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Fernanda Brito

A racista que existe em mim: uma reflexão sobre o livro “Pequeno Manual antirracista”, de Djamila Ribeiro
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A racista que existe em mim: uma reflexão sobre o livro “Pequeno Manual antirracista”, de Djamila Ribeiro

A racista que existe em mim não queria escrever este texto. Porque, antes de tudo e acima de todos, ela não se acha racista. Afinal, ela tem amigos negros, um marido negro e uma filha negra, então, como ela poderia ser racista?

A racista que existe em mim sente uma necessidade constante de reafirmar que não é racista. Ela repete de novo e de novo, como um mantra, uma canção que adormece o monstro que ela sabe que dorme dentro de si. O monstro do racismo.

+ Qual é a minha cultura?

Eu odeio esse monstro. Mas também sinto medo dele. Medo de ser dominada por ele em algum momento e dizer ou fazer algo que eu não queria. A racista que existe dentro de mim acha que manter o monstro adormecido é o suficiente, pois, enquanto ele dorme, ninguém sabe que ele está ali. Eu sei.

Djamila Ribeiro afirma em seu livro “Pequeno Manual Antirracista” que “é impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista”. E, no Brasil, nós somos criados em uma sociedade racista que normaliza o negro como bandido, associado à pobreza, falta de cultura e pouco estudo.

Nós não nos incomodamos por não vermos negros nas propagandas de marcas famosas na televisão ou por que a maioria dos personagens negros nas novelas são de empregadas domésticas, motoristas ou algum núcleo de escravos em uma novela de época. Ou do núcleo da favela, não podemos esquecer. Afinal, a maioria dos personagens traficantes ou pobres são negros.

Nós não nos incomodamos em abolir expressões racistas do nosso vocabulário, como mercado negro e criado-mudo e justificamos contextos racistas em músicas e obras literárias com a boa e velha “era a cultura da época”. Repassamos isso por gerações como um patrimônio histórico. O patrimônio do racismo.

Em seu livro, Djamila também diz como o antirracista acaba virando o “chato” porque, a partir do momento em que você escolhe cutucar todas as feridas de uma sociedade construída em cima do racismo e da desigualdade que esse racismo traz, você fica mesmo muito chato.

Assim como bem aponta a autora, o racismo no Brasil é estrutural, portanto, vive nas entranhas da nossa sociedade por muito mais tempo do que gostamos de admitir e isso é realmente muito “chato”. Tão chato que falar sobre racismo é um assunto incômodo, um tabu, pois ninguém quer ser o primeiro a cutucar a ferida.

Essa ferida deve ser cutucada. E, digo mais, cutucada por quem criou ela: os brancos. No “Pequeno Manual Antirracista”, Djamila Ribeiro faz uma afirmação interessante de que o racismo foi criado pelo branco. Nada mais verdadeiro e mais óbvio, porém, pouco pensado dessa forma e, muito menos, discutido.

E é interessante pensarmos sobre isso porque, antes da escravidão, os povos negros viviam em etnias, culturas e línguas ricas e diversas, mas foram reduzidos pelos brancos a, simplesmente, “o negro”. Assim como todo o continente africano foi reduzido a África (acredito que deva ter gente por aí que até pensa que é um país só). Ou como tantos povos com suas histórias e tradições foram reduzidos a nada.

O branco tem muita dificuldade de entender o seu papel no racismo, mesmo sendo o seu criador, praticante e maior defensor. Ele acha que não faz parte porque ele não é racista. Ele nunca escravizou ninguém. Ele tem amigos negros. Ele emprega pessoas negras e jura que a meritocracia funciona.

Eu concordo com a Djamila quando ela diz que não ser racista não é o suficiente. Devemos ser antirracistas. Devemos nos incomodar por, em um país com 56% da população sendo negra (o que torna o Brasil a maior nação negra fora da África), ter tão poucas pessoas negras em cargos de poder. Devemos nos incomodar pela falta de autores negros nas bibliografias de cursos superiores, nas antologias, em cargos de gerência e até no núcleo rico da novela.

A racista que existe em mim sabe que goza do privilégio branco e que as coisas não são nem de perto como deveriam ser. Mas é cômodo para ela ficar quieta, continuar usufruindo de seus privilégios e fingir que essa luta não a pertence. Afinal, ela não é racista. Ela não escravizou ninguém. Ela tem amigos negros.

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TAG: 5 melhores personagens femininas da literatura

A TAG de hoje é sobre as 5 melhores personagens femininas da literatura. Claro que é muito difícil listar somente 5, já que, cada vez mais, as mulheres vêm lutando pelo seu protagonismo, o que não é diferente nos livros. Porém, podemos dizer que essas 5 personagens iniciam uma lista infinita de mulheres fortes, independentes e aquém aos padrões ditados pela sociedade.

1 – Aurélia Camargo (Senhora, de José de Alencar)

Aurélia é a protagonista de Senhora, um livro de José de Alencar, publicado em 1874. Na trama, Aurélia era filha de uma costureira pobre e se apaixona por Fernando Seixas, um homem ambicioso que a despreza por querer se casar com uma mulher rica. Com a morte da mãe e uma herança inesperada do avô, Aurélia ascende de classe social e atrai novamente a atenção de Fernando. Com isso, ela propõe um acordo em forma de vingança: um casamento arranjado em troca do dinheiro que ele tanto queria. Assim, ela deixa bem claro o tempo todo que o está comprando, porém, o sentimento não some e Aurélia sofre bastante com sua própria vingança antes do final feliz.

O que coloca Aurélia em primeiro lugar é a sua personalidade forte e o papel que ela desempenha na história. Ao observarmos o contexto, a sociedade carioca do século XIX, não acha-se muito comum uma moça jovem e sozinha agir assim com tanta incisão e firmeza, administrando seus próprios negócios e até comprando seu próprio marido. Aurélia pode ser claramente vista como uma mulher feminista que, apesar de sofrer as consequências de seu próprio plano de vingança, age como tal para se posicionar como dona de si e contra a hipocrisia da sociedade da época.

