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A solidão de quem ficou no castelo
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Autorais, Histórias

A solidão de quem ficou no castelo

Tudo começou com uma ruptura. Alguém que falou eu não te amo mais, eu não quero mais você em uma noite fria quando nos recolhemos para a torre mais alta do castelo. Tinha tudo para ser mais uma noite comum. A gente arrumou a cama, a gente deitou, a gente deu boa noite e veio a ruptura. O choro convulsivo e alucinante foi inevitável e acordou todo o castelo.

+ Às vezes a gente fica ressentido, né?

Na manhã seguinte, ele já tinha ido embora. Mas muitas pessoas ainda ficaram por lá. O castelo era esquisito, a torre era mais vazia, parecia que faltava alguma coisa ali. Mas, muitas pessoas ainda ficaram por lá em outros aposentos. O castelo não estava vazio, eu só sentia que estava porque ele não estava mais lá e nem iria voltar.

Tentei começar a fazer coisas novas para distrair a minha cabeça. Ainda éramos quatro no castelo depois que você foi. Como pode três não valerem por um? Eles valiam, mas não eram você. Eles valiam mais que você. Diziam que a gente precisa sangrar pra evoluir e crescer. Eu não tenho o que dizer para me defender ou para fazer você voltar. Você conheceu outra pessoa e se foi numa noite qualquer de agosto.

Você não gostava de mim, senão você teria dado um jeito. Você teria se aberto para um diálogo, mas não abriu. Depois de você, ele foi o primeiro que deixou o castelo e ficamos apenas em três. Foi doloroso, mas me bateu uma felicidade vê-lo alçando voos maiores que ele sempre mereceu voar. Nesse dia, você ainda me mandou uma mensagem. Uau, ele foi embora. Sim, ele foi. A diferença é que a gente sempre soube que ele iria. Você também soube que você sempre iria, só eu que não soube que era a única pessoa que ficaria. Você ficou emotivo e tentou conversar comigo. Eu te respondi por educação, mas o jantar já estava bem frio nessa altura do campeonato.

Você soube que era sua hora de ir quando foi. Quando rompeu de forma abrupta. Agora é a minha hora de saber que você causa fissuras na minha alma. E a minha alma sabe que agora é a minha hora de partir e deixar você por aí. Partir é a única escolha para mim. Você pode escolher entre a decisão mais corajosa, a mais honesta ou a mais inteligente. Eu só tive uma escolha.

Partimos nós três. O castelo era grande demais para nós. E então foi a vez dela partir. Era uma coisa provisória, mas se tornou permanente. Ela nunca mais voltou. Sobramos duas. Eu e a cachorra. A cachorra que fomos buscar todos juntos enquanto ainda éramos uma família. Hoje, a família parece que sou eu e ela. Não me entenda mal, eu a amo. Mas ela é uma lembrança viva de que todos seguiram em frente com as suas vidas e eu fui ficando. Eu fiquei. Ele rompeu. Ele cresceu. Ela seguiu. Eu fiquei. Ela também.

Todos os dias eu olho pelos corredores do novo castelo ou do castelo antigo. De tão silenciosos, agora eles gritam nos meus ouvidos coisas que eu não gostaria de ouvir. Eu ando, só, na pedra fria do chão em todos os cômodos vazios até chegar no alto da torre que também está vazia a não ser por mim. Antes, todos esses aposentos eram barulhentos. Barulhentos até demais. Eu vivia pedindo por silêncio, mas quando ele chegou, me atingiu como uma adaga no peito. Eu daria tudo para ver tudo isso encher de novo com danças ridículas, brigas sem razão e risadas de doer a barriga.

Mas todo mundo se foi. E eu fiquei com o castelo.

O castelo e a cachorra.

Sozinho de novo
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Sozinho de novo

A gente precisa cuidar das coisas para que elas possam durar. Ainda mais quando algo não é só nosso. A gente precisa, assim como o outro, cuidar. Cuidar sozinho não adianta. E é nessa posição que me sinto nessa relação de novo: sozinho. 

+ Aconteceu de novo

Você não percebe que a história cíclica se repete? Exceto pela parte de que agora não há mais cacos meus. Estou decepcionado, sim, mas não quebrado. De que adianta gritar ao mundo sobre seu orgulho se você não está ali? Se estou sozinho de novo? 

Leia ouvindo: Acontece, Jão

Você gastou a mesma desculpa, inventou a mesma história. Você ligou de novo no meio da noite e de novo eu atendi e de novo você me quebrou como se quebra uma promessa. De novo. De novo. De novo, de novo, de novo, de novo, de novo…

De novo, não tem nada. Só as velhas narrativas e as velhas artimanhas que você usa pra disparar esses gatilhos que, bom pra mim, ruim pra você, eu aprendi a desarmar. Eles não existem mais. Aquele eu não existe mais, eu sinto muito. Talvez você queira dar flores pra ele, agora que é tarde. Agora que ele se foi. 

