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A gente enfrenta nossos gatilhos pelo amor
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A gente enfrenta nossos gatilhos pelo amor

Saí da minha analista hoje parecendo que eu posso enfrentar o mundo. Eu até diria que ela me deu uma surra, mas não quero relacionar coisas boas com agressão. Diria então que ela chegou e despejou um caminhão de luz solar sobre mim. “Você tem muitos gatilhos, eu sei. Todos temos. Muitos sintomas. E a gente continua enfrentando todos esses gatilhos e todos esses sintomas na gente porque a gente ama. Pelo amor”, ela disse. Claro que eu rebati. Eu não o amo.

Sim, eu amo. E o amor nos força a olhar para um espelho. Ele nos força a chegar e ver no outro tudo aquilo que temos dentro da gente. Por isso incomoda tanto. Porque a gente não quer que o outro seja assim mas, ao acusar, nós relevamos aquilo que temos de mais importante em nós mesmos. Sim, a gente enfrenta os nossos gatilhos por amor. A gente enfrenta tudo aquilo que incomoda, que tira o sono e nos faz chorar em nome desse sentimento. Amor.

+ Depressão ou só tristeza?

Calma, não estou falando de aguentar tudo em nome do amor. Isso é discurso de abuso. Estou falando de detectar os nossos gatilhos inconscientes, aqueles que nos causam sintomas horríveis e não sabemos o porquê… Nós detectamos sua presença, sabemos que ele está ali, sabemos que ele nunca mais vai embora. E a partir disso, conscientemente, temos que dar um passo pra trás e lidar com ele. Sim, isso é igual não se desesperar com uma criança porque nós somos os adultos da situação. O gatilho é infantil. É você. É sua criança interior.

Quando sua criança interior grita, você pode se sentir impelido a gritar de volta. No calor do momento, sim, você pode até gritar. Mas, se você parar, der dois passos para trás e respirar, você não vai gritar. Você vai se organizar. Você vai escolher. Esses dois minutos entre o estímulo e a resposta é o nosso poder de escolha. Vamos escolher deixar nossa criança agir, com todos seus traumas e gatilhos (dos quais o outro não tem culpa) ou vamos acolher o que a criança sente, editar e mudar a nossa narrativa?

Em terapia, editamos histórias. Pegamos tudo aquilo que aconteceu com a gente e mudamos a forma com a qual reagimos a isso no presente. Temos a tendência a continuar encenando todo o nosso passado, de forma inconsciente, no nosso presente. Quando aprendemos a editar, percebemos o quão excitante é poder ter o poder de escolha. É poder mudar o caminho, é poder dizer “quero fazer diferente agora”, quero ter a chance de escolher como vou reagir.

No fim das contas, quanto mais acolhemos nossa vulnerabilidade e todos os nossos sentimentos, menos medo nós sentimos. Mas mesmo assim, o medo é importante. Ele dispara o gatilho, e quando você sabe lidar com o disparo, você se acolhe, põe as cartas na mesa, sai de cena e escolhe como agir.

Você escolhe agir diferente por aqueles que ama. Aquilo que vemos no outro e nos dá ódio, é aquilo que temos de mais profundo dentro da gente mesmo e não queremos admitir. Por isso, enfrentamos os sintomas dia após dia…

O uso da letra cursiva está com os dias contados?
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O uso da letra cursiva está com os dias contados?

Atualmente, o valor da escrita à mão (letra cursiva) tem sido debatido nos círculos acadêmicos. Mais precisamente neste século 21, a discussão sobre o uso da letra cursiva tem reverberado de forma considerável no cenário educacional mundial.

A escrita é um processo simbólico, uma construção que revolucionou o pensamento e está inserida na formação do ser humano. Escrever é um ato complexo e baseado em inúmeros processos neurológicos.

+ A falsa inclusão social de surdos no Brasil

Ao longo da história da humanidade, a escrita das letras passou por mudanças consideráveis, desde a adoção das letras góticas nos anos 500 d.C. (uso da pena), permeando pela escrita escolar e caligráfica, até chegar à escrita contemporânea (escrita mais livre e com diversidade de materiais, como lápis, canetas esferográficas e papel), sem falar que, por muito tempo, uma boa caligrafia já foi associada a um alto nível de instrução.

No Colégio Presbiteriano Mackenzie, antiga Escola Americana, o uso da caligrafia mackenzista era uma marca registrada dos alunos e professores que passaram pelas suas salas de aula até os anos 90.

Com características peculiares da caligrafia americana — especialmente na grafia das iniciais maiúsculas do alfabeto –, a escrita cursiva mackenzista era facilmente reconhecida em diferentes contextos, atribuindo-lhes a singularidade de uma leve inclinação à direita, destacando a origem da caligrafia amplamente ensinada, com livros de autoria própria, para a execução correta dos movimentos.

Em 2015, países como a Finlândia e alguns estados americanos já se pronunciavam a respeito da possível exclusão desse “conteúdo” devido à expansão das ferramentas digitais presentes dentro das salas de aula, apontando o ensino da “letra de mão” como algo obsoleto para os tempos atuais.

Com a pandemia e a implantação do ensino remoto, o debate veio à tona novamente, reduzindo-se a caligrafia a um ato mecânico, que precisaria ceder espaço para o aprendizado de outras competências, como a navegação por meio de recursos digitais.

Alguns especialistas entendem que o ensinamento da letra cursiva pode ser ineficiente e segregador, e apresentam o fato de que muitas crianças com excelente aproveitamento acadêmico foram rotuladas por não apresentarem uma letra cursiva legível ou “bonita”.

Outros profissionais afirmam que a caligrafia em letra cursiva é uma habilidade não mais essencial, já que, nos dias atuais, com a existência das teclas, a escrita com lápis, caneta e papel tornou-se anacrônica.

Diante das discussões acaloradas sobre o uso da letra cursiva, estudos e especialistas dividem opiniões, mas uma significativa parcela advoga em favor da continuidade do ensino da letra cursiva e do traçado das letras, apontando habilidades e benefícios especiais para as crianças.

Segundo os estudos da professora de Psicologia Educacional, da Universidade de Washington, Virginia Beringer, escrever à mão, formando letras, envolve a mente e isso pode ajudar as crianças a prestarem atenção à linguagem escrita. Ela também argumenta que “a caligrafia e a sequência dos traços envolvem a parte pensante do cérebro”.

Berninger ainda registra que os estudos realizados com a caligrafia têm por objetivo defender a formação de crianças que sejam escritoras híbridas, ou seja, utilizando primeiramente a letra de forma para a leitura, auxiliando o reconhecimento das letras na educação infantil, depois com o uso da letra cursiva para a escrita e composição dos textos e, apenas ao final da séries iniciais do ensino fundamental, a digitação.

Recentemente, um estudo publicado na Revista Nature, em 26 de março deste ano, intitulado “Hight performance brain to text communication via handwriting”, abordou o impacto da caligrafia no cérebro e sua importância cognitiva como uma habilidade a ser desenvolvida ainda nos dias de hoje, mesmo com todo o aparato tecnológico.

