te eleva nas nuvens, como uma âncora de garantia. Não dói, sorri, dança…

Dizem que cicatrizes vem de machucados e naquela noite fui marcado de um jeito eterno e inexplicável em palavras. Só feche os olhos e imagine a sensação de se explodir em um infinito de galáxias brilhantes… Talvez chegue perto. Pouco, mas chega.

Isso te faz sorrir todos os dias e te dá novos motivos para acordar todos os dias. Te deixa mais que completo e, ao chegar em casa com o cheiro dele cravado em mim, sinto o melhor tipo de saudade. Aquela que só passa quando engulo a sua presença. E eu, fico sem palavras.

É algo novo pra mim que sou exagerado e vivo falando bosta por aí. Aconteceu sem enredo, sem ensaio ou histórias pré-escritas por romancistas fãs de finais felizes. E sabe, talvez isso já estivesse destinado a acontecer, porque voltando, vejo que O Pequeno Príncipe me define no momento mais que qualquer outra coisa.

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” Impossível me definir mais. Ou “Se tu vais, por exemplo, às onze da noite, desde as nove eu começarei a sentir a sua falta e te querer ver de novo.”

Lembra quando eu disse que existia alguém responsável por te abraçar tão forte que juntaria todas as suas partes?

Então, meu dia finalmente chegou.

Sempre tudo em mim sorri
Autorais, Livros

Sempre tudo em mim sorri

Lhe escrevi da última vez no ápice da minha angústia. Desabafando sobre uma perda que eu não sabia se aconteceria. Pois é, não aconteceu. Mas, eu estava sendo forte por fachada porque simplesmente eu precisava. Aquela história de passar uma força que não temos. Agora, cada parte de mim sorri.

Mas hoje, lhe escrevo de uma maneira totalmente oposta. Estou no ápice da minha felicidade. É impressionante como ele me faz feliz, sabe? Poucas vezes me senti assim na vida. Talvez nunca. É tão bom tê-lo comigo. Eu o amo tanto, sabe? Muito. Cada coisinha. Amo vê-lo concentrado, sorrindo… Ah, que sorriso. Seus olhos são algo em que me perco fácil. Meu coração falta capotar. Tê-lo abraçado a mim me faz sentir como a pessoa mais feliz do mundo. Mais forte, capaz de qualquer coisa. Eu estou convicto de que o amo mais que tudo mesmo. Sempre estive, presumo.

+ Escuridão do cósmico segredo, Gabu Camacho

Ele é meu primeiro e último pensamento ao acordar e ao dormir. Ao tomar uma decisão. Ao fazer qualquer coisa. É bom ser feito feliz. Nunca tinha ficado nesse estado antes. Acostumado a ser fechado e triste, estou no meu ápice. Por favor, me deixe ficar assim pra sempre.

Porque não quero nada menos que isso com ele. Porque sempre tudo em mim sorri. Tudo. Cada célula deve sorrir, porque, mesmo que eu deva, não consigo ficar triste. Bate aquela saudade sempre, mas é impossível ficar mal tendo ele comigo. E sabe, eu o amo tanto… Daquela maneira que saem lágrimas dos meus olhos ao dizer. É grande, sim.

Parece que nunca terei perdas porque ele é suficiente para suprir qualquer coisa que eu precise. Dizem que existem dois tipos de amor: aquele capaz de incinerar o mundo e aquele capaz de erguê-lo em glória mesmo após a incineração. O meu, poderia ser erguido em glória mesmo após a incineração.

Sim, estavam certos: amor é pezinho.

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?
Autorais, Livros

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Ilustração acima que me inspirou a escrever o texto é da Grazi França

Minha mãe certa vez me disse que eu não sabia fazer nada sozinho. Fiz anos de terapia por isso. Eu realmente não gostava de fazer nada sozinho e por isso, fui presa fácil pra você. Eu estava solitário quando você veio e, aos poucos, cerceou meus pensamentos, reprimiu minhas ideias e dilacerou minha cognição. Esse é o preço que pago por não ter aprendido a fazer nada em vão.

Você veio como tempestade. Mas, na época, parecia um tranquilo por do sol laranja no parque. Andar de mãos dadas com você na trilha lotada era lindo. Mas andar sozinho na trilha vazia é bom também. Pelo menos eu sei que não vai ter nenhum ataque sorrindo.

+ Aquilo (não) foi real

Agora, vivo o nascer do sol na minha cabeça porque percebo que com você, vieram as nuvens pesadas que nublaram cada uma das imagens do meu coração. E quando eu nublei, você puxou ainda mais as rédeas do seu poder de adoração.