Deixa na sepultura. 

De novo. Deixa secar ali. Ele se sentiria feliz por elas. 

Porque pra mim, infelizmente, elas não valem de mais nada e podem secar sozinhas nessa lápide que traz a mentira que tentamos tão desesperadamente fingir ser verdade. A mentira de que dentro dela eu nunca estaria sozinho. 

Mas eu estava, de novo. 

Obrigado por tudo, mas dessa vez eu não vou aceitar de novo. De novo… Novo em quê? Nada disso é novo e nunca foi novo. Nunca vai ser novo. De novo aqui só o fantasma das minhas expectativas frustradas mais uma vez porque sequer minhas lágrimas são novas. 

Então, obrigado por tudo, obrigado por nada. De novo. De nada. 

Amanhã você vai acordar
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Amanhã você vai acordar

Amanhã você vai acordar, então, não se apaixona, não. Tudo o que temos é essa noite. Hoje, enquanto o sol não aparece no horizonte, somos eu e você ao som de Arctic Monkeys e The Neighbourhood. Quando o DJ toca, a gente pode dançar fora do ritmo com nossos dois pés esquerdos, podemos nos abraçar no ritmo da música sentindo cada poro do nosso corpo desejar ir embora e dormir. Mas, não vamos dormir juntos.

Leia ouvindo: Santo, Não

Não vamos ficar juntos. Amanhã você vai acordar e eu não estarei ao seu lado. Desculpa dizer mas, talvez eu esteja dançando The Neighbourhood com outra pessoa. Enquanto o azul escuro do céu não clareia, somos eu e você com beijos apaixonados e molhados que terminam com um selinho fofo, somos eu e você com beijos quentes, calorosos, que me fazem sentir uma pressão no quadril. Mas, não vamos sentir o corpo um do outro além das poucas roupas que usamos.

+ Quero abraçar o mundo todo, todo o tempo

Eu sinto sua mão por dentro da minha cueca, eu te encosto na parede e entro no caminho que você abre entre as suas pernas. Sinto sua pressão no mesmo lugar em que te pressiono. Hoje, enquanto o dia não se alaranja, somos eu e você contra o mundo. Os nossos corpos dizem tudo aquilo que queríamos falar um para o outro em voz alta mas a música não nos deixaria ouvir. Hoje, vamos conversar com nossos gestos calorosos mas, não vamos ouvir as juras de amor um do outro.

Amanhã, você vai acordar e eu não estarei ao seu lado para desfazer essa angústia que quer sair em forma de lágrimas, mas hoje, posso ouvir sobre todos os seus amores que deram errado. Você pode chorar falando do seu ex-namorado enquanto me beija sentado ao lado da lata de lixo. Eu posso fazer cafuné na sua cabeça, você pode adormecer sentado no meu colo quente enquanto te envolvo com meus braços e meu moletom que você disse que cheira a amaciante. Hoje, vou te esquentar, mas amanhã, você estará frio e sozinho.

Hoje, vou te pagar uma bebida no bar, te chamar de amor, de bebê, de neném, mas, amanhã, eu não estarei aqui. Podemos até marcar um encontro, trocar nossos perfis de Facebook, talvez até números de telefone. Podemos mandar um “oi, amor” para salvar o contato. Mas, amanhã, você vai acordar.

Amanhã você vai acordar e contar aos seus amigos sobre mim. E então, você vai acordar e entender que eu não sou quem você pensa. Eu não sou nada disso que você imaginava porque eu existi só na sua cabeça. Eu respondi de um papel fantasioso que você tinha. Eu fui o namorado perfeito por uma noite, a noite depois que seu ex-namorado maluco te largou porque você é sentimental demais.

Hoje, vou te mostrar meus textos, meu blog secreto e você vai ficar feliz porque escrevo também. Amanhã, você vai escrever sobre mim e postar para milhares de pessoas lerem. Pessoas que vão achar que sou seu príncipe encantado, mas infelizmente, eu não sou. Você é um anjo, mas eu sou um demônio. Eu não estou no seu altar e não mereço estar.

Amor, não sou seu sonho, sou seu pesadelo. Eu sei que seus cabelos escuros que caem sobre o olho são puros, sei que você escolheu a dedo essa camiseta preta com um colar militar perfeitamente combinados com uma bermuda vermelha e uma camisa xadrez azul e preta. Eu sei que você vai dormir e sonhar comigo, com tudo o que poderíamos ter. Você vai se abraçar a essa camisa xadrez que agora tem meu cheiro e você vai levar esse meu moletom da Gap embora.

Ele é dois números maior que você, apesar de termos um tamanho parecido. Amor, eu não vou estar aqui amanhã. Amanhã você vai acordar. Mas, o moletom vai estar lá. Meu corpo não estará dentro dele e nem dentro de você.

