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Conheça Arsène Lupin, personagem que inspirou a série Lupin da Netflix
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Conheça Arsène Lupin, personagem que inspirou a série Lupin da Netflix

Com o lançamento da terceira temporada de Lupin, em 05 de outubro, um dos personagens mais famosos da França volta às telas para novos mistérios. Arsène Lupin foi criado por Maurice Leblanc como uma resposta ao clássico britânico Sherlock Holmes. Existem mais de vinte obras dedicadas ao criminoso francês.

Ousado, sedutor e divertido, Arsène Lupin é o ladrão mais famoso do início do século XX. Responsável por uma série de crimes misteriosos na França na virada do século XX, o anti-herói mantém um código de honra muito próprio: atormenta os seus oponentes, ridiculariza a burguesia e ajuda os mais fracos. Um Robin Hood muito francês, portanto.

Encarado como a irônica resposta francesa a Sherlock Holmes, “Arsène Lupin: Cavalheiro e Ladrão” é o primeiro livro de uma série de vinte títulos empolgantes que Maurice Leblanc dedicou a Lupin, um dos personagens mais marcantes do gênero policial.

“Arsène Lupin: Cavalheiro e Ladrão” serviu como base para muitas adaptações para o teatro, cinema e televisão. A mais recente sendo a série Lupin da Netflix, agora na terceira temporada, na qual inspira o ladrão de casaca Assane Diop que está decidido a vingar o pai por uma injustiça cometida por uma família abastada, estrelado por Omar Sy no papel principal, Ludivine Sagnier, Clotilde Hesme.

A última adaptação para o cinema foi a versão de 2004 estrelada por Romain Duris, Kristin Scott Thomas, Pascal Greggory e dirigida por Jean-Paul Salomé. Desde a criação do personagem, ele já foi adaptado até mesmo para o cinema alemão e argentino, porém, uma das adaptações mais famosas é o mangá Lupin III, o qual se tornou um anime também bem sucedido posteriormente.

Quem é Arsène Lupin?

Criado em 1905, Lupin tem como marca roubar apenas dos ricos e burgueses, daqueles que acumulam fortuna de maneira suspeita. As aventuras de Arsène Lupin se apoiam na lógica, no raciocínio e na dedução, elementos-chave das clássicas narrativas policiais.

Tanto no livro quanto na série, a arma mais mortífera de Lupin é a perspicácia. Além disso, o personagem possui diversas complexidades, especialmente por trazer o ponto de vista de um anarquista que vive como aristocrata e aborda questões filosóficas e políticas dessa questão.

Nas nove histórias que compõem as primeiras aventuras, o irresistível anti-herói atormenta os seus oponentes, zomba das convenções estabelecidas, ridiculariza a burguesia e ajuda os mais necessitados. Lupin ainda enfrenta um grande detetive inglês, não por acaso chamado Herlock Sholmès, em referência ao personagem de Arthur Conan-Doyle.

Maurice Leblanc foi um escritor e jornalista francês, era filho de um armador naval e trabalhou durante algum tempo na empresa da família, até conseguir estabelecer-se como repórter policial, tendo publicado o seu primeiro livro aos vinte e três anos de idade, um romance psicológico com o título “Une Femme”.

Ele continuou a sua carreira na imprensa durante vinte anos, recolhendo material e compondo lentamente a personagem que o consagrou como escritor. Em 1907, apareceu “Arsène Lupin: Cavalheiro e Ladrão”, livro que trouxe o icônico personagem à tona com  ironia, charme e astúcia.

A Editora Landmark possui uma edição de luxo bilíngue em português e francês de “Arsène Lupin: Cavalheiro e Ladrão”, que apresenta a obra-prima de Maurice Leblanc em uma inédita, resgatando toda as aventuras originais do ladrão astuto e encantador.

Curte fanfics? Então vem conferir essa lista!
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Histórias, Livros

Curte fanfics? Então vem conferir essa lista!

Você já terminou de ler um livro e ficou com a sensação de que a história poderia continuar? É por isso que existem as fanfics! Afinal, quando os autores não querem continuar a narrativa, os leitores dão um jeito de matar a curiosidade e imaginar o que acontece com os personagens.

+ O “bug” da literatura: a revolução das Fanfics

Para as adolescentes que adoram abrir a imaginação para viajar entre as palavras, selecionamos cinco obras que não podem faltar na estante de uma boa fanfiqueira. Entre as indicações estão fanfics sucesso do Wattpad e as fanfics “conforto”, que trazem histórias meigas para viajar na imaginação.

Confira todas as sugestões e escolha sua próxima leitura!

Herdeiro do Império

Envolver-se com Maia Galina era algo arriscado. Bruno soube disso no momento em que descobriu quem era o pai dela. Ele nunca deveria ter colocado meus olhos sobre ela, sua maior conquista e o pior castigo. Os personagens são os inimigos que se amam, mas será que há espaço para um final feliz em meio a toda devastação?

(Autora: Jussara Leal | Editora: Qualis | Onde encontrar: Amazon)

Liz Flores é uma farsa

Liz é uma escritora aspirante, que sonha em ser percebida por uma das melhores agentes literárias do país. Mas, tudo que conseguiu foi se tornar assistente pessoal de Diana Marinho, do departamento de influencers. Quando surge a oportunidade de promoção, Liz recebe a proposta de fingir ser a namorada de Diana para agradar o comitê de diversidade da empresa. Em meio a mentiras e uma rotina exaustiva, ela percebe que a farsa pode custar os resquícios de sua sanidade.

(Autora: Victoria Mendes | Editora: Qualis | Onde encontrar: Qualis)

Mais Safado

Calvin vivia uma vida solitária e rodeada de mulheres, até que conhece a sua nova vizinha: Raissa Magalhães, uma mulher divertida que mexe com seus sentidos. Entre churrascos, tomates e muita safadeza, ele descobre um sentimento que pensava não ser capaz de sentir, a tirar pela promessa feita ao falecido pai: jamais se apaixonar. Mas será que Calvin está pronto para largar seu estilo promíscuo e se dedicar a uma única pessoa?