2 – Capitu (Dom Casmurro, de Machado de Assis)

Capitu é a coadjuvante do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Narrada por Bentinho, a história tem como enredo principal seu romance com Capitu que acaba em um casamento cheio de desconfiança com uma possível traição entre Capitu e seu melhor amigo. Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Ninguém nunca saberá e, talvez, nem o próprio Machado de Assis sabia. Porém, o relevante para esse post é o espírito livre e independente de Capitu que não se deixou abalar pela insegurança de Bentinho, mantendo sua personalidade forte e não cedendo às pressões de uma sociedade machista que a rotulava como “dada” demais para uma moça de família.

3 – Elizabeth Bennett (Orgulho e Preconceito, de Jane Austen)

Chamada de Lizzie pelas irmãs e pela melhor amiga, Elizabeth Bennett não se intimida diante da possibilidade de não receber herança do pai por ser mulher e não encara o casamento como a única coisa que ela deva almejar na vida. Orgulho e Preconceito é um romance de Jane Austen e se passa na antiga Inglaterra, quando as filhas não tinham direito à herança, ou seja, a maior preocupação dos pais era casá-las antes de sua morte, senão, ficavam na rua ou à mercê dos cuidados de outros parentes. A família Bennett tem 5 moças solteiras, então, o desespero exala a cada página.

Ao longo da história, vemos os esforços da mãe em arranjar bons casamentos para as filhas, porém, uma delas, Lizzie, não aceita muito bem essa história. Voluntariosa, inteligente, curiosa e leitora voraz, Lizzie não se importa com a postura, etiqueta, bailes e sua posição na sociedade. Ela também não se importa se terá direito a herança ou não, não tendo medo do trabalho e em ter que se cuidar sozinha. A única coisa com que Elizabeth Bennett se importa é se manter dona de si mesma, não aceitando de forma alguma se vender para qualquer um em troca de dinheiro e posição social. Quem leu o livro sabe que ela conhece o Mr. Darcy e que, depois de muitas brigas e desentendimentos, ele se mostra digno de se casar com ela e é aceito, porém, sempre é deixado bem claro que ele nunca seria seu dono e nunca a diria o que fazer.

4 – Gabriela da Silva (Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado)

Gabriela da Silva é uma sertaneja que migra do agreste baiano para Ilhéus em 1925 em busca de trabalho e uma vida melhor. É levada pelo árabe Nacib até seu bar e assume a cozinha como cozinheira, já que sabe usar bem os temperos baianos. Logo, chama a atenção de todos os homens da região por ter a cor da canela, o cheiro do cravo e uma beleza e sensualidade sem igual. O próprio Nacib não resiste e, após um tempo mantendo relações com Gabriela, resolve casar com ela, porém, a moça não cede às obrigações e costumes da época para uma mulher casada, já que sempre foi fiel aos seus desejos e vontades.

Após Gabriela ser flagrada na cama com outro, Nacib anula o casamento, mas a mantém como cozinheira e amante como antes, se conformando com a situação e aceitando o espírito livre de Gabriela, que é quem personifica as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária em pleno nordeste brasileiro.

5 – Luna Lovegood (Harry Potter e o cálice de fogo, de J.K. Rowling)

Luna Lovegood é uma personagem da saga britânica Harry Potter que inicia sua jornada no quarto volume da série. Filha de Xenofílio Lovegood, autor da revista O Pasquim, e órfã de mãe, Luna está nesta lista por uma característica muito peculiar: ela não se importa com o que pensam sobre ela. Apesar de ser uma característica simples e parecer até “bonitinho” em uma história escrita originalmente para crianças, Luna nos traz uma lição que vai muito além disso.

Em algumas partes da história, vemos Luna sofrer bullying por agir diferente dos outros alunos. Ouvimos as risadas, vemos o revirar de olhos, o desconforto de alguns ao redor… Luna acredita em seres místicos que, apesar da trama fantasiosa, não existem no mundo mágico de Harry Potter, como uma criança que acredita no Papai Noel ou na Fada do Dente. Luna se veste como acha melhor e mais confortável, apesar de usar certos acessórios que não vemos as outras meninas de sua idade usarem. Luna dança conforme sente a música, mesmo que isso signifique dançar diferente de todo mundo ao redor. Enfim, Luna Lovegood é feliz e satisfeita em ser quem é, não se importando nunca e nem um pouco com o que pensam sobre ela.

A mensagem que isso passa para as meninas que assistem a saga é maravilhoso, afinal, o que mais temos na nossa sociedade é a pressão em seguir o padrão e a eterna frustração de nunca alcançar esse padrão. Seja pelo corpo perfeito, a personalidade perfeita, a inteligência perfeita… Se, assim como a Luna, nos importássemos mais com quem somos e o que gostamos, e menos com o que pensam que devemos ser, seríamos muito mais felizes.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Creed – Nascido para lutar (2015)

Creed: Nascido para lutar pode ser visto como a continuação de Rocky com um ator mais novo. Assim como vimos acontecer em Karatê Kid com Jack Chan, vemos mais um herói virar o mentor do próximo que continuará a franquia. Em Creed, Rocky Balboa é procurado pelo filho de Apollo Creed, um antigo campeão mundial de boxe já morto, para que seja seu treinador e o ajude a seguir os passos do pai.

Adonis Johnson escolhe não carregar o sobrenome do pai para que não seja comparado com ele, mas seu maior desafio não será nos ringues, mas sim, em provar para Rocky que ele tem a determinação e paixão necessárias para ser um verdadeiro lutador. Paralelo com isso, temos a luta do próprio Rocky que foi diagnosticado com câncer e escolhe não fazer o tratamento.

Como o sétimo filme da série Rocky, Creed não deve em nada nas cenas de treinamento e superação e todo aquele drama característico do estilo “não é o quanto você bate, mas o quanto você aguenta apanhar e permanecer de pé”. Aos poucos, Rocky e Adonis se entendem e se ajudam, levando o filme até a também característica luta final, onde culmina no clímax da história.

