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esqueci como respira
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Esqueci como respira

uma semana que eu esqueci como respira.

o processo de luto é muito peculiar. me pego várias vezes fazendo planos sem lembrar que minha vó se foi. em outros momentos, escuto a ligação da minha mãe me dando a notícia e o ar sumindo. de vez em quando parece que não tem mais ar pra respirar. e depois passa.

biel, a vokinha morreu. infartou.

depois vem a saudade boa. as lembranças boas. e então, parece que o ar vai faltar novamente. o ar parece que não preenche os pulmões. e eu volto pro início desse ciclo. eu sempre soube. mas jamais estaria preparado.

Leia ouvindo: Oceano, Mc Tha

tem horas que a saudade aperta tanto que não dá pra respirar. é engraçado porque moro longe da minha vó há alguns anos. mas, agora saber que nunca mais vamos nos ver nessa vida é sufocante, torturante.

em horas que estou distraído e penso: meu deus, preciso comprar uma caixa de skol beats para o natal. aí lembro que não preciso de uma caixa esse ano. minha vó não vai estar lá pra beber igual água comigo e sozinho não bebo tanto.

essa lembrança que assombra da ligação da minha mãe me dando a notícia é a pior. é ainda pior que entrar naquela sala minúscula do iml pra reconhecer o corpo. é ainda pior que ver que sim, era minha vó ali. ainda quente com as bochechas coradas.

biel, a vokinha morreu. infartou.

só não é pior que perceber a impotência e a impermanência da vida. ali, não tinha nada que pudesse ser feito. nenhum dinheiro no mundo, nenhum querer no universo, nenhuma simpatia, magia, misticismo ou medicina poderiam reverter.

a hora tinha chego. o meu ar tinha ido. e o apesar de pesava. pesava muito. o ar pesava muito. parecia chumbo nos pulmões. e o sangue ainda corria. não podia ser um engano? médicos também se enganam. ninguém morre assim, né? do nada. sem reanimar. sem nada.

como que pode isso? como que pode não ter nada na medicina que possa ser feito? tanta tecnologia, tantos anos de estudo e nada pode ser feito? eu tenho que aceitar? como se aceita o inaceitável? como se aceita o peso da ausência física eterna?

como se aceita o entender que minha vó nunca mais veria eu me formar. eu ter um filho. eu envelhecer. como se aceita o conformar de que eu nunca mais vou comer aquele frango frito que só ela fazia? como substituo os verbos no presente pelos verbos no passado?

como deixar algo no passado que eu quero que faça parte do meu presente e do meu futuro? como? como existir em um mundo onde não se existe mais? onde nunca mais poderemos rir, fazer planos e até se desentender, brigar?

como existir sem a existência física? como respirar esse ar pesado, irrespirável, sufocante? eu não sei.

esqueci como respira.

por enquanto, vou tentar me lembrar como se respira.

A história de como eu terminei com você e como você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve
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A história de como eu terminei com você e como você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve

Eu nunca contei a história de quando eu terminei com você. De quando eu senti, dentro de mim que tudo tinha chegado ao fim. Quando eu decidi botar um ponto final. Quando eu senti que, se transformasse o ponto final em ponto e vírgula, eu me sentiria aprisionado, murcho, triste.

Leia ouvindo: Babe, Taylor Swift (Taylor’s Version)

Era um dia ensolarado de julho, um feriado. Minha mãe me convidou para ir para a praia, onde nasci e cresci. Eu te convidei para ir junto, mesmo a gente não se falando tanto. Estávamos em um ciclo vicioso de brigas, silêncios, vácuos, espaçamentos. Mas, chamei. Minha mãe tinha te chamado também e ela nunca tinha feito isso. Você ficou feliz e eu também fiquei. 

+ Será que algo disso foi real?

Fomos todos de carro até a praia mais importante da minha infância. Eu, você, minha mãe. Sentamos ali na areia na cadeira de praia e conversávamos sobre a vida enquanto minha mãe comentava sobre o divórcio dela. Eu estava de coturno na praia. Eu odiava como a areia entrava no vão dos meus dedos do pé. Você, dizia que isso era ridículo. Minha mãe concordava, rindo. Eu não estava nem aí. 

