A representação LGBT em produções culturais voltada para jovens é muito pequena e sabemos o quão importante é a sua existência. Pensando nisso, busquei livros YA (young adult/jovens adultos) que retomassem essa temática ou que simplesmente tivessem personagens desse universo. Alguns deles, me surpreenderam positivamente em sua profundidade e decidi listar 3 dos meus favoritos aqui.
Os dois mundos de Astrid Jones
gutenberg
Astrid Jones é uma jovem que mudou-se de Nova York para uma cidade pequena onde todos sabem de tudo que acontece, tudo pode vir a se tornar assunto e há convenções sociais conservadoras a serem seguidas. E, é contra essas convenções que a protagonista luta.
Em meio à uma mãe insensível, um pai negligente e uma relação complicada com a irmã, Astrid se divide entre seus dois mundos: o interno, no qual ela pode ser quem deseja, e o externo, no qual ela deve agir conforme o esperado. Para dar vazão às suas questões internas, a garota passa boa parte de suas tardes observando aviões, que estão livres daquela cidade, e envia todo o seu amor aos passageiros desconhecidos. Esses, também se encaixam na narrativa, de modo que passamos a conhecer, paralelamente à vida de Astrid, suas pequenas histórias.
Então envio meu amor. É fácil como sempre é, e é duro também porque eu realmente não sei a resposta para esse mistério. Amor é algo que sempre estará disponível? Será sempre confinado e indigno de confiança como parece hoje? Tem o suficiente por aí? Estou desperdiçando o meu com estranhos?
Assim, o livro se torna uma lição de empatia e luta para ser o que se é de verdade, mesmo em um local tão pequeno e conservador. A história escrita por A.S. King está longe de ser apenas um clichê adolescente, nos apresentando uma protagonista completamente envolvente e bem construída. É quase impossível não gostar de Astrid e não se perder em seu universo particular.
Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo
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Aristóteles e Dante encontram-se durante um verão quando Dante se oferece para ajudar Ari a aprender a nadar. Com a história narrada em primeira pessoa, sob a perspectiva de Ari, somos apresentados a amizade desses dois garotos, suas peculiaridades e suas diferenças. Dante é um menino bem resolvido, seguro de si e altamente expressivo, Ari é um garoto reservado, confuso e questionador. O livro nos mostra os conflitos da transição para a vida adulta de ambos os personagens de forma simples e inspiradora.
Ari, sendo um garoto melancólico e conflituoso, encontra em Dante, e no universo que o cerca, tudo aquilo que ele não é. Enquanto em sua casa prevalece um clima mais reservado, com seu pai solitário que carrega as memórias da Guerra do Vietnam e um irmão do qual ninguém na família quer falar sobre – nem mesmo sua amorosa mãe; na família de Dante, ele encontra pessoas expressivamente amorosas e abertas a falar sobre tudo.
Minha mãe e meu pai deram as mãos. Imaginei como era – como era segurar a mão de alguém. Aposto que às vezes é possível desvendar todos os mistérios do Universo na mão de uma pessoa.
A história consegue, de forma fluída, mostrar que as diferenças desses dois meninos, muitas vezes, os completa. Além disso, narra os conflitos internos de Ari, que luta contra o que ele é e contra o mundo ao redor, inclusive por querer saber respostas sobre o irmão desaparecido. Assim, de uma forma leve e sutil, o livro escrito por Benjamin Alire Sáenz nos convida a descobrir os “segredos do universo” com Ari e Dante enquanto crescem.
Quinze Dias
O livro, narrado em primeira pessoa, nos apresenta Felipe, um garoto doce que está prestes a entrar nas férias de julho e, com isso, pode, enfim, ficar longe dos garotos que zombam dele no colégio. Se seus planos incluíam ficar horas vendo filmes e afundado na internet, tudo vai por água abaixo quando sua mãe o informa que, por quinze dias, hospedarão o vizinho do 57, Caio.
Você entende o meu desespero? Gordo, gay e apaixonado por um garoto que nem responde o meu “bom dia” no elevador. Tudo por dar errado.
Com essa surpresa, Lipe se vê confrontado por suas inseguranças físicas, por ser um menino acima do peso, e internas, já que Caio foi sua primeira paixão quando criança. A história narra de forma delicada os conflitos desse menino e sua relação com esse vizinho que está em sua casa durante as férias, tratando de questões como o bullying, homossexualidade e gordofobia.
