Três dos principais “booktubers” brasileiros, que juntos foram assistidos quase 40 milhões de vezes, participarão da nova edição do Brain Fitness no dia 24 de setembro, às 16h, no Taubaté Shopping.
Com o tema “Ler pra quê? um debate de ideias”, o evento terá a participação da jornalista Isabella Lubrano, do canal “Ler Antes de Morrer” (130 mil inscritos), da professora Tatiana Feltrin, do canal “Tiny Little Things” (252 mil inscritos) e de Danilo Leonardi, criador do canal Cabine Literária (150 mil inscritos).
Conhecidos como “Booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, eles são um fenômeno que está sacudindo o mercado literário brasileiro ao despertar numa nova geração o interesse pela leitura. Hoje eles são requisitados nos maiores eventos literários do país.
No bate-papo, os booktubers falarão sobre sua experiência literária na internet, formação de novos leitores, como funciona seu trabalho e sobre suas obras favoritas.
Após o bate-papo haverá lançamento do livro “Coisas Inatingíveis”, seguido de sessão de autógrafos. O livro é o segundo título publicado por Danilo Leonardi e entrelaça histórias de quatro jovens com visões e caminhos diferentes, mas que tem um único anseio: aproveitar todos os dias como se fosse único.
A terceira edição do BrainFitness acontece no espaço em frente ao Moviecom Cinemas do Taubaté Shopping. O evento é gratuito.
O BrainFitness é um evento cultural realizado pelo Taubaté Shopping, Livraria Leitura e a produtora Almanaque Urupês, com a missão de formar público para novos eventos, incentivar o hábito da leitura e estimular o mercado consumidor de produtos e serviços da nossa indústria cultural.
Quem são os booktubers?
Tatiana Feltrin, do canal Tiny Little Things, é de São José dos Campos. Formada em Letras – tradutora e intérprete e pós-graduada em ensino de idiomas -, ela é a mais antiga dos booktubers e desde 2007 compartilha em seu canal o amor pelo livros.
Isabella Lubrano, do canal Ler Antes de Morrer, é formada em jornalismo e direito. Começou o blog “Ler antes de morrer” em 2011 e o canal no youtube em 2014. A booktuber tem como meta ler e resenhar 1001 livros.
Danilo Leonardi é criador do canal Cabine Literária. É autor do livros “Por que Indiana, João?” e “Coisas Inatingíveis”.
Escrever um poema após Auschwitz é um ato bárbaro – Theodor W. Adorno
Maus é uma graphic novel de Art Spiegelman. Publicada inicialmente em capítulos na Raw, revista de quadrinhos e artes visuais de vanguarda editada pelo próprio Spiegelman e Françoise Mouly, entre 1980 e 1991, foi posteriormente publicada em duas edições: em 1986 a parte I História de um sobrevivente: meu pai sangra história e em 1991 a parte II E aqui meus problemas começaram, sendo, por fim, publicada em 1994 em edição completa contento as duas partes.
Segundo EISNER (2005, p. 8) entre 1965 e 1990 os autores das histórias em quadrinhos começaram a se interessar por conteúdos literários, acarretando em um mercado de distribuição e no surgimento de lojas especializadas.
Autobiografias, protestos sociais, relacionamentos humanos e fatos históricos foram alguns dos temas que passaram a ser abraçados pelas histórias em quadrinhos. As graphic novels com os chamados “temas adultos” proliferaram e a idade média dos leitores aumentou […]. Acompanhando essas mudanças, um grupo mais sofisticado de talentos criativos foi atraído por essa mídia e elevou seu padrão. (Ibidem)
Esta obra de Spiegelman se encaixa no que Eisner chamou de “temas adultos”, já que nos apresenta uma narrativa sobre o Holocausto por meio da biografia de seu pai, Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu aos campos de concentração.
O sucesso e aceitação da obra são tamanhos que Maus passa a ser o único quadrinho a ganhar, em 1992, o Prêmio Pulitzer, importante premiação norte-americana dada a obras e instituições que se destacam nas áreas de jornalismo, literatura e composição musical.
Maus nos traz várias dimensões dentro da obra como, por exemplo, o caráter jornalístico, a metalinguagem e a autobiografia. Art nos mostra não só uma história do Holocausto, mas o processo de “contação” e de “investigação” dessa história (já que ele se coloca como personagem). Sendo assim, o autor vai além ao fundir sua própria autobiografia àquela do pai, é uma história sobre consequências acima de tudo e como o evento traumático vivido por Vladek pôde influenciar sua relação com o filho e demais pessoas que o cercam.