Saímos para comprar protetor solar, para comprar sorvete, para tirar fotos… Voltamos. Ainda havia hostilidade nos nossos diálogos. Como um quebra-cabeças que luta para dar certo na peça errada. Parecia que estávamos forçando a barra. 

Sentei ali, quieto e abri meu Instagram. Vi que um amigo meu estava vindo para a praia com o namorado dele. Não era a mesma praia que a nossa, mas eles pareciam felizes com o sol e com o vento na cara enquanto passavam pela serra quente. Eu queria sentir aquela felicidade ali com você mas não tinha como forçar. Abri outro vídeo, e outro amigo estava também com seu namorado na praia. Amigo esse que já fora meu ficante um dia e que terminei tudo para ficar com você. Poderia ser eu ali com ele. Poderia ser eu sentindo aquela felicidade que o namorado dele agora sente no banco do passageiro. 

Mas estou com você nessa luta de tentar encaixar peças que não servem juntas. E não estou com aquele sorriso no rosto. Droga, será que escolhi a pessoa errada?

Já é fim de tarde e o sol começa a abaixar quando resolvemos ir embora da praia. Vamos dar uma volta no centro da cidade e voltar para a vida normal. Lá, você tenta agradar minha mãe, mas fala mal de mim com ela. Você não entende que ela pode falar mal de mim mas você não pode concordar? Você não entende que ela quer te ver ao meu favor e não contra mim? Não é assim que você vai ganhar.

Você parece arrogante. Superior. Minha mãe tem umas falas doidas, a gente sabe, mas não é pra você falar com ela assim. Eu sinto que tem algo apagado dentro de mim quando diz respeito a você, mas ainda não tenho coragem de jogar fora. Não sei como jogar fora.

Entramos no carro para pegar a estrada de volta e eu vou olhar para a janela, como sempre faço em viagens longas. Quando passamos naquela avenida da praia que tanto amo, vejo meu amigo saindo do shopping com o namorado. Os braços dele estão passados por cima do ombro do garoto e eles parecem rir, gargalhar como se o mundo fosse apenas um plano de fundo para um roteiro incrível que acontece ali, entre os dois. Poderia ser eu com as mãos dele em cima dos meus ombros. Poderia ser eu, ali, naquela trama, rindo como se não houvesse ninguém em volta.

Paramos no sinal e observo aquela cena. Olho para o terraço do shopping que dá para a praia e vejo os outros dois, que mais cedo vi no Instagram. Como que pode? Eles sequer se conhecem e estão no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Um deles estica o braço para tirar uma selfie dos dois com a praia de fundo. Ali, não poderia ser eu. Éramos apenas amigos. Mas não consigo deixar de imaginar que poderíamos ser nós. 

Eu não sei em que ponto o quebra-cabeças se tornou impossível de ser montado, mas ali, vendo aquela selfie, aqueles braços sobre o ombro, as gargalhadas, eu tive certeza que poderia ser eu, mas nunca poderíamos ser nós porque eu não queria mais montar esse jogo com você. 

Seguimos viagem e o sol estava se pondo quando estávamos passando pela serra. Nesse dia ele demorou. Teve um eclipse no meio do caminho que fotografei tão ávido. Lembra de quando você me deixou sozinho no eclipse pra conversar com outro menino? Não, mas eu lembro. O sol se abaixava na linha do horizonte enquanto eu pensava repetidamente:

Poderia ser eu sorrindo naquele carro. Poderia ser eu com os braços no ombro. Poderia ser eu naquela selfie no terraço. Poderia ser eu, feliz na cidade que amo. Poderia ser eu sem coturno na praia não me importando com a areia no vão dos meus dedos. Poderia ser eu com alguém que minha mãe gostasse genuinamente. Poderia ser eu com alguém que eu não precise lutar, que eu não precise me afirmar todas as horas. Eu poderia ser eu se não fosse por você. 

Não me entenda mal. Eu gostava de verdade de você, apesar de achar que a recíproca nunca foi verdadeira. Era eu. Poderia ser eu em todos os cenários, mas em nenhum deles poderia ser você.

E quando o sol se pôs e o dia se fez noite, eu tive certeza de que não havia mais nenhum motivo pelo qual eu devia estar com você. Quando o sol se pôs, você perdeu a minha versão que ninguém nunca teve. E que bom que ninguém nunca teve porque em todos os cenários que imaginei, nunca poderia ser você.