A escrita em letra cursiva traz inúmeros benefícios, pois ela permite a continuidade do pensamento por meio do traçado uniforme e ligado, promovendo fluência e imprimindo velocidade ao ato de escrever. Há vantagens no aprendizado ortográfico e na composição das palavras, frases e textos, favorecendo a memorização, a concentração, o foco e auxiliando na produção de textos mais coesos, assim como constitui um componente importante no desenvolvimento de uma escrita pessoal.

Entende-se que, no atual cenário socioeducacional, há a necessidade de se repensar sobre o uso da escrita cursiva no que diz respeito aos extensos exercícios de cópias, sem nenhuma reflexão sobre o que está sendo feito, mas podemos otimizá-lo da melhor forma.

É compreensível o ajuste sobre qual tipo de letra usar para casos específicos, como por exemplo, os alunos com necessidades especiais, para quem a demanda do ensino e uso da letra manuscrita seria fator desagregador no processo de ensino-aprendizagem.

Considerando-se os estudos e pareceres nos círculos acadêmicos, a constatação dos benefícios elencados e as prerrogativas sobre a importância da escrita à mão, compreende-se que a apresentação da letra cursiva e o ensino do traçado das letras à mão devam ser mantidos nas escolas, destacando seu valor cognitivo e educacional na vida acadêmica das crianças.

Tarô, revele meus segredos mas não conte se houver coisas ruins
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Tarô, revele meus segredos mas não conte se houver coisas ruins

Entrei no supermercado com Mary e fiquei no canto com ela e o carrinho enquanto sua mãe ia atrás das melhores frutas para a sobremesa do almoço. Lembrei que meu tarô tinha ficado em casa, droga.

— Socorro, Mary, dei um match no tinder! — Falei, querendo contar para alguém que era Hugo. Mas ela nem sabia da existência dele. Ou sequer lembraria, já fazia muito tempo.


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— Como assim Tinder, menino? Você não namora?

— Não mais. — Sorri de lado. — Como eu mando oi no Tinder? Será que “Hey” é uma boa?

— Meu Deus. Você está impossível. Saiu quinta e sexta, né? — Ela estava me julgando.

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+ Coisas pequenas (e ir na balada) ferem mais

— Não me julgue, bitch.

— Tá. Mas “hey” é ridículo. — Ela disse, e saiu para ir encontro com a mãe dela. — Fica de olho no meu carrinho.

Abri a janela do Hugo e mandei hey. Desliguei meu 3G e guardei no celular. Não queria ver o momento exato em que ele me responderia ou desse unmatch, depois que se lembrasse de tudo que fiz no passado.

E nada de Lucca aparecer. Honestamente, ele estava sendo a mentira mais bem contada que eu vivi e acreditei por dois longos anos. Não temos reciprocidade. E sem reciprocidade não é amor, é insistência. E qualquer número multiplicado por zero, continua sendo zero.

— Vamos, migo? Minha mãe já pegou tudo. — Mary quebrou meu diálogo interno e fomos encontrar Rose no centro da cidade. Ela estava surtada por esperar meia hora na chuva, com razão.

— Eu vou dar na cara de vocês dois, ridículos. — Rose era muito amorosa.

— Vamos comer? — Eu não tinha comido nada desde ontem.

— Vamos, mas você vai contar todos os detalhes do seu término na mesa.

Topei e fomos para o shopping. Pedi meu Subway vegetariano e assim que elas voltaram, me olharam com cara de quem diz “vai, desembucha”.

— Ah, não estávamos bem há algum tempo. Muitas promessas não cumpridas e logo na segunda semana do ano, brigamos. Agora ele sumiu, não fala comigo há mais de uma semana…

— Sumiu? Caralho, que embuste. — Rose era bem parecida com Ann nesse quesito, desbocada.

— Sim. E eu baixei o Tinder. Estou tentando não ligar muito para isso, já que 2018 é o ano do karma, regido por Júpiter, tudo o que a gente plantou, vamos colher. — Continuei. — O tarô também disse que tínhamos que dar um tempo…

— É verdade. Tem muita gente reatando. — Mary completou.

— Caralho, lê meu tarô? Não estou bem com o corno do meu namorado também… – Rose era do Rio, por isso ainda falava palavrão como se fosse bom dia.

— O que houve? E como assim ele é corno, Rose? — Mary e eu rimos, Rose só ficava mais indignada.

— Ai, longa história. Depois conto para vocês. Vai rolar o tarô?

— Posso fazer, mas estou sem meu baralho. Tem algum lugar aqui perto que vende? Preciso comprar um novo. — Por favor, que sim. Eu quero muito um baralho novo.

— Tem. Vamos comer, passamos lá e ficamos em casa de tarde, pode ser?

— Fechado, Mary. — Respondemos juntos.

Depois que comemos, paramos em uma lojinha super pequena que vende velas e imagens de vários tipos de santo. De várias religiões diferentes.

— Boa tarde, você tem baralho de tarô? — Perguntei.

— Tenho baralho cigano, tarô de marselha e esse simples aqui. — A moça, com uma energia ótima, me respondeu. Eu sabia sentir a energia das pessoas, e isso é algo que eu digo ter herdado da Sasha, minha cachorrinha. Foi por ela que virei vegetariano. Sabe que, a primeira vez que Lucca foi em casa, ela sentiu uma energia estranha vindo dele? Achei que era pela altura. Lucca era bem alto.

Você acredita em energias? Há quem diga que somos seres humanos e por isso não emanamos nenhum tipo de força. Maior besteira que alguém pode dizer. Energia é física. Movimento produz energia. Um carro andando, uma cachoeira… Tudo gera energia, e ela é a moeda de troca no universo em que vivemos. Se você faz o bem, você recebe o bem. Se faz o mal, recebe o mal. Se te derem o mal, dê a eles o perdão. Você também vai receber quando precisar.

Tive um tio-avô super homofóbico, que zoava todo mundo, inclusive meu avô, que tinha menos dinheiro que ele. Ele era uma pessoa nojenta energicamente. Existem pessoas com energias boas, ruins e energias nojentas. Sabe quando você conversa com alguém e sente vontade de vomitar? Então, é isso. Ele pegou câncer uma vez, e virou a melhor pessoa do mundo. Se curou. Achou que o rei morava em sua barriga de novo, e voltou ao mundo de maldades.

Agora, o câncer voltou. Ele não tem mais sistema digestório e está vivendo entubado dentro de um hospital, quase morto de remorso. Fui vê-lo, apesar de eu ser a bichinha da família. Dei o perdão quando ele me deu o inferno, e é assim que devemos ser.

— Quero o simples. Vou passar no cartão de crédito. — Respondi.

— Certo. — A moça cortou um pedaço de papel e embrulhou a caixinha do baralho com todo o cuidado do mundo. Entreguei meu cartão de crédito.

Recusado.

— Ué, acho que deixei bloqueado no aplicativo. Deixa eu ver aqui, moça… — Peguei meu celular. “Nova mensagem de Hugo em Tinder”. Tremi.