(Autora: Mila Wander | Editora: Qualis | Onde encontrar: Amazon)

Querida Penelope

Cleo Rodrigues gosta de ter uma vida mediana e estável, mas as coisas começam a sair do controle quando é demitida. Determinada a fazer qualquer coisa para não voltar para a casa dos pais, Cleo topa um trabalho nada mediano: escrever cartas eróticas para figuras do judiciário brasileiro. E o pior, com a ajuda de sua ex-namorada, que regressa para lembrar a Cleo que ser mediano não é tão fácil assim.

(Autora: Arquelana | Editora: Qualis | Onde encontrar: Amazon)

Em todas as gotas de chuva

Em Vila das Íris, uma cidade pacata do interior, duas famílias eram conhecidas por sua intensa e decadente rivalidade no passado. Até que, uma coincidência do destino faz com que Atena Lisboa e Cordélia Salgueiro dividam o mesmo assento em uma viagem de trem que promete refazer um trajeto nostálgico para ambas. Lado a lado, a um banco de distância, é provável que a disputa familiar seja rapidamente banida.

(Autora: Englantine | Editora: Qualis | Onde encontrar: Amazon)

Bifobia: 6 atitudes para combater o preconceito
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Bifobia: 6 atitudes para combater o preconceito

Em um mundo de infinitas cores e possibilidades, o Dia da Visibilidade Bissexual, em 23 de setembro, é a oportunidade de explorar o debate sobre identidade sexual. Esta data não apenas celebra os bissexuais, mas também é um momento para aprender mais sobre a diversidade humana e fortalecer a empatia. Aqui estão algumas dicas e orientações para colocar em prática no combate a bifobia!

+ Como me assumir LGBT para os meus pais?

  1. Conheça a história: Antes de tudo, reserve um tempo para pesquisar um pouco sobre a bissexualidade. Descubra os momentos e as pessoas que moldaram a luta pelos direitos e pela visibilidade da comunidade bissexual. Compreender as raízes do movimento é essencial.
  1. Escute narrativas bissexuais: Leia livros, assista a filmes e ouça músicas que destacam narrativas bissexuais. Consumir esse tipo de literatura, como o livro Por trás dos meus cabelos, da autora Miriam Squeo, ajuda a expandir sua compreensão e empatia pelas experiências daqueles que se identificam como bi.
  1. Amplie o círculo de amizades: Permita-se conectar com pessoas de diferentes, inclusive que tenham orientação sexual diferente da sua. Converse, escute e compartilhe vivencias. Isso ajudará a criar uma atmosfera inclusiva e acolhedora, a qual todos possam compartilhar conhecimentos uns com os outros. 
  1. Combata a bifobia: Infelizmente, a bifobia ainda é uma realidade para muitos bissexuais. Dedique um tempo para compreender os preconceitos e estereótipos associados à bissexualidade. O entendimento dessa questão pode ajudar a combater o estigma.
  1. Seja um aliado ativo: Mesmo que você não se identifique como bissexual, ainda pode ser um aliado ativo. Defenda a igualdade de direitos e respeito para todas as orientações sexuais. Esteja pronto para apoiar e ouvir quando necessário. 
  1. Não julgue a jornada dos outros: Cada pessoa tem sua própria caminhada de autoaceitação. Sobretudo aqueles que se assumem como bi na fase adulta. O importante é acolher, reconhecer que o tempo e o contexto podem influenciar quando alguém se sente pronto para compartilhar a orientação.
Entrevista: Ricardo Martins nos leva em uma jornada pela Itália de norte a sul
Cleverson Nunes
Histórias, Livros, Novidades, Talks

Entrevista: Ricardo Martins nos leva em uma jornada pela Itália de norte a sul

Novo livro do fotógrafo e apresentador Ricardo Martins acompanha os registros pela Península Itálica, dos Pré-Alpes no extremo norte, aos mares do sul

A Itália, uma terra onde o passado e o presente se entrelaçam de maneira fascinante, é um verdadeiro palco de história e cultura que ecoa por todo o mundo. Suas cidades, povoados e vilas, repletos de construções milenares, testemunham a evolução de civilizações ao longo do tempo, deixando uma marca indelével na história não apenas da região, mas também de muitas partes do globo. 

+ Novo livro de Ricardo Martins enfatiza patrimônio cultural e história da Itália

Neste cenário único, onde a tradição e a modernidade coexistem harmoniosamente, encontramos narrativas cativantes, como a aventura do fotógrafo Ricardo Martins que transformou sua viagem pela Itália em um projeto fascinante. Acompanhado pelo diretor de cinema Fabio Tanaka e por Sam, um italiano que se tornou um guia especial durante um mês de exploração, eles mergulharam nas riquezas culturais e paisagens deslumbrantes deste país, capturando momentos que agora fazem parte do projeto “Itália, redescobrindo as influências culturais do Brasil”. 

Beco Literário: Como surgiu a ideia de viajar de motorhome pela Itália e transformar essa experiência em um livro?

Ricardo Martins: A ideia veio de um interesse particular que eu tinha em fotografar a Itália e que meu patrocinador, o grupo italiano Comolatti, apoiou desde o início. Com isso, o motorhome foi estratégico. Com ele, conseguiríamos aproveitar melhor o tempo em cada lugar e nos deslocarmos com mais facilidade, por isso, virou nossa casa móvel por 25 dias.

BL: Como aconteceu a escolha das cidades e lugares que você visitou na Itália durante a viagem?

Ricardo: Montei todo o roteiro e os lugares que eu gostaria de conhecer com um amigo italiano, o Luciano. Depois, o Sam, um amigo de infância dele, se tornou nosso guia e condutor do motorhome. Foi o Sam que inventou estratégias novas para descobrirmos novos lugares, como a cidade de Matera, que não estava no roteiro inicial.

BL: Como foi a experiência de viajar com o diretor de cinema Fabio Tanaka e transformar os bastidores da viagem em uma série de episódios? 

Ricardo: Foi uma experiência fantástica. O Tanaka hoje se tornou um grande amigo e juntos transformamos a viagem em uma série de quatro episódios, algo que eu já queria fazer desde o meu segundo livro. Essa foi a terceira série que eu apresentei e a segunda que eu produzi. Hoje, no total, já temos cinco séries produzidas, duas que já foram lançadas e três que estão vindo por aí… Por isso, hoje vejo a série como um novo produto e foi dessa forma que surgiu a RM Produções, minha editora e produtora.