Nunca poderia ser você porque eu não me orgulho da versão que eu era de mim mesmo quando estava com você. Eu não era eu. 

Eu só pude ser eu quando não pôde mais ser você. 

Sozinho de novo
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Sozinho de novo

A gente precisa cuidar das coisas para que elas possam durar. Ainda mais quando algo não é só nosso. A gente precisa, assim como o outro, cuidar. Cuidar sozinho não adianta. E é nessa posição que me sinto nessa relação de novo: sozinho. 

+ Aconteceu de novo

Você não percebe que a história cíclica se repete? Exceto pela parte de que agora não há mais cacos meus. Estou decepcionado, sim, mas não quebrado. De que adianta gritar ao mundo sobre seu orgulho se você não está ali? Se estou sozinho de novo? 

Leia ouvindo: Acontece, Jão

Você gastou a mesma desculpa, inventou a mesma história. Você ligou de novo no meio da noite e de novo eu atendi e de novo você me quebrou como se quebra uma promessa. De novo. De novo. De novo, de novo, de novo, de novo, de novo…

De novo, não tem nada. Só as velhas narrativas e as velhas artimanhas que você usa pra disparar esses gatilhos que, bom pra mim, ruim pra você, eu aprendi a desarmar. Eles não existem mais. Aquele eu não existe mais, eu sinto muito. Talvez você queira dar flores pra ele, agora que é tarde. Agora que ele se foi. 

Deixa na sepultura. 

De novo. Deixa secar ali. Ele se sentiria feliz por elas. 

Porque pra mim, infelizmente, elas não valem de mais nada e podem secar sozinhas nessa lápide que traz a mentira que tentamos tão desesperadamente fingir ser verdade. A mentira de que dentro dela eu nunca estaria sozinho. 

Mas eu estava, de novo. 

Obrigado por tudo, mas dessa vez eu não vou aceitar de novo. De novo… Novo em quê? Nada disso é novo e nunca foi novo. Nunca vai ser novo. De novo aqui só o fantasma das minhas expectativas frustradas mais uma vez porque sequer minhas lágrimas são novas. 

Então, obrigado por tudo, obrigado por nada. De novo. De nada. 

Será que algo disso foi real?
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Será que algo disso foi real?

Frequentemente eu me questiono se alguma coisa entre nós dois foi real em algum dia, em alguma hora ou em algum milésimo de segundo que seja. Parece que escrevo um romance do tipo “será que você algum dia me amou de verdade?” mas a realidade é que questiono tudo: a parte boa e as partes ruins. Sério? Eu não consigo acreditar que isso pode ter sido real agora, com 25. Mas, quando vejo meus olhos com 17, vejo tanto brilho. Eu acreditava naquela época. Como você teve coragem? Como as coisas mudaram tanto? Como a gente mudou tanto?

Leia ouvindo: All too well (10 minute version, Taylor’s Version), Taylor Swift

Eu chamava isso de amor, mas você nunca deu nome aos bois. Cara, como eu era ingênuo. Que ódio. Como eu te aguentava? Como eu suportava cada vez que você ignorava minhas playlists mas ouvia a do menino ao lado? Como eu conseguia relevar todas as vezes que você soltava minha mão para segurar a dele? É, eu era um babaca abusivo ciumento. Você me guardava como se eu fosse um segredo, o maior segredo da sua vida, enquanto eu… ah, eu te guardava como se fosse uma pérola. E seu egozinho inflado amava, né? Saco.

+ São quatro da manhã no meio da noite

Eu sinto raiva agora enquanto questiono se alguma coisa entre nós foi real, mas eu sei perdoar e entender a pessoa que fui. Mas você sempre foi casualmente cruel em nome da honestidade. A verdade é que sua honestidade era a crueldade. E eu? Eu era seu segredinho perverso que só servia como a porra de um pedaço de carne que você até gosta do sabor, mas que não vale a pena oferecer para a visita. Para as visitas, a gente compra algo melhor. Para a família então… Melhor comer fora, né?