— Cobra aqui no dinheiro mesmo, moça. — Ela cobrou e saímos. Guardei meu celular, ansioso para ler a mensagem de Hugo.

— O crush respondeu, socorro. — Disse, mas as meninas nem ligaram.

Chegamos na casa da Mary e a primeira coisa que fiz foi abrir o Tinder.

“Hey”

“Tudo bem?”

Hugo havia me mandado duas mensagens.

“Tudo e você?”

“Quanto tempo. :(”

Desliguei o celular mais uma vez.

— Vamos consultar o tarô?

— Vamos, mas se sair coisa ruim não me fala, tá? Não vai mudar nada. — Rose estava com medo.

Coisas pequenas (e ir na balada) ferem mais
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Coisas pequenas (e ir na balada) ferem mais

O meu despertador é escandaloso. Bosta, eu esqueci de tomar água entre as latinhas de Skol Beats na balada ontem e a minha cabeça está explodindo. Me vesti, e peguei o celular só depois de estar pronto para sair de casa. Nenhuma mensagem de Lucca. É Pietro, é você e você e as coisas pequenas que só você se importa.

+ Sou apaixonado pelo final

“Bom dia, miga! Vamos na Clock Out, hoje?” Mandei no Whatsapp para a Anna e segui para a minha jornada de 40 minutos até o trabalho. Era longe, e eu sempre levava o Kindle na bolsa, apesar de nunca lembrar de ler. Mas hoje, eu estava sem sono e de ressaca, precisava de uma distração. Não se apega, não, da Isabela Freitas parece perfeito. Já li três vezes, e nunca é tarde para o início da quarta.


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Eu sei que ela terminou com o namoro de dois anos e todo mundo ficou espantado. Qual é, eu também terminei. Algumas pessoas se espantaram, mas a maioria falou que eu tinha me livrado de um super embuste. Será? A verdade é que ninguém nunca sabe o que se passa dentro do nosso relacionamento, só nós mesmos. Eu já ouvi de tudo:

“Nossa, ele parecia ser super amoroso com você, e você sempre parece tratá-lo mal.”

É, ele era amoroso comigo. Depois de cortar minha vibe e me deixar puto por me magoar de alguma forma. Sou fã das coisas pequenas, e são elas que também me deixam mais triste. Então sim, ele era um amor. Só que tínhamos acabado de brigar, e na sua frente, ele estava sendo cínico. Sim. Ele estava ignorando tudo o que tinha acontecido, quando eu queria conversar ou discutir até resolver nosso desentendimento. Se você namora, saiba disso. Nunca ignore ou negligencie nada que a outra pessoa sente. Sério. Coisas pequenas machucam mais que uma traição. A gente passa a vida toda sabendo que se um dia a gente for traído, vamos bloquear nas redes sociais e encontrar alguém que nos valorize. Mas o que a gente faz quando a pessoa diz que sua ideia de trabalho de graduação é uma bosta e nunca vai ter capacidade de tirar um 10? Porque a dele é muito melhor, ele é mais velho e tem muita experiência. Você contém as lágrimas e quer ficar no seu canto, certo? Aí a pessoa, volta como se nada tivesse acontecido. Ah, oi né? Prazer. Dois anos comigo e você ainda não sabe que odeio chiclete e não posso sentir o cheiro de feijoada que me dá enjoo.

“Você precisa dar mais uma chance. Só mais uma.”

Meu amor, quem quer faz perfeito em uma chance. Ok, somos humanos e sempre merecemos uma segunda chance, talvez uma terceira. Minha mãe sempre dizia que errar uma vez é tudo bem, mas persistir no erro é burrice. Então reprovei uma vez na autoescola. Ela ficou triste, mas disse que na segunda vez eu passaria. Só burros não passavam. Reprovei de novo. E ela disse que também estava tudo bem. Passei na terceira. O problema aqui é que eu já dei 600 chances. Foram dois anos comigo, uma chance por dia. No começo, não íamos dormir brigados em hipótese alguma. Ou sem dar boa noite. Depois, as brigas ficaram mais sérias e dormimos brigados. A coisa começou a definhar, eu temia o fim, então me agarrava aos bons momentos e ia até onde dava. Uma hora não deu mais. E “não deu mais” bem tarde. Eu tinha medo de me sentir só. Mas aos poucos eu sinto um comichão da liberdade dentro de mim. Eu não precisava ter dado mais que três chances. Não dê ao outro aquilo que você não dá nem para si mesmo.

“Vocês eram um casal perfeito. Achei que fossem casar.”

O que é um casal perfeito? Aquele que é lindo na frente das pessoas e entre quatro paredes, há só xingamentos e julgamentos? Porque se for assim, éramos. Lucca não tinha uma religião muito conhecida e eu sempre respeitei. Até o dia em que resolvi aprender a jogar tarô e ele me zoou. Porra, eu respeito sua crença e você não respeita a minha? Pera lá. Não, Lucca, não era só uma brincadeira. Toda brincadeira tem um fundo de verdade e eu sei que você zoa as pessoas para se sentir melhor. Mas não sou seu amiguinho hétero. Eu sou… Eu era o seu namorado. Aquele que você cozinhou por três meses no banho e maria antes de assumir, deu um fora no meio da balada, disse que nós nunca poderiamos ficar juntos, logo antes de virar as costas e o deixar chorando na sarjeta sem nem um táxi próximo. Não é rancor. Certas cicatrizes penetram fundo demais para sumirem. E agora, parece que o jogo virou. Ou não. Você nem sequer falou comigo ainda. Talvez queira terminar e nunca teve coragem de dizer, preferiu sumir como um covarde faria.

Piiiiiii.

Era o meu ponto. Quase perdi em meio aos devaneios, sorte que o cobrador me conhece e deu o sinal para descer, bem ali, próximo do quartel onde meninos de 18 anos estão saindo do alistamento militar obrigatório. Que medo. Isso me lembrava o Hugo, um menino que dei match no Tinder antes de namorar com o Lucca. Conversamos algumas vezes, saímos duas, nos beijamos e depois, sumimos da vida um do outro. Eu havia seguido ele no Instagram de novo, há alguns dias, e ele me seguiu de volta. Será que eu devia chamar? Não. Ele deve ter ranço de mim.

“Vamos. Quero ver você cheio dos novos contatinhos, hein.” Anna me respondeu, e vi assim que entrei no prédio em que eu trabalho.

“Estava pensando em um menino que fiquei anos atrás. Acho que destruí ele, queria tanto resolver essa pendência.” Comentei.

“Como assim destruiu? Me explica!” Ann respondia rápido.

