parte de te deixar ir, era também partir mas você partiu antes que eu te deixasse ir, até hoje penso que nunca deixei você partiu e me partiu, como um bolo
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eu lido bem com o vazio, sozinho, pensando se alguém algum dia vai demonstrar amor como você me demonstrou, com a simples diferença de que essa pessoa realmente vai ter um amor para me oferecer. não vai demonstrar e partir;
sigo pensando se esse alguém vai estragar meus melhores dias e pedir desculpa logo em seguida da maneira mais descarada possível, sigo pensando se tudo aquilo no início não era um sinal para eu ter desistido, mas teimoso como sou, infringia as regras.
esperei.
você agora é a escuridão que existe em mim, com a diferença de que ela me abraça de uma tal forma que você nunca fez e me acolhe de forma desesperada.
Esse é mais um daqueles textos que esqueci quando fui publicar “contando estrelas cadentes“. Olhando agora, talvez eu saiba que o deixei de fora por fugir um pouco da estética de poesia do livro em si. Eu também queria que o livro fosse uma montanha russa que vai só para cima, para nunca mais descer. E esse texto, desce nas raízes mais profundas de mim. É uma ida e volta ao submundo. Como não pretendo escrever tantas poesias assim por algum tempo, também resolvi deixar registrado por aqui.
É engraçado que esse ano de 2020 está me fazendo contradizer tudo o que eu já escrevi em meus quase vinte e quatro anos de vida. Sempre disse que eu era apaixonado pelos finais, mas recentemente descobri que gosto de começar as coisas.
Nós, seres humanos, temos uma tendência grande a reprimir as coisas, principalmente o que é doloroso. Isso é psicanalítico, até. Na linguagem técnica, a gente recalca certas coisas no nosso inconsciente e esse recalque, essa barreira, não deixa com que as coisas vazem de lá para a nossa consciência, para o nosso dia-a-dia.
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Eu tenho reprimido muitas coisas em mim há muito tempo. Sempre gostei de escrever sobre comportamento, sobre relacionamentos, sobre reflexões… Sempre me inspirei muito em nomes como Isabela Freitas, Daniel Bovolento, Igor Pires, Thalita Rebouças, Bruna Vieira. Meu primeiro livro foi inteiramente inspirado em um da Bruna.
Eu sempre quis escrever sobre o amor. Sobre mim. Sobre meus sentimentos. Quando foi que eu reprimi toda essa vontade e todos esses sentimentos? Quando foi que eu ignorei e segui outros caminhos? Quando foi que eu desisti de tudo isso? Quando foi que eu gostei de começar outras coisas tão longes do meu caminho?
Sempre que a gente reprime alguma coisa, ela vem à tona. Sempre. As coisas vem, e se não vem por bem, vem por mal, por meio de sintomas físicos e psíquicos. E essas coisas sempre esperam alguns momentos para irem de zero a um milhão.
Pode ser que espere um momento ruim, pra ir de zero a um milhão negativo. Mas também pode ser o contrário.
Desde o final da minha faculdade, minha presença na internet e no conteúdo que produzo não tem sido mais tão passiva. Eu não conseguia ficar só no entretenimento de resenhas sobre livros. Ou de opinar sobre romances de época. Eu precisava de mais. Eu precisava começar mais.
Eu comecei a questionar, entender que as coisas tem um buraco mais embaixo do que realmente vemos. Passei a cutucar, entender e então, exemplificar, falar, demonstrar. Eu gosto de dividir o meu conhecimento, as minhas reflexões e tudo o que aprendo.
Nunca pensei que seria um Jornalista da televisão. Sempre soube que seria da internet. E sempre soube que eu seria questionador, mas também, que eu escreveria sobre esses sentimentos que temos vergonha de sentir. Ou que recalcamos dentro do nosso inconsciente.
Esse ano, com a quarentena, foi o meu momento bom de ir de zero a um milhão. Eu fui. E as coisas explodiram dentro de mim. Eu entendi que deveria ter começado a escrever sobre sentimentos, autoconhecimento e comportamento há pelo menos cinco anos atrás. Eu só não podia ainda.
Agora eu posso e explodo por isso. Cada vez que você aceita quem você é de verdade, você explode, você cresce e começa a ir mais alto.