Você calculou milimetricamente cada atitude sua para ser penhasco quando eu era ponte. E você me fazia pensar que essas nuvens e trovões eram parte da mudança. Afinal, o que muda sem temer? Qual amor se ama sem doer? Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Você me fazia pensar que você era o sol e eu precisava orbitar ao seu redor como um corpo celeste qualquer que pode entrar em combustão se sair da linha do seu jogo. E eu saí. E eu entrei. Você queimou cada célula minha e fez acreditarem que eu era um monstro cuspidor de fogo.

Eu estava tomando chuva. Levando descargas elétricas de sentimentos difusos. Mas, você dizia que eu era o próprio coração confuso.

Meu bem, eu sei que santo eu não sou, mas também sei que paguei por você muito mais do que você valia, porque o paguei com uma moeda de troca cara demais: eu, à revelia. Eu fui sua moeda na boca, seu troféu, seu réu… Seu álibi e seu baú de insegurança. Uma criatura oca.

Por muito tempo continuei não indo sozinho ao parque vazio. Porque quando te encontrei, flores cresceram nas partes mais obscuras da minha mente, quando te conheci, a tortuosa tempestade começou a cobrir a gente, mas…

Foi quando te deixei, que o sol voltou a raiar novamente.

Aquilo (não) foi real
Autorais, Livros

Aquilo (não) foi real

“Pode parecer que não, mas eu tô com saudade”, e eu também estava. E meu coração palpitava ao ler isso. Dava aquele famoso pulo e ameaçava sair pela boca. Mas não ia admitir, não podia, óbvio que não.

Mas então, te vi de longe e o sorriso apareceu sozinho, abriu, como o sol abre após a chuva. E minhas pernas aumentaram o ritmo, sem que eu pedisse. Simplesmente foram, e eu não tentei impedir. Fui, me deixei.

Te abracei, então. Seu braço ao redor da minha cintura naquele pufe dentro da biblioteca antiga. Sua letra parecida com a minha na ficha branca. “Deita aqui”, era a deixa que eu precisava e hoje penso que eu parecia um cachorro. Deitei apoiando no seu braço e de repente eu estava de novo no país das maravilhas, me perdendo mais uma vez. Me perdendo e perdendo… E você sabia.

+ Entre as nuvens cinzas de paranóia

E o beijo logo depois, com seu gosto, aquele gosto que eu era incapaz de esquecer ou encontrar em qualquer outra boca. Porque era único, exclusivo. Tudo único. E então, você me puxa pela mão por entre as árvores com poucas folhas por conta do inverno. Eu parecia um boneco nos seus braços. O chão também estava cheio delas, secas pelo frio. Os coelhos brancos e pretos saltitavam ao redor. Os patos, observavam como os cúmplices que jamais me fariam esquecer de que aquilo havia sido real, apesar de eu preferir que tivesse sido apenas um devaneio erótico e doido da minha mente.

Eu havia finalmente chegado ao país das maravilhas, estava perdido nele, fingindo que seria eterno, ou eternamente numerado, limitado. Sabendo que, apesar de perdido ali, era só um escape da minha realidade inútil. Do real nojento.

Os coelhos dali observavam ainda, cúmplices de que aquilo era real e não algo da minha cabeça. Mais provas de que nunca me deixariam esquecer por mais que eu quisesse. Cúmplices de que eu estava, mais uma vez, me deixando perder nas suas linhas tão cuidadosamente escritas do país das maravilhas.

Embaixo daquela árvore, nada mais importava, de qualquer jeito. Nada. Só o que eu estava concluindo, como um fotógrafo de retratos.

Sempre disse que amava fotos porque elas eram a prova de que tudo era perfeito, mesmo que por um milésimo de segundo. Mas, além delas, as nossas lembranças provam isso. Ou tentam. A lembrança primitiva é da sensação boa, que aos poucos é envenenada pela sua presença nojenta. Meus olhos estavam fechados, não tenho lembranças visuais. Todos os sons do mundo sumiram. Não tenho lembranças auditivas. Mas há a lembrança do toque sutil seguido dos apertos montanhosos nos meus braços. Quase agressivos.

Há a lembrança do seu cheiro de amaciante nas roupas. O mesmo cheiro daquela primeira vez. Há a lembrança do sabor, aquele que só você tinha. Não, não me refiro à menta de cereja, que era de morango. Me refiro ao seu sabor mesmo, aquele que é só seu. Aquele, mesmo, que conheço tão bem e que hora e outra volta à minha boca e me deixa desperto. “É o sabor dele”, o cérebro diz para o coração em uma descarga de adrenalina contínua. Hoje sei que isso é um alerta.

Não sei se isso tem explicação científica além de síndrome de Estocolmo. Sinceramente, como seu gosto volta à minha boca, assim, do nada? Cérebro, o senhor está cúmplice do coração? Até você?

O sol baixava conforme o céu se alaranjava. Ainda entre as árvores do país das maravilhas, você disse “Pula”. Pausa. “Não confia em mim?” Pulei, de olhos fechados, como havia pulado desse penhasco de sensatez em direção a maré dos meus sentimentos. Pulei, sem pensar. Pulei.