Lipe é um personagem real, com quem é muito fácil de se identificar. Nele, são refletidos os dramas de muitos adolescentes que lutam contra as suas inseguranças e as mudanças ocorridas no corpo e na mente durante o período da vida. A história não deixa a desejar, é doce e emocionante, garantindo bons sorrisos e lágrimas do leitor. Quinze Dias é um livro que toca e aquece o coração de quem lê.
Mas tudo o que aprendemos tem um propósito, e tudo o que fazemos afeta tudo e todos, ainda que de forma quase imperceptível.
Tudo Depende de Como Você Vê as Coisas, é uma história que pode ser lida por crianças, mas voltado principalmente para adultos. É na mesma pegada de O Pequeno Príncipe, embora, sejam bem diferentes.
O livro nos apresenta Milo, um garoto que não sabia o que fazer da sua vida. Tudo para ele, era muito chato, nada chamava sua atenção o bastante, pois achava ser perda de tempo. Certo dia, percebeu que em seu quarto surgiu uma cabine de pedágio, e a partir desse momento, Milo começou uma viagem bem fora do comum.
O garoto que tinha tempo de sobra conhecerá o cachorro Toque, e o inseto Mausquito, seus amigos nessa grande aventura. Eles passarão por cidades como: Dicionópolis, o reino das palavras, além de Digitópolis, o reino dos números, estas, governadas por dois irmãos rivais: Azaz e Matemágico.
Sempre em desacordo, os reis sempre brigam, pois nunca conseguem chegar a um consenso. O objetivo principal de Milo e seus amigos é resgatar as irmãs Razão Pura e Doce Rima para que juntas elas mantenham a paz entre os irmãos e seus reinos.
Mas para isso, Milo e seus amigos terão que enfrentar demônios, monstros e figuras bem estranhas como o Disacorde, B. Arulho, a Dúvida Atroz, a Desculpa Esfarrapada, Edmais, além de passarem pelo Vale do Som, Conclusões Apressadas e até mesmo pelas Expectativas. Tudo isso para conseguirem atravessar o Vale da Ignorância e chegarem ao Vale da Sabedoria.
Muitas coisas são possíveis desde que as pessoas não saibam que se trata de coisas impossíveis.
É uma história mágica, o autor, Norton Juster, faz trocadilhos de palavras com excelência! E com isso nos faz refletir sobre o valor do silêncio, sobre as expectativas que depositamos em algo ou alguém, da pressa do dia-a-dia, sobre pensar e ter ideias e não apenas reproduzir sem questionar.
A Vingança dos Sete, quinto volume da série OsLegados de Lorien, traz algumas revelações importantes para a série, como o aliado mogadoriano Adam, a redenção do Cinco, a dor de todos com a morte do Oito, a mudança de lado do FBI e, mais do qualquer outra coisa, a Ella. Sim, a número Dez tem seu destino revelado e seu papel que vai muito além de uma coadjuvante. Nada poderia me preparar para aquilo! Pois bem, vamos aos fatos…
Começamos este quinto volume com Ella na nave de guerra dos mogadorianos ainda tentando entender porque está ali e ainda viva. Ela parte do pressuposto de que é uma prisioneira e será estudada e interrogada como os outros, mas não é bem isso que acontece. Ao mesmo tempo, Seis, Marina e Nove estão perdidos no meio do pântano, após a traição de Cinco e morte de Oito, cujo corpo é levado pelos mogadorianos, e Marina quer, de qualquer jeito, recuperá-lo. E junto com tudo isso, Sarah se junta a Mark James na edição do site “Eles estão entre nós” a fim de alertar ao povo sobre o perigo de se aliarem aos mogadoriados, enquanto que John, Sam, Malcom e Adam ficam responsáveis de impedir que Setrákus Ra desça a Terra com a permissão dos governantes e comece sua invasão. Detalhe, junto com alguns desgarrados do FBI, entre eles, a agente Walker, que resolvem que o lado mogadoriano é errado e o lorieno é o certo.
Temos os capítulos narrados por várias versões, saltamos de um lado para o outro do planeta e nos vemos perdidos entre inimigos, aliados, ex-inimigos e ex-aliados. A história de Lorien se mostra muito mais complexa do que achávamos e nossos heróis se vêem, pela primeira vez, em dúvida de se conseguirão cumprir sua missão. A invasão se mostra cada vez mais iminente, Setrákus Ra, cada vez mais forte, e as revelações são cada vez mais intensas. Fui pega de surpresa junto com a Garde sobre todas as certezas que viraram dúvidas e todos os fatos novos que viraram certezas.