Eu não sei o que acontece comigo que tem dias que eu acordo surtado. Mas aquele surtado 300% ansioso, querendo fazer tudo e que tudo aconteça ao mesmo tempo. Abraçar o mundo e o resto que se dane.
Eu sou ansioso, desde sempre. Já se foram alguns milhares de reais em florais, fitoterápicos, terapia, psiquiatras, remédios…. As coisas melhoraram. Ultimamente, tenho conseguido controlar (na maioria dos dias, pelo menos), só com a ajuda da psicanálise que tenho feito religiosamente toda sexta-feira de manhã.
Sexta é o meu dia preferido da semana, então, eu achei bom começa-lo já com esses tapas na cara tão necessários pra eu seguir em frente. E eu fico bem.
Acontece que hoje é terça e o universo jogou os dados resolvendo me testar. Acordei ansioso.
Sim, eu abraço o mundo. Atualmente, tenho meu trabalho principal, na Helpis. Tenho meu trabalho paralelo, aqui e nas redes sociais. Tenho meu trabalho social, no Beco Literário. E a minha pós-graduação, que coincide de ser na área da psicanálise também.
Vou tentar colocar uns pingos nos Is agora, porque eu sempre sei que gosto de pegar coisas demais pra fazer e quando eu vejo, o desastre está feito e eu não sei o que eu quero fazer da minha vida mais.
Na Helpis, sou diretor de conteúdo e recursos. Isso significa que eu escrevo e aprovo todos os textos, de todos os clientes. Também significa que eu gerencio todos os recursos da empresa: funcionários, pagamentos, contas, salários e afins. É a parte que eu mais gosto de fazer. O meu escritório é em casa, então, dentro do meu horário de trabalho, a Helpis não me toma mais que meio período.
Aqui, no Gabu Camacho e nas redes sociais, o buraco é mais embaixo. Ainda é um trabalho paralelo e talvez seja assim para sempre, não sei. Gosto de escrever sobre comportamento, relacionamentos, minha vida, psicanálise, astrologia, tarô, o infinito e além. Porque eu sou infinito assim. A mesma coisa acontece nas redes sociais. Minha vida se torna roteiro pra tudo o que eu faço. E é nesse ponto que a porca torce o rabo, porque eu quero fazer tudo. Eu quero falar sobre tudo que eu gosto (o que não é pouco, não, viu?). Compartilho os livros que leio, as músicas que ouço, minha jornada na pós, o que eu aprendo e o que eu desaprendo. Gabu, mas pra que isso? Pelo autoconhecimento, talvez. Eu amo me conhecer e carregar nessa jornada comigo e consigo quem eu puder. Já falei de livros, literatura, moda, marketing, finanças…. Será que eu nunca percebi que tudo isso faz parte de quem nós somos? Do nosso comportamento? Porque é disso que eu gosto de falar.
E ainda tenho que acrescentar que recentemente abri um lote de vendas do #GabuClub, minha leitura dirigida! Vai ser massa. 😛
O Beco Literário é autônomo. Os próprios membros aprenderam a se servir dele. E ele tem se tornado cada vez mais o Gabu. Não o Gabu Camacho do Beco Literário. O Gabu que não precisou mais se esconder, que se encontrou e tem se encontrado com seus próprios textos. Talvez o site não exista mais daqui a algum tempo, não sei dizer.
A pós-graduação tem altos e baixos. Alguns módulos que devoro em dois dias e outros que me arrasto pelos 15 dias. Estou em um desses. Amo o que estudo, cada vez me parece mais certo, mas tem dias que só por Deus, hein?
O fato é que apesar de tudo isso, em alguns dias eu quero mais. Quero criar novos projetos dentro da Helpis, do Beco Literário e do Gabu Camacho. Quero criar quinhentas coisas e botar em prática seiscentas.
Qual é, dá tempo, né? O ansioso e o surtado dão as mãos e vão em frente.
eu me lembro de querer um amor, me lembro de levantar da cadeira às duas da tarde, todos os dias, andar pelo bairro de rico, passar pelo trabalho da minha mãe e comprar uma marmita. o meu fone estava no ouvido, eu tinha o tinder instalado e um iphone quatro. no meu fone, eu ouvia the neighbourhood e entendia a dor. só queria ser feliz e encontrar alguém para dividir meu quarto travesseiro. durmo com quatro. um dia pensei que eu era fodido da cabeça.