Autobiografia e investigação em Maus. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 13.
Outra dimensão interessante dentro desta obra de Spiegelman é o caráter de fábula. Como se pôde perceber pela imagem acima, em Maus os humanos passam pelo processo de personificação (ou prosopopeia): judeus são representados como ratos, alemães como gatos, norte-americanos como cachorros, poloneses como porcos e franceses como sapos.
Em um primeiro momento, se considerarmos o conceito de fábula como: narrativa fantasiosa que apresenta uma lição de moral e na qual animais têm características humanas, podemos entender a escolha de Art Spiegelman como um meio de acentuar o caráter “surreal/absurdo” do tema, no sentido de se narrar um fato que foge à compreensão.
Diversos autores que trabalharam com esta temática ou vivenciaram o Holocausto deixaram trechos em que comentam a impossibilidade de se entender Auschwitz. Como, por exemplo, Sarah Kofman no livro Paroles suffoquées:
Sobre Auschwitz e depois de Auschwitz, não é possível narração, se por narração entende-se: contar uma história de eventos fazendo sentido. (KOFMAN apud SILVA, s.n.t., p. 6)
Ideia também presente no trecho de Adorno que escolhemos para epígrafe deste artigo.
O Holocausto perseguiu e exterminou cerca de seis milhões de judeus em uma operação que ficou conhecida como “Solução Final”. Múltiplas formas de assassinato foram utilizadas: fome, frio, trabalho forçado, além da mais conhecida: a morte nas câmaras de gás e posteriormente incineração dos corpos para que nada, nenhum vestígio, sobrevivesse.
Além da dimensão da fábula, o entendimento do Holocausto como um evento que recusa a interpretação lógica é abordado pelo próprio Spiegelman dentro da obra:
A incompreensão de Auschwitz. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 224.
Para além desta primeira explicação, o uso da personificação também pode ser considerado como parte do ideal nazista, já que uma das crenças que sustentavam o regime era a de que os alemães eram uma raça superior e os judeus, inferiores.
Isto é, ao não desenhar rostos humanos e suas particularidades, Spiegelman unifica as personagens e as coloca como pertencentes a um grupo homogêneo: aquele designado pela raça. Tal fator fica ainda mais visível ao analisarmos a epígrafe escolhida para Maus, uma conhecida frase de Hitler:
Sem dúvida os judeus são uma raça, mas não são humanos – (SPIEGELMAN apud Hitler, 2009, p. 10).
MAUS E A LITERATURA DE TESTEMUNHO
Nunca existiu um documento da cultura que não fosse ao mesmo tempo um [documento] da barbárie – Walter Benjamin
Literatura de testemunho é o relato de alguém (a testemunha) que passou por algum evento ou experiência traumática. Esse tipo de literatura está primeiramente associado à literatura do Holocausto, aquela feita pelos sobreviventes dos campos de concentração da II Guerra Mundial como, por exemplo, Primo Levi e sua obra mais conhecida É isto um homem? (1947).
Contudo, tal conceito também pode se estender aos depoimentos feitos por sobreviventes de outros genocídios, como os massacres indígenas da América Latina, ou mesmo aqueles que foram perseguidos e sobreviveram a outros períodos ditatoriais.
Segundo Márcio Seligmann-Silva, narrar o trauma assume, para além da importância histórica, o desejo de “estabelecer uma ponte com o outro”, encaixando na categoria de “outro” aqueles que não vivenciaram tal experiência e por isso são incapazes de entender sua total complexidade.
Por outro lado, há inúmeros fatores que dificultam tal processo. Além da já mencionada dificuldade de narrar um evento de natureza tão traumática, há a condição “psicológica” do sobrevivente.
Aquele que produz o depoimento sente dificuldade de se afastar para poder produzir um testemunho lúcido e íntegro, “mais especificamente, o trauma é caracterizado por ser uma memória de um passado que não passa” (SILVA, 2008, p. 69).
O muro não é derrubado por completo e o estranhamento entre o enunciador e o outro e entre a realidade vivida como trauma e a realidade exterior permanecem. A inverossimilhança, o absurdo e o surreal dos eventos vividos precisam ser traduzidos por meio da lógica linguística e da verossimilhança atribuída ao mundo exterior, surge, então, o desafio de se “narrar o inenarrável”. Tal fato pode ser visto em inúmeras passagens de Maus.