Para quem curte filmes sobre o mundo do boxe e, principalmente, os filmes da série Rocky, não vai se decepcionar. Porém, para quem esperava uma novidade, sinto informar de que só há mais do mesmo. O mentor com seu pupilo, tentando ensinar tudo o que aprendeu em seus anos e anos de lutador, tentando até transferir um pouco a relação que gostaria de ter tido com o próprio filho. Várias cenas de desentendimentos que terminam em aprendizado e pérolas de sabedoria que só o Rocky tem. Muito sangue e suor em pró da vitória no dia da grande luta, da qual depende a carreira de Adonis.

Michael B. Jordam e Sylvester Stallone estão excelentes como sempre, a trilha sonora é vibrante e inspiradora e vemos algumas cenas que homenageiam os outros filmes da franquia, como a tradicional corrida da escadaria, já que o filme também se passa na tradicional cidade da Filadélfia, mas, claro, vemos um Rocky debilitado e cansado que, depois de tanto lutar e amparar, agora precisa ser amparado. Eles desenvolvem uma relação quase de pai e filho e, apesar do final clichê e já esperado, a emoção é inevitável.

Creed: Nascido para lutar chegou aos cinemas em 2015 e teve sua continuação em Creed II em 2018, dando continuidade a lendária série Rocky que iniciou em 1976.

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Especial Fernanda Montenegro 90 anos

Em comemoração aos 90 anos de uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, o Beco traz um especial sobre Fernanda Montenegro. Nascida em 16 de outubro de 1929, Arlette Pinheiro Esteves Torres completa 90 anos nesta semana e carrega uma carreira admirável. Fernanda Montenegro iniciou sua carreira no teatro em 1950, sendo a primeira atriz contratada pela TV Tupi em 1951. Foi protagonista na primeira novela da emissora, A Muralha, e estrelou inúmeras peças no teleteatro da TV Tupi em São Paulo, que eram apresentadas no Grande Teatro Tupi.

Fernanda Montenegro trabalhou na TV Tupi, Record, Bandeirantes e na extinta TV Excelsior, chegando à Rede Globo em 1965 para uma série de teleteatros, porém sua consolidação na emissora foi ocorrer somente em 1981 na novela Baila Comigo, de Manoel Carlos. Sua estreia em cinema se deu na produção de 1964 para a tragédia de Nelson Rodrigues, A Falecida, sob direção de Leon Hirszman.

Em 1999, por sua atuação no filme Central do Brasil, de Walter Salles, Fernanda Montenegro foi a primeira artista brasileira a ser indicada para o Oscar de melhor atriz. Um ano antes, ainda por sua atuação nesse filme, recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim. Foi convidada para ocupar o Ministério da Cultura no governo dos presidentes José Sarney e Itamar Franco, porém, apesar do grande apoio da classe artística e intelectual, recusou ambas as ofertas. Em 1985, ao recusar o convite de Sarney, afirmou em carta ao então representante do governo que não estava preparada para abandonar a carreira artística, não por medo ao desafio que lhe era oferecido, mas sim, por entender que seria muito melhor no palco do que no Ministério.

Recebeu em 1999, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Ordem Nacional do Mérito Grã-Cruz “pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras”. Na época, uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro comemorou os 50 anos de carreira da atriz. Em 2004, Fernanda Montenegro foi escolhida como melhor atriz da terceira edição do Festival de TriBeCa. Ela foi premiada por sua atuação em O Outro Lado da Rua, único filme da América Latina a participar da competição de longas de ficção. Em 2009, recebeu a Ordem do Ipiranga, no grau de cavaleiro, do Governo do Estado de São Paulo, e, em 2012, o Emmy internacional de melhor atriz por sua personagem no especial de Natal Doce de Mãe.

Na televisão, Fernanda Montenegro coleciona 52 trabalhos, entre teleteatros, novelas e minisséries, sendo que, nos teleteatros, contam-se dois programas, Retrospectiva do Teatro Universal e Retrospectiva do Teatro Brasileiro, porém são inúmeras peças e inúmeros personagens. Já no cinema, temos os impressionantes 42 filmes. Fernanda Montenegro também coleciona os invejáveis 35 prêmios nacionais e internacionais de melhor atriz no cinema, 18 prêmios por seus trabalhos na televisão e 28 no teatro. Já de comendas temos nove, inclusive uma da França e uma de Portugal. Pisa menos, Fernanda!

Não dá para negar que Fernanda Montenegro é mesmo a primeira dama do teatro, televisão e cinema brasileiro, e o Beco deseja um feliz aniversário para essa rainha da dramaturgia. Rumo aos próximos 90!

 

Atualizações, Cultura, Música

Beco no Rock in Rio: Como chegar e sair do Parque Olímpico da Barra #02

O Rock in Rio se dá início nesse fim de semana e o Beco está de volta com sua cobertura tradicional que começou nas últimas edições. Durante toda essa semana, vocês terão acesso às atrações, dicas de sobrevivência, convidados e tudo que podemos esperar do Rock in Rio 2019. Nessa segunda postagem da temporada, vamos falar sobre locomoção.

Este ano, o Rock in Rio será realizado no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, localizado na Barra da Tijuca. O complexo esportivo foi construído para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Verão de 2016 na área oeste da cidade. A capacidade total é de 107.750 pessoas, somando as cinco arenas e toda a área aberta.

Os ônibus que passam perto do Parque Olímpico são as linhas 50 e 613. Já as estações são a Parque Olímpico/Jeunesse Arena, Joia da Barra e a Villa Aqua. BRT e metrô são as melhores opções para chegar ao Parque Olímpico do Rio de Janeiro, sendo que o BRT ida e volta custará R$15,05 (linha especial somente para quem vai para o Rock in Rio). A linha SE 003 faz o trajeto Terminal BRT Jardim Oceânico e vai até o Terminal BRT Centro Olímpico (expresso).