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sempre gostei da solidão, do belprazer que era estar comigo mesmo. de passar a mão pelo meu braço e me sentir. sentir que era eu cuidando de mim mesmo. de sentar no banco do parque, ao anoitecer, ver o por do sol sozinho sobre as vitórias régias enquanto rabiscava alguma coisa no meu caderninho de textos que viria a se tornar meu livro mais tarde.
no dia que imprimi meu manuscrito, você foi embora.
no dia que te dei de presente, no mesmo lugar, te filmei
te disse que um dia ia te aplaudir da primeira fileira quando ganhasse um prêmio, a minha cabeça achava que você faria o mesmo, mas eu não era alguém com quem você queria dividir o travesseiro. você não me aplaudiu da primeira fileira. você sequer foi ao show.
no meu camarim, pedi para sair e tomar um ar. eu havia tomado um shot de tequila para perder a vergonha antes de entrar no palco. ninguém sabia disso até agora. me desculpem. mas eu saí, um pouco tonto, você sabe minha tendência a exageros.
liguei para o meu pai e disse me busca agora
ele demorou
fiquei andando e desisti de ir embora, cantarolando jar of hearts da christina perri. será que eu sempre estaria destinado a viver essa merda? seria esse o meu karma? eu queria esquecer a primeira vez que a gente se beijou.
eu devia ter abraçado o meu sofrimento naquela época e nunca ter ido te encontrar com meu chapéu coco, meu manuscrito e minha camisa azul que você abriu com tanta destreza. minha alma se curou da gripe, mas com o tempo ela voltou, felizmente sou vacinado.
hoje eu ainda tenho meu quarto travesseiro e quem dorme nele é a minha cachorra. muita gente já passou por ele e não me orgulho disso. segundo o ministério da saúde sou uma pessoa promíuscua. engraçado que até o ministério da saúde usa palavra rebuscada e você não, você disse que eu era puta.
a gente caiu tão rápido e eu falava que o amor ia nos separar. amor nunca é suficiente. mas sou grato que a gente deu uma chance enquanto podíamos dar e aproveitamos todas as oportunidades no banco traseiro do carro, mesmo quando tínhamos platéia.
eu queria ter roubado a sua blusa, porque assim eu teria uma lembrança sólida de que tudo isso aconteceu um dia, mas eu não tenho nada sólido senão nossos ingressos de cinema que tendem a se desgastar com o tempo. desde o primeiro, guardado, e um dia minha memória não vai ser a mesma que é hoje.
eu esperava ter você do meu lado até lá, para me relembrar do quanto a vida foi gostosa.
do quanto a vida é gostosa todos os dias, mas você pediu demissão de mim e eu de bom, grado, te mandei embora com todos os benefícios que poderia ter. eu nunca amei por aí, mas você eu amei em todos os lugares, chorei em todas as calçadas. meus amigos acham que nós seríamos uma novela mexicana da melhor qualidade, outros acham que eu insisti demais nos seus abusos.
será que eu deveria encontrar outra pessoa?
já cheguei a pensar que nunca teria mais ninguém para mim na terra, acredita? sete bilhões de pessoas no mundo, a ciência diz que temos até gêmeos espalhados por aí e eu pensando que não encontraria mais ninguém como você. na verdade, eu ainda acho que não.
sempre que tento encontrar alguém além de você, eu penso como seria se fosse com você. ou como se eu tirasse você da sua carcaça e colocasse nessa nova pessoa. é difícil lidar com o luto, ainda mais quando a parte morta continua viva.
eu juro que tentei rezar para todos os santos para te ter de volta. li as cartas de tarô, mas nelas sempre estivemos destinados a terminarmos. dia ou outro, elas diziam que voltaríamos ao normal. o meu tarô sempre teve esperança na gente mesmo quando nem a vida tinha.
mesmo assim, você teve coragem de recusar o meu travesseiro, e dizer que eu era louco em todas as oportunidades que teve. meus amigos eram todos vilões, eram todos loucos. lembra? agora não tenho quase nenhum amigo. não que eu me importe muito, eu amo estar sozinho, eu amo estar só comigo. mas você nunca percebeu que ao chamar meus amigos de loucos você estava me chamando de louco? felizmente, sempre fui louco. deus me livre ser normal e ser como você, com medo de me expressar. meu coração é uma janela aberta.