Quando você acordar, estarei dentro de outro sonho, em outro lugar. Quando você acordar, meu amor vai estar dentro de outras pernas entrelaçadas na minha cintura.

Até lá, eu ainda estou aqui.

Transformei o cabresto em liberdade
Autorais, Livros

Transformei o cabresto em liberdade

Voltei ao ponto em que tudo terminou e senti o gosto amargo do abandono na boca de novo. Olhei para os meus sapatos, como fiz naquele dia, e senti tudo aquilo voltar. Senti o mundo girar e a náusea aparecer. Com a diferença de que agora ela vinha diferente. Ela vinha com a liberdade.

Aquele dia eu me senti sufocado. Sem ar. Como se não tivesse mais o que ser feito. Como se a minha vida tivesse acabado. Como se eu tivesse um cabresto. E hoje, o que senti foram os ventos frios e reconfortantes da liberdade enquanto minhas tripas se reviravam.

+ A volta do que jamais deveria ter partido

Sei que o gosto amargo é o preço que paguei por ela. Gosto de sangue e sal. Mas hoje não sinto mais o nojo porque você sabe exatamente que premeditei cada passo meu depois daquele dia azul e ensolarado de novembro. Hoje, já é dezembro.

Naquele dia, cheguei chorando em casa e enfrentei meu pai. Dormi o resto do dia. Eu amava aproveitar o clima de fim de ano. Hoje, estou indo para minha casa. Minha. Só minha. Que construi apesar de você, a partir da minha liberdade.

Sabe, naquela época eu pensei que queria ter a autoconfiança que tenho hoje. Eu queria levantar mais alto e me impor. Dizer que você era pouco demais pra mim. Ou que eu era demais pra sua existência de merda. Você sabe que é um fracassado e não precisa de mim pra dizer isso.

Mas, caso não saiba, eu repito. Você é.

Você não se importa com o sentimento de ninguém além dos seus. Você diminui os outros para se sentir maior. Você quer que todos sejam tão pequenos quanto você. Que vida, hein?

Hoje estou aqui, parado. Do mesmo jeito que estive naquele ano. E percebo o quanto mudei por conta de todos os silêncios que você me respondeu. Eu cresci, eu mudei, eu me machuquei. Mas me libertei.

Hoje olho pra cima e vejo o teto, vejo o céu. Antes, tudo o que eu via era minha angústia, o meu cabresto. Agora tenho a liberdade de mãos dadas comigo, não você.

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria
Autorais, Livros

Fui eu quem nos incendiou, mas eu não queria

Eu sei que fui eu quem nos incendiou. Eu sei que te abracei e pulamos juntos para a fogueira. Eu sei que fui eu quem nos colocou nessa combustão eterna. Mas eu não queria. Eu não tinha a intenção de queimar tanto. Eu não sabia que ia doer tanto.

Sempre fui intenso e vi que você também é. Nossa intensidade sempre nos completou, sempre nos levou além de qualquer olhar incompreensivo. Até que o olhar incompreensivo era o de nós mesmos. Eu, incrédulo e pegando fogo, você, crédulo mas frio como gelo. Não era o que eu queria.

+ Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Sabe, eu sei que não era assim que você imaginava. Eu sei que sou uma pessoa inconstante e que muda a cada estação. Ou melhor, a cada hora do dia. Eu mudo, eu muto, eu me transformo e não acho que isso seja um defeito meu. Sinto muito que você pense assim. Não, não é papo de que nasci assim e vou morrer assim. A única constância que eu tenho é a da mutação. A única certeza que carrego é aquela de que vou mudar. Prometo mudar.

Leia ouvindo: Afterglow, Taylor Swift

Eu sei que sua fantasia nunca foi essa. Te peço desculpas, mesmo sem dever. Minha fantasia também nunca foi essa, quiça minhas expectativas. E não espero desculpas de você por isso. Espero que você não seja aquilo que eu espero. Dói não ter minhas expectativas correspondidas, claro. Mas eu estou aqui para incendiar e espero que você pegue fogo junto. Sim, eu sei que sempre sou eu quem nos incendeia e sempre é você que apaga o fogo. Mas isso não é necessariamente uma coisa boa.

Eu sei que você tinha expectativas altas e talvez, uma delas seja de que eu fosse diferente. Santo eu não sou, já te disse. Muito menos um robô. Tenho pavor de corresponder as expectativas dos outros. Nasci para corresponder as minhas e por elas, já dou um duro danado. Eu me cobro demais, eu espero demais de mim mesmo. Sofro pra corresponder a isso. Imagina só se eu ia conseguir ainda corresponder as suas? Desculpa, amor. Não vou e desculpa pela frieza que vou pegar emprestado de você agora: não acho que exista algum ser humano vivente capaz de correspondê-las. Nem mesmo você.