“Vou te mandar um áudio…”

“Minha história com o Hugo foi rápida mas intensa. Um dia, demos match no Tinder e combinamos de nos encontrar no parque próximo ao meu trabalho na hora do almoço. Ele era do signo de libra também, tímido e parecia um pouco comigo. Nos encontramos antes disso. Ele estudava na escola que fiz o ensino médio, no período da manhã. Nesse dia, eu já tinha tirado meu horário de almoço, mas meu chefe saiu e eu saí para encontrar ele em uma praça, que era bem longe. Sentamos e conversamos por horas sobre a vida, não nos beijamos nesse dia. Nenhum de nós tomou a iniciativa. Ele também falou que não beijava em primeiros encontros. Continuamos conversando depois desse dia, ele era legal e me mandava bom dia todos os dias. Nesse meio tempo, eu já conhecia o Lucca, mas ele estava me dando vários foras. Eu gostava dele, mas não podia abrir mão dos meus contatos. Então beijei o Hugo no segundo encontro, e ele ficou apaixonado por mim. O melhor amigo dele shippava a gente…”

Enviei.

“Hugo não ia muito em baladas, mas um dia, o melhor amigo dele descobriu que eu ia, e levou o Hugo com ele. A ideia era que ele me encontrasse e ficássemos de novo. Mas nesse dia, fui na balada com o Lucca e o Hugo veio me cumprimentar. Eu o tratei como um qualquer, fui bem embuste. Não o vi o resto da noite, fiquei com o Lucca e depois descobri que o Hugo deu um PT enorme. No dia seguinte eu estava bloqueado em tudo.”

“Estou ouvindo, comovida.”

Alguns minutos se passaram até que Anna ouvisse meu áudio interminável.

“Olha amigo, eu acho que você devia chamar ele. Vocês já se seguiram no Instagram e agora estão trocando likes. Explica que tinha 18 anos. Vocês dois eram crianças, sabe? Tudo tem um jeito.” Ann ponderava bem as situações e eu gostava disso nela.

“É, talvez. Mas preciso de um sopro de coragem ainda.”

“Hoje a noite você vai ter! Quero rebolar até o chão ouvindo Vai Malandra”

Comecei a gostar de funk depois que saí a primeira vez com Anna. Antes eu abominava, agora, não posso ver que minha bunda mexe sozinha. Meu dia de trabalho passou vazio, então fui embora mais cedo. Chegando em casa, resolvi baixar o Tinder e dar alguns likes para ver se as pessoas ainda se interessavam por mim.

Nada.

Comecei a me arrumar para sair com a Anna. Coloquei minha roupa de balada, meu coturno e ela chegou pontualmente com o carro tocando Vai Malandra no som máximo. Me tornei aquela pessoa que abominava: o ser que anda ouvindo a música de vidros abertos e berrando cada letra. Êta loca, tu mexendo com o bumbum. An an. Fomos comer uma pizza antes, vegetariana.

– Ann, baixei o Tinder.

– Você tá me zoando? E aí? – Ela parecia mais animada que eu.

– Estou dando uns likes, mas nada de matches ainda.

– Quero só ver. E quero ver você voltando da balada hoje com a boca inchada de tanto beijar. Igual eu, quando voltei da micareta de carnaval, lembra? – Ô se eu lembrava.

– Ah, não sei. – Ri de nervoso. – Talvez. Vamos indo para a fila da Clock Out? Os 200 primeiros entram de graça, quem sabe a gente consegue.

– Vamos. Não está muito cedo?

– Só vamos.

Chegamos ao som da música da Anitta de novo, e logo na entrada encontrei Gabriel, um amigo de longa data que já estava mais pra lá que pra cá. Força, migo. Você sobrevive a essa noite. Claro que a fila já estava imensa e não conseguimos entrar de graça, mas Ann fez várias amizades. Enquanto isso eu estava só passando umas fotos no Tinder. Sem paciência para socializar.

– CARALHO, ANNA, OLHA ISSO. – Puxei ela da sua rodinha nova de amigos para que olhasse a tela do meu celular, que mostrava “Hugo, 21”. – Será que dou like? Eu fiz um jogo de tarô perguntando se deveria chamar ele e deu que sim… Mas também pedi um sinal, será que é esse?

– VOCÊ AINDA DUVIDA? APERTA ESSE CORAÇÃO AÍ.

Apertei, mas não deu match. Tudo bem, talvez ele ainda não tenha visto.

A fila começou a andar e entramos na Clock Out às 23h30. Já chegamos bebendo e indo até o chão no cantinho do palco, onde a gente mais gostava de ir.

– Oi, você é o Pietro Corrêa? – Um menino chegou falando comigo do nada.

– Sou. – Estava surpreso, e assustado.

– E essa aqui é a Anna Pereira? – Ele aponta para Ann do meu lado.

– É, por quê? – Rindo.

– Caralho, eu amo vocês! – E ele abraçou Anna como se conhecessem há muitos anos. De longe, vi meu amigo Augusto e dei um tchauzinho. Ele veio na minha direção.

– Oi, migo, como você está? – Augusto era bem fofo, e uma pessoa com coração enorme.

– Estou bem, e você? – Gritei, enquanto Ann ainda conversava com o desconhecido.

– Também. Não vi o Lucca….

– Ah, acho que terminamos. – Cortei antes que ele falasse mais alguma coisa. Augusto acompanhou meu relacionamento desde o início, todos os sofrimentos por conta do Lucca. Sua cara foi de espanto.

– Poxa… Mas vamos dançar!

– Vamos! – Continuei dançando, e ele foi para o cantinho dançar com o desconhecido. Ann voltou para o meu lado.

– Que porra foi essa? – Perguntei.

– Lembra daquela tour polêmica do LDRV que conversamos com um desconhecido?

– Lembro.

– Era ele. Você podia dar um beijinho nele.

– Ah, melhor não. Vamos dançar.

Dançamos mais algumas músicas, até que o funk acabou e começaram a tocar pop. Típico da Clock Out.

– Amigo, vamos lá fora? Minha pressão baixou. – Ann me puxou.

Ficamos um tempinho na área externa da balada e não demorou para eu me sentir tonto também. Tinha alguma coisa estranha ali. Só sei que entramos, e passamos o resto da noite sentados, de novo. Levantávamos em algumas músicas, mas não conseguíamos ficar em pé. Já era uma da manhã.

– Ann, vamos embora?

– Amém, vamos. Não sirvo mais para vir em balada não.

– Nem eu. – Respondi, rindo mais uma vez. Nós nunca aguentávamos nada.

Cheguei em casa da mesma forma que a noite anterior, e só me deitei na cama, dando mais alguns likes no Tinder.

“Ei, vamos no centro da cidade amanhã cedo?” Era a mensagem no grupo Galera de Caubói, com minhas duas melhores amigas do ensino médio.

“Vamos. 11h todos nos encontramos na praça?” Respondi.

“Fechado. Pi, te pego aí se quiser. Estarei por aí nese horário.” Mary respondeu.

“Beleza! Quero, Mary. Vou dormir agora porque tô beudo. Não sou mais jovem pra ficar indo em balada.”

A próxima coisa que me lembro é do meu despertador tocando. Caraca, vou atrasar a Mary. Corri para o banho, sem nem olhar para o celular pensando em uma mensagem de Lucca. Elas não sabiam que eu estava mais pra lá que pra cá no meu relacionamento. Na verdade, Rose sabia, e ela havia dito para eu terminar várias vezes.