sabe de quem você gostava e nutria um amor pressionado? daquele seu amigo que te dava um brownie de aniversário. eu te dei todo o meu amor e você gostava de um brownie de procedência duvidosa. um brownie custa 10 reais no starbucks. se ele vale mais, meu amor vale pelo menos nove reais.
você pagou nove reais e eu paguei milhões, ainda pago. sério que você me acha tão baixo assim? sério que você nunca percebeu em mim as qualidades que mais admirava nos outros? poxa, eu te dei meu travesseiro.
agora estou aqui no escuro, ouvindo the neighbourhood e pensando que todos esses anos se passaram para eu dar uma super volta em círculo. eu sei que nós temos a vida que escolhemos viver, mas você realmente acha que pode me deixar mais uma vez de molho, no escanteio? quando criança eu morria de medo do escuro, mas hoje ele é quem mais me acolhe junto a essas palavras e essas músicas. vou acender um incenso e tomar um banho de sete ervas.
a biologia demora anos para regenerar minhas células, é reconfortante saber que um dia terei um corpo que você nunca vai ter tocado, mas vai demorar. eu quero te tirar da minha alma agora, mas não sei como se nos tornamos uma pessoa só. a gente virou um só quando dividiu aquela banheira, os sete brigadeiros nos sete meses e até a escova de dentes.
a gente virou um só quando você levantou de noite para pegar água para mim. a gente virou um só quando você ficou sozinho e eu morri por duas horas na sala de cirurgia. você quase me perdeu ali, mas não como quem perde um jogo de copa do mundo. como eu. como eu perdi você agora, mas a culpa nunca foi minha. você sempre quis partir. sempre me gabei de ser um goner, mas o goner era você. sempre estive mais para um stayer. eu fiquei aqui todo esse tempo.
eu pensei que estaria feliz a essa altura do campeonato. não me entenda mal, não estou triste, mas estou levando. meu coração está leve, um peso saiu dele, mas ainda é como se tivesse um carrapato ali que insiste em manter seu nome tatuado a ferro e fogo. não se preocupe, eu não vou remover sua tatuagem assim como você me removeu. sempre fui bandaid na sua ferida, enquanto para mim, você era tatuagem permanente.
Esses dias li essa frase na internet. O passado é um ponto de referência, não um lugar de permanência. Nós estamos carecas de saber que não é saudável viver o passado, que precisamos focar no presente e no futuro sem trazer o passado. Mas você já parou para pensar no que significa esse “trazer”?
Pois bem, eu parei, essa semana. O passado como local de referência não é trazido ao presente. Ele é parte do seu presente, ele forma quem você é agora. Se você faz alguma coisa no presente é pelo o que você foi. No passado. Não é pelo o que ainda você vai fazer no futuro.
Já parou para pensar em como você vai se relembrar do presente, quando ele já for passado, lá no futuro? Vão ser lembranças boas ou lembranças que você prefere esconder nas profundezas do seu inconsciente até que não seja mais possível?
Eu tenho essa mania de achar que trago as coisas, de me culpar por lembrar de algumas coisas. Mas a verdade é que nós nunca vamos esquecer a nossa história. Porque no fundo, ela é isso. Nossa história, quem nós somos, parte de quem estamos construindo como seres humanos.
Ensaiei algum tempo para vir falar de setembro amarelo, prevenção e saúde mental, mas eu não sabia por onde começar nem qual assunto abordar, mas resolvi falar disso, do passado. Ele passou. Certa vez até escrevi que ele não servia para mais nada, porque já tinha passado. Que engano! Ele está comigo porque é parte de quem eu sou agora. E se eu faço alguma coisa que eu me orgulho no presente, é graças ao Gabu do passado, não graças ao Gabu do futuro. O Gabu do futuro, fará algo em seu presente graças ao meu presente que será meu passado. Dá pra entender?
A nossa história define quem nós somos e como tal, não é perfeita. Não é feita de acertos, nem só de erros. Ela é plural, tem vários lados, vários participantes, vários itens…. O que eu faço agora pode não me definir no futuro, ou pode. Pode esclarecer para mim o que eu devo e o que não devo fazer. Os erros podem ser acertos quando a gente faz as pazes com a nossa história.
Eu estou nessa jornada. Fazendo tudo o que eu faço agora graças a quem eu fui no passado, esperando que, o Gabu do futuro faça a mesma coisa. E você? Já fez as pazes com o seu passado hoje?