BL: Você mencionou que a foto do canal principal de Veneza foi uma das suas favoritas. Pode compartilhar mais detalhes sobre essa imagem e por que ela é tão especial para você?

Ricardo: Veneza sempre fez parte do meu imaginário pelos filmes que assistia e matérias na televisão e nas revistas. Quando cheguei, vi que era muito mais do que eu sonhava e foi mágico fotografar ali, com aquela atmosfera e aquela energia.

Entrevista: Ricardo Martins nos leva em uma jornada pela Itália de norte a sul

Ricardo Martins

BL: Tem uma pergunta que sempre faço para todos os entrevistados – o que você sempre quis responder mas ninguém nunca te perguntou?

Ricardo: Tem uma muito íntima minha que é qual é o meu maior medo… E já respondendo, meu maior medo é perder aquela empolgação, aquela magia da fotografia que eu sempre tive, desde criança. Desde que tirei aquela minha primeira fotografia com 10 anos de idade, que apertei aquele botão e aquela felicidade explodiu… Tenho medo de perder isso, perder com o ritmo de trabalho, com a quantidade de trabalho, que isso se torne algo comum e não se torne mais mágico.

BL: No processo de criação das imagens para o livro, você mencionou que buscou ser totalmente autoral. De onde vem as suas influências criativas? Pode explicar como isso influenciou o resultado final?

Ricardo: Sempre fui autodidata, procuro aprender com muita observação e experiências de erros e acertos, sejam eles meus ou de outras pessoas. Minha fotografia é muito instintiva, eu fotografo o que me salta os olhos com emoção e tento levar isso para as páginas dos meus livros e agora, para as séries de TV.

BL: Além de seus livros, você também promove exposições fotográficas. Pode nos contar sobre sua experiência mais recente, a exposição “Uma língua de várias faces” na sede da Unesco em Paris?

Ricardo: Sim, adoro fazer exposições e interagir com o público tentando entender o meu olhar! Essa última aconteceu na sede da Unesco, em Paris, a convite do embaixador Santiago Mourão. Certo dia, acordei às 6h com meu telefone tocando e era o Santiago, dizendo que gostaria do meu trabalho exposto em Paris no dia da comemoração da Língua Portuguesa. Para mim, foi uma honra e um grande reconhecimento.

BL: Você já tem planos para novos projetos após o lançamento deste livro? Pode compartilhar algumas informações sobre eles?

Ricardo: Planos não faltam! Com alguns erros que cometi sendo empresário, entendi que a engrenagem nunca pode parar, então já estou pensando em 2024 e 2025. Os próximos projetos que já estão confirmados e com patrocinadores fechados são: “Amazônia”, “Litoral Brasileiro” e “Os Últimos Filhos da Floresta”, mas ainda não posso dar muitos detalhes sobre eles.

Entrevista: Ricardo Martins nos leva em uma jornada pela Itália de norte a sul

Ricardo Martins

Considerado um dos principais nomes da fotografia de natureza e cultura do país na atualidade, Ricardo Martins é autor e editor de 12 livros, já apresentou e produziu quatro séries passando pelo Pantanal, Amazônia, Itália e litoral brasileiro, onde mostra os bastidores de suas expedições. Desta vez, percorreu toda a Península Itálica, dos Pré-Alpes no extremo norte, aos mares do sul mostrando os contrastes das construções milenares que convivem com situações da modernidade. 

Em 2012, foi honrado com um dos maiores prêmios da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti, na categoria de melhor fotografia pela obra A Riqueza de um Vale. Ricardo Martins promove exposições fotográficas divulgando a cultura e as belezas brasileiras no Brasil e no mundo; a última, intitulada  “Uma língua de várias faces”,  aconteceu em Paris na sede da Unesco, em comemoração ao dia da língua portuguesa.

Entrevista: Holly Black é a rainha de tudo e fala sobre seus gatinhos
Beco Literário
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Entrevista: Holly Black é a rainha de tudo e fala sobre seus gatinhos

No último sábado (02), estivemos na Bienal do Livro do Rio de Janeiro para ver com nossos próprios olhos o primeiro final de semana de festa e que de quebra, ainda ia contar com Holly Black, Cassandra Clare, Julia Quinn e muitos outros autores de renome. Se você já esteve em uma, deve saber muito bem como ficam as filas, os corredores, os estandes… Mas isso é papo para outro texto, porque, um dos motivos principais da nossa ida foi Holly Black!

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Particularmente, sou fã da Holly desde criança. Li As Crônicas de Spiderwick na minha primeira infância, era fissurado pelo filme, comecei a escrever sobre fantasia e seres mágicos por conta da história e cheguei a ficar na fila da livraria da minha cidade para comprar o segundo livro da série, A Pedra da Visão. E sim, tive a oportunidade de entrevistar a Holly e conversar com ela por aproximadamente quinze minutos em seu hotel, no Rio de Janeiro, no sábado da Bienal.

Se você é fanboy de fantasia como eu, Holly dispensa apresentações e você pode imaginar como eu estava tremendo da cabeça aos pés e com o inglês todo travado de estar ali, na frente dela. Certo momento até me desculpei falando que estava tentando ser profissional e ela nah, deixa disso! Só posso dizer que Holly superou minhas expectativas. Ela é simpática, fofa, completamente afetuosa, carismática e preocupada com os fãs. Gente como a gente, sabe? Faz questão de estar ali e não só de cumprir agenda.

Para você que ainda não conhece, Holly Black é uma escritora norte-americana que ficou mundialmente famosa após escrever a série de livros As Crônicas de Spiderwick. Ela é uma grande colecionadora de livros raros de folclore e em seus primeiros anos de vida ela morou em uma mansão abandonada em estilo vitoriano com sua mãe, que contava a ela várias estórias de fantasmas e fadas. Seu primeiro livro, Tithe: A Modern Faerie Tale, foi muito bem recebido pela crítica e hoje, é autora best-seller número 1 do New York Times com mais de trinta livros de fantasia para jovens adultos e crianças. Seus livros já foram traduzidos para 32 idiomas e adaptados para o cinema e TV. Hoje, ela vive com o marido e o filho em uma casa que tem uma biblioteca secreta.