Eu sei que nem você se corresponde. Porque eu também não me correspondo. Ninguém corresponde a ninguém porque expectativas são fantasias. E fantasias são feitas para serem queimadas.

Não quero seu roteiro por mais que eu implore. Não preciso de algo que sequer vou ler ou sequer vou seguir. Sugiro que em vez de me dar, procure por alguém que esteja disposto a seguir a dança conforme a música. Eu não estou. Eu sou torto e quero seguir a dança ao contrário. Quero trocar o CD e colocar a música no aleatório. Eu não estou disposto a ser congelado.

Eu sei que isso tem um preço e sei que, com ele, fui eu quem nos incendiou. Eu não queria porque sei que você é gelo e eu sou fogo. Você também pode sair dessa dança. Porque já dizia minha terapeuta: quem não ouve a melodia, acha maluco quem dança.

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também
Autorais, Livros

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Se eu te disser sorrindo de orelha a orelha que acordei um pouco triste, você vai acreditar? Sabe, eu mascaro muito bem os meus sentimentos. Menos aqueles que são seus. Esses eu acho que demonstro demais. Eu quero demonstrar muito. Quero demonstrar em dobro, quero querer em dobro, mas só se você quiser também, afinal, não há como eu querer por você.

Talvez você fuja de mim. Bem feito. Queria que não, mas se fosse eu, talvez eu fugisse também. Mas eu sempre fico. Talvez no vácuo ou sem, com apenas esses ecos dos meus pensamentos gritando seu nome repetidas vezes. É que nada disso faz sentido, sabe, mas me faz sentir.

+ Eternamente responsável por aquilo que cativo?
+ São quatro da manhã no meio da noite

Entre tantos devaneios e lágrimas, me descobri tão desastrado. Entre o país das maravilhas e a terra do nunca, acabei por tropeçar e deixar cair sobre você todo o amor que eu tinha a oferecer. Eu quero que seja assim. No planeta do Pequeno Príncipe, com lágrimas nos olhos eu disse que te amo. E foi significativo, foi em voz alta.

Dizia em um livro que amo, Coração de Tinta, que tudo ganha vivacidade ao ser falado em voz alta. Eu te disse as três palavras repetidas vezes, em voz alta. Eu sou caos. Nada de bom poderia vir de mim, não é isso que você diz?

Leia ouvindo: Sad beautiful tragic, Taylor Swift

Caos total. Eu sei, nem eu mesmo me encontro, sabe. Mas no meio dessa bagunça toda eu ainda conseguia encontrar o meu amor por você. Que saco. Era como ver o céu escuro e estrelado e encontrar a Lua. É certo, é imediato. É brilhante como nada mais, ilumina a escuridão, leva luz para todas as extremidades e me ilumina em sorrisos.

Mas não, para você, eu sou um caos. Sou indigno de te dar amor e você é bom demais para receber o meu amor. A gente dá aquilo que tem e eu sei, dei amor demais e você se sentiu sufocado, sem ar. Foram longos anos de martírio e de terapia para mim. Você dizia que eu era emocionado.

Se não for pra ser emocionado, não quero nem ser. Eu sei querer em dobro, em triplo, em quádruplo… Eu sei querer mais que você, sei querer por você. Mas só vou querer se você quiser também.

E infelizmente você não quer, então, faça o favor e vá para o inferno.

O Pequeno Príncipe: Eternamente responsável por aquilo que cativo?
Autorais, Livros

Eternamente responsável por aquilo que cativo?

“Vamos ver ‘O pequeno príncipe’ hoje de noite?”, propus a ele. Eu estava responsável por alguns convites por conta do meu blog. Fomos. Pegamos as habituais poltronas no fundo da sala. Sempre que íamos ao cinema, não víamos o filme por conta dos beijos que não se acabavam – não reclamando, óbvio. É maravilhoso. Sempre é com ele. Incrível se torna pouco para descrever tanto.

Nós sentamos e o filme começou. Eu sempre amei o pequeno príncipe. Foi um livro que meu avô comprou, deu ao meu pai e ele me deu. Na sexta série, escrevi uma resenha sobre ele com uma reflexão que emocionou a professora. Mas isso era coisa de conexão. Nós nos conectamos com certas palavras. E eu me conectava com esse livro, então, fiquei bem animado para o filme, apesar de ser uma espécie de releitura.

+ Resenha: O Pequeno Príncipe
+ Vlog: O Pequeno Príncipe

Sentei-me abraçado a ele. Seu colo era tão confortável, seu abraço era capaz de me fazer esquecer qualquer outra coisa. Seu cheiro era único, do tipo que te deixa alerta. Eu estava calmo, mas meu coração dava cambalhotas e era o grande responsável pelas borboletas no meu estômago. Ele era analgésico. Diziam que nossos signos jamais combinariam, mas quando queremos, fazemos. Quando queremos, noite vira dia, vazio vira cheio e o quebra-cabeças se encaixa.