“O menino nunca mais chorou e nunca mais se esqueceu do que aprendeu: que amar é destruir e que ser amado é ser destruído.”
– Cassandra Clare, “Cidade dos Ossos”
Sempre me orgulhei de ser a pessoa que vai se destruir por sentir demais em um mundo onde as pessoas sentem de menos. Eu escrevi isso no meu primeiro livro, O garoto que usava coroa. Sobre o quanto era horrível sentir demais, se destruir demais por coisas que não valiam a pena.
Leia ouvindo: Você vai me destruir, Jão
Mas quando foi que eu parei? Quando foi que eu deixei de sentir tanto e a reprimir os meus sentimentos? Quando eu parei de me permitir sentir tanto? Pera lá, eu estava reclamando mas não eram pros sentimentos ficarem tão reprimidos, não!
Entrei em um estado de negação profundo. Como se negar fosse fazer sumir a sua existência, que para mim, estava sendo inexistente. Sua morte seria mais fácil pra mim. Mas quando foi que eu gostei de seguir o caminho mais fácil, no final das contas?
Então te reneguei. Te velei. Deixei me destruir.
Ao negar, senti que me neguei. Me deixei reprimir, reduzir ao tamanho de uma bolinha de gude. Deixei que tudo se escondesse no mais íntimo do meu ser. Te vi definhar e isso foi meu combustível. Por que parei de me deixar sentir? Porque te deixei me destruir.
Eu sei que preciso me permitir sentir mais. Preciso sofrer esse luto de alguém que está morto mas pode aparecer como um zumbi na minha frente a qualquer momento ansioso por devorar cada parte minha. Por que não se permitir julgar as pessoas quando elas merecem?
Eu sempre falei que era jornalista, não juiz. Seria isso um pressuposto pra deixar você massacrar cada pedacinho meu e ainda sim esperar o melhor de ti? Por que, sabe, eu sempre espero o melhor das pessoas. Mas as pessoas não entregam o que a gente espera.
O que acontece? Quando foi que eu deixei você entrar? Quando foi que eu me permiti?
Eu poderia dizer que a culpa é da astrologia, como sempre. Poderia culpar os signos ou a Vênus retrógrada, como sempre faço. É mais fácil culpar os outros, mas não quando nos deitamos no travesseiro e aquele fardo cai sobre nós. Porque é isso. A culpa é minha, não dos signos retrógrados em alguma casa zodiacal. É minha, só minha.
“Food you saved for later, in my refrigerator, it’s been too long since later never came.”
Leia ouvindo: In Case, Demi Lovato
Se não fosse eu, não daria tão errado assim.
Talvez a vida seja uma loteria e alguns são os premiados. Sim, aqueles prêmios que são mais difíceis de ganhar que um raio cair na sua cabeça. Cadê meu raio, então? Porque acho que ganhei. Ou será que devo dizer que perdi? Porque se esse é o prêmio de quem venceu, o que ganha quem perde? Que devaneio complicado.
Mas não, a vida não é uma loteria. É você quem faz, quem erra e sim, você é o culpado. Sempre você, não é?
Talvez eu me pergunte o que devo fazer agora. Nada. Não há absolutamente nada a ser feito, essa é a realidade. Temos que lidar com isso, lidar com o peso das nossas próprias escolhas porque, assim como na academia, nós pegamos coisas mais pesadas para que possamos ficar cada vez mais fortes. Bom, de forte eu não tenho nada, mas ainda posso colocar uma armadura e fingir que sim. Podemos fingir que somos fortes, apesar de tudo. Porque eu sei como é, ser um caco por dentro e inteiro por fora.
Dói, sabe. Aquele tipo de dor que congestiona o rosto e dá sinusite. Que escorre dolorosamente. Mas a gente lida, supera… respira e chora. Caso tudo isso passe uma hora. Sei que deve, sei que passará….
Te velei em pensamento todos os dias da minha vida presente. Te exorcizei do meu passado. Te excomunguei do meu futuro. Nenhum contato. Nenhuma possibilidade de contato, por mais remoto que seja. Nenhum contato ou será que seria melhor dizendo nenhum afeto?