Meu horário com a Holly era 15h, no hotel em que ela estava hospedada, no Rio de Janeiro. Cheguei trinta minutos antes do combinado, correndo e esbaforido com medo de não encontrar a portaria, de não me deixarem subir, de algo dar errado (enfim, o ansioso, né?). Deu tudo certo. Cheguei, subi até a sala em que iríamos nos encontrar e esperei alguns minutos. Holly me chama para entrar e me convida para sentar ao seu lado, em uma mesa preta. Estou tremendo.

Faço uma breve apresentação do Beco Literário, conto nossa história e falo de forma enrolada que Beco Literário, em inglês, significa Literally Alley. Penso em porque não escolhi um nome mais fácil porque minha língua trava e minha boca fica seca. Começo conversando, descontraindo o momento, mais por mim que por ela. Na sala, estamos eu e ela na mesa, o Patrik tirando fotos na outra ponta e duas assessoras da Holly no cantinho. Agora vai.

Você pode ouvir a entrevista original, em inglês, acima

Beco Literário: Os livros de “As Crônicas de Spiderwick” completam 20 anos de publicação este ano… (risos) Como você se sente sendo parte da infância de tanta gente? Quer dizer, a gente era criança quando leu pela primeira vez. Eu (Gabu) tinha uns doze anos e agora tenho 26…

Holly Black: É muito especial, mas também muito estranho. Para mim não parece que faz tudo isso de tempo… parece que faz bem menos (risos). Mas, eu aprecio demais quem me acompanha deste então porque eu faço muitas coisas diferentes e uma das coisas mais interessantes sobre isso e que acontece muito comigo é estar em uma sessão de autógrafos e alguém percebe que fui eu que escrevi Spiderwick e eles estão lá por outros livros e dizem “então foi você?” ou o caminho inverso, quando falo que escrevi Spiderwick e as pessoas dizem “você escreveu aquilo?”. Ser a mesma pessoa (que escreveu Spiderwick e O Príncipe Cruel) tem sido uma surpresa em quase toda sessão de autógrafos que eu faço (risos).

BL: Não sei se você já teve a oportunidade de ver o Brasil desde que chegou, mas tem algo aqui que te inspira mais? O que você gostou mais daqui?

Holly: Bom, eu nunca tinha estado aqui, é a minha primeira vez. Eu tive a oportunidade de ver o Rio de Janeiro de helicóptero e é incrível e ver a forma como a floresta avança sobre as pedras e as montanhas… (suspiro). Para mim, parecia musgo e quando eu percebi que de fato eram árvores, uau. Aquelas paisagens vão ficar comigo por muito tempo. O Rio tem uma vista incrível e você se sente em um lugar folclórico.

BL: Sempre quis te perguntar essa aqui (risos). Como o processo de escrita em parceria funciona para você? Você escreveu Magisterium com a Cassie, Spiderwick com o Tony… Quero dizer: você escreve um capítulo, a outra pessoa lê e você escreve o resto… Como funciona?

Holly: Escrever em conjunto funciona de formas diferentes com cada pessoa. Quando eu estava trabalhando com o Tony em Spiderwick, a gente sentava e falava sobre a história. Eu escrevia e ele desenhava. Eu mandava para ele o que eu escrevi, ele me mandava o que desenhou e nós conversávamos em cima disso. Às vezes, ele me mandava um desenho que ele fez, alguma sugestão e falava ‘você pode colocar isso no livro?’, eu respondia ‘ondeeee?’ e ele ‘que tal aqui?’ (risos). Já com a Cassie, a gente escreveu tudo no computador de uma só de nós. E nós passávamos o computador de lá pra cá. Eu escrevia aproximadamente 500 palavras, ela lia e fazia as considerações dela e então, escrevia mais 500 palavras e eu lia e fazia minhas considerações. Não teve nada que nenhuma de nós não tenha feito em conjunto. E isso tudo aconteceu porque todos esses livros foram escritos em apenas um ponto de vista, então tínhamos que ter a mesma voz. Foi muito divertido para mim, eu me permiti fazer muitas brincadeiras que não teria feito normalmente porque eu pensava que se não funcionasse, a Cassie poderia arrumar ou tirar. Eu achei bastante libertador e a Cassie segue perfeitamente o outline (planejamento de acontecimentos de um livro) e eu não sigo… (risos). Então foi maravilhoso porque ela dizia ‘isso precisa acontecer, está no planejamento que precisamos seguir’ e eu respondia ‘então tá, se você diz, vamos seguir o planejamento’ (risos). Mas, eu acho que muito do que a gente pensa sobre escrever em colaboração é sobre o nervosismo do processo, porque nós vamos “bater cabeças” e isso realmente acontece, mas também é a melhor parte da colaboração porque quando você bate cabeça, você encontra uma terceira opção para seguir o caminho, o que uma ou outra pessoa sozinha não conseguiria fazer e você consegue em conjunto. Esse é o tipo de coisa que você não tem quando escreve sozinho. E é isso que eu realmente amo sobre colaborações.

BL: Que conselho você daria para nós escritores que queremos escrever um livro em colaboração?

Holly: Se você vai colaborar, meu conselho para você é: sempre tenha um projeto, que seja o seu projeto, sozinho. Porque você só consegue se regenerar dessa forma. Porque assim você tem algo que você pode tomar todas as decisões por conta própria e dizer é meu, veio da minha cabeça.

BL: Uau! Maravilhosa. (risos em conjunto). Tem uma pergunta que sempre faço para todos os autores – o que você sempre quis responder mas ninguém nunca te perguntou?

Holly: Uau! Essa é difícil mesmo. (risos). A pergunta que eu sempre quis responder é uma que ninguém quer saber a resposta, que seria ‘me conta sobre seus gatos’ (risos) ou ‘me fale sobre sua coleção de planners’. Eu queria muito que me perguntassem sobre isso mas ninguém quer saber… Mas, ‘me conta sobre seus gatos’ é meu top um (risos).

BL: Então… me conta sobre seus gatos?