Linhas especiais (Ida e volta, das 12h às 5h):

  • 003 (Jardim Oceânico x Rock in Rio/Direto)
  • 005 (Alvorada x Rock in Rio/Direto) (Somente volta, das 0h às 5h)
  • 004 (Rock in Rio x Madureira, via Curicica/Expresso)

Todas as linhas do metrô vão rodar sem parar nos sete dias de shows, mas apenas a Estação Jardim Oceânico da Linha 4 ficará aberta para embarque. Fora do horário normal, nas madrugadas, as demais só funcionarão para desembarque.

Para quem vai de carro, uma má notícia: não há estacionamentos em torno do Parque Olímpico do Rio de Janeiro. Inclusive, nem carros de aplicativos poderão ultrapassar os bloqueios, somente carros de moradores da região que receberão uma credencial especial.

Então a dica é: vá e volte em segurança de transporte público. Assim, você curte o show sem se preocupar com estacionamento, trânsito ou se vai ter carro de aplicativo suficiente.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Abigail e a cidade proibida (2019)

Abigail e a cidade proibida é um filme russo que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (12) e surpreende em vários aspectos. Primeiro, é um filme russo, e, vivendo em um mundo dominado pelo cinema hollywoodiano, é surpreendente quando somos expostos a um filme russo. Segundo, ele ressuscita o gênero steampunk tão popular nos anos 80 e 90. Porém, as surpresas não são suficientes para amenizarem os furos no roteiro e a fraqueza da história.

Para quem não conhece, steampunk é o termo usado para uma ficção científica que fala sobre avanços tecnológicos em uma história que se passa mais no passado. Confuso? Deixe-me explicar. Júlio Verne descreve uma máquina parecida com um submarino no início do século 20, assim como também fala sobre uma viagem ao redor do mundo em um balão de ar quente. Submarinos e balões são coisas totalmente comuns para nós, mas não são na época em que a história passa.

Agora, voltando à história da Abigail, temos um mundo onde há pessoas capazes de produzir magia que pode ser canalizada em armas futurísticas que lançam raios. A tal cidade proibida é o local onde eles moram, uma cidade totalmente cercada onde ninguém entra e ninguém sai. O motivo dado à população é que há uma doença mortal que se espalhou pelo mundo e eles só estão vivos por causa da muralha que cerca a cidade.

Ninguém sabe o que há lá fora ou se ainda há algo lá fora, porém, já se passaram tantos anos que ninguém mais pergunta, só aceita. Homens mascarados patrulham as ruas o tempo todo, colocando luzes nos olhos das pessoas para testar se a tal “doença” se manifestou. Aqueles que têm um diagnóstico positivo são levados para fora da cidade.

Dentro desse mundo pós-apocaliptico meio futurista e mágico, temos a nossa mocinha, a Abigail, cuja o pai trabalhava para o governo e foi levado quando ela tinha 8 anos. A história se passa quando ela já está com 18, mas temos vários flashbacks ao longo do filme, onde Abigail se lembra das lições que seu pai a ensinou e segue em uma busca implacável de seu paradeiro.

Abigail e a cidade proibida tinha tudo para dar certo, porém, a fórmula não funcionou tão bem quanto esperado. Apesar do roteiro diferente, essa aposta arrojada no steampunk em contrapartida da ficção científica tradicional que está tão em alta e toda aura de magia e ótimos efeitos especiais, o filme peca na execução em falar muito em tão pouco tempo e forçar um romance entre Abigail e o líder da resistência que se consolidou em menos de dez minutos.

Temos magia, um mundo pós-apocalíptico, uma trama cheia de conspiração, várias intrigas e muitos personagens com histórias mal acabadas no mesmo filme. Levando em conta o público-alvo que eu não julgaria ser mais do que infanto-juvenil, a confusão é muito grande e, ao final do filme, saímos com aquela sensação de que não foi tudo entendido de verdade. Até agora eu não entendi como se consegue trancar uma população inteira dentro de uma cidade por mais de 100 anos sem ninguém desconfiar de nada. Quem era o líder dessa coisa toda? Porque temos um líder na época da Abigail, mas é impossível que seja o mesmo desde o início. Ou ele tem o poder da imortalidade? Isso não é explicado na história.

Como todo o restante do filme, o clímax é rápido e confuso demais, com mais enfoque nas lutas e efeitos especiais do que em amarrar as pontas soltas. O tal shipp dos mocinhos não tem química nenhuma, e ninguém parece se importar muito com os mortos durante o processo. Talvez, se eles tivessem diminuído um pouco a quantidade de informações e investido mais em solidificar o roteiro, dando realmente um princípio, meio e fim para tudo, Abigail e a cidade proibida teria tudo para ser um sucesso. Infelizmente, não é esse o caso.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: O Rei Leão (2019)

Dia 18, chegou aos cinemas O Rei Leão em sua tão esperada versão live action. Sendo muito criticado pela falta de inovação nas cenas que podem ser comparadas quadro a quadro com sua versão animada de 1994, O Rei Leão chegou para mostrar que nostalgia vende.

Um live action sem humanos e feito totalmente de animação, com exceção de uma cena, pode ser considerado um live action? Essa é a pergunta que não quer calar ao assistirmos um filme estrelado totalmente por animais tão reais que nos deixa na dúvida, tirando um pequeno detalhe: animais não falam.

Jon Favreau, diretor do filme, revelou em seu Instagram que a única cena verdadeira presente n’O Rei Leão é o trecho de abertura com a música Circle of life, quando vemos a savana africana. Fora isso, há 1490 planos renderizados criados por animadores e artistas de efeitos visuais.

Relembrando um pouco a história, O Rei Leão conta a trajetória do príncipe Simba que, após a morte de seu pai, se atormenta com a culpa, foge e não assume o trono. Porém, após seu tio ser coroado e levar o reino à fome e destruição, Simba volta, enfrenta o tio e assume seu lugar de direito. Alguém mais notou algo familiar nesse enredo? Sua percepção está muito boa se a peça Hamlet, de Shakespeare, lhe veio à cabeça.