Te tirei de todas as minhas redes sociais. Te removi da minha vida. Te excluí da minha convivência. Nenhuma foto. Nenhuma memória de que sequer algum dia nos conhecemos. Nossa história nunca sequer se esbarrou. Sequer se esbarrou mesmo me dando parte de quem sou?
Eu disse que você voltava. Como um vômito. Uma ânsia. Um fantasma do passado na minha vida presente. Um enjoo quente que vem do estômago depois de uma crise de gastrite e sai garganta afora em direção ao vaso sanitário fétido. Comida podre. Carne em decomposição. Alimento em digestão.
Eu disse que você tinha ido embora. Como quem não se importava. Jamais essas duas histórias se cruzaram na história da humanidade. Jamais houve qualquer contato. Não preciso da tua herança. Não quero teus laços. Mesmo teu sangue, maldito, correndo em cada pedacinho do meu ser.
Você morreu. Foi velado. Enterrado. Entrou em estado de putrefação. Fedeu. Fedeu muito.
Você sumiu. Nunca existiu. Sequer pisou no planeta Terra ou em qualquer outro do sistema solar. Seus átomos sequer estiveram nessa dimensão. Nunca houve reação química ou biológica capaz de criar algo tão desprezível.
Você não voltava. Você nunca voltou porque para voltar, antes, é preciso partir. E você não partiu. Talvez você tenha se desintegrado, ficado invisível e ou talvez, tenha se tornado o próprio furacão. Bagunçou tudo a sua volta.
Você não foi embora. Você não é um fantasma, ainda. Você é a indócil e amarga realidade. Você é a vida presente com gosto de vômito.
Esse texto fazia parte da coletânea do meu primeiro livro, O garoto que usava coroa. Na época, eu resolvi excluir porque achava pessoal demais. Hoje sequer lembro porque foi escrito. Todos os meus esforços pra manter esse texto não publicado vão falhar também.
Tem algo mais bonito que o som do seu nome? Só de dizê-lo faz meu coração tocar como um sino. Coisa estranha de se imaginar… Tá, não vou começar assim. Só queria escrever um início legal, pra te surpreender depois com uma carta que você não enjoe de ler, espero que goste, de verdade.
Você se lembra de como nos conhecemos? Que coisa louca. Rende uma história, e vou conta-la do meu ponto de vista. Vamos voltar para o final de 2013…
05 de dezembro de 2013, 11:03 AM, para ser mais exato. Graças ao Zezé de Camargo, que não cantava mais nada, no Encontro da Fátima Bernardes. Se isso não é começar uma amizade improvável, não sei o que é.
Bom, eu não sei como as coisas foram muito depois disso, eu poderia baixar nossa conversa do WhatsApp, mas ela é interminável. Só sei que, – essa parte vai ficar muito melosa, sério, mas é necessária –, você com seu jeito único, conseguiu me deixar apegado a você em pouquíssimo tempo, como você deve ter percebido. Eu sou meio complexado, então sempre achava que você estava brava comigo por alguma coisa, ou algo assim, mas eu sei que não. (Pelo menos espero que não).
Lembro-me de um dia em que você estava triste e eu fiquei praticamente toda a madrugada conversando com você pelo Whatsapp. Para mim, foi um dos melhores dias, não pela parte da tristeza, mas pela parte de que pela primeira vez, eu parecia ser um “amigo útil” para você. Pode parecer besteira minha, mas não é, te juro. Claro que, nesse dia fiquei bastante preocupado, não parecia ser possível como alguém poderia ter te machucado de tal maneira. Não parecia lógico, real. Como eu já disse uma vez, você é o tipo de pessoa que nos faz te querer sempre por perto, e ter aquela vontade de afastar tudo de ruim que possa vir a te acontecer. Não que você precise da proteção de ninguém, sua força é invejável, mas é como um imã. Ou como a terceira lei de Newton. Ação e Reação.
Foi difícil escolher algo pra te dar. Primeiro pensei em um CD do OneRepublic, porque foi essa a primeira banda que você me indicou. Sempre que ouço o Native, me lembro de você. Algumas musicas em especial. Counting Stars, porque foi a primeira. What You Wanted, porque apareceu no trailer de A Culpa É das Estrelas, e eu sempre relacionei esse filme/livro a você, também, por algum motivo. I would kill for you, that’s right, if that’s what you wanted… É um trecho que explica bem o que eu disse alguns parágrafos atrás. I Lived é minha música preferida de todos os tempos. Tem também Burning Bridges, que é a sua preferida, Preacher… Mas acho que Something I Need é a mais original que eu relaciono a você. Não é porque é a primeira, porque apareceu em um filme, ou porque é a sua ou a minha preferida. É porque simplesmente foi você a primeira pessoa que veio na minha cabeça quando ouvi ela pela primeira vez.