Você me segurou. Literalmente, e mais uma vez, como todas as outras. Você me prendeu. Fisicamente. Metaforicamente. Você me segurou. Será que eu estava seguro com você?

E então, veio o beijo lento, devagar, lento, lento… Explorador. Cuidadoso, como jamais havia sido. Calmo, sem aquela pressa ou urgência. O tempo no país das maravilhas passava mais devagar. Era um efeito contrário à você, afinal, você o fazia correr.

E o que fiz de novo era sorrir. Porque eu soube que não importava quantas vezes perdêssemos o caminho para o país das maravilhas, sempre o encontraríamos, de uma forma ou de outra.

Hoje, me pergunto: quero mesmo encontrar? Aquilo (não) foi real?

Amor é dor
Autorais, Livros

Amor é dor

Aviso de gatilho: Pensamentos suicidas, codependência

Querido diário,

Não sei o que te escrever hoje. Acho que só busco um refúgio, uma válvula de escape que não me seja prejudicial como as outras eram. Te escrevo aqui, desesperadamente, de caneta azul, fugindo dos meus padrões, ao som de Troye Sivan porque dói. Aquela dor que te reduz ao tamanho de um grão, que você se encolhe tentando reprimir. Será que não existe felicidade abundante? Não, não existe. Ainda mais pra mim. Porra, o que eu estava pensando? Que eu seria aquele sorteado que se fodeu a vida toda só para se dar bem no final? Ha-ha. Jamais, né.

+ Gosto de começar as coisas

Tô preso. Desesperado. Ávido por uma resposta. Meu infinito tem numeração e Deus, como eu queria mais números. É doloroso porque posso tê-los. Mas estou preso e impedido de pega-los. Porque eu não merecia isso?

É muito para o meu final feliz. Sempre soube. Estou fadado à amargura. Ao fim solitário. E eu sou só mais um nesse turbilhão de sentimentos. Não sou o primeiro, nem o último. Quedas doem muito. Muito mais do que eu gostaria. Mas eu não sei viver fora dos excessos. Não sei não sofrer por antecipação. Não sei.

Eu só queria poder pegar mais números para o meu infinito. Mas estou preso. Cansado. Cansado da dor. E o meu medo só aumenta. Sim, medo de mim mesmo. Do que posso me tornar sem você. Medo do que posso voltar a ser. Os fantasmas assombram crianças fracas e amedrontadas. E eu temo ser uma delas. Porque eu sei quem eu sou com meu travesseiro.

Só ele sabe os pensamentos suicidas que me visitam todas as noites. Só ele, além de você, consegue acalmar minhas madrugadas de tormenta. Mas ele não pode ser você. Já você, pode muito bem ser ele. Dormir com a sua respiração talvez seja a melhor coisa do mundo.

E temo estar perdendo, junto com a minha sanidade que se esvai a cada lágrima caída.

Por que amor é dor?

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim
Autorais, Livros

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim

Esses dias minha terapeuta disse que me criei sozinho. Tive que fazer as coisas antes de saber se fariam por mim. Tive que resolver muita coisa sozinho. E talvez seja essa a raiz da minha ansiedade hoje em dia. Eu vou lá e faço o que eu quero, seja a hora que for. Eu não gosto e não consigo esperar.

+ A volta do que jamais deveria ter partido, por Gabu Camacho
+ Resenha: Os sete maridos de Evelyn Hugo, Taylor Jenkins Reid

Eu não tive como esperar ou cogitar contar com ninguém. Se eu quisesse algo, precisava fazer. Muitos podem achar que isso é uma qualidade, mas eu te garanto: não é. O ser humano precisa do outro. O que nos torna humanos é o relacionamento. A gente precisa precisar.

E eu não consigo precisar. Eu vou lá e continuo fazendo.

Nesse caminho de aprender a resolver as coisas por mim paguei muitos preços. Perdi amizades boas. Perdi momentos incríveis. Perdi fases da vida. Eu sempre estive uma fase além da minha. Quando eu tinha 18 anos e devia estar na balada, eu estava preocupado com o faturamento da empresa que eu criei. Quando eu tinha 23 e devia estar focado em terminar a faculdade, estava me desdobrando em cinco pra conseguir me sustentar sozinho.

Deixei muitos pratos caírem. Hoje vejo quantas vezes fui omisso. Quantos churrascos de família perdi, quantas festas infantis, quantos papos com meus primos que estiveram comigo e me fizeram ser quem eu sou…

Tive que deixar cair.

Me desculpa, mas…

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim.

E eu faria tudo de novo. E eu não sei se acho justo me desculpar por isso. Aprendi que temos que fazer a melhor escolha, mesmo quando ela não é a coisa mais certa.

Mas, afinal, quem diz o que é certo e o que não é?