“Eu gosto muito de você, sabe?”, ele disse e meu coração tremeu em felicidade crescente. “Muito.”

“Eu também”, respondi, tímido. As palavras travavam um pouco ao saírem assim, em voz alta. Era medo da decepção.

“Queria te dizer uma coisa…”, ele começou e eu só assenti. Porra, eu também quero te dizer uma coisa. Eu quero. Eu sabia o que ele ia dizer a seguir. Tinham algumas lágrimas no seu olho e essa era a cena mais linda que tinha a honra de estar acontecendo comigo. Nunca nada tinha passado perto do que eu estava sentindo ali, naquela sala escura que parecia iluminada pelos seus olhos. Cada centímetro meu sorria, cada célula do meu corpo dançava Macarena em velocidade máxima. Na tela grande, a raposa dizia Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas… Se me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo…”

Tudo sorria em mim, tudo explodia como jamais antes. Minha mão estava em seu rosto e meus olhos estavam nos seus quando finalmente ouvi. “Eu te amo.”

E eu não soube explicar como milagrosamente sorri mais. Como minha felicidade transbordou e me paralisou, tirando minha voz e minha capacidade de pensamento. Eu só conseguia olhar para ele, me perder em suas entrelinhas. “Eu também te amo… Muito”, falei por fim, um pouco paralisado por ser a primeira vez responsável em voz alta com alguém ouvindo.

Era tão sincero que eu sentia meu coração bater em cada centímetro da minha pele. Mas era como deveria ser. Eu o amava, estava convicto de tudo. Convicto de que estava perdida e irremediavelmente apaixonado. E sabe, além de tudo. Contra a razão. Contra a promessa de jamais permitir. Contra a paz. Contra a esperança. Contra a tristeza. Mas, acima de tudo, eu o amava contra todo o desencorajamento que poderia existir. E foi ali, com meu filme preferido de plano de fundo numa quarta-feira fria de agosto, quase dez da noite que eu ouvi e admiti uma das melhores coisas da minha vida.

Sempre escrevi romances sem jamais ter chegado perto de viver um. Sem jamais ter entendido o infinito dentro de mim. Porque sim, posso dizer com propriedade agora: amor não machuca, conserta a alma. Não tira os pés, dá pezinho. Te eleva nas nuvens, como uma âncora de garantia. Não dói, sorri, dança…

Dizem que cicatrizes vem de machucados e naquela noite fui marcado de um jeito eterno e inexplicável em palavras. Só feche os olhos e imagine a sensação de se explodir em um infinito de galáxias brilhantes… Talvez chegue perto. Pouco, mas chega.

Isso te faz sorrir todos os dias e te dá novos motivos para acordar todos os dias. Te deixa mais que completo e, ao chegar em casa com o cheiro dele cravado em mim, sinto o melhor tipo de saudade. Aquela que só passa quando engulo a sua presença. E eu, fico sem palavras.

É algo novo pra mim que sou exagerado e vivo falando bosta por aí. Aconteceu sem enredo, sem ensaio ou histórias pré-escritas por romancistas fãs de finais felizes. E sabe, talvez isso já estivesse destinado a acontecer, porque voltando, vejo que O Pequeno Príncipe me define no momento mais que qualquer outra coisa.

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” Impossível me definir mais. Ou “Se tu vais, por exemplo, às onze da noite, desde as nove eu começarei a sentir a sua falta e te querer ver de novo.”

Lembra quando eu disse que existia alguém responsável por te abraçar tão forte que juntaria todas as suas partes?

Então, meu dia finalmente chegou.

Tédio faz parte das relações saudáveis
Autorais, Livros

O tédio faz parte da relações saudáveis

O tédio faz parte das relações saudáveis. É ingenuidade dizer e acreditar que aquela paixão obsessiva de início de relacionamento vai sobreviver às rotinas de um relacionamento com altos e baixos. Preocupante seria se só existissem os altos.

+ Sou ruim no amor
+ Futuro ex-namorado

A rotina é tediosa, mas o amor, além de ser uma escolha, é uma construção. E ele se constrói no tédio das rotinas. Uma relação saudável tem euforia, alegria, tristeza, momentos bons, momentos ruins e ele, o tédio. Assim como a vida é uma montanha russa, com altos e baixos.

São nos relacionamentos que temos que entramos em contato com o nosso melhor e o nosso pior. Dizem que todos nós precisamos fazer terapia e sim, é verdade, mas um relacionamento é uma espécie de laboratório que vai colocar todos os seus aprendizados e suas capacidades em prova. É nele que você vai se deparar com suas luzes e suas sombras, enquanto precisa lidar com as luzes e sombras da pessoa que está ao seu lado.