Bom, voltando aos presentes. Pensei em outras várias opções, mas eu não sabia se você já tinha ou não. Então resolvi dar o meu livro preferido e iniciar essa carta igual o Will. Não que eu goste dele, mas tenho que admitir que ele é criativo.
Eu poderia citar agora, inúmeras ocasiões em que você me fez rir nos momentos em que eu estava na pior, mesmo sem você saber disso. Obrigado, sério, mas essa não é uma carta sobre mim, então vou só comentar.
Você se lembra de quando você falou “Não ficou um lixo porque você que escreveu. E você escreve com o coração.” Ou quando você disse que eu tinha potencial para ser um best-seller? Você foi, e ainda é, uma das únicas que realmente acreditou em mim de tal maneira, e eu não sei como agradecer isso. Enquanto todo mundo me olhava torto porque eu estava escrevendo um livro, ou sonhava em ser escritor, você dizia isso. E isso valia e ainda vale tudo valer a pena, tudo.
Teve uma época, durante esse ano, em que nós não nos falamos muito, estávamos bem ocupados. Primeiro, pensei que nunca mais teríamos tudo aquilo de volta. Mas depois, percebi que nada havia mudado, senão para melhor. I’m on arollercoaster that only goes up my friend.
Tem uma música que explica bem como eu me sinto, sobre isso e sobre algumas outras coisas que eu já havia comentado. Você vai entender quando ouvir. Você provavelmente já ouviu I wanna be the rain, do RBD. É essa. E nenhuma descreve melhor, sério.
E para finalizar este livreto que escrevi, saiba que nunca, NUNCA, te quero ver longe de mim. E aqui cito John Green diretamente, mais uma vez, “You realize that trying to keep your distance from me will not lessen my affection for you. All efforts to save me from you will fail”. (Tenha em mente que tentar manter distância de mim, de forma alguma, diminui o que eu sinto por você. Todos os esforços para me salvarem de você irão falhar.)
All efforts to save me from you will fail. Todos os esforços para me salvarem de você irão falhar.
Provavelmente serei aleatório mais de uma vez. Vou me atrasar por passar perfume demais. Direi coisas que não deveriam ser ditas. Vou me portar de forma inapropriada. Vou ser estranho.
Não que eu seja assim de propósito, sei lá. É só o meu jeito, sabe?
Não consigo ser diferente. Talvez seja parte da minha síndrome de porco-espinho. Ela era bem desenvolvida, avançada. Eu poderia dizer que gostaria que você tivesse me conhecido antes dela, mas não. Talvez eu nunca fosse bom o bastante sem ter sofrido tanto antes.
Porque a vida é meio assim. É sempre mais escuro antes do Sol. A gente sofre para ser feliz. Nos mais diversos aspectos da vida. No amor, quem nunca sofreu por algo que não era seu antes mesmo de ter? Após fazer uma entrevista de emprego foda, quem nunca sofreu de ansiedade esperando os resultados?
A vida é assim. Nós temos que lidar com essas coisas o tempo todo. Caso contrário, de que serviriam as partes boas se nem sequer sabemos como diferencia-las das ruins?
Todos nós já vimos a chuva caindo num dia de Sol. E o que aconteceu depois? A calmaria. Sempre vem a calmaria depois do furacão. E consequentemente, a felicidade depois da tristeza.
Todos nós merecemos ser felizes.
Todos nós precisamos passar pelas montanhas russas antes, para que então saibamos como reconhecer a alegria genuína. Não é maldade, é valorização. Se tudo fosse sempre bom, em algum momento você seria grato?
Passe por tudo de cabeça erguida. Lide com os seus problemas. Um de cada vez.
Reconheça a felicidade, saiba valoriza-la. Ela não é eterna, assim como a tristeza também não é. Viva intensamente. Uma página de cada vez.
Olhe para o céu, conte as estrelas, seja efêmero, ache beleza onde não tem…. A vida é apenas um livro.