Holly: Eu tenho um gato sem pelos que se chama Quasit e as pessoas gostam dele de vez em quando. Ele é um adolescente na minha casa, mas é bem amoroso e já aprontou bastante… Eu posto muitas fotos dele. Eu só postei dois vídeos no TikTok na minha vida e ele está em um deles subindo no meu pescoço (risos), porque ele é um garoto estranho. Não vou falar mais sobre meus gatos (risos).

BL: Tenho mais uma pergunta – O que nós podemos esperar para “O Trono do Prisioneiro (The Prisioner’s Throne)”? A sequência de “O Herdeiro Roubado”?

Holly: (suspiro) Ele começa imediatamente após ‘O Herdeiro Roubado’ e nele, nós voltamos para Elfham… (risos misteriosos).

Momentos da entrevista do Beco Literário com a Holly Black

Beco Literário

Com o fim da entrevista, agradeço Holly Black mais uma vez pelo seu tempo e pela oportunidade de nos conhecermos. Agora revelo a ela que na verdade sou um grande fã, mas que tinha que manter o profissionalismo. Ela pergunta meu nome e eu, sem saber falar Gabu em inglês naquela hora, respondo Gabriel. Ela assina meus dois livros com capricho, tira uma foto comigo e ainda grava um video para o Beco Literário, pedindo para eu repetir devagar Beco Literário. É, eu devia mesmo ter escolhido um nome mais fácil.

Por fim, agradeço também a Rô Tavares, da Galera Record e toda sua equipe, pela oportunidade, chance e por todos os arranjos para que esse encontro acontecesse e pela paciência de me explicar (com fotos!) como chegar no hotel. O Gabu de 26 ficou realizado por entrevistar a Holly para o Beco Literário, mas o Gabriel de 12 que sonhava em ser escritor ficou em êxtase por realizar um grande sonho.

Resultado de exame internacional sobre leitura escancara o problema de interpretação de texto no Brasil
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Resultado de exame internacional sobre leitura escancara o problema de interpretação de texto no Brasil

Os resultados do exame Pirls (Progress in International Reading Literacy Study), estudo que busca medir habilidades de leitura de alunos do 4º ano do ensino fundamental foram divulgados nesta semana. A estreia do Brasil ficou marcada na 39ª posição no ranking entre 43 nações.

A análise é feita a partir de uma prova aplicada para estudantes das redes pública e privada, com questões dissertativas. Devido a pandemia e as restrições das aulas, 400 mil estudantes dos 43 países participantes foram avaliados em datas diferentes entre outubro de 2020 a julho de 2022. No Brasil, a prova foi realizada no fim de 2021.

As habilidades mais básicas de leitura do Brasil são preocupantes, como indicado pelo ranking. Com o avanço tecnológico e a entrada do digital nas casas durante a pandemia, o hábito de leitura foi deixado de lado. “A leitura é de suma importância não somente para a localização de informações explícitas e implícitas em um texto ou identificação de um tema”, afirma Luana Machado, professora de séries iniciais do Colégio Adventista da Praia Grande. “É também imprescindível para a formação do cidadão com senso crítico para formar um ser pensante capaz de ter sucesso em sua vida pedagógica, social e moral”, acrescenta.

Na prática, o resultado mostra que os alunos brasileiros estão preparados para ler textos simples e encontrar ideias explícitas. Em comparação aos países do top 5 – Singapura, Hong Kong, Rússia, Inglaterra e Finlândia– que obtiveram resultados em níveis mais avançados, os alunos conseguiram não só interpretar as emoções dos personagens, mas também avaliar o estilo do autor e interpretar os textos de uma forma mais elaborada.

Pensando em como manter o hábito de leitura e interpretação de texto presentes na rotina dos estudantes, a professora Luana realiza o projeto Ler é Uma Aventura, presente na grade escolar do Colégio Adventista. Semanalmente, os alunos vão à sala de leitura da escola, onde os livros já estão separados por segmento, escolhem a obra da semana e levam para casa junto com uma ficha de leitura, que deve ser preenchida e entregue na próxima semana. Nesses momentos também acontecem rodas de leitura com toda a turma e a professora.

“O aluno, ao ser apresentado ao projeto de leitura, pode vivenciar as experiências mais fantásticas como ter acesso a diferentes autores, com diferentes pensamentos, linguagens e o contato com os gêneros textuais que é importantíssimo desde a infância”, aponta Luana. “Eles adoram. Toda semana eles escolhem um livro e levam para casa. Alguns até relatam que chamam os pais para participarem da leitura e isso é maravilhoso”, finaliza.

Minhas considerações sobre você, luto
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Minhas considerações sobre você, luto

Hoje faz cinco meses. Por mais que insistam em dizer que minha vó se foi no dia 12/12, para mim, a partida aconteceu no dia 11. No interminável dia onze que também foi o último dia que estivemos juntos. O dia doze nunca existiu. Só existiu um dia onze que durou 48 horas ininterruptas e que depois se tornou dia treze, o número do azar, como dizem por aí. No fundo, eu sempre soube que seria você o primeiro luto a vir. Desde criança, eu soube que você seria a primeira a ir embora, vó. Nunca falei para ninguém das intermináveis noites em que eu chorava sozinho, convulsivamente, com a possibilidade desse dia chegar. Mas o sol brilhava lindo no dia seguinte porque o dia ainda não tinha chego. Porque você estava lá, me dando bom dia com suco de laranja.

+ Esqueci como respira

Até que o dia chegou. De mansinho. Quando eu menos imaginava, quando eu menos esperava. Quando eu sequer pensava que você viria, luto insensível e que chega sem avisar. Não dá nem um spoiler. A gente bebeu, conversou o dia todo, demos risada, nos divertimos… E na madrugada você se foi, sem sequer me dar um toque. Podia ser uma coisa breve. Podia ser algo do tipo olha, aproveita, viu? Amanhã não estou mais aqui.

Escute ouvindo nossa música preferida, “Meu mundo caiu”, de Maysa, que mais parece uma premonição desse dia horroroso

De fato, eu aproveitei mesmo sem aviso. Não sei explicar o que existia dentro de mim naquele dia onze que me fez aproveitar tanto a sua presença, vó. Talvez tenha sido o mesmo sentimento que me fez chorar por noites a fio com a possibilidade que me trouxe um sutil alerta de que agora seria de verdade. Inconsciente, eu não devo ter percebido. Mas que bom que é o inconsciente que guia nossa vida, né? Porque o luto só vem e entra sem bater, derrubando tudo o que tem pelo caminho.