Saí do banho e Mary estava me esperando na portaria com sua mãe e avô no carro. Sentei atrás.

– Migo, minha mãe quer passar no mercado, tudo bem para você?

– Claro, Mary. Sem pressa. – E peguei meu celular para ver as notificações do dia.

Nada do Lucca.

“Parabéns, você tem um novo match no Tinder. Mande um olá para Hugo.”

Tremi.

Sou apaixonado pelo final
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Sou apaixonado pelo final

Cá estou eu de novo, começando mais uma narrativa, mais uma história na biblioteca da minha vida. Só que pelo final. Sempre começo pelo fim, não sei qual é o meu problema com os inícios. Hoje é quinta-feira, o ano acabou de começar, e eu já cheguei ao final do meu namoro. Na verdade, ele terminou comigo. Ou não. Não sei bem.


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É fato que já estávamos brigando todos os dias no último ano. Mas eu, bem trouxa, sempre perdoei todas as vezes em que ele sumiu nos finais de semana, me deixou falando sozinho, me cortou no banco de trás do carro dos meus amigos quando eu estava falando algo muito importante para mim. O fato é que eu nunca poderia estar em uma posição melhor. Talvez seja normal que casais gays vivam em uma eterna competição. Mas eu sempre achei melhor correr nela a favor dele do que contra. Mas ele nunca pensou da mesma forma.

+ Crônica: Augusta, que saudade

Hoje é quinta e desde sábado, ele não fala nada comigo. Não mandou uma mensagem, uma direct no Instagram e nem uma ligação. E ele teve motivos para falar comigo: meu avô está em estado grave na UTI, e ele é tudo para mim. Lucca sempre soube que eu era instável quando se tratava do meu vô Antônio. Eu também descobri que vou ter que operar o nariz. Meu nariz que já serviu de cópia para pelo menos três plásticas, não funciona. E nada me amedronta mais que operar o nariz. Ah, também surgiu uma manchinha perto do meu olho que o Google diz ser câncer de pele. Ele poderia ter sumido em todas as semanas, menos essa. Eu realmente precisava de algum apoio.

— Pi, vamos na balada hoje? Estou sozinha. — Era minha amiga Anna, anos mais velha e mais sábia, que esteve comigo nesses últimos dias. É incrível como a amizade perfeita aparece nos momentos mais improváveis. Conheci Anna em um emprego que ela odiava e eu também. Nunca seríamos amigos, éramos muito diferentes. Mas o destino cruzou nosso caminho. É como dizem, a perfeição jaz na exceção.

— Vamos, Ann. O Lucca não falou comigo até agora mesmo. — Bufei, desanimado.

— Existem níveis e níveis de cuzãozisse, Pietro. Você está solteiro. Não tem como você esperar que ele volte, talvez ele nem volte. — Ela fez uma pausa — Me desculpa. Mas sua vida não pode parar pelas pessoas. Você está solteiro agora, aproveite isso. Passo aí em 15 minutos.

— Estarei pronto. Vamos naquela balada de hétero? — Sorri, já me animando um pouco mais.

— Bff, é o que tem pra hoje, né viado?

Anna é uma pessoa incrível, e poucas pessoas conseguem ver isso nela. Ela é peculiar, mas do jeito que fala na lata. Não economiza nenhuma palavra, e também não mede esforços pelos seus amigos. Sua vida há teve muitos altos e baixos, e muitas das preocupações que tenho, ela não tem mais. Por isso levo os conselhos dela tão a risca.

Coloquei uma calça jeans, uma camiseta neutra e uma camisa xadrez por cima. Ann chegou em ponto, e assim que entrei no carro, ela colocou um sertanejo bem alto para tocar.

— Que porra é essa, Anna? — Ela não gostava, assim como eu.

— Já que vamos para o habitát dos héteros, temos que nos acostumar. — E fomos. Não foi estranho estar sem meu namorado hoje, porque já vim nesse lugar várias vezes sozinho. Me permiti dançar e beber duas latinhas de Skol Beats.

O Trup, bar e casa noturna dos héteros não dava para suportar por muito tempo.

— Pietro, vamos embora? Cansei. — Anna se apoiou no meu ombro.

— A gente chegou tem 47 minutos. Vamos. — Ri.

Fomos embora depois de pouco tempo mesmo, porque simplesmente não dá. E ainda era dia de semana. Também era inevitável parar de olhar para o celular e esquecer Lucca.

— Acho que chegamos ao final, Anna. — Quebrei o silêncio no caminho de volta. Ela abaixou o som.

— Você acha, Pietro? Ele não te mandou uma mensagem sequer, e todo mundo do grupo ficou apavorado quando você deu a notícia da cirurgia. — O grupo era nossa conversa no WhatsApp com os amigos da vida. Um da balada, outro do trabalho, um amigo de outra amiga… — Vamos na Clock Out amanhã? Podemos comer e ir.

— Fechado. Mas só se ficarmos mais de 40 minutos dançando.

— É a noite do funk, bebê. Vamos nos falando. Beijo! — Desci do carro e entrei no meu prédio, ainda sem acreditar que depois de anos, eu ainda conseguia sair no meio da semana. Eu não estava morto não.

Antes de adormecer, baixei o Happn. Se eu estava solteiro, precisava conhecer pessoas novas. Não para beijar ou namorar. Eu precisava mesmo conversar com pessoas novas. Sabe aquelas conversas fúteis que começam com um oi e você chega ao final contando sua história de vida? Então. Deixei ligado e dormi, sem pensar em nada.

Autobiografia do abandono
Autorais, Livros

Autobiografia do abandono

Bem-vindo a autobiografia do abandono. Aqui, você vai conhecer o meu lado da história. O lado da história de alguém que foi abandonado, largado. Jogado, deixado de escanteio, invisibilizado. Sim, eu. Mas, não vou falar da minha vida, vou falar da minha vida com ele. De nós. Do momento em que nos conhecemos até o momento em que ele me abandonou.

Nos conhecemos no final do ensino médio, com amigos em comum, em uma Starbucks recém-aberta na cidade. Nós nos beijamos loucamente em cada canto do shopping, dentro das cabines do banheiro, no estacionamento, no carro e até mesmo na rua. Depois daquele dia, nós nos tornamos inseparáveis.

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Nós passamos a nos ver todos os dias da semana e dos fins de semana. Eu ansiava pela sua mensagem enquanto estava no meu estágio para saber qual seria o plano para o fim da noite. Se iríamos no cinema, no shopping ou apenas transaríamos no carro no estacionamento daquele parque escuro. Eu tinha expectativas, mas ninguém nunca disse que elas eram só minhas e que ele tinha nada a ver com elas.

Ele me pediu em namoro em um abandono iminente. Ele iria embora da cidade para cursar faculdade em outro estado. Naquele estado de ensaio, eu não queria estar com ele. Mas ele sim, queria estar comigo e eu me senti especial por conta disso. Aceitei o namoro como quem é capaz de respirar bem fundo e ir até o fim do mundo. Ele não foi embora. Ele nunca ia me deixar.