É um livro intenso e cheio de ação do início ao fim. Acho que, por estar chegando perto do fim, a ansiedade bate mais forte, então a leitura flui mais, mas também, os acontecimentos são concomitantes e não dá tempo nem para respirar entre um capítulo e outro. Quando comecei a ler essa série, eu achava que o sexto livro, O Destino da Número Dez, era o último, mas não é. Logo mais, trarei a resenha dele para vocês e estou ansiosíssima para ler o, agora sim, último volume, Unidos Somos Um. Eu preciso saber se há alguma revelação sobre o autor! Sim, ainda não superei o fato de não ter um autor físico e preciso ver o rosto dele!
Você não escreve sua vida com palavras. (…) Você escreve com ações. O que você pensa não é tão importante. Só é importante o que você faz.
Nesta obra, conhecemos um garoto de treze anos chamado Connor e que, apesar da pouca idade, já está passando por situações bem difíceis: a mãe luta contra um câncer em estágio avançado, o pai mora em outro país com outra família, a avó não é uma pessoa fácil de lidar e ele precisa morar com ela enquanto a mãe faz um tratamento e ainda sofre bullying na escola.
O protagonista tem um pesadelo todas as noites e acorda sempre no mesmo horário: 00:07h. Quando ele acorda, ele escuta um chamado vindo do lado de fora da sua casa e é nesse momento que ele se depara com um monstro que lhe diz que está ali para lhe contar três histórias que irão ajudá-lo a compreender tudo que se passa em seu íntimo. E o monstro ainda lhe dá um aviso: haverá uma quarta história que será contada pelo próprio Connor.
– Histórias são criaturas selvagens. – afirmou o monstro. – Quando você as solta, quem sabe o que podem causar?
A narrativa se faz simples e emocionante ao misturar fantasia e realidade. A relação do garoto com a mãe é tocante, despertando profundos sentimentos no leitor. A metáfora da obra se faz no monstro, que está ali sempre o garoto necessita seja para chorar ou quebrar coisas e colocar a raiva para fora.
Já na escola, Connor é ignorado por todos, exceto pelos alunos que praticam o bullying contra ele. Aqui, merece destaque o garoto Harry, que é o que mais irá despertar a ira de Connor e, consequentemente, uma reação incrível e, vale ressaltar que o monstro estará presente.
Em casa, Connor não tem a presença do pai, o que já nos leva a refletir acerca da importância da mãe na vida do garoto, porque é tudo o que ele tem. A avó é uma mulher ressentida e com quem Connor sempre bate de frente, o que torna a convivência muito difícil.
A trama se faz bem intensa e rápida. O monstro e suas histórias ajudam o garoto a se libertar e se ajudar. O final da obra é emocionante, sendo impossível não levar o leitor a refletir acerca de cada palavra lida.
A obra foi adaptada para as telas do cinema, estreou no Brasil no dia 05 de janeiro desse ano e está disponível na Netflix. Connor é interpretado pelo jovem ator Lewis MacDougall, que interpretou com maestria cada cena. De início, pode-se pensar que trata-se de um filme/livro de fantasia, mas percebe-se que, na verdade se trata do mundo que cada um de nós carrega dentro de si. É simplesmente sensacional, e já tem crítica no Beco, que você pode conferir clicando aqui.
Continuando minha saga pelos Legados de Lorien, chego no quarto volume: A Queda dos Cinco. As fugas não param, o que muda é que, agora, todos estão juntos. Uma luta mal sucedida com Setrákus Rá mostra que ainda não estão prontos para a batalha final, mas, pelo menos, conseguem salvar Sarah das mãos dos Mogadorianos, dar o troco nos agentes do governo e fugir, agora, com o plano de achar Cinco. Sam também volta com uma surpresinha e todos treinam felizes na cobertura super luxuosa de Nove, em Chicago. Só que não!
Este é o livro em que a história começa a ganhar forma e mostra que o clímax está próximo. Já era esperado já que é onde está a metade da história. Emocionante e mais denso do que os outros, A Queda dos Cinco é o primeiro livro da franquia com todos os personagens e nos traz mais detalhes sobre os lorienos e os mogadorianos. Não é uma história com vilões bobos e superficiais que só querem espalhar destruição, isso é bom. No fim, independente do planeta em que nascemos, somos todos iguais, com medos, anseios e sonhos.