Quando cheguei em casa nesse mesmo fatídico dia, dormi. Ressaca. A gente tinha bebido muito juntos, vó. Eu nem sei se já bebi essa quantidade na vida. Mas você gostava e assim foi. Acordei de madrugada com um mal estar horrível, tomei meu banho e voltei pra cama. Tudo inconsciente, afinal, esse mal estar só podia ser a ressaca, né? Coloquei A Diarista pra passar na TV, a série que a gente gostava de ver juntos e que, até hoje, vinte anos depois, continuava sendo minha série de conforto.

Cinco minutos depois, a ligação veio. Você tinha partido uma hora atrás. Como assim, morreu? Eu gritei. Não tem como morrer assim. Ninguém morre do nada, sem dar a chance da tecnologia médica intervir, fazer alguma coisa, reanimar. Não é pra isso que serve aqueles choques que dão no coração? Aquele monte de máquinas que ficam apitando e fazendo você ficar vivo, mesmo que de forma mecânica? Como assim morreu sem sequer passar pelo hospital antes, dar algum aviso, algum sintoma? Não, não pode ser.

Mãe, só me fala para onde preciso ir que chego em 20 minutos. Vem para o IML, ela disse. IML, kkkkk. Esse é o lugar para onde levam pessoas que a gente tem certeza que estão mortas. Se minha avó passou mal, ela deve estar no hospital primeiro. Ninguém vai pro IML tão rápido assim. O corpo nem esfriou ainda, como vai pro IML, pensei, mas fui.

É, luto maldito. Você me esperava lá. Era o IML mesmo e o corpo da minha vó em uma maca que parecia um barquinho. Um barco que conduzia sua existência para longe da minha existência. Sua bochecha estava corada. Ainda era você, Vokinha. Só estava dormindo. Ainda estava envolta naquela manta que muitas vezes dividimos para assistir A Diarista. Para de brincadeira, vó. 

Não era brincadeira e eu sabia. Inconscientemente de novo, todas aquelas noites de choro agora eram um dia interminável. Pra mim, ainda o dia onze. Para o resto do mundo, era a segunda-feira doze. A segunda-feira doze para mim se tornou mais temível que qualquer sexta-feira treze.

Chegou o velório. O caixão abriu. Não era você ali, vó. E você, luto, fazia questão de me espancar essa realidade de que, quem estava deitada ali, era uma boneca de cera que sequer parecia minha vó de aparência. O que vocês tinham feito com ela? Por que ela não estava se decompondo como um cadáver normal? Por que ela parecia uma boneca encerada, maquiada, com as bocas costuradas e os olhos colados? Um ser humano se decompõe quando morre. Não vira um boneco inchado e irreconhecível.

Mas, apesar de ser irreconhecível, o inconsciente estava em conluio com você, maldito luto. E me fez perceber que, sim, era o que restou de você. Um pedaço inanimado de carne com produtos químicos que retardavam a decomposição, mas que ainda sim ia pro trato digestivo de vermes, bactérias, minhocas ou seja lá o que que vive embaixo da terra.

A pior parte veio depois. Aquele bando de familiar que eu sei que falava mal de você, vó, indo perto do seu caixão prestar as últimas homenagens. Estão aliviados agora que ela morreu, né? Bando de hipócrita falso, maldito. Era o que eu queria falar. Era o que eu não parava de pensar, com ódio, com raiva. Estão felizes em ver ela assim? Morta? Né? Acabou! Veio ter a prova de que esse foi realmente o fim, né, sua galinha desgraçada? Mas a norma social me fazia ficar ali, no cantinho, com os pensamentos pra mim. Observando, contendo minha raiva, chorando, ficando ao lado do caixão com esse fantasma maldito do luto do lado.

Sei que em determinada hora, acho que foi quando o caixão abriu, eu dissociei, como se meu cérebro quisesse me acordar do pesadelo dizendo esse é só mais um sonho daqueles, ACORDA AGORA, vai dar bom dia para sua vó e tomar suco de laranja com ela. Mas não era mais um sonho daqueles e meu cérebro compartilhava comigo a frustração de não conseguir acordar, de não conseguir fugir daquele dia onze interminável, nem tampouco daquela segunda-feira doze maldita. Alguém me abraçou, segurou meus braços e me tirou de estar debruçado ali do caixão. Eu queria gritar para que me deixassem ali. Eu não queria ser salvo, eu não queria ser tirado dali, pelo amor de Deus, me deixa ficar aqui, me deixa tentar dissociar até que eu acorde, até que eu consiga sair desse pesadelo. Eu já saí outras vezes, eu já manipulei meu sonho outras vezes, vou conseguir de novo. Me deixa aqui. Mais alguns minutos e eu consigo. Sempre demorou, mas eu sempre consegui. Me deixa, me deixa, me solta, para de me afastar desse pedaço de carne em decomposição que horas atrás era minha vó que estava abraçada comigo, bebendo e comendo bolo de chocolate. Me deixa, caralho. Me solta. Eu não consegui dizer nada e fui só levado. Eu sequer consegui pensar tudo isso assim, em palavras.

Ali, eu era um amontoado de sentimentos que nunca me ensinaram a sentir debruçado em um amontoado de carne em decomposição que outrora fora minha avó.

O resto do dia transcorreu com eu fugindo dos seus abraços, luto. Cada pessoa que vinha me abraçar desejando força, paz do senhor ou força no meu coração me faziam sentir a bile na garganta. Sim, quase vomitei na cara de cada pessoa que, com mais boa vontade que tivesse, vinha me desejar seus sentimentos ou forças. Eu não queria seus sentimentos, já estou repleto dos meus. Guarde o seu para você e me deixa aqui, definhar até quem sabe morrer junto. Não quero saber de deus, de jesus que habita meu peito, de nada disso. Se existisse de fato um outro plano, a gente já saberia. Acabou aqui. Minha vó morreu. Seu cérebro simplesmente decidiu que era hora de parar, os órgãos pararam junto e agora resolveram que não deveriam mais funcionar e sim, comê-la de dentro pra fora até que nada mais se reste.