Art x Vladek. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 6.
Logo nas primeiras páginas da obra somos apresentados a uma remota lembrança de Art durante sua infância em um diálogo com o pai, Vladek. Neste momento, já podemos perceber como um fato corriqueiro da vida entre pai e filho (o aconselhamento) é mediado pela experiência de Vladek nos campos de concentração.
Ademais, outro fator presente em inúmeras páginas é a obsessão de Vladek por economia e organização.
Consequências do Holocausto. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 100.
Esta personalidade não é compreendida pelo filho e é o motivo da maioria das brigas entre os dois, contudo, colocando o comportamento atual de Vladek em paralelo às experiências vividas por ele em Auschwitz relatadas ao filho, fica evidente ao leitor a ligação entre as duas realidades.
Um dos motivos que fizeram Vladek Spiegelman sobreviver ao Holocausto foi sua habilidade para negociar. Racionava porções de comida para mais tarde trocar por objetos de seu interesse, negociava com guardas e outros prisioneiros, sempre tentando sobreviver e melhorar, ainda que minimamente, seu tempo no campo de concentração.
Com relação à organização, ela pode ser atribuída à disciplina exigida dos prisioneiros dentro de Auschwitz. Em um dos momentos do relato, Vladek menciona que durante um tempo teve a profissão de bettnachzieher – um “arrumador de cama”, depois que todos arrumavam as camas e saiam dos pavilhões, ele era o responsável por ficar e deixar tudo mais organizado e arrumado.
Um ponto interessante ainda a ser tratado diz respeito ao personagem de Art dentro da obra. As conclusões chegadas acima, por exemplo, são subentendidas pelo leitor. O comportamento de Vladek permanece uma incógnita para o filho.
A incompreensão de Art. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 174.
Há dois momentos-chave na obra para entender tal relação. O primeiro em uma conversa entre Art e sua esposa, Françoise, e o segundo entre Art e seu analista, Pavel, também sobrevivente dos campos de concentração. Em tais situações, o autor revela a relação conturbada e os sentimentos conflituosos que nutre com relação ao pai e a Auschwitz.
Retomando a teoria da literatura de testemunho, percebemos que há também em Art Spiegelman a dificuldade do narrar. O próprio autor, ainda que não tenha sido perseguido pelos nazistas, também é um sobrevivente e faz parte do trauma já que teve sua vida inteiramente modificada pelo Holocausto, o qual desencadeou a morte do irmão mais novo, Richieu, o suicídio da mãe, Anja, e os problemas de relacionamento com o pai.
Art Spiegelman faz parte de um grupo de quadrinistas que retratam em suas obras temas polêmicos e complexos como o Holocausto. Para além de suas habilidades técnicas e as dimensões do testemunho dentro de sua obra, o livro aqui analisado é um documento importante para a compreensão das grandes catástrofes produzidas pela humanidade.
Em uma era como a nossa, em que regimes de direita sobem novamente ao poder, em que guerras civis se espalham pelo mundo e a aversão entre diferentes povos e religiões parece cada vez maior, é fundamental o conhecimento e compreensão das atrocidades do passado para que, talvez, não cometamos os mesmos erros novamente.
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, Theodor W. Crítica cultural e sociedade In:____ Indústria cultural e sociedade. Trad. Juba Elisabeth Levy. Paz e Terra: São Paulo, 2002, 5. e.d., p. 61.
EISNER, W. Narrativas gráficas. Trad. Leandro Luigi Del Manto. Devir Livraria: São Paulo, 2005. Enciclopédia do Holocausto. Disponível em: < https://www.ushmm.org/ptbr/holocaust-encyclopedia>. Acesso em: 5 dez. 2016.
GERHARDT, Rosani Ketzer; UMBACH, Carla Carine. Uma leitura de Maus: a história de um sobrevivente. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo. Santa Maria, n. 22, p. 46 – 55, 2013. Disponível em: < https://periodicos.ufsm.br/LA/article/view/12972/pdf>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SALGUEIRO, Wilberth. O que é literatura de testemunho (e considerações em torno de graciliano
ramos, alex polari e andré du rap). Matraga: Estudos Linguísticos e Literários. Rio de Janeiro, v. 19, n. 31, p. 284 – 303, 2012. Disponível em: < http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga31/arqs/matraga31a17.pdf>.