Para quem não conhece a peça, Hamlet conta a história do príncipe homônimo que tem seu pai assassinado pelo tio, Cláudio, que casa com a rainha e assume o trono. Atormentado pelo fantasma do pai que cobra vingança, Hamlet mata o tio, vira rei e recupera a honra da família. Idêntico, não é?

Podemos ver o tio invejoso, Scar, a rainha Sarabi que fica sob o poder dele, o príncipe Simba que perde o trono e fica ouvindo a voz de seu pai: “Lembre-se de quem você é”, e o gran finale que culmina na morte do tio e a retomada do trono. Claro que tudo muito bem atenuado com músicas e comédia como só a Disney sabe fazer. Afinal, quem pode me dizer uma história da Disney que não começa em uma verdadeira tragédia e termina no mais lindo e radiante felizes para sempre?

Apesar de a animação de 94 e a versão live action serem praticamente iguais, a diminuição do fator atenuante na segunda fez muita diferença. O filme está mais sombrio e deixou bem claro que não veio para atrair novos fãs, mas sim, para alimentar a nostalgia das crianças dos anos 90 que hoje já são adultos. Alguns detalhes que sequer são citados na animação, ficaram bem evidentes agora, como a cicatriz do Scar que é resultado de seu duelo com Mufasa pelo trono.

A rejeição de Sarabi ao não querer ser a rainha de Scar, o que faz as outras leoas o rejeitarem também, é algo que não foi abordado na animação, porém, nessa nova versão, deixa claro que a rejeição é de cunho sexual. Timão não interrompe mais Pumba quando este canta a música sobre suas flatulências e não temos mais a musiquinha alegre de armadilha para as hienas porque, convenhamos, elas não são animais que ficariam esperando o fim de uma música para atacar.

Alguns detalhes, porém, são observados pelo nosso amadurecimento em sermos mais céticos e críticos ao assistirmos um filme, do que provavelmente éramos há 25 anos. Se só há um leão vivendo na pedra do rei, ou seja, o próprio rei, então quem é o pai dos outros filhotes? Claro que sabemos que são do próprio Mufasa, então, por que só o Simba é o herdeiro do trono? E, ao se casar com Nala, ele se casa com a própria irmã? Claro que sabemos também que nada disso importa no reino animal, porém, ao humanizarmos os personagens, somos levados a esse tipo de questionamento.

Outra pergunta que não quer calar é: como sustentar um animal que está no topo da cadeia alimentar somente com insetos? E como ele conseguiu ficar tão gordo e saudável assim? Ao pensarmos por esse lado, seria impossível também aceitar que um leão seria amigo de um porco. Enfim, só nos resta render-nos à magia do faz de conta e nos entregarmos como fizemos há 25 anos, quando a nossa maior preocupação era aprender as letras das músicas, viver o Hakuna Matata e torcer pelo final feliz já tão esperado.

O Rei Leão faturou US$ 531 milhões em seu final de semana de estréia, o que ultrapassa mais da metade de todo o faturamento da primeira versão. Porém, como, na China, o filme foi lançado 1 semana antes, podemos dizer que O Rei Leão estava há 10 dias em cartaz. Como uma das histórias mais clássicas da Disney que inspirou peças e musicais por todo o mundo, inclusive na Broadway, vamos ver se o old ainda é gold e se a versão live action vai desbancar o primeiro lugar em bilheterias de animações da Disney, que continua intacto com Frozen desde 2013.

 

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Crítica: Inocência Roubada (2019)

Chega hoje (11) aos cinemas o filme Inocência Roubada, de Andréa Bescond e Eric Métayer. Depois de ser exibido em Canes e no Festival Varillux do cinema francês, Inocência Roubada chega para contar a história da dançarina, atriz e diretora Andréa (sim, é uma história autobiográfica e estrelada por ela), chamada no filme como Odette. O tema é abuso infantil no âmbito familiar, mais precisamente, por um amigo da família. Usando o recurso de narrador em primeira pessoa junto com flashbacks do passado, Odette (Andréa Bescond) vai contando sua história para a terapeuta e, ao mesmo tempo, para os telespectadores do filme.

Originalmente lançado como uma peça de teatro estrelada por Andréa e dirigida por Eric, Inocência Roubada pode ser visto como uma catarse da dançarina que foi abusada na infância por um amigo próximo de seus pais. Durante o filme, vemos a pequena Odette, uma bailarina muito talentosa, sofrer calada e sozinha ao não conseguir ver nos pais uma fonte de confiança e proteção. Há um tato muito grande do filme em não mostrar as cenas explícitas, mas o desconforto é inevitável a cada porta que se fecha e silêncio que se instaura. Não há gritos, nem efeitos sonoros frequentemente usados para alertar o telespectador sobre uma cena mais forte, só o silêncio. Um silêncio incômodo, indigesto, perturbador.

Odette segue na carreira de bailarina, cresce e se torna uma usuária de drogas que não respeita seu próprio corpo nem a si mesma como pessoa. Sua família continua sendo amiga da família do molestador, a vida segue, mas a dor não passa. Até que, ao procurar uma terapeuta para falar sobre isso pela primeira vez, tudo começa a vir a tona. As cenas do passado vão passando misturadas com o presente e até com algumas fantasias da bailarina de como ela gostaria que sua vida tivesse sido. Vemos na tela a confusão que se passa dentro da cabeça de uma pessoa e que os acontecimentos não são tão lineares como os filmes gostam de nos fazer acreditar. O pensamento vem, vai, divaga… Anos se passam até que a coragem necessária seja reunida para finalmente expor o crime e começar a cura.

Infelizmente, o abuso infantil é uma realidade mundial que não é combatida com tanto esmero quanto deveria. As denúncias não são feitas e, quando são, a justiça não age como deveria. O peso do estigma ainda é mais pesado do que a dor que corrói e destrói toda uma vida, todo um futuro que aquela criança poderia ter. E, pasmem, ainda há muitos pais que não acreditam na palavra dos seus filhos. Vemos isso na história de Andréa.