Não vou contar muito, mas esse volume foi o que teve mais revelações, então, se você está lendo, continue! Se não, comece só para chegar nesse livro, eu fiquei com o coração na mão! Uma frase define esse livro: nem tudo é o que parece ser. Fiquem de olho nos Lorienos, nos humanos e até nos mogadorianos! Pois é, talvez eles sejam um povo como qualquer outro e alguém comece a pensar… Talvez algum lorieno tenha uma ascendência, no mínimo, interessante… Bom, já falei demais! Só mais uma coisa: eu chorei no final, tinha que falar. Por Lorien!
Você tem condições de cumprir bem sua missão na terra. Estude, aprenda, experimente, descubra, observe, trabalhe, escreva, fale, transmita aos outros suas experiências.
O Fio do Destino, escrito pela italiana Zibia Gasparetto, foi um dos livros que bati os olhos e senti muita vontade de ler. Realmente eu acertei em cheio!
Foi o primeiro livro que li neste seguimento e me apaixonei inteiramente pela história que me ensinou e me fez compreender alguns aspectos da vida material e imaterial.
Jacques Latour viveu no início do século XIX na França, é jovem e de boa aparência, e família de bom nome. Em uma das peças de teatro a que assistia, o jovem é surpreendido por uma bela mulher em seu camarote, e por muito tempo não descobriu quem ela era.
A partir da morte de repente de seu pai, Jacques se viu em meio as muitas dívidas e a qualquer custo precisa quitá-las.
A única alternativa para que o nome da família fosse preservado e não ir parar na lama é arranjando um casamento sem amor a sua irmã Lenice no qual o espírito é nobre, bondoso e grato. Ela contrariada, aceitou casar-se com Jean Lasseur, pois sabia da real situação da família. No entanto, Jacques desde os tempos da escola não sentia confortável na presença do marido de sua irmã..
O tempo passou depressa e muito aconteceu a Jacques, ensinando-o que bens materiais não são importantes, e que no final da vida nada se leva. A história nos mostra que nossa felicidade não pode ser construída às custas de alguém e o que fazemos hoje, pagamos amanhã.
Nos ensina que, embora, duas pessoas se amem profundamente, não significa que podem permanecer juntas de imediato. E que saber esperar e ter paciência são virtudes preciosas e que devemos saber apreciar. Uma história que envolve esperança, orgulho, destino, acaso, reencarnação e vida eterna.
Aceitar a mudança é harmonizar-se com ela e encontrar a felicidade e a paz.
Imagine se encontrar, de uma hora para a outra, em um mundo totalmente desconhecido onde você não conhece ninguém e ninguém demonstra saber quem você é. É o que acontece com uma menina nascida na África e levada para o Brasil para ser escrava, e que de repente acorda em um lugar estranho, habitado pelos deuses orixás e pelos espíritos dos mortos que aguardam o momento de seu renascimento. Ela não sabe mais o próprio nome nem lembra de sua família – está sozinha e não tem a quem pedir socorro. Por isso, aliás, ganha o nome Aimó, “a menina que ninguém sabe quem é”. Tudo o que ela quer é retornar ao seu mundo de origem, mas para tornar isso possível, Aimó vai partir em uma longa jornada através dos tempos mitológicos, guiada por Exu e Ifá, e vai acompanhar de perto muitas aventuras vividas pelos orixás. Só assim poderá reunir o conhecimento necessário para fazer uma escolha que lhe permita, enfim, voltar para casa.
A leitura de “Aimó” chegou para mim em um momento bastante interessante, pois estava sedento para me encantar com um uma obra nacional e conhecer um escritor refinado com uma bagagem de conhecimentos a ser compartilhada. Foi nessa obra que conheci a escrita do autor e sociólogo Reginaldo Prandi que encanta com sua biografia repleta de obras que envolvem as religiões afro-brasileiras, assunto tão importante a ser difundido no Brasil para crianças e adultos.
Nesse livro somos apresentados a Aimó, uma garota africana que foi escrava no Brasil e faleceu antes de virar adulta. Após sua morte, ela acorda em um mundo diferente, habitado pelos deuses orixás e pelos espíritos dos mortos que aguardam o seu renascimento, além disso, a menina não é capaz de lembrar de sua história, tampouco de seu nome e família. Ninguém a conhece, ninguém sabe de onde ela veio, por isso, ganhou o nome de “Aimó”, que significa “a menina que ninguém sabe quem é”.