SILVA, Márcio Seligmann. Testemunho da Shoah e literatura. s.n.t. Disponível em: < http://diversitas.fflch.usp.br/files/active/0/aula_8.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SILVA, Márcio Seligmann. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. PSIC. CLIN., Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 65 – 82, 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SILVA, Rodrigo Vieira da. Quando a guerra alquebra o pai: a falência da figura paterna em Maus, de Art Spiegelman. Editora EDUEPB: Campina Grande, 2009, 13p.
SPIEGELMAN, Art. Maus: a história de um sobrevivente. Trad. Antonio de Macedo Soares. Companhia das Letras: São Paulo, 2009.
Já faz tempo que os youtubers estão migrando para novas plataformas. Os booktubers (vloggers especializados em livros) não são mais os únicos a terem seus trabalhos originais lançados. A maioria dos grandes canais atuais estão tendo a chace de sair da tela do computador e contar suas histórias em livros. A quantidade de obras cresce mais a cada dia, consolidando assim uma legião de fãs. Há muito tempo, o assunto virou um tabu entre os fãs e criadores de conteúdo. Muitos alegam que não são os próprios youtubers que escrevem. Ainda, alguns dizem que esses tipo de livro não possui qualidade literária. Outros afirmam que com essa grande leva de obras os fãs estão sendo incentivados a lerem mais. Apesar das várias opiniões diversas, é inegável o sucesso que os livros vem fazendo. E, naturalmente, muitos deles estarão presentes na Bienal do Livro de 2017.
Acompanhe conosco alguns youtubers que estão fazendo sucesso no mundo literário.
Lucas Rangel
O youtuber que veio do vine, Lucas Rangel, lançou seu primeiro livro no ano passado. “O sensacional Livro Antitédio do Lucas Rangel” traz uma proposta diferente dos demais livros de youtubers. Além de contar um pouco de sua história, o mineiro convida os fãs a realizarem várias atividades e desafios propostos. O livro é interativo e traz ao leitor a chance de se sentir mais próximo do autor. Lucas já está confirmado na Bienal desse ano em um espaço dedicado aos youtubers.
Maicon Santini
Por muito tempo o youtuber Maicon Santini foi conhecido apenas por sua amizade com Kéfera Buchmann. Mas, Maicon vem tomando o seu lugar e se tornando um youtuber que caiu nas graças do público. “Over the Rainbow – Um livro de contos de Fadas” é o primeiro livro do youtuber em parceria com outros grandes criadores de conteúdo. O livro traz uma releitura dos contos de fadas com temáticas atuais como por exemplo a causa LGBTQ. Maicon também já é presença confirmada na Bienal desse ano.
Maju Trindade
https://www.youtube.com/watch?v=NQwhxybokfY
Maju Trindade é uma das youtubers que mais faz sucesso entre diversas áreas de conteúdo. A youtuber ficou primeiramente conhecida por seu namoro com o também youtuber “Japa”. Após o término, Maju focou em profissionalizar o seu canal que hoje conta com quase 2 milhões de seguidores. O livro intitulado “Maju” traz um pouco da história pessoal e profissional da youtuber. A obra foi alvo de polêmicas após ela dizer em um trecho do livro que possue uma “alma negra”. A expressão se referia ao amor que a criadora de conteúdo tem pelas músicas de rape pelo cantor americano “Drake”. Apesar do tumulto, o livro de Maju faz muito sucesso entre seus fãs. A youtuber também fará parte do espaço de influenciadores na Bienal deste ano.
Melina Souza
https://www.youtube.com/watch?v=emT3ob_q0gY
A blogueira e youtuber Melina Souza é assídua no ramo dos livros há muito tempo. Apesar de fazer muito sucesso falando sobre diversos temas, cada dia mais a autora direciona o seu canal para os livros. Conhecida pelos fãs como Mel, a curitibana já tem dois livros lançados com parcerias de peso. O primeiro, “O guia para ser você mesma. Estilo, inspiração e beleza” é um grande sucesso em parceria com a blogueira Lia Camargo do blog Just Lia. Em sua mais recente obra, Melina colaborou com as booktubers Babi Dewet, Pam Gonçalves e Carol Christo. Juntas, elas dão vida a personagens famosas da Turma da Mônica Jovem. Em “Uma viagem inesperada”, Melina conta a história de Marina, uma personagem muito querida pelos leitores e fãs de Maurício de Souza. A youtuber estará presente na Bienal para divulgar seu novo trabalho.