A gente se encaixava de todas as formas possíveis. Tínhamos gostos parecidos e gostávamos de afastar a mobília para tomar champanhe enquanto jogávamos buraco e dançávamos ao som da trilha sonora de Crepúsculo. É engraçado porque, pensando agora, consigo enxergar claramente todos os sinais do abandono que eu gostava de ignorar. Eu achava, de verdade, que ia ser aquele que ficaria.

Ele tinha um alarme no celular para tirar a aliança quando chegava em casa. Nunca conheci seus familiares. Não pertencia ao seu mundo e ele não fazia questão que eu pertencesse. Não podíamos ser vistos juntos em público. Não podia me levar pra casa de carro, eu precisava pegar um ônibus. Nos finais de semana, ele começava a parar de me mandar mensagem, assim como nos fins de noite.

Todos os nossos encontros eram carnais e só. Sem afeto, sem alma, sem brilho. O abandono estava ali, na minha cara e eu fazia de tudo para ignorar. Lidar com a fuga também é uma forma de lidar, certo? Certo? Por que ele nunca chegou e falou? Por que ele simplesmente não disse que não conseguia mais do jeito que estava?

Porque o abandono foi seu jeito de falar chega, já deu. Eu não aguento mais você, eu não aguento mais me esconder, mas você não vale a pena o bastante para eu parar de me esconder. Você vale a pena para uma fodinha no banco de trás do meu carro em que vou reclamar do seu corpo, você vale a pena para o meu fim de noite, para o meu fim de festa, para o meu fim de dignidade… Você vale a pena para os meus fins, mas não para os meus inícios. Você é o amor do fim de mundo, não o amor do começo dele.

Você é o meu amor de abandono, meu amor de muleta. Aquele em que vou usar nos momentos mais difíceis, aquele que vou dar todas as esperanças, mas nunca aquele que vou levar para frente. Depois do impacto inicial, eu vou além e você fica. Você não é suficiente para os meus inícios.

E por isso, eu fiquei um caco. Claro que nada disso ele me falou de verdade, mas na minha cabeça é tão verbal quanto uma voz sonora do meu presente. Eu não sei em qual momento demos errado, mas sei que você simplesmente usou do abandono como sua forma de comunicação e eu fiquei aqui, com todos os meus receios tentando tecer uma linha de interpretação que fizesse sentido para toda a história que tivemos. Sou o amor do fim, da escuridão, do não, do impasse, do erro, da obrigação…

Só não gosta de ler quem ainda não encontrou o livro certo
Colunas, Livros

Só não gosta de ler quem ainda não encontrou o livro certo

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro revelou que o brasileiro lê em média 4,96 livros por ano. Pode parecer bastante, mas os franceses, por exemplo, chegam a ler mais de 20 obras no mesmo período. O que explica então o desinteresse pela leitura, especialmente entre os mais jovens, no nosso país?

Acredito que estas estatísticas negativas sobre leitura estão, em parte, ligadas à obrigatoriedade de ler os grandes clássicos da literatura brasileira durante o ensino básico. Não me entenda mal, não estou criticando os clássicos, longe de mim.

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O que quero dizer é que a maioria das pessoas tem dificuldade em ler e interpretar a linguagem rebuscada dessas narrativas. Esta formalidade, aliada à obrigação imposta sobre estas leituras, acaba criando um afastamento entre os jovens e a literatura que infelizmente se estende para a vida toda.

Há algum tempo, em uma conversa de família, soube que minha sobrinha de 15 anos, que até então não gostava de livros, finalmente descobriu sua paixão pela leitura. Isso aconteceu porque ela estava lendo um livro que despertou seu interesse.

Este caso retrata minha crença que defendo quase como um mantra: a pessoa diz não gostar de ler até ler um livro que gosta. Não acho que o ser humano seja avesso à leitura. Acredito apenas que cada um tem estilos, gostos e interesses diferentes.

Desde que comecei a escrever romances profissionalmente, tento reverter este movimento contra a leitura que parece ter se enraizado na nossa cultura. Na verdade, todas as pessoas que não leem hoje são potenciais leitores, basta encontrar o livro certo.

Como escritora, uso meu ativismo pró-leitura para enfatizar a importância dos livros no desenvolvimento humano. Inclusive, costumo indicar três caminhos para quem não gosta de ler descobrir como identificar os títulos certos para investir seu tempo.

Para saber quais são os seus gêneros literários preferidos, basta analisar os filmes e séries que você mais assiste. Depois, vale procurar os trabalhos de autores destes gêneros e ler resenhas de livros escritos por eles para encontrar aquele que mais chama a sua atenção.

Tem ainda a regra 80/20: se você leu 20% do livro e não gostou, o melhor é deixá-lo de lado e começar uma nova leitura. Se até ali você não se encantou por aquela história, talvez não seja o livro certo ou mesmo o momento ideal para ele.

Se você conhece alguém que se encaixa neste perfil de brasileiros que não gostam de ler, sugira estas técnicas. Pode ser o incentivo necessário para que mais uma pessoa descubra o potencial dos livros e se apaixone pelo universo mágico da literatura.

Entrevista: "Somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos", diz escritor LGBT
Histórias, Livros, Talks

Entrevista: “Somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos”, diz escritor LGBT

“Reconhecer-se com as dores e sonhos do Bernardo e do Enrico não transforma o leitor em LGBT, apenas mostra que, no final de tudo, somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos, em busca da felicidade”. É assim que o escritor e roteirista premiado Saulo Sisnando define sua obra. O autor de Terra das Paixões, livro de estreia da série Infinita Coleção, defende que o amor é único e universal.

Embora a literatura LGBT tenha destaque nos últimos anos, o autor acredita que o protagonismo gay pode e deve estar à frente de mais gêneros literários. “Uma parte de mim gosta de ser classificado como “escritor queer”, mas protagonistas LGBT podem estar à frente de fantasias, histórias de terror, dramas, fanfics, romances. Quando escrevo, por exemplo, “Terra de Paixões” sigo os moldes de qualquer romance romântico, mas, por acaso, o amor é entre dois homens”, finaliza.

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Por que você decidiu entre tantos gêneros escrever literatura queer?

O primeiro leitor de um livro é o próprio autor. Não sou um escritor que escreve para agradar os outros ou para ganhar prêmios. Sempre escrevo o livro que eu gostaria de ler e torço para que, como eu, existam outros leitores compartilhando o mesmo desejo de leitura. Sendo assim, como homem gay, é natural escrever algo que me represente, que reflita a minha verdade, as minhas vivências, os meus sonhos. Cresci sonhando em ler histórias de amor entre homens, romances intensos, com fortes protagonistas. Então, após mais de 20 anos escrevendo para teatro e, naquela mídia, também discutindo o amor entre homens, me senti pronto para publicar meu primeiro romance.