O maior desejo de Aimó é retornar para o seu lugar de origem, porém para realizar essa difícil missão precisará partir em uma aventura pela mitologia, guiada pelos orixás Exu e Ifá que vão transmitir o conhecimento necessário para que a menina descubra as tradições do candomblé e finalmente escolha uma mãe de cabeça para si, para poder renascer.
Com isso, mergulhamos na história e conhecemos tradições de diversos povos antigos, descobrimos as antigas religiões africanas que originaram o candomblé e acompanhamos o crescimento da relação de Aimó com os orixás que ficam fascinados com o quanto ela é inteligente e interessada nas histórias que estão transmitindo.
Capa do livro “Aimó” lançado pela Editora Companhia das Letras, no selo “SEGUINTE”.
A leitura é repleta de informações e tem a capacidade de nos levar para lugares únicos, além de que, é tão explicativa que não há a necessidade de ter conhecimentos prévios sobre os temas abordados para compreender a história, tudo acaba se tornando tão fascinante e agregador que nos move para terminar o livro e ter a sensação que devemos ainda fazer uma pesquisa sobre os assuntos da obra.
Prandi nos traz uma leitura que surpreende e que provavelmente é diferente do que você está acostumado a ler. É uma obra com um formato incrível e possibilita ao seu leitor conhecer mais da complexa cultura africana e consequentemente de te ligar mais ao Brasil. Durante a leitura, me recordei do livro de Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, que também traz uma narrativa interessante com doses de aprendizado, que pode ser uma outra dica de leitura para você depois que terminar de ler Aimó.
Flores não crescem do nada – ou crescem? Para Eleanor, era o mistério que não conseguia responder: qual era o truque daquele jardineiro contratado para cuidar da estufa em sua casa e que transformara o lugar em uma floresta imaginária. Sebastian, o tal estranho, parece um homem como qualquer outro – exceto pelas perguntas desconcertantes que faz, ou pelo fato de que as plantas obedecem seus comandos de maneira muito intrigante…
Já pela sinopse a noveleta A Casa de Vidro da autora Anna Fagundes Martinoconsegue ser enigmática, interessante e diferente dos livros de fantasia atuais.
Imagem: Dame Blanche, Marina Avila
Lançado ano passado pela editora Dame Blanche, e disponível para download gratuito, a noveleta deixa bem claro o objetivo da editora, que é lançar publicações do gênero especulativo, mas de uma maneira inovadora e que não fique presa as velhas formas e clichês; o que foi um alívio para mim, uma leitora ávida de fantasia, mas que estava um pouco decepcionada com o gênero, que vem se apoiando em narrativas pouco originais e muito parecidas umas com as outras. A edição é caprichada e a maravilhosa capa de Marina Avila já dá o tom mágico dessa história encantadora, mas ainda assim agridoce (sim, preparem-se para chorar e se emocionar)!
Imagem: Dame Blanche
ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS ABAIXO
Imagem: Dame Blanche
A Casa de Vidropossui uma narrativa poética e muitas vezes onírica, uma escolha mais que inteligente para abordar uma mitologia que lida exatamente com um mundo fantástico que vive entre a realidade e o sonho: o Povo das Fadas e seus seres feéricos. O enredo segue a protagonista Eleanor, uma senhora inglesa que em 1910 recebe uma inesperada visita em sua outrora belíssima casa de vidro: uma jovem chamada Stella, com a estranha habilidade de fazer as flores obedecerem aos seus comandos; a mesma habilidade que o seu amor do passado tinha.
É quando a narrativa volta para o ano de 1868, e na era vitoriana conhecemos a jovem Eleanor que vive em uma belíssima casa de vidro, com uma estufa e jardim maravilhosos, construída apenas para saciar os caprichos de seu pai, Aurelius (a casa é inspirada no Palácio de Cristal de Hyde Park). Eleanor vive como uma princesa aprisionada em um castelo e que perdeu a mãe muito jovem. O falecimento de sua mãe pôs a casa em luto e ela mesma; e, seguindo as convenções da época estava obrigada a usar roupas escuras, um véu negro e ficar dentro de casa. Essa última, Eleanor não obedecia, e preferia sofrer o seu luto no jardim e na estufa que lembravam a sua mãe. Ainda mais que desde que o misterioso novo jardineiro apareceu o jardim voltou a florescer, sendo o contraste belo com a frieza da casa de vidro, trazendo ainda mais lembranças de sua mãe; além de ser um bom refúgio das sufocantes obrigações sociais que uma dama vitoriana tinha que exercer.