Quando Odette finalmente teve coragem de contar para os pais o que havia acontecido durante toda a sua infância, sua mãe duvidou. Mesmo sendo uma mulher adulta contando, ainda houve dúvida. É interessante observar a atitude da mãe de Odette que, durante todo o tempo, mesmo depois que parece acreditar no acontecido, tenta diminuir a importância como se não tivesse sido algo tão ruim. Afinal, foram só alguns dedos. A mãe coloca como se Odette estivesse destruindo toda uma família, como se o ato de falar e contaminar a todos com sua desgraça fosse uma atitude egoísta. Ela deveria permanecer calada e sofrer seus problemas sozinha.

Não há um grande ápice ou um final realmente feliz, já que nada que fosse feito poderia apagar aquele passado terrível. Mas, testemunhamos o início da cura interior de Odette, sua reação em realmente querer viver e superar tudo aquilo. No final, ainda aparecem alguns dados sobre abuso infantil e um alerta sobre a importância de ouvir seus filhos, prestar atenção neles e denunciar qualquer ato suspeito. Inocência Roubada é um filme de utilidade pública porque mostra que ninguém está acima de qualquer suspeita e como é importante ser mais próximo dos filhos e ficar atento aos detalhes. Ouça seu filho, seu sobrinho, seu aluno. Ouça, acredite e ajude.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Tolkien (2019)

Tolkien chega aos cinemas amanhã (23) e o Beco já foi conferir e traz tudo em primeira mão para vocês. Estrelado por Nicholas Hoult e Lily Collins, o filme conta a história de J.R.R. Tolkien, o escritor de O Hobbit e a saga O Senhor dos Anéis. Tolkien é um romance biográfico que nos traz a vida do autor desde os seus tempos de criança, passando pela tragédia da morte de seus pais e seu apadrinhamento por um padre que consegue colocá-lo, junto com seu irmão, para morar com uma senhora muito rica que paga seus estudos em um renomado colégio inglês. Lá, Tolkien (Nicholas Hoult) forma a T.C.B.S. (Tea Club Barrovian Society), um grupo composto por ele e mais três amigos que costumavam se reunir em um clube de chá para discutir os mais diversos assuntos, entre eles, poesia, arte e política.

Conforme Tolkien vai crescendo, seu talento vai aflorando, e vemos ele desenvolvendo seus escritos, criando novas línguas e sendo aceito para estudar clássicos na Universidade de Oxford. Porém, ele perde a bolsa ao não atingir as notas necessárias e percebe que sua verdadeira vocação é com filologia (estudo científico do desenvolvimento de uma língua) e consegue outra bolsa de estudos com o professor de filologia de Oxford.

Tudo parecia bem, mas Tolkien fez uma escolha muito difícil ao aceitar ir para Oxford. Ele abriu mão de seu grande amor, Edith (Lily Collins), uma garota órfã, assim como ele, que foi criada como dama de companhia da senhora rica que patrocinou seus estudos. Edith estava com casamento marcado com outro homem ao ser abandonada por Tolkien, mas aí veio a Primeira Guerra Mundial e tudo mudou.

Durante todo o filme, encontramos referências das obras de Tolkien. Seja nas campinas verdejantes de seu antigo lar onde vivia com sua mãe e irmão, que parecem muito com a descrição do vale dos hobbits, seja na irmandade que criara, nos lembrando muito dos quatro amigos hobbits que estrelam toda a saga O Senhor dos Anéis, ou ainda nas barbáries da guerra, que devem ter sido usadas como inspiração para escrever a grande batalha em Senhor dos Anéis e o Retorno do Rei, último volume da série.

Tolkien tenta nos passar o tempo todo a imensa criatividade do autor biografado com efeitos especiais que dificultam saber o que é real e o que é a imaginação dele, pois há situações em que vemos as coisas pelo olhar dele, e sabemos como é emblemático e peculiar o olhar de um gênio sobre o mundo.

Vemos também o processo de criação das várias línguas usadas na saga, como o élfico e a língua dos anões, e é aí que reside a verdadeira paixão de J.R.R. Tolkien, criar sistemas linguísticos inteiros, mas não somente isso. Assim como ele aprendeu com seu professor de filologia, uma língua sem cultura não quer dizer nada. A língua é a identidade de um povo e carrega história, costumes, tradições, enfim, tudo o que define uma comunidade. Portanto, não pode existir por si só, tem que ter um motivo.

As histórias de Tolkien nasceram ao redor das línguas que ele criou. Cada povo, cada personagem, cada história, cada nome… Ele criava a língua e depois suas ramificações. Como uma fã das obras e do autor, foi fascinante assistir esse processo, coisa que eu nunca achei que aconteceria. Além de conhecer mais sobre a vida de J.R.R. Tolkien, que, aliás, não foi nada fácil, o filme também nos possibilita tentar entender um pouco da sua mente criativa e o jeito diferente que ele via o mundo, como também o processo de criação de uma das obras mais renomadas da contemporaneidade. Vemos a importância que os amigos tiveram em sua vida e, para quem leu as obras, vai ser fácil identificar qual deles corresponde a cada hobbit. J.R.R. Tolkien é o Frodo, obviamente. Tolkien chega aos cinemas brasileiros dia 23 de maio e é uma experiência mágica que vale a pena ser vivida.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Vingadores: Ultimato (2019) COM SPOILERS

Finalmente, eu fui assistir o tão esperado, o tão desejado, o tão aguardado Vingadores: Ultimato! Porém, ao invés de fazer uma crítica como todas as outras, eu decidi comentar realmente o filme, então, esta crítica tem spoilers. Portanto, se você ainda não assistiu o filme e não quer saber de nenhum spoiler, fique longe! Depois, não diga que eu não avisei.

[SPOILER ALERT] Você foi avisado.