Além de tudo, ainda é preciso aprender a linguagem de amor da pessoa que com quem se escolhe (ou se precisa) relacionar. É necessário saber como consolar sua criança interior e lidar com a criança interior do outro. Sim, é um tédio. Nem sempre os dias serão ensolarados, cheios de euforia e de vontade de incendiar o mundo. A maioria deles serão mornos, amenos e muitos deles serão cinzas, azuis, tristes.

É imprescindível entender que fantasias e expectativas acontecem dentro do nosso coração. E aqui dentro, tudo parece mais bonito, mais animado. E a vida… bom, a vida é ordinária e acontece na normalidade. Nem no oito, nem no oitenta. A vida acontece ali, no cinquenta. Na mediocridade. No tédio.

É papo furado de coach dizer que devemos fugir da média, que devemos buscar sempre além da mediocridade. O que precisamos mesmo, é aprender a conviver com ela e saber que essa é a normalidade de uma vida humana. Extremos nunca são bons.

A vida acontece no tédio e por isso, o tédio faz parte das relações saudáveis.

Autorais

Autoria: Supermercado de sentimentos, por Gabu Camacho

Leia ouvindo: my tears ricochet, Taylor Swift

Nossos dias de semana improváveis, meu quarto sempre com a porta fechada para te preservar lá dentro.
– “Redemoinho em dia quente, Jarid Arraes

Eu não me lembro bem da sequência de fatos em que tudo aconteceu desde o supermercado. Em um momento, eu estava lá fazendo compras com a minha mãe. Eu odiava fazer compras com a minha mãe. Enquanto ela percorria todos aqueles corredores, escolhendo o menor preço de cada produto, ora pedindo minha ajuda, ora agradecendo por eu ficar o tempo todo mexendo no celular, eu sentia que uma parte de mim estava faltando. Eu entrava no perfil do Julieu, via suas últimas fotos, seus últimos tweets e sentia meu coração doer.

Conheci Julieu em um grupo de WhatsApp que entrei. Ele mora em outro estado. Conversamos algumas vezes no privado sobre a vida. Sobre nós. Nos conhecemos e eu me apaixonei sem que ele soubesse. Sem sequer saber se ele nutria qualquer sentimento por mim além da pessoa que ele conheceu por um grupo de WhatsApp e que morava em outro estado. Já faziam dias que eu nutria meu sentimento com a imagem que eu tinha dele das redes sociais. Eu alimentava meu coração com os tweets, que eu lia com sua voz doce, eu alimentava meu sentimento com as fotos em suas redes sociais. Já ia fazer um mês. Três semanas para pensar com exatidão, que me preparo para falar com ele. Puxar assunto, ser mais presente, perguntar mais… Julieu parece uma parte do meu coração e eu nem sei como ele se tornou essa parte.

Nos meus sonhos, a gente sempre estava junto. Eu visitava sua cidade, em outro estado, e dormíamos lado a lado na cama de casal. Acordávamos juntos, olhando um para o outro, íamos conhecer a cidade, tomávamos um chocolate quente para nos esquentar do frio do sul. E depois sempre vinha a despedida, de quando eu precisava voltar. Seu sorriso ficaria guardado na minha mente pra sempre e nós faríamos juras da próxima vez em que conseguiríamos nos ver de novo. Nos meus sonhos, nossos pais aceitavam tudo. Tudo era fácil e a nossa idade era só mais um fator.

E então eu acordava. A lembrança dos sonhos da noite anterior pareciam lembranças de algo que já tinham acontecido antes. Sequer conseguia esquecer. Ah, Julieu, se eu tivesse coragem de falar tudo o que eu sinto. Se eu tivesse coragem pra ver todas as cores do mundo com você. Se eu tivesse coragem para falar, entender se era de fato recíproco e então sentir, de verdade, o cheiro do seu cabelo tocando meu nariz e provocando o meu piercing. Se eu tivesse coragem, Julieu.

“Pega a bolacha aí, coloca no carrinho.” Quando minha mãe disse isso, no supermercado, assenti com a cabeça e peguei dois pacotes de Trakinas de chocolate. Mas antes apertei enviar de uma mensagem que eu estava digitando há dias.

“Oi, Juli. Estou com saudade de você.”

Enquanto peguei a bolacha, meu celular tremeu com quatro mensagens novas de Julieu. Sorri por dentro. Cada átomo meu sorriu, mas resolvi esperar a compra acabar para responder. Ajudei minha mãe a guardar tudo no carro, sentei no banco do carona e seguimos para a casa. Tirei o celular do bolso e abri as mensagens.

“Oi, mozi. Que saudade de você também.”
“Sinto sua falta. Vamos assistir um filme juntin hoje a noite?”