“E Eleanor descobriu, para sua raiva, que também era vista da mesma forma. Uma menina tola em seu castelo de vidro, vivendo de tempo emprestado até que um homem, de algum lugar, de algum círculo acima de suas cabeças, viesse e lhe colocasse nos eixos. Alguém que ela não conhecia, contra quem não poderia argumentar, que um dia teria autoridade sobre ela — e que ela teria que carregar como sua mãe carregara Aurelius: em silêncio, o vaso decorado que sustenta a planta.”
O misterioso jardineiro se chamava Sebastian, um homem sem origem conhecida e que parecia não conhecer ou se importar em seguir os costumes e as regras sociais vitorianas, possuindo uma língua ferina que fazia perguntas incisivas e consideradas inapropriadas. Os empregados da casa fofocavam ao redor sobre quem era Sebastian: seria ele do Oriente? Ou era um cigano, ou será que ele era um demônio?! Porém, todos concordavam que desde que ele chegou, a estufa e o jardim voltou a florescer com belíssimas flores. Mas é aí que estava: como floresceu tão rápido? E como a cada dia parecia que mais e mais flores surgiam e com mais cores que antes? Esse era um mistério que intrigava ainda mais Eleanor, que começou a se aproximar de Sebastian para descobrir quem ou o que ele era.
“— Regras demais. Esse mundo de vocês tem regras demais. Como vocês dão conta de lembrar de tudo?”
É assim que Eleanor adentra no mundo mágico e belo dos seres feéricos, e conhece o seu primeiro amor. O enredo vai e volta cronologicamente, indo do passado para o presente e para o futuro; com a jovem e insegura Eleanor em 1868 se apaixonando por Sebastian e conhecendo o mundo onírico e fantasioso das fadas, e em 1910 com a Eleanor adulta e sábia, revendo sua filha Stella e relembrando sobre o seu passado com Sebastian e que era quase como um sonho (o que muitas vezes era mesmo). E uma passagem em 1919, que não darei mais detalhes, pois seria um enorme spoiler!
Anna Fagundes Martino escolheu utilizar a terceira pessoa no passado, para dar um caráter mais de contos de fadas em sua narrativa, e focado em sua personagem principal Eleanor. Então vamos descobrindo aos poucos o que Sebastian é e a mitologia das fadas junto com ela. Como eu disse, a escrita da Anna é poética dando um ar lúdico e onírico, o que faz com que o leitor muitas vezes não saiba o que é real e o que é sonho, assim como a própria Eleanor.
“Em seus sonhos, o dossel de sua cama era uma floresta, glicínias e orquídeas pendendo do teto em cortinas coloridas; os lençóis eram feitos de grama alta e azevinhos pontiagudos, lhe arranhando a pele a ponto de tirar sangue. E em seus delírios, podia jurar que as manchas cor de safira lhe subiam pelas pernas, queimando, arrancando gritos de dor e rugidos dos pulmões carcomidos pelo inferno em seu sangue.”
A história de amor entre Eleanor e Sebastian é linda, doce e principalmente natural, sem as afetações ou clichês dos amores eternos, até porque aqui não está sendo contada a história de um amor eterno e sim de um primeiro amor. E esse é um dos principais pontos de A Casa de Vidro: é uma história de crescimento e de amadurecimento de uma jovem de dezessete anos da era vitoriana, despertando e questionando sua sexualidade e principalmente questionando o seu papel como mulher em uma sociedade patriarcal. O feminismo na narrativa de A Casa de Vidro é um dos pontos altos, e Anna Fagundes Martino soube utilizá-lo exatamente por não ser um discurso panfletário, usando temas feministas de acordo com a trama, e como uma forma de desenvolver a personagem Eleanor. Ela de uma jovem ingênua, insegura e assustada, se torna uma mulher sábia, segura de si e empoderada;, esse empoderamento, lógico, de acordo com o contexto da época.
“— Você disse que viu como humanos fazem filhos. Você viu o que acontece com as mulheres depois que as crianças nascem? Viu como as pessoas as tratam? Viu a humilhação que me espera?! Para o inferno com o seu imperativo!”
“— Gosto muito da minha própria companhia, Mark. Não preciso de plateia.”