Vingadores: Ultimato chegou aos cinemas do Brasil dia 25/04. O filme já bateu recordes de bilheteria logo na pré-venda, com milhares de salas lotadas por todo o país e filas gigantescas para quem estava à procura dos últimos ingressos. São nada mais, nada menos do que 1,2 bilhões de dólares em seu final de semana de estreia. Fora isso, o filme já chegou quebrando vários recordes cinematográficos, entre eles: maior pré-venda da história, trailer mais visto do Youtube, maior lançamento no Brasil e maior bilheteria em um dia nos EUA. Mas a lista segue e, até o momento, foram o total de 16 recordes quebrados.

Já era esperado que esse seria o maior lançamento de todos os tempos, afinal, foram 10 anos e um total de 22 filmes para chegarmos a esse momento. Com mais de três horas de duração, Vingadores: Ultimato não intimidou o público. Eu conheço um blogueiro que, só entre a pré-estreia e o domingo, foi assistir o filme quatro vezes. Recomendo que você assista, pelo menos, duas vezes, pois, na primeira, ficamos emocionados demais para prestar atenção em todos os detalhes. Mas, para quem já assistiu e quer esquematizar melhor todos os acontecimentos, ou, para quem ainda não assistiu e gosta de saber de tudo antes, eu montei uma listinha com tudo que se deve saber sobre Vingadores: Ultimato.

Relembrando, o filme é a continuação do Guerra Infinita, quando Thanos consegue, finalmente, realizar o feito da sua vida e extermina metade da população viva do Universo. Detalhe: os animais também entram nessa conta. Em Vingadores: Ultimato, vamos ter um grupo de Vingadores consideravelmente pequeno, já que uma parte foi exterminada na conta dos 50%, e, a outra metade, está extremamente desmotivada e sem rumo, já que não há mais nada o que fazer além de viver com a derrota e a perda. Só isso já dá um ar mais sombrio para o filme, mesmo com algumas cenas cômicas para manter o padrão Marvel de ser. Talvez seja também a sensação de despedida, mas a vontade de chorar permanece do início ao fim.

[SPOILER ALERT] Essa é a sua última chance de voltar atrás sem maiores estragos. Continue por sua conta e risco.

Agora, vamos à listinha:

Família do Gavião Arqueiro

Vingadores: Ultimato começa com uma cena que podemos considerar como continuação do Vingadores: Guerra Infinita. Clint, o Gavião Arqueiro, está na fazenda com sua família no que parece ser um churrasco de domingo, quando, do nada, todos desaparecem, menos ele. Vemos as características partículas cinzas voando pelo ar e um Gavião totalmente perdido e desorientado, já que ele estava em prisão domiciliar e não sabia de nada do que estava acontecendo. Aí que vemos a importância da revelação da família de Clint em Vingadores: Era de Ultron, coisa que, até então, não foi visto com muita importância, mas serviu para criar uma das cenas mais emocionantes do MCU. Considerando que já levamos esse soco nos primeiros minutos de filme, fica claro que o que ainda está por vir não vai ser nada fácil.

Capitã Marvel

Eu li muitas críticas falando sobre a “pequena” participação da Capitã Marvel diante do tamanho da propaganda. Até cheguei a concordar, mas, quando paramos para refletir, entendemos que o foco não era ela. Seria extremamente injusto dar toda glória para alguém que chegou aos 45 minutos do segundo tempo. Foi preciso contê-la para que o foco fosse dado a quem já estava ali desde o início e eu falarei mais para a frente sobre isso. Carol Danvers salvou o Homem de Ferro de uma morte lenta e dolorosa por falta de comida e oxigênio vagando naquela nave sem rumo, e isso já é algo muito importante, pois, sem o Homem de Ferro, sem final feliz. Já dizia o Dr. Estranho: “Tony, era o único jeito.”

Morte do Thanos

Sim, o Thanos morre. Sua cabeça é gloriosamente cortada pelo Rompe Tormentas de Thor, mas isso não resolve o problema. As joias do infinito viraram pó e foram devolvidas ao Cosmos, e a única coisa encontrada naquela fazenda é um titã velho e doente, totalmente sem propósito, agora que o seu destino fora cumprido e sua filha estava morta. O problema é que, junto com ele, morre também toda a esperança dos Vingadores. Já que, sem as joias, sem jeito de desfazer tudo. Vendo o Thanos daquele jeito, quase conseguimos ver um pouco de humanidade nele. Quase.

Desesperança

Cinco anos se passam desde que a cabeça do Thanos rolou pelo chão de sua cabana suja. Capitão América se dedica a um grupo de apoio para pessoas que perderam alguém na tragédia. Tony Stark resolve viver uma vida normal e constitui família com a Pepper em uma casinha simples no interior, onde cria a sua filha, Morgan. Alguns Vingadores se dividem pelo mundo para ajudar os países a superar a crise, Capitã Marvel vai ajudar outros planetas a superar a crise (fica nítida a diferença, né?), Viúva Negra fica coordenando tudo do antigo QG dos Vingadores, Bruce Benner some e Gavião Arqueiro enlouquece. Nada muito glorioso, mas é compreensível.

Ao perder sua família, Clint resolve limpar o mundo de todos os bandidos que sobreviveram, ocupando o lugar de pessoas inocentes que mereciam viver. Ele incorpora realmente o título “Vingador” e se torna meio que o Batman da Marvel. Já o Thor… Bem, o Thor merece um tópico a parte.

Thor

O grande deus dos trovões, vivo há milhares de anos, aquele digno da magia do Mjolnir e portador do Rompe Tormentas, virou o alívio cômico do filme. Sim, você não leu errado. Depois que o Homem Formiga sai do universo quântico graças a um rato (longa história… Na verdade, não é. Um rato aperta um botão na van que salva o Homem Formiga, simples assim), ele procura os Vingadores com uma ideia de viagem no tempo através do universo quântico. Assim, eles vão atrás do Stark que nega ajuda, depois atrás do Hulk que virou o professor Hulk depois de conseguir juntar sua personalidade com a do grandão verde, e, finalmente, eles vão atrás do Thor.