Tremi, mas continuei lendo. Por que ele tinha me chamado de “mozi”? Ele nunca tinha me chamado assim antes. Seria esse o início da nossa tão sonhada reciprocidade? Será que todos os meus sonhos de conhecer o sul segurando a sua mão tão parecida com a minha se tornariam realidade?

“Por favoooooor”

E eu não demorei para responder.

“Claro!! Sinto muito sua falta. Qual filme vamos assistir?”
“Preciso deixar carregando antes com a minha internet, vc sabe”

“Um olhar no paraíso, moxi”
“É meu filme preferido da vida”
“Vai, completa o coração”

Ele mandou uma foto da sua mão, curvada, como se fosse um dos lados daqueles corações que fazemos com as mãos. Tirei foto da minha mão oposta, completando o coração, enquanto sentia o meu capotar na caixa torácica. Eu lembro dos detalhes até aqui. Depois, as coisas não são tão claras assim.

Em outro momento, eu estava vendo o filme juntin a Julieu. Comentamos, choramos, conversamos muito naquela noite até altas horas da madrugada. Eu já podia ver todas as nossas cores explodindo em alegria. Eu podia ver nossas mãos dadas no sul e as borboletas saindo do meu estômago. Certa vez li uma frase da Jarid Arraes que dizia, “você mexia com as cores das fitas, abrindo meus ouvidos avinagrados para a beleza das promessas” e eu me sentia assim. Com todas as cores do mundo.

Até que o filme acabou. Julieu dormiu. Ele provavelmente mandaria uma mensagem de madrugada se desculpando, então mandei boa noite e fui dormir também.

A mensagem não veio. Chamei no dia seguinte e Julieu não respondeu. Ele nunca mais respondeu e seus tweets tentavam adubar o meu coração que estava secando, mas não eram suficientes. Julieu nunca mais respondeu nenhuma mensagem, nunca mais sequer visualizou.

Seu Twitter ficou privado e meus galhos secaram. Meus galhos secaram um a um.

Cada dia que eu precisava colocar “Um olhar no paraíso” para rodar no computador enquanto eu tentava pegar no sono, calando todas as minhas vozes era uma estaca no meu coração cravada com o nome de Julieu. Ele não me bloqueou das suas redes sociais, mas ele me bloqueou da sua vida.

Eu precisava de notícias, então pesquisei seu nome no Google e vi que outra pessoa twittara uma foto dele, sentado na escrivaninha do seu quarto com a parede rosa, lá no sul. Pelo ângulo, a pessoa estava na cama. Julieu estava despreocupado, mexendo no celular com uma camisa de botão lindíssima, uma calça jeans rasgada no joelho e aquele tênis preto de skatista que ele sempre usava. O mesmo que ele usou nos nossos passeios oníricos. A legenda dizia “moxi está distraído hoje”.

E depois desse dia, nunca mais tive sequer uma notícia da outra parte do meu coração.

Tudo ficou preto e branco e minhas noites se repetem com o filme rodando em repetição.

Todo dia é a mesma noite para mim.

A última noite com Julieu.

Autorais

Autoria: dependência em vão

parte três – incodependência

leia ouvindo: seu costume, bruno gadiol

nada acontece como se espera. as coisas vem quando não se precisa mais pra te voltar a órbita. já nasci fora dela, meu bem. nada pode me colocar de volta.

não sou planeta anão, sou supernova, gigante vermelha. anã branca não mais. estar só não é viver em vão e isso me fez sentido só agora, no terceiro de sua sequência. o mundo não possui solução. tanta gente aí sem amor pra dar, tanta gente aí sem brilho nos olhos. hoje é minha independência, e calhou de ser xará de data com os estados unidos. meu lugar nunca foi aqui mesmo.

você chegou atrasado. chegou antes quando o tempo não era seu, atrasado quando era. na verdade, acho que nunca foi. eu me sentia a hannah, eu me sentia o charlie. eu me sentia especial. especialidades mudam, assim como os gostos. você me fazia sentir especial, agora qualquer um faz. eu entendi quem eu sou. entendi como devo ser.

vim escrever imediatamente depois do calote. fiz o mesmo caminho de três atrás e cai em mim. engraçado porque faço esse caminho todos os dias. não ouço mais taylor swift nele, talvez por isso tenha parecido tão diferente hoje quando percebi que era o mesmo. quando percebi que eu era o mesmo.

e eu percebi que te amava porque me amava. sim. eu te amava tanto que via meu amor em você, quando você não tinha um pingo de amor próprio no meio dos seus pensamentos autodestrutivos. eu sempre me amei. sempre amei o amor. mas ele estava refletido em você, ora. é mais fácil olhar para os outros que para o próprio umbigo, não é? então. esse foi o caso.