Assim como toda trama, o sexo é narrado de forma doce, delicada e poética, mas surpreendentemente natural, e definitivamente é uma das passagens mais lindas da noveleta. No entanto, o que mais me encantou é a forma como a autora abordou a mitologia das fadas: como seres curiosos que transitam entre o seu mundo e o nosso com o intuito de conhecer e se relacionar com os humanos. Não são os seres maléficos das lendas mais antigas, nem as fadinhas cheias de bondade e mágica; são seres com uma profunda curiosidade pelo que é diferente e possuem uma forte ligação com a natureza, e por isso temem o futuro da humanidade. Esse temor vem do fato de que eles sabem que grandes guerras virão: A Primeira Guerra Mundial é sabiamente mencionada, dando um caráter de romance histórico para a noveleta de fantasia. A Guerra que em tese, daria um fim a todas as guerras, mudou complemente a humanidade e sua relação com o que era mágico. Veio o pessimismo moderno e mais uma Grande Guerra Mundial, e a relação da humanidade com a magia e as crenças pagãs foi cada vez mais afastada.
“Você vem me ver quando está dormindo. Todas as noites, você atravessa os sonhos e me encontra aqui. Sua voz não demonstra nenhum nojo, nenhum medo. E seus olhos me encaram como se… Me encaram como se me vissem, como se soubessem o tempo todo que eu sou eu!”
“Do alto de seus dezessete anos, Eleanor tivera medo do futuro que lhe fora apresentado de maneira tão explícita. E medo de desejá-lo na mesma medida de seu pânico, de querer saber como era permanecer dentro daquele abraço, de como seria deixar que aquele calor lhe consumisse até não restar nem mesmo cinzas.”
“— Falo porque humanos são cheios de promessas e declarações, e raramente as cumprem. Amor não é algo que exista por decreto. Nem mesmo entre gente da mesma matriz.”
A Casa de Vidro é um livro poético, agridoce, que conta a história de amadurecimento e a descoberta do primeiro amor em meio a fadas, sonhos e futuros terríveis ,mas que trarão a força necessária para os personagens e mudarão sua forma de enxergar o mundo. Anna Fagundes Martino é uma escritora primorosa que com certeza vou acompanhar, inclusive já estou com a continuação, Um Berço de Heras no kindle, e que também terá resenha aqui no Beco. E a Editora Dame Blanche com certeza é uma editora que devemos ficar de olho em seus lançamentos e suas grandes revelações da literatura fantástica brasileira.
“Tinham sido as plantas que o fizeram reviver depois do inferno. Uma coisa era imaginar, outra era ver: uma coisa era imaginar uma guerra ou uma fada, outra era saber que existiam. As duas revelações lhe foram brutais, mas ao atravessar a brutalidade ele encontrou algum tipo de existência.”
“— Pensam muito em como são fortes e esquecem que são feitos de vidro!
— Oh, Stella… Mas vidro pode ser bem forte!”
Digamos que, de certa forma, tenha sido um pouco culpa sua. Você tentaria consertar ou só deixaria para lá e diria que não era para ser?– Antes de mais nada, não existe “não era para ser”. Existe “faça acontecer”. Isso ajuda?Regina assentiu. Talvez estivesse ficando louca, mas o que Carly falava estava começando a fazer sentido.
A jovem recém formada Regina Finch se muda para Manhattan para começar a trabalhar na Biblioteca Pública de Nova York, seu emprego dos sonhos.
Dividindo um pequeno apartamento, Regina conhece Carly Ronak, uma estudante moderninha que se interessa apenas por moda e homens, enquanto, Regina é reservada e inexperiente.
Já na biblioteca, Regina precisa manter a calma em alguns momentos para lidar com a sua nova chefe Sloan Caldwell, uma mulher loura e alta muito bonita, mas com um temperamento bastante difícil na maioria das vezes.
Na nova cidade, a jovem não imaginava que sua vida mudaria. Certo dia, em uma das salas reservadas da biblioteca, a moça acaba se deparando acidentalmente com Sebastian Barnes em uma cena bem picante.
Sebastian, sócio da biblioteca é um homem rico, ambicioso, misterioso e com traumas do passado, se interessa por Regina, ela, que resiste, mas se entrega aos jogos de sedução feitos por ele, sente-se insegura e com medo.
Regina se torna e nova obsessão de Sebastian, e além de envolvê-la em jogos, sente o desejo de fotografá-la inspirando-se na pin-up mais famosa de todos os tempos, Bettie Page.
Regina, acho você incrivelmente bonita. E adoro o fato de você não perceber isso. Tenho esse desejo intenso de lhe mostrar como é linda e quero que você experimente essa beleza comigo.