Eu lembro de tudo, mas questiono minha memória. Será que isso foi real? Será que todas as vezes que você olhou nos meus olhos e disse que eu era a melhor coisa que tinha acontecido na sua vida algo passava perto da verdade? Será que todas as vezes que você olhou ao seu redor e viu que eu não estava ali, você sentiu minha falta? Ou será que você só sentiu falta da constante aprovação que eu te dava? Porque convenhamos, a gente sabe que eu não tinha a autoestima das melhores, nem você, mas eu te dava o que restava da minha. E você sugava até o último talo. Até a última mísera gota da minha alma.

É, eu sou legalmente obrigado a fazer terapia porque sou terapeuta mas, quando me perguntam o que me levou pra lá, eu poderia dizer que é você. Isso até inflaria seu ego. Mas a real é que o que me levou até aquela porta branca do consultório seis foram os machucados que você deixou para trás quando você explodia. Você foi uma bomba atômica e eu o território que te recebeu.

E ainda questiono? Será que tudo isso foi real? Será que você foi tão ruim assim? Será que não é minha mente abusando? Será? A gente sempre tende a diminuir nossas experiências depois que elas passam, né? Será que você me deixou mesmo com vontade de chorar no momento mais importante da minha vida? Não, acho que eu era muito emotivo e imaturo emocionalmente. Será que você se sentiu mal por mim quando eu fui promovido para o cargo que eu mais queria no mundo mesmo? Não, era só um dia ruim, né?

Será que todas as vezes que você não quis trabalhar, você estava realmente indisposto? Ou será que você só queria boicotar a minha felicidade da mesma forma que você acha que boicotei a sua quando você não foi embora para a faculdade que queria? Eu sei que você diz que nunca foi por mim, mas a verdade é que você não foi por você. Assuma os riscos das suas escolhas e consequências.

Mas, será que tudo isso foi real mesmo? Todas as vezes que você pegou minha mão em público e disse que éramos nós dois contra o mundo e que você era minha família? Será que foi real mesmo quando você simplesmente cuspiu na minha cara? Será que foi real mesmo quando sua família me ameaçou e você não fez porra nenhuma?

Afinal, a culpa sempre foi minha, né? Eu era livre demais. Eu usava piercing e nunca iam aprovar meu piercing. Chega a ser patético, né? Considerando que o problema “nunca foi” sua sexualidade. Será que foi verdade mesmo quando você me levou pra outra cidade pra boicotar a porra da única festa de aniversário que tive com amigos na minha vida? Não, acho que eu quis ir junto.

Eu sei que você guardou aqueles meus dois casacos. Eu sei que eles ainda cheiravam a mim e te lembravam de inocência, dos meus olhos grandes e brilhosos. Eu sei que você tenta desesperadamente caber dentro deles. Será que isso também foi real?

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Eu queria te pedir desculpas

Oi, eu do passado. Eu queria te pedir desculpas. Você tinha só 16 nessa foto e a gente se sentia horrível. A gente se sentia feio, indigno de ser amado, sem o direito de desejar e ser desejado. Tinha que aceitar o que vinha, de bom grado.

+ Resenha: O lado feio do amor, Colleen Hoover

Eu queria te pedir desculpas por não entender que você podia escolher. Você podia ter sido mais gentil consigo mesmo. Se te consola, aqui nos 25 – quase 26 – a gente tá aprendendo a colocar limites. Algumas vezes, a gente estrapola. A gente grita, perde o eixo, mas estamos tentando…

Eu queria te pedir desculpas também por achar que isso é culpa sua. Não é. Hoje, a gente entende tudo o que aconteceu, a gente tenta se entender e evoluir. A gente tá na análise há 2 anos e somos psicanalistas. Quem diria, né? Ah, a gente também se formou em Jornalismo conforme era o plano.

Eu queria te pedir desculpas por não deixar que você acreditasse no amor. Queria te punir, não sabemos ainda o motivo. Ainda temos alguns sintomas que não entendemos mas, aqui nos 25, você encontrou o amor. Não foi tranquilo logo de cara, não foi um conto de fadas mas foi real. Ainda é. Você conseguiu sua casa do jeito que você queria também.