Thor está vivendo em Nova Asgard, onde reside o que restou de seu povo, trancado em uma casa com dois amiguinhos que conheceu lá no Ragnarok, jogando vídeo-game e se enchendo de cerveja (aquela pança que o diga). Depois da reação de riso inicial, paramos para pensar em por que o Thor ficou desse jeito. Ah, mas ele perdeu o pai, a mãe, o irmão, o reino e, depois de todo aquele sacrifício para fazer o Rompe Tormentas, acertou o Thanos no lugar errado. Porém, eu esperava encontrar o Thor de outra forma. Não sei vocês, mas eu não consigo aceitar que um deus nórdico tão poderoso vai acabar preso em uma cabana brigando com meninos de 13 anos em uma call de um jogo qualquer, enquanto usa uma calça de pijama de flanela.

Achei que ele ficaria mais como o Clint ou que enlouqueceria atrás das joias do infinito, não aceitando a derrota. Não que viraria um barbudo barrigudo e bêbado sem nenhuma credibilidade e condição de fazer nada. Que só aceitou ajudar em troca de mais cerveja e que ameaça cair no choro cada vez que houve o nome do Thanos. Ou sobre a sua mãe. Ou sobre a Jane. Ou sobre qualquer coisa. Mas essa é só a minha opinião.

Capitão América

Finalmente, ele se tornou digno! Ao voltar no tempo para buscar a joia do poder que estava em forma líquida dentro da Jane, assim como vimos em Thor: Mundo Sombrio, Thor traz de volta o Mjolnir, que se mostra de extrema utilidade quando o Capitão América o impulsiona e salva o dia. Bom, não todo o dia, mas salva a vida do Thor. Olha que irônico. A partir daí, os dois revezam as duas armas na grande luta contra o Thanos.

Minha teoria é que o Capitão América só se tornou digno agora porque ele entendeu que não é um soldado, mas sim, um herói, e, diante de tudo o que ele passou, conseguiu evoluir e cumprir a sua verdadeira missão: usar o seu poder para ajudar as pessoas e salvar o mundo, não só obedecer ordens de pessoas que, na maioria das vezes, não se mostraram estar tanto do lado bom.

Aliás, só eu sabia que ele não ia voltar? Assim que o Capitão América pegou as joias para devolver cada uma para o seu tempo depois que tudo já estava ganho e resolvido, eu sabia que ele não voltaria. Foi um final digno para um herói arrancado de seu tempo e do amor da sua vida, voltar e viver a vida tão desejada ao lado da Peggy. Eu queria ter visto mais sobre a vida dele, se teve filhos, se ajudou na criação da Shield. Mas não tem como negar que ver o Steve Rogers velhinho depois de uma vida plena e feliz, e ainda mais entregando o escudo para o Sam continuar o seu legado, foi uma das coisas mais emocionantes que vimos nesses 10 anos.

Homem de Ferro

Muito especulou-se sobre quem morreria, mas já era esperado que o Homem de Ferro sairia da franquia, já que Robert Downey Jr. declarou que não iria mais interpretar o herói no cinema após o final dos Vingadores. Porém, seu final foi muito além do que era esperado. Um final digno para um grande herói que, em seus erros, só queria ajudar e proteger as pessoas. Os dois maiores vingadores tinham que terminar a saga com chave de ouro. Um vivendo a vida que lhe fora roubada, e o outro, dando a vida para salvar a de todos os outros.

“Eu sou o Homem de Ferro”, frase que começou e terminou sua jornada, ao criar sua própria manopla e eliminar Thanos e seu exército, salvando a todos e garantindo que ninguém mais seria exterminado novamente. O velório do Tony Stark foi uma viagem no tempo, uma retrospectiva por esses 10 anos e 22 filmes que marcaram uma geração. Não teria uma partida mais digna e mais heroica que aquela.

É difícil achar uma cena no filme que não mereça ser mencionada, comentada e ovacionada. A guerra final com todos os Vingadores nos faz querer gritar o grito de guerra de Wakanda. Vê-los explicando como o filme “De volta para o futuro” é só uma ficção nos coloca em um looping onde um filme de ficção zomba de outro filme de ficção como se este fosse a realidade e o outro, só uma história.

Eu ainda não entendi muito bem essa coisa da viagem no tempo, mas seria algo parecido como o Flash Point? Você sempre vai voltar para uma realidade alternativa. Ou seria algo mais como você não pode realmente mudar o que aconteceu, cada coisa está acontecendo em uma linha temporal distinta? Enfim, são só detalhes. Também não entendi por que as memórias da Nebulosa do futuro foram parar na cabeça da Nebulosa do passado, o que fez Thanos descobrir todo o plano, ir para o futuro e quase estragar tudo. Também ficou aquela dúvida se o Loki realmente sumiu ao pegar o Tesseract naquela missão fracassada do Homem de Ferro e do Homem Formiga, e se isso vai interferir em algo no futuro. Fica aí uma coisa para se pensar.

Momentos que eu chorei: morte da família do Clint logo no começo, morte da Viúva Negra, todos os Vingadores aparecendo para lutar contra o Thanos através de portais criados pelo Dr. Estranho, exército de Wakanda bradando seu grito de guerra, Homem de Ferro reencontrando o Homem Aranha e o velório do Tony Stark.

É impossível contar toda a história e comentar tudo, pois, além de ser um filme de três horas (coisa, aliás, que a gente nem sente), Vingadores: Ultimato reúne todos os finais de todos os pontos abertos até agora. Portanto, não se culpe ao não perceber tudo logo de primeira. Assista de novo, de novo e de novo. É um filme que vale a pena ser saboreado e degustado aos poucos. Cada referência, cada piada, cada volta ao passado que reviveu cenas épicas dos filmes anteriores merece nossa total atenção. Me pergunto se há algum motivo especial de a Viúva Negra ter sido a escolhida para morrer em troca da joia da alma. Não desmerecendo a personagem, mas foi algo totalmente inesperado.

Viu como há muitas coisas para se pensar? Vingadores: Ultimato segue em cartaz e, pelo o que tudo indica, continuará firme e forte por um bom tempo. Ah, e rompendo a tradição MCU, não tem cenas pós-crédito, o que denota que é mesmo o fim. 🙁