A Bibliotecária é um livro que prende. Regina deixa-se envolver pelo prazer, mas precisa lutar com seus desejos e sentimentos. Será que ela é capaz?
O livro divide opiniões: a oportunidade das mulheres de se deixarem envolver pelo prazer completamente, permitindo conhecer suas próprias vontades e seu corpo. Ou aquela típica leitura onde o homem rico submete mulheres ingênuas a realizarem seus caprichos.
“Eu amei e coloquei no papel cada lágrima e sorriso, tendo sido de tudo o que vivi, este o maior desafio. Escrever para vocês essa história para celebrar o amor, foi em parte reviver cada saudade, porque quem ama para uma vida, sofre na mesma intensidade. Portanto, dê atenção as pausas entre as palavras. Nesse branco da folha, que existe em tanta abundância quanto os pretos das letras, está cada segundo que permiti que essa mulher ficasse longe de mim. Leia os espaços, sim: são necessários para se compreender que cada momento feliz contém , em si, a tristeza pela sua irrecuperabilidade e singularidade – tornando a vida nem justa e nem certa, mas equilibrada. Leia as palavras com um sorriso, mesmo que sem querer você se reconheça nas pausas e se emocione, só porque estou pedindo. Porque a condescendência de um sorriso em uma emoção intensa é o bálsamo que contamos nos momentos mais íntimos nos quais parece que nossa alma fica boiando nos olhos… E não é por isso que os amantes choram nas despedidas?” Nota do Paulo
Não poderia iniciar a resenha de Plataforma 11, sem antes sobrelevar este trecho da nota do Paulo ao final do livro. Creio que após esta leitura inicial, o seu instinto literário foi aguçado e o seguinte questionamento pairou sobre a sua mente – se ‘isso’ é a nota, imagine o que está descrito no decorrer dos capítulos?” Sim, elementar meu caro Watson!
O escrito “Plataforma 11: Uma história de amor” é um romance autobiográfico escrito por Paulo Muzy e Roberta Carbonary e, ambos profissionais da área da saúde, constroem sua imagem como figuras públicas não só como influencers em atividades físicas, boa alimentação e um estilo de vida fitness, mas como um casal apaixonado que descobriram e redescobriram o valor de seus sentimentos.
Muzy e Carbonary expressaram um pouco de sua história de amor, e como eles mesmo descreveram, teremos uma continuação dessa linda história editado em papel.
Ao todo são vinte e cinco capítulos intercalados pelo casal, uma curiosidade: Paulo Muzy inicia e conclui o livro escrevendo o primeiro e último capítulo, ou seja, temos o depoimento de um homem apaixonado que inicia seu conto de amor em um jardim praiano e termina encontrando uma ficha médica bastante singular depois de nove anos de silencio entre os dois, ironias do destino.
Em alguns capítulos, como foi discutido, tem-se a voz de Roberta nos guiando em uma série de acontecimentos e rapidamente em outro capítulo, Paulo pega nossa mão e decide nos acompanhar reproduzindo afinco cada momento. Durante a leitura, corremos ao lado de Roberta pelas máquinas e sentimos o incomodo da areia em nossos dedos com Paulo, ambos possuem um certo tom de detalhismo, portanto, a leitura do romance se torna bem adocicada e ilustrativa.
“Pensei em lhe enviar o livro que começamos a escrever, ainda inacabado… Como uma forma de dizer que queria que ele o terminasse, e que queria um final feliz… Claro que me envergonhei disso também. Só salvei o arquivo, pois o teclado seria meu ombro amigo.” (capítulo 23, página 115)
Sim, estou considerando essa produção como um exemplar híbrido, adocicado como um romance de banca de revista; inquieto com o fomento da “quase” incompletude do amor, característica típica do romance medieval e de cavalaria, príncipe e princesa em constante encontros e desencontros, mas como a Roberta Carbonary nos ensina: “o que tem de ser, tem muita força…”
Certa vez, li um ensinamento chinês que diz assim: ás vezes, encontramos nosso destino no caminho que tomamos para evitá-lo, a última carta, a última crise, a última conversa pelo telefone só foram algumas peças de um quebra cabeças que demoraram alguns anos para saber onde são os seus lugares certos, e quando descobriram, tudo foi reconhecido como um sorriso escanteado. Todos temos nossas histórias e nossos conflitos, e somos guerreiros de nossas próprias batalhas, o amor só é encontrado por guerreiros que decidem combater as próprias guerras e vencê-las, pois, quando o assunto é Amor, ele se manifesta com toda força.