Victor Meyniel
O youtuber Victor Meyniel é conhecido pelo seu humor ácido e personalidade irreverente. Dono de um canal com quase 1 milhão de escritos, Meyniel diverte seus seguidores com seus vídeos, peças e livro. A obra conta a história do youtuber em detalhes e traz assuntos sérios vividos por Victor como bullying e crise de pânico. “Oito ou oitenta” é o primeiro livro do autor e já é um grande sucesso, que estará na Bienal de 2017.
Com as garotas de volta, parece que tudo ficará mais fácil. Bem, deveria ser assim, mas as coisas não são tão simples como parecem. Em Centelha, segundo volume da série Em busca de um novo mundo, Amy Kathleen Ryan nos traz um outro lado da história. Um garoto de 16 anos é capaz de se tornar o capitão de uma nave que tem uma missão tão importante? É capaz de ponderar suas ações e reconhecer seus erros? É interessante como vemos a complexidade do personagem Kieran e todas as facetas do ser humano, ainda mais, quando está em uma situação de risco, e sua maior luta é pela sobrevivência.
Bem, nesta continuação, Seth virou o indesejável número 1, Waverly não aceita a vocação de messias de Kieran e a noção de certo e errado dentro da nave fica meio distorcida. Para piorar tudo, ataques misteriosos começam a acontecer dentro da nave e Seth é o maior suspeito, já que conseguiu fugir da prisão de forma misteriosa. A história passa a ser narrada em vários cenários, já que os personagens passam a maior parte do tempo separados e temos várias visões diferentes da mesma história. Kieran e sua convicção de estar fazendo a coisa certa obrigando os serviços religiosos para manter todos unidos, Seth e sua busca pelo verdadeiro culpado, e Waverly e sua luta de instaurar a democracia e destituir o poder absoluto de Kieran.
Para piorar tudo ainda mais, os adultos sobreviventes da Empyrean continuam aprisionados na New Horizon, e um tratado de paz começa a ser discutido, o que é a única chance de verem seus pais de novo, de ter um pouco de normalidade restaurada novamente. O livro é intenso, não dá vontade de parar nem um minuto. Os conflitos nos deixam angustiados e a reviravolta na história é surpreendente. Depois de passar por várias distopias e livros de ficção, fiquei surpreendida com essa série tão pouco conhecida e de tanta qualidade.
A Bela e a Fera (em francês La Belle et la Bête) teve sua primeira versão publicada por Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve, na La Jeune Ameriquaine et les Contes Marins, em 1740. A versão mais conhecida foi um resumo da obra de Madame Villeneuve, publicado em 1756 por Madame Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, no Magasin des enfants, ou dialogues entre une sage gouvernante et plusieurs de ses élèves. A primeira versão inglesa surgiu em 1757. Desde então, variantes do conto foram surgindo pela Europa. Um exemplo é a versão lírica francesa “Zémire et Azor“, escrita por Marmontel e composta por Grétry, em 1771.
Na versão de Beaumont, o conto A Bela e a Fera relata a história da filha mais nova de um rico mercador que tinha três filhas, porém, enquanto as filhas mais velhas gostavam de ostentar luxo, festas e lindos vestidos, a mais nova, que todos chamavam de Bela, era humilde, gentil, generosa, gostava de leitura e tratava bem as pessoas.
O mercador perdeu toda a sua fortuna, com exceção de uma pequena casa distante da cidade. Bela aceitou a situação com dignidade, mas suas irmãs não se conformavam em perder a fortuna e os admiradores, e descontavam suas frustrações em Bela, que, humildemente, não reclamava e ajudava seu pai como podia.
Um dia, o mercador recebeu notícias de bons negócios na cidade e resolveu partir. As filhas mais velhas, esperançosas em enriquecer novamente, encomendaram-lhe vestidos e futilidades, mas Bela, preocupada com o pai, pediu apenas que ele lhe trouxesse uma rosa.
Quando o mercador voltava para casa, foi surpreendido por uma tempestade e se abrigou em um castelo que avistou no caminho. O castelo era mágico e o mercador pôde se alimentar e dormir confortavelmente, pois tudo o que precisava lhe era servido como por encanto.