Teve algum escritor ou escritora como inspiração?

Eu cresci lendo escritores best-sellers como Sidney Sheldon, Janet Dailey, Danielle Steel, Barbara Cartland. Com o passar dos anos fui me aproximando de outros autores considerados mais eruditos, autores que temos mais “orgulho” de citar. Porém, durante tessitura de todos os meus textos ao longo de mais de 20 anos, tenho percebido a influência muito maior dos autores que me fizeram amar a literatura: os grandes autores de best-sellers. Além destes, talvez o maior produto artístico brasileiro sejam as telenovelas. O folhetim faz parte da essência do nosso povo, portanto é natural que, em meus romances românticos, eu encontre referências nos folhetins televisivos, e em seus maiores autores, Janet Clair, Gilberto Braga e Gloria Perez.

Você é um premiado roteirista de teatro, a transição para escrever livros foi uma consequência?

A principal diferença entre a dramaturgia e a literatura é o fato de o romance conseguir se encerrar em si mesmo. Embora seja inteiramente possível ler uma peça de teatro, seu auge é ser apresentado em um palco, movimentando uma longa rede de profissionais, em especial, os atores. No romance, por outro lado, a ação transcorre totalmente na imaginação do leitor. Ao acompanhar a história de um romance, o leitor sempre terá os melhores atores em cada papel, os melhores cenários. Em um romance não há limitações de qualquer tipo, o leitor sempre lê o livro como se fosse o maior e mais caro espetáculo da Broadway.

Como surgiu a inspiração para criar a Infinita Coleção?

É uma homenagem a uma das mais emblemáticas autoras românticas do século XX: Barbara Cartland. Ao longo de sua prolífica carreira, a escritora inglesa escreveu mais de 700 livros e todos fazem parte de uma coleção romântica chamada “Eterna Coleção”. Durante os anos 80 e 90, os romances históricos da Eterna Coleção de Barbara Cartland eram vendidos em bancas de revista com grande sucesso. A minha “Infinita Coleção”, nesse viés, pretende revisitar grandes temas românticos, dentre eles as tramas de Natal, os romances históricos, mas desta vez com total protagonismo LGBT.

Já está escrevendo o próximo livro da série?

Sim, em 2022 sairão dois novos volumes da Infinita Coleção, são eles, “Baile de Máscaras”, um romance com irmãos gêmeos e troca de identidade e, “O tempo de Amar”, que transitará pelo universo das comédias românticas natalinas.

Será uma continuação ou outras histórias com outros personagens?

Não descarto totalmente a ideia de escrever continuações ou spin-offs, porém a ideia da Infinita Coleção é entregar ao público 10 romances LGBT inspirados no universo dos livros de Banca, como Sabrina, Bianca, Julia.

Você escreveu essa obra pensando em um público mais maduro e que não se via representado em romances de bancas LGBT?

Atualmente a literatura brasileira e mundial está se permitindo protagonistas LGBT e isso é uma conquista fabulosa. No entanto, eu sempre me deparava com romances adolescentes ou voltados para os jovens adultos e romances mais quentes e sensuais. Eu sentia falta de um grande romance como Pássaros Feridos, Casablanca, As Pontes de Madison, Lendas da Paixão, etc., que não são sobre a descoberta e o despertar da sexualidade, não são sobre primeiros amores, mas histórias sobre pessoas formadas, adultas. Tramas nas quais o sexo não é o objetivo, mas uma etapa da felicidade. Por isso tive a ideia de tentar fechar essa lacuna e dar histórias açucaradas e muito românticas para um público mais maduro.

Quais são os desafios de ser escritor LBGT no Brasil?

Meu maior desafio é fazer o leitor entender e sentir que o amor entre dois homens não é “amor-gay”, mas apenas “amor”. O mercado editorial desde sempre gosta de rotular as obras e definir os possíveis leitores: esse livro é para mulheres, esse outro é para homens. Pouquíssimas vezes nós tivemos livros destinados aos LGBT, sempre tentávamos encontrar em histórias heteronormativas, camadas que falassem conosco. Hoje nós temos livros LGBT, escritos por escritores LGBT, para o público LGBT e é bom demais ter essa representatividade. Porém eu sonho ainda com o tempo em que heterossexuais consigam transpor a orientação sexual dos protagonistas e entendam que são histórias de pessoas fortes, às vezes felizes, às vezes tristes, que trabalham, pagam as contas, entram no tinder, assistem netflix, saem para conversar com amigos. Terra de Paixões é uma história romântica sobre uma paixão avassaladora que, por acaso, possui dois homens como protagonistas. Reconhecer-se com as dores e sonhos do Bernardo e do Enrico não transforma o leitor em LGBT, apenas mostra que, no final de tudo, somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos, em busca da felicidade.

Sobre o autor: escritor premiado de diversas peças de teatro, Saulo Sisnando constrói histórias engraçadas e românticas com total protagonismo gay. Atualmente, mora em Belém do Pará com seus milhares de cachorros. Fã de livros de banca, Terra de Paixões é o seu primeiro romance para a Infinita Coleção.

Crônica: Fique em casa
Autorais, Livros

Crônica: Fique em casa

— Alexandre… (Longa pausa dramática.) Com 87% dos votos, foi você o escolhido. Seu tempo na casa chegou ao fim. Vem viver sua vida aqui fora!
— Ei, espera aí. Assim, de supetão?
— Como “de supetão”? Já é seu quinto paredão e sua mala inclusive está pronta aí do seu lado.
— Mas eu achei que era só jogo de cena, pra manter a audiência ligada até o final.
— Não, infelizmente não é jogo de cena. Vem! Sua família te espera.