Você aprendeu a ler tarô, publicou três livros, muitas coisas mudaram mas ainda escrevemos esse texto pelos mesmos meios. O Beco Literário continua e continuará aqui pela gente. Pra nos ouvir e nos ver crescer. Ah, você também abriu uma empresa e vive dela. Seu namorado é seu sócio. Você pode se dar ao luxo de acordar a hora que quiser, apesar de constantemente querer acordar mais cedo. E é mais estressante que você pensava.

Eu queria te pedir desculpas por não deixar você ser você logo de cara. Por demorar. Queria te pedir desculpas por tantos descaminhos dos 16 aos quase-26, mas acho que estamos no caminho certo de nos encontrarmos de novo.

Eu queria te pedir desculpas mas, apesar dos pesares, você se sentiria orgulhoso da gente e não acreditaria se eu contasse.

Peguei a ansiedade e transformei
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Peguei a ansiedade e transformei

Querido diário, hoje eu peguei minha ansiedade e transformei em cake pop. Sim, aqueles bolinhos no palito. Dizem que nosso ego é nosso inimigo, mas, na maioria das vezes, ele só quer nos proteger e tem mecanismos fortes para isso. Um deles é a sublimação, quando a gente transforma um sentimento “ruim” em algo melhor. Minha ansiedade é generalizada. Não tem como eu dar voz a ela porque sei que ela é infundada e não vai me levar a lugar nenhum. Não é uma fuga.

+ Transformei o cabresto em liberdade

Hoje, peguei ela e transformei em arte culinária, realizei um dos meus maiores desejos. Hoje estou vendo um filme repetido que está passando na TV, mas é um dos meus preferidos. Estou ansioso por amanhã também, tenho reunião no trabalho. Que eles venham dispostos a serem legais, ou nem venham.

Hoje, o Pirata esteve o dia todo comigo. Hoje, chegaram as cadeiras da minha mesa e ficaram lindas. De manhã, comprei uma samambaia para decorar a sala. É bom demais ter a nossa casa, sabe? Estou feliz e só quero que essa ansiedade pela reunião de amanhã passe logo.

Hoje, fiquei emocionado porque ganhei um presente da minha dentista. Ela soube exatamente a escova que era melhor pro meu dente e comprou pra mim. Ela lembrou, sabe? Isso fez meu dia e deu uma acalmada na ansiedade que eu estava sentindo. Fui na academia, fiquei mais tranquilo. Conforme as palavras saem aqui, esse sentimento vai embora junto e dá espaço para um sentimento melhor, de paz, calma e alegria. Quase pós-terapia.

Não consegui fazer tudo o que precisava hoje, mas paciência. Amanhã tento de novo. Vou voltar a assistir meu filme e acho que vou ler um pouquinho antes de dormir. Talvez eu grave alguns vídeos, talvez não. Preciso escrever no Beco.

Até amanhã, diário.

Por que a gente é tão incerto?
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Por que a gente é tão incerto?

Querido diário, às vezes sinto que sou incerto e que minha vida é cíclica. Que a minha ansiedade vem junto com o surto, tudo ao mesmo tempo e que não sei o que fazer. Minha analista vive me dizendo que preciso sair de cena quando isso acontece, que posso só esperar passar. Como esperar passar nessa onda de produtividade que tenho dentro de mim? Preciso produzir, mesmo sendo tão incerto.

+ Resistência e transferência

Quando decido alguma coisa, no dia seguinte faço tudo cair por terra. Eu derrubo os castelos de areia que eu mesmo construí, diário. Como que pode isso? Por que a gente é tão incerto assim, hein? Porque eu não consigo simplesmente decidir. Dizem que sou multidisciplinar e meu talento está na conexão. Mas nunca dizem o fardo enorme e incerto que é ser bom em várias coisas ao mesmo tempo.

Você pode achar que estou me vangloriando, diário. Mas não. Realmente não é legal sentir muito quando muitos sentem pouco. Realmente não é legal saber de todas as coisas ao mesmo tempo. Eu queria ser bom em uma coisa só e fim. Eu não precisava ter esse poder de escolha tão incerto. E olha que eu nem sou geminiano, hein?

Não sei com que intuito te escrevo isso hoje. Não sei onde quero chegar, não sei onde vou chegar, nem sei se quero chegar em algum lugar ou só quero ficar aqui, vegetando, fingindo que nada acontece. Minha analista defende essa versão, mas ela me incomoda tanto. O ócio me incomoda demais.