Não tem lado de lá. Parem de me abraçar. O único abraço que eu quero ter agora é o único que não posso ter. Seu abraço nojento só me lembra desse maldito luto, desse maldito fantasma, dessa maldita sombra que vai me acompanhar pro resto dos meus dias para me lembrar que minha vó não vai ver eu terminar uma nova faculdade, que ela não vai estar no meu casamento, na festa de um ano do meu filho e nem vai conhecer minha primeira casa própria. Não vai. Nem do plano de lá porque simplesmente isso não existe. É fábula para consolar quem fica. Nós. Os vivos com um fantasma pesado e insuportável do luto.

E você sabe que é maldoso, querido luto. Mais maldoso que a própria morte. Você faz aquele primo meu que eu não falo há anos, que eu amava falar mal com a minha vó, esquecer nossas diferenças ao lado do caixão e vir me abraçar desejando força e pêsames. Para o caralho com seus sentimentos. Você não sabe o que estou sentindo porque no segundo seguinte, você está fora da capela, ABRAÇANDO A SUA VÓ, VIVA, ALI, DO SEU LADO, CONVERSANDO. Eu sei que você pensa: coitado do Gabriel, ele não pode mais fazer isso, mas, que bom que eu posso. Antes ele do que eu. Antes a vó dele do que a minha.

Eu sei que você pensou isso. Eu mesmo já pensei isso em outros velórios: que pena, perdeu a pessoa. Mas que bom que eu não perdi ninguém e posso ir embora desse pesadelo de energia densa para o abraço daqueles que eu amo.

Até que eu não pude ir embora mais.

E todo dia pra mim é o mesmo dia. A maldita segunda-feira 12. Ou a maldita noite de domingo, dia 11.

esqueci como respira
Autorais, Livros

Esqueci como respira

uma semana que eu esqueci como respira.

o processo de luto é muito peculiar. me pego várias vezes fazendo planos sem lembrar que minha vó se foi. em outros momentos, escuto a ligação da minha mãe me dando a notícia e o ar sumindo. de vez em quando parece que não tem mais ar pra respirar. e depois passa.

biel, a vokinha morreu. infartou.

depois vem a saudade boa. as lembranças boas. e então, parece que o ar vai faltar novamente. o ar parece que não preenche os pulmões. e eu volto pro início desse ciclo. eu sempre soube. mas jamais estaria preparado.

Leia ouvindo: Oceano, Mc Tha

tem horas que a saudade aperta tanto que não dá pra respirar. é engraçado porque moro longe da minha vó há alguns anos. mas, agora saber que nunca mais vamos nos ver nessa vida é sufocante, torturante.

em horas que estou distraído e penso: meu deus, preciso comprar uma caixa de skol beats para o natal. aí lembro que não preciso de uma caixa esse ano. minha vó não vai estar lá pra beber igual água comigo e sozinho não bebo tanto.

essa lembrança que assombra da ligação da minha mãe me dando a notícia é a pior. é ainda pior que entrar naquela sala minúscula do iml pra reconhecer o corpo. é ainda pior que ver que sim, era minha vó ali. ainda quente com as bochechas coradas.

biel, a vokinha morreu. infartou.

só não é pior que perceber a impotência e a impermanência da vida. ali, não tinha nada que pudesse ser feito. nenhum dinheiro no mundo, nenhum querer no universo, nenhuma simpatia, magia, misticismo ou medicina poderiam reverter.

a hora tinha chego. o meu ar tinha ido. e o apesar de pesava. pesava muito. o ar pesava muito. parecia chumbo nos pulmões. e o sangue ainda corria. não podia ser um engano? médicos também se enganam. ninguém morre assim, né? do nada. sem reanimar. sem nada.

como que pode isso? como que pode não ter nada na medicina que possa ser feito? tanta tecnologia, tantos anos de estudo e nada pode ser feito? eu tenho que aceitar? como se aceita o inaceitável? como se aceita o peso da ausência física eterna?

como se aceita o entender que minha vó nunca mais veria eu me formar. eu ter um filho. eu envelhecer. como se aceita o conformar de que eu nunca mais vou comer aquele frango frito que só ela fazia? como substituo os verbos no presente pelos verbos no passado?

como deixar algo no passado que eu quero que faça parte do meu presente e do meu futuro? como? como existir em um mundo onde não se existe mais? onde nunca mais poderemos rir, fazer planos e até se desentender, brigar?

como existir sem a existência física? como respirar esse ar pesado, irrespirável, sufocante? eu não sei.

esqueci como respira.

por enquanto, vou tentar me lembrar como se respira.

A história de como eu terminei com você e como você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve
Autorais, Livros

A história de como eu terminei com você e como você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve

Eu nunca contei a história de quando eu terminei com você. De quando eu senti, dentro de mim que tudo tinha chegado ao fim. Quando eu decidi botar um ponto final. Quando eu senti que, se transformasse o ponto final em ponto e vírgula, eu me sentiria aprisionado, murcho, triste.

Leia ouvindo: Babe, Taylor Swift (Taylor’s Version)

Era um dia ensolarado de julho, um feriado. Minha mãe me convidou para ir para a praia, onde nasci e cresci. Eu te convidei para ir junto, mesmo a gente não se falando tanto. Estávamos em um ciclo vicioso de brigas, silêncios, vácuos, espaçamentos. Mas, chamei. Minha mãe tinha te chamado também e ela nunca tinha feito isso. Você ficou feliz e eu também fiquei. 

+ Será que algo disso foi real?

Fomos todos de carro até a praia mais importante da minha infância. Eu, você, minha mãe. Sentamos ali na areia na cadeira de praia e conversávamos sobre a vida enquanto minha mãe comentava sobre o divórcio dela. Eu estava de coturno na praia. Eu odiava como a areia entrava no vão dos meus dedos do pé. Você, dizia que isso era ridículo. Minha mãe concordava, rindo. Eu não estava nem aí. 

Saímos para comprar protetor solar, para comprar sorvete, para tirar fotos… Voltamos. Ainda havia hostilidade nos nossos diálogos. Como um quebra-cabeças que luta para dar certo na peça errada. Parecia que estávamos forçando a barra. 