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— Você só pode estar maluco. Meus pais já têm mais de 70 anos, não posso ter contato próximo com eles não.
— Olha, eu sei que é difícil se desfazer desse sonho, mas chegou a hora de você encarar a realidade aqui fora. Tem muita coisa boa te esperando!
— Tipo o quê?
— Você agora é uma celebridade. Não vai mais conseguir andar na rua sem ser assediado, pessoas querendo uma selfie pra postar no Instagram, esse tipo de coisa…
— Como assim? Assédio, selfie? Na cartilha que vocês nos mandaram estava escrito em caixa-alta: EVITAR O CONTATO PESSOAL!
— Olha, realmente aconteceu esse probleminha…
— Probleminha? Também estava escrito que não era pra acreditar de modo algum em quem dissesse que era apenas um “probleminha”. Não estou entendendo mais nada, achei que eu entraria nessa casa e sairia com a minha situação resolvida, mas pelo visto me dei mal.
— Alexandre, eu sei que você está preocupado e não tiro sua razão. Estamos em um momento difícil, mas que passará, como tudo na vida. Veja pelo lado bom, agora você é uma pessoa pública e pode ajudar a conscientizar a população.
— Mas quem irá me reconhecer, se sou obrigado a sair de máscara?
— Você pode fazer lives dentro da sua casa mostrando como pode ser boa a vida no confinamento, afinal você já tem experiência no assunto.
— Uma coisa é me divertir numa casona dessa, com festa toda semana, bebida e comida à vontade, tempo livre, gente bonita, piscina, academia e o escambau; outra é ficar preso naquele meu quarto e sala, com vista pra parede do outro prédio e uma internet que cai o tempo inteiro.
— Infelizmente, não podemos nos responsabilizar por tudo que acontece após o programa. Cada um tem que achar um jeito de se inserir no mundo aqui fora. O próprio Rubinho, que saiu no último paredão, tá fazendo um sucesso danado confeccionando máscaras com rostos de ex-BBBs. Se a pessoa quiser sair sem ser notada, é só escolher a cara de alguém que participou dos programas mais antigos que é batata.
— Quer dizer que eu posso usar uma máscara com meu próprio rosto impresso?
— Claro, tem gosto pra tudo. Vem, o Brasil te espera!
— Bom, pelo menos ainda posso fazer presença em festas.
— Não existem mais festas.
— Como assim?
— Acho que falei besteira — murmurando baixinho.
— O quê?
— É isso mesmo, as festas foram proibidas.
— Como vou me sustentar sem fazer presença em festas? Torrei todo o meu dinheiro pra clarear os dentes e fazer uma abdomino plastia. Não sobrou mais nada.
— Você tem smartphone?
— Tenho.
— Então… Você pode baixar um aplicativo que vai te dar direito a receber uma ajuda do governo.
— Que bom… Quer dizer que não vou passar aperto? De quanto é esse auxílio?
— Seiscentos reais.
— Seiscentos reais?
— Isso.
— … Tá, mas e a Solange? Ainda está me esperando aí fora?
— Bom… Você sabe que ela saiu logo na terceira semana… Olha, eu não vou te enrolar não, ela está morando com o Rubinho.
— Mas o Rubinho saiu daqui semana passada jurando que ia voltar pra Ju.
— Ju?
— Ju, a que saiu na primeira semana.
— Ah, lembrei. Aquela lourinha, né?
— A própria.
— É tanta gente que fica difícil de lembrar. Pois é, ela ficou com medo da pandemia aqui no Brasil e viajou pra longe.
— Foi para onde?
— Nova York.
— Sorte a dela, hein?
— Vamos mudar de assunto? Tenho certeza de que você fará muito sucesso quando sair da casa. Inclusive, existe a chance de você ser recebido pelo presidente da república! Tá cheio de gente querendo saber sua opinião sobre a cloroquina.
— Cloro o quê?
— Esquece. Vem, Alexandre, vem brilhar aqui fora!

Resenha: Sobre a escrita - A arte em memórias, Stephen King
Histórias, Livros, Resenhas

Resenha: Sobre a escrita – A arte em memórias, Stephen King

Sobre a escrita, de Stephen King é um livro soberano. Com um pouco mais de 200 páginas, arrisco dizer que vale como uma pós-graduação na área de escrita. E posso falar com propriedade, porque sou graduado e pós-graduado. De início, achei que não seria tão bom assim, já que a primeira parte do texto, intitulada de “Currículo”, King faz um apanhado de sua vida, contando fatos que culminaram para que ele fosse o escritor bem sucedido que se tornou.

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Nesse ponto, tendemos a pensar tá, mas e daí?, mas conforme avançamos na leitura de Sobre a escrita, percebemos que sim, o currículo faz toda a diferença na carreira dele, que é um dos maiores escritores da atualidade com mais de trinta títulos publicados, tendo começado do zero. Ele começou escrevendo na lavanderia de um trailer, passou fome e muitas necessidades com a sua família, mas sempre manteve acesa a chama do seu sonho de ser escritor algo que, por experiência própria, posso afirmar que não é tão fácil assim.

Mestre ― essa é a palavra que costumam usar para se referir a Stephen King, um dos maiores escritores de ficção de todos os tempos. Sendo assim, Sobre a escrita é tanto uma autobiografia quanto uma aula de um mestre, eleita pela Time Magazine um dos 100 melhores livros de não ficção do mundo e vencedora dos prêmios Bram Stoker e Locus na categoria Melhor Não Ficção.

O livro começa com um relato íntimo e honesto das memórias e experiências de Stephen King, desde a infância até a carreira literária, passando pelos vícios em drogas e por um acidente quase fatal. Essa narrativa autobiográfica introduz com perfeição os conselhos de King sobre a profissão de escritor, já que contempla os livros e filmes que o influenciaram na juventude, seu processo criativo de transformar uma ideia em um novo livro, os acontecimentos que inspiraram seu primeiro sucesso e muito mais. Usando exemplos que vão de H. P. Lovecraft a Ernest Hemingway, de John Grisham a J. R. R. Tolkien, o autor ensina como aplicar suas ferramentas criativas para construir personagens e desenvolver tramas, construindo uma obra essencial sobre a arte de contar uma história em palavras.

Depois, na segunda parte de Sobre a escrita, começamos a falar sobre escrever de verdade e de forma profissional. Aqui, ele fala diretamente com pessoas que já são escritoras ou que desejam desesperadamente ser. Ele pede para que a escrita seja levada a sério e não somente como um hobby, se não, ela tenderá a continuar dessa forma. Ele mostra como ele fez para vender o seu primeiro livro, seus primeiros contos e receber o primeiro adiantamento do seu agente literário.

Logo em seguida, vemos uma verdadeira aula de técnica, que resumi em alguns tópicos que quero dividir com você, caro Becudo. Também, para eu não esquecer quando estiver escrevendo:

  1. Quando escrevemos, contamos a história para nós mesmos. Quando reescrevemos, devemos cortar da história tudo aquilo que não é necessário;
  2. A vida não é um suporte à arte. É o contrário;
  3. Use sempre a primeira palavra que vier a cabeça se for adequada e interessante, não invente muito;
  4. Evite a voz passiva. Ela é segura demais. Demonstra medo de não ser levado a sério;
  5. O advérbio não é seu amigo. O escritor que tem medo de não passar sua mensagem pelas ações do personagem, usa o advérbio. Se expresse bem;
  6. Nunca use advérbios com verbos dicendi;
  7. Não tente inventar muito vitaminando os verbos dicendi. O melhor é usar o “dizer”;
  8. Use a estrutura Frase-Síntese, seguida de frases descritivas e complementares;
  9. Use a linguagem fonética;
  10. Escreva todos os dias, pelo menos 2 mil palavras;
  11. Escreva o que quiser, encharque de vida, torne sua história única, acrescente seu conhecimento pessoal e intransferível do mundo;
  12. Escreva sobre trabalho + gênero que você mais ama;
  13. Histórias vindas de enredos são artificiais e duras;
  14. As situações mais interessantes para um livro começam com “e se…”;
  15. Em descrições, gere identificação mútua, não dê muitos detalhes. Ela deve começar na cabeça do escritor e terminar na do leitor;
  16. Não diga em narração ou descrição algo que você pode montar com falas.

E então, preciso dizer mais alguma coisa dessa obra prima que é Sobre a escrita? Acho que não.