Hoje resolvi mudar meus ares. Vim trabalhar na mesa da sala, estou assistindo ao meu filme preferido, desmarquei minhas reuniões e desmarquei até a minha analista. Hoje cansei de mim. Não quero. Estou incerto demais. Quero ficar em paz dos meus próprios pensamentos. Hoje não, Gabriel.

Talvez amanhã.

Ingratidão que corrói
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Ingratidão que corrói

Eu sempre te ajudei. Me lembro como se fosse hoje quando você me chamou no chat e perguntou se podíamos marcar um encontro. Topei, fizemos coisas lindas juntos. Fomos ao infinito e além em direção daquilo que a gente sempre sonhava. Até que chegou o dia que chamo de dia da ingratidão. Até hoje não entendi o que aconteceu, nem o porquê, se quer saber a verdade.

+ Quero abraçar o mundo todo, todo o tempo

Eu confiava minha vida em você e você veio, em tom seco e ríspido, cortando meu barato dizendo que eu tinha te decepcionado. Parecia uma projeção. Era de mim mesmo que você estava falando? Hoje, sei que não. Você não se referia a mim. Você estava com seus próprios problemas, mas, chegou com a faca afiada e enfiou dentro do meu peito. Sangrei por dias e noites, sem entender a sua ingratidão. Você não me deu a chance de entender.

Leia ouvindo: You need to calm down, Taylor Swift

Eu recebi a facada com a faca que eu te ajudei a construir e depois, de tão bom grado, te ajudei a afiar. Como se eu fosse uma pessoa qualquer que sequer sabia como afiar ou fazer uma faca, sendo que, eu que tinha aberto as portas para você passar. Como você pôde? “Eu não confio mais em você”, falou de forma ríspida, como se fizesse terapia à fio por anos, como se fosse analisado e estivesse colocando limite em alguém que fora abusivo.

Depois disso, sem falar comigo, você usou as facas que aprendera a construir na minha oficina e jogou fora aquelas primeiras que fizemos juntos, mal feitas, quanto estávamos nos aperfeiçoando. Ingrato. Sim, você fingiu que era um ferreiro profissional e que tinha aprendido tudo sozinho, há anos, quando na verdade tinha me esfaqueado com a minha própria faca. Que fiz com minhas próprias mãos.

Hoje, você sequer tem uma faca para afiar. Você veio e me pediu uma emprestada. Eu até emprestaria, mas sei que não preciso e não quero fazer isso porque, meu anjo, eu nunca precisei esfaquear ninguém para ser um ferreiro de primeira. Posso ter tido recaídas, mas ainda estou aqui e, nessa oficina, você não pisa nunca mais.

É, anjinho. Nunca precisei esfaquear ninguém, mas também não sou um santo, não. Além de facas, sei afiar um bom tridente para te empurrar nos mármores mais quentes do inferno. Você e sua ingratidão.

Lembra que é valente como as águas do mar
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Lembra que é valente como as águas do mar

Algumas semanas aparecem pra gente lembrar o quão valente a gente é. E com grandes responsabilidades e realizações, vem grandes dores e sofrimentos também. Nada é tão quentinho fora da nossa zona de conforto. Essa foi uma semana daquelas e eu me peguei dando voltas pra responder “por quê?”.

+ Meus quase 20 anos

Será que tudo isso vale a pena mesmo? Será que mereço tudo isso? Será que não posso só deitar na cama, chorar, desistir e esperar que as coisas aconteçam? Assim, pelo menos eu vou ter o controle, nem que seja na sabotagem. Quando eu me saboto, eu não realizo o que eu quero, mas pelo menos escolho meu destino. Quando vivo, levanto da cama e dou às caras, eu não tenho controle do que vai acontecer. E se eu não for tão valente assim?

Leia ouvindo: Valente, Mc Tha
Eu sei que sou. Eu sei que consigo. Mas preciso? Será que quero? Será que é autossabotagem ou será que é só falta de vontade? Ou será que excedi no ponto? Quantas perguntas sem respostas girando nessa mente ansiosa que voz fala. Eu sei que a gente tem que sentir tudo: alegria, tristeza, tudo é importante. Mas pra quê? Vale a pena mesmo?