engraçado porque eu te amei tanto, até nas vezes em que eu não deveria. até nas vezes em que eu não te amava mais. até nas vezes em que eu estava no escanteio quando não deveria estar. mas hoje fiz morada nele. na verdade, fiz morada nele e me mudei. deixei a casa mais bonita para o próximo inquilino. inquilino porque sou meteoro e você planeta. milhões de anos para tirar minha marca da sua superfície.

e me mudei.

me mudei como alguém que é assaltado na casa térrea e compra uma cobertura sem financiamento, mesmo pagando o financiamento da casa. me mudei pra uma cobertura com visão ampla. eu consigo ver o céu. eu consigo ouvir os pássaros.

eu estava lendo aquele livro, textos cruéis demais para serem lidos rapidamente e nele vi que quando um braço quebra, ele pode voltar a ser o mesmo. mas não aguenta tanto quanto aguentava antes. meu braço aguentou.

aliás, não só ele, mas o todo eu. todo eu quebrado que já foi remendado e segurou o peso de nós mais uma vez. segurou o peso da insistência.

estar só não é viver em vão.

parte dois da parte três – diga não aos canudos. por mim. pelas tartarugas.

leia ouvindo: aqui, jão

não dança pra mim não. você é bom demais se articulando na vida. já era. o meteoro já caiu, mas eu era o forte e você o frágil. claro que nunca fui forte, mas agora sou.

e quem a gente vai culpar se o erro não é claro?

insano. pra mim sempre foi claro. o erro foi meu, assumo. mas não assumo o que não fiz e você me acusou sem fundada suspeita. meu advogado disse que se um dia tomasse enquadro, era pra perguntar a fundada suspeita.

ele nunca me disse o que fazer se o enquadro fosse vindo de você. eu sabia lidar com policiais, mas não sabia lidar com você, justamente porque você sabia lidar comigo e não de um jeito bom. não de um jeito que a gente sabe lidar com alguém que pode explodir a qualquer momento ou é mentalmente frágil.

lidar como se o seu conselho fosse advindo do arcano da força invertido. lidar como se você tivesse domínio sobre mim. e de fato, você teve, mas tão fraco. bastava eu fazer uma força pra romper essas algemas feitas de bala fini. porque você não teve a decência de comprar uma de ouro.

eu nunca fugi, nunca.

e se eu tentar fugir de novo qual vai ser meu preço? de te entregar conforto e paz mas eu sem ser inteiro?

mas sempre tentei te entregar o conforto e paz. mesmo sem ser inteiro. jão, é possível. não sei como te ensinar agora, mas eu sei que consegui.

mas não consigo mais agora. eu me lembro da nossa listinha de datas.

eu me lembro dos capítulos da nossa história.

eu me lembro.

eu me lembro que eu quis te contar as fofocas absurdas do trabalho. tentei te escrever um email, mas você nunca respondeu. tentei te contar pessoalmente, mas dentro da sua carcaça não era mais você. não era mais a pessoa pela qual eu tinha me apaixonado como a bella se apaixonou pelo edward.

não era mais a pessoa pela qual as lágrimas da rua eram destinadas. nem a pessoa pela qual o meio fio ouviu minhas lamentações.

não era mais a pessoa que causou dó no taxista a ponto de ele dar desconto na minha corrida. não era mais. eu tentei te ligar, eu tentei te mandar uma mensagem. mas não era mais você.

possuído.

sabe quando a gente gosta tanto de alguém e sonha com o velório da pessoa? nunca aconteceu, mas te velo em pensamento todos os dias vendo memórias de quando você me achava ridículo.

me dei uma diária sozinho no hotel. me reconciliei com o meu passado. fui na balada sozinho. aprendi francês. misturei vodka com catuaba. vendi dois livros. fiz uma tatuagem. tirei o piercing. benzi minhas células. contei pra minha mãe. pro meu pai ainda não, ele ficaria feliz, eu acho. e eu quero tristeza.

apesar de que não estou triste. aquele lá morreu também. você levou junto.

eu te olhei com calma e compreensão. eu te entendi mesmo quando não me entendia. eu não passei como as línguas, eu fiquei. sem nada, mas fiquei.

eu também chorei.

mas você gostava do olho do furacão né? e eu era o próprio furacão. não somente o olho dele. você não pode segurar. ainda guardo os tickets do cinema no meu livro de roma.

ainda guardo o guia de viagens da disney de agosto.

tive medo de ir para a faculdade sozinho. tive medo da recusa, então busquei a reclusa. não me fale sobre entrega. eu te entreguei no dia que hoje faz aniversário.

mergulhei fundo.

você colocou um pé, com medo da água fria. eu era mais baixa que nitrogênio líquido.

e você disse que eu era baixa mesmo. uma pessoa baixa. não de estatura, de caráter. disso não posso debater, você tem sua opinião.

pelo menos

eu não uso canudo plástico.