Sentei ali, quieto e abri meu Instagram. Vi que um amigo meu estava vindo para a praia com o namorado dele. Não era a mesma praia que a nossa, mas eles pareciam felizes com o sol e com o vento na cara enquanto passavam pela serra quente. Eu queria sentir aquela felicidade ali com você mas não tinha como forçar. Abri outro vídeo, e outro amigo estava também com seu namorado na praia. Amigo esse que já fora meu ficante um dia e que terminei tudo para ficar com você. Poderia ser eu ali com ele. Poderia ser eu sentindo aquela felicidade que o namorado dele agora sente no banco do passageiro. 

Mas estou com você nessa luta de tentar encaixar peças que não servem juntas. E não estou com aquele sorriso no rosto. Droga, será que escolhi a pessoa errada?

Já é fim de tarde e o sol começa a abaixar quando resolvemos ir embora da praia. Vamos dar uma volta no centro da cidade e voltar para a vida normal. Lá, você tenta agradar minha mãe, mas fala mal de mim com ela. Você não entende que ela pode falar mal de mim mas você não pode concordar? Você não entende que ela quer te ver ao meu favor e não contra mim? Não é assim que você vai ganhar.

Você parece arrogante. Superior. Minha mãe tem umas falas doidas, a gente sabe, mas não é pra você falar com ela assim. Eu sinto que tem algo apagado dentro de mim quando diz respeito a você, mas ainda não tenho coragem de jogar fora. Não sei como jogar fora.

Entramos no carro para pegar a estrada de volta e eu vou olhar para a janela, como sempre faço em viagens longas. Quando passamos naquela avenida da praia que tanto amo, vejo meu amigo saindo do shopping com o namorado. Os braços dele estão passados por cima do ombro do garoto e eles parecem rir, gargalhar como se o mundo fosse apenas um plano de fundo para um roteiro incrível que acontece ali, entre os dois. Poderia ser eu com as mãos dele em cima dos meus ombros. Poderia ser eu, ali, naquela trama, rindo como se não houvesse ninguém em volta.

Paramos no sinal e observo aquela cena. Olho para o terraço do shopping que dá para a praia e vejo os outros dois, que mais cedo vi no Instagram. Como que pode? Eles sequer se conhecem e estão no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Um deles estica o braço para tirar uma selfie dos dois com a praia de fundo. Ali, não poderia ser eu. Éramos apenas amigos. Mas não consigo deixar de imaginar que poderíamos ser nós. 

Eu não sei em que ponto o quebra-cabeças se tornou impossível de ser montado, mas ali, vendo aquela selfie, aqueles braços sobre o ombro, as gargalhadas, eu tive certeza que poderia ser eu, mas nunca poderíamos ser nós porque eu não queria mais montar esse jogo com você. 

Seguimos viagem e o sol estava se pondo quando estávamos passando pela serra. Nesse dia ele demorou. Teve um eclipse no meio do caminho que fotografei tão ávido. Lembra de quando você me deixou sozinho no eclipse pra conversar com outro menino? Não, mas eu lembro. O sol se abaixava na linha do horizonte enquanto eu pensava repetidamente:

Poderia ser eu sorrindo naquele carro. Poderia ser eu com os braços no ombro. Poderia ser eu naquela selfie no terraço. Poderia ser eu, feliz na cidade que amo. Poderia ser eu sem coturno na praia não me importando com a areia no vão dos meus dedos. Poderia ser eu com alguém que minha mãe gostasse genuinamente. Poderia ser eu com alguém que eu não precise lutar, que eu não precise me afirmar todas as horas. Eu poderia ser eu se não fosse por você. 

Não me entenda mal. Eu gostava de verdade de você, apesar de achar que a recíproca nunca foi verdadeira. Era eu. Poderia ser eu em todos os cenários, mas em nenhum deles poderia ser você.

E quando o sol se pôs e o dia se fez noite, eu tive certeza de que não havia mais nenhum motivo pelo qual eu devia estar com você. Quando o sol se pôs, você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve. E que bom que ninguém nunca teve porque em todos os cenários que imaginei, nunca poderia ser você.

Nunca poderia ser você porque eu não me orgulho da versão que eu era de mim mesmo quando estava com você. Eu não era eu. 

Eu só pude ser eu quando não pôde mais ser você. 

Sozinho de novo
Histórias, Livros

Sozinho de novo

A gente precisa cuidar das coisas para que elas possam durar. Ainda mais quando algo não é só nosso. A gente precisa, assim como o outro, cuidar. Cuidar sozinho não adianta. E é nessa posição que me sinto nessa relação de novo: sozinho. 

+ Aconteceu de novo

Você não percebe que a história cíclica se repete? Exceto pela parte de que agora não há mais cacos meus. Estou decepcionado, sim, mas não quebrado. De que adianta gritar ao mundo sobre seu orgulho se você não está ali? Se estou sozinho de novo? 

Leia ouvindo: Acontece, Jão

Você gastou a mesma desculpa, inventou a mesma história. Você ligou de novo no meio da noite e de novo eu atendi e de novo você me quebrou como se quebra uma promessa. De novo. De novo. De novo, de novo, de novo, de novo, de novo…

De novo, não tem nada. Só as velhas narrativas e as velhas artimanhas que você usa pra disparar esses gatilhos que, bom pra mim, ruim pra você, eu aprendi a desarmar. Eles não existem mais. Aquele eu não existe mais, eu sinto muito. Talvez você queira dar flores pra ele, agora que é tarde. Agora que ele se foi. 

Deixa na sepultura. 

De novo. Deixa secar ali. Ele se sentiria feliz por elas. 

Porque pra mim, infelizmente, elas não valem de mais nada e podem secar sozinhas nessa lápide que traz a mentira que tentamos tão desesperadamente fingir ser verdade. A mentira de que dentro dela eu nunca estaria sozinho. 

Mas eu estava, de novo. 

Obrigado por tudo, mas dessa vez eu não vou aceitar de novo. De novo… Novo em quê? Nada disso é novo e nunca foi novo. Nunca vai ser novo. De novo aqui só o fantasma das minhas expectativas frustradas mais uma vez porque sequer minhas lágrimas são novas. 

Então, obrigado por tudo, obrigado por nada. De novo. De nada.