Esse é o preço de ser humano, eles dizem. Que preço caro a se pagar só porque nos anos 90 duas pessoas resolveram se entender no Carnaval e que ocasionou meu nascimento. Eu pedi pra nascer? Meu Deus, agora tô sendo ingrato? Será que tô sendo ingrato com tudo o que eu conquistei?

Será que vou perder tudo isso se eu questionar? É, eu não sou tão valente assim. Eu não sei se consigo ser tão valente assim, eu não sei se consigo sorrir agora que vejo que tudo deu certo. Não foi fácil. Quem disse que seria fácil?

Tem que ser Valente, Thaís. Vai. 

Escritor depois dos 50: os desafios e a importância de tomar uma decisão
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Escritor depois dos 50: os desafios e a importância de tomar uma decisão

Tornar-se um escritor é um processo que une talento, disciplina, determinação e, claro, a tomada de uma decisão. Além da facilidade que algumas pessoas apresentam desde tenra idade com a palavra escrita, escrever é uma descoberta que pode surgir em qualquer momento da vida, inclusive depois dos 50.

É o caso do escritor, palestrante, especialista em negócios e tomada de decisão Uranio Bonoldi, que atua dando suporte a empresas que desejam crescer de forma estruturada e que, hoje, também é um escritor de best-seller.

+ Decisão fácil e difícil: Como escolher qual caminho seguir?

Foi a partir da sua longa experiência executiva em cargos de alta gestão que ele observou a dificuldade das pessoas em tomar decisões, não só nos negócios, mas também na vida pessoal. Tal constatação o levou a integrar sua experiência profissional, suas reflexões pessoais e seus estudos, gerando a ideia para o seu primeiro livro.

“Escolhi trilhar pelo caminho de escrever para o público mais jovem, que representa o futuro do país e é onde estarão os futuros gestores de empresas e de projetos, seja em qual for o campo. E como despertar o interesse dos jovens sobre o tema? Decidi escrever uma história — uma ficção do gênero thriller, que o público jovem adora. Assim nasceu a série A Contrapartida!”, diz.

O livro, que é considerado um dos principais thrillers nacionais dos últimos anos, desde seu lançamento, alcançou o ranking dos mais vendidos na Amazon. A Contrapartida conta a história do menino Tavinho, um jovem que para não frustrar a mãe e honrar a memória do pai, vítima da violência da cidade de São Paulo, opta por cortar caminhos durante sua adolescência. Com a ajuda de sua governanta, Iaúna, nascida em uma tribo indígena já extinta, ele aceita tomar o elixir da sabedoria. No entanto, a decisão para se tornar mais astuto tem um alto preço: o assassinato de pessoas em série.

Uranio conta que a decisão de escrever um livro foi fácil, porém ele precisou superar todas as outras decisões que vieram a partir dela, sem recuar e mantendo a disciplina na implantação daquilo que precisa ser feito. “É claro que tive diversos desafios pelo caminho, principalmente com diversas jornadas duplas de trabalho. Precisei decidir e conhecer o mundo literário, – traçando estratégias, busquei experts, mentores e fui superando cada obstáculo sem desistir. Sete editoras me disseram ‘não’. Depois que encontrei o meu ‘sim’, passei por outras decisões que foram tomadas: capa, prefácio, subtítulo, contracapa, revisões, – foram muitas, e todo o processo que envolve a publicação de um livro”, conta Bonoldi.

A jornada literária não parou por aí: após dois anos desde o lançamento do seu primeiro livro, Uranio acaba de lançar A Contrapartida II – O contra-ataque, onde o leitor seguirá envolvido por um clima de suspense e mistério, mas também vai conseguir preencher inúmeras lacunas propositalmente deixadas em aberto no primeiro livro.

Uranio completa dizendo que a grande decisão da sua vida, até este momento, foi trilhar a jornada como escritor literário. “Em poucas palavras, a ideia da escrita surgiu ao perceber, como especialista em Gestão, quanto tempo as empresas e pessoas perdem e se angustiam em não decidindo ou buscando escolhas em campos que não dizem respeito a seus valores, sua missão e sua visão e, no caso de pessoas, a sua essência”.