Ao partir, pela manhã, avistou um jardim de rosas e, lembrando do pedido de Bela, colheu uma delas para levar consigo. Foi surpreendido, porém, pelo dono, uma Fera pavorosa, que lhe impôs uma condição para viver: deveria trazer uma de suas filhas para oferecer em seu lugar.
Assim que o mercador chegou em casa e contou a história para suas filhas, Bela resolveu se oferecer para a Fera, imaginando que seria devorada. Ao invés de devorá-la, a Fera foi se mostrando, aos poucos, como um ser sensível e amável, fazendo todas as suas vontades e tratando-a como uma princesa. Apesar de achá-lo feio e pouco inteligente, Bela se apegou ao monstro que, sensibilizado, a pedia constantemente em casamento, pedido que Bela gentilmente recusava.
Um dia, Bela quis visitar sua família, pedido que a Fera, muito a contragosto, concedeu com a promessa de que Bela retornaria em uma semana. O monstro combinou com Bela que, para voltar, bastaria colocar seu anel sobre a mesa, e magicamente retornaria.
Bela visitou alegremente sua família, mas as irmãs, ao vê-la feliz, rica e bem vestida, sentiram inveja, e a envolveram para que sua visita fosse se prolongando, na intenção de que a Fera ficasse aborrecida com sua irmã e a devorasse. Bela foi prorrogando sua volta até ter um sonho em que via a Fera morrendo. Arrependida, colocou o anel sobre a mesa e voltou imediatamente, mas encontrou a Fera caída no jardim, pois ela não se alimentara mais, temendo que Bela não retornasse.
Bela compreendeu que amava a Fera, que não podia mais viver sem ela, e confessou ao monstro sua resolução de aceitar o pedido de casamento. Mal pronunciou essas palavras, viu a Fera se transformar em um lindo príncipe, pois seu amor colocara fim ao encanto que o condenara a viver sob a forma de uma fera até que uma donzela aceitasse se casar com ele. O príncipe casou com Bela e foram felizes para sempre.
A versão de Villeneuve inclui alguns elementos omitidos por Beaumont. Segundo essa versão, a Fera foi um príncipe que ainda jovem perdeu o pai, e sua mãe partiu para uma guerra em defesa do reino. A rainha deixou-o aos cuidados de uma fada malvada, que tentou seduzi-lo enquanto ele crescia; quando ele recusou, ela o transformou em fera. A história revela também que Bela não é realmente uma filha do mercador, mas a descendente de um rei. A mesma fada que tentou seduzir o príncipe tentou matar Bela para casar com seu pai, e Bela tomou o lugar da filha morta do mercador para se proteger. Beaumont diminuiu o número de personagens e simplificou o conto.
La Belle et La Bête de 1946, dirigido por Jean Cocteau
Adaptado, filmado e encenado inúmeras vezes, o conto apresenta diversas versões diferentes do original que se adaptam a diferentes culturas e momentos sociais. Como um filme francês feito em 1946 que segue o conto de Beaumont, dando a Bela duas irmãs, mas também um irmão que fica cuidando delas enquanto o pai está desaparecido. Nessa versão, viram como necessário que tivesse algum homem na casa para proteger as moças, inclusive das investidas de casamento, o que reflete a visão da época. Já uma versão feita na União Soviética em 1952 foi baseada em uma versão de Sergei Aksakov chamada A flor vermelha (The scarlett flower), em referência à rosa que Bela pede para seu pai. Essa versão já se mantém mais fiel à história de Beaumont, mas o nome de Bela é mudado para Nastenka, um diminutivo de Anastásia.
A Bela e a Fera de 1987, dirigido por Eugene Marner
Em 1987, temos a primeira versão como musical com uma Bela loira e o tradicional vestido amarelo, e, em 1991, o conto é consagrado em uma animação da Disney, sendo a primeira animação a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme. Nessa versão que aboliu as duas irmãs de Bela e também o irmão misterioso que apareceu em 1946, também não se viu necessário entrar em maiores detalhes sobre o motivo de Bela e seu pai viverem em um vilarejo pacato no interior da França. Bela é apresentada como uma moça forte e inteligente que adora ler e não se encaixa na visão retrógrada da época. Ela vai sozinha ao encontro de seu pai quando esse desaparece e se oferece por vontade própria para ficar no lugar dele. Vemos Bela como uma personagem feminina forte, corajosa e independente, que, ao contrário das outras princesas, salva seu príncipe e conquista o seu felizes para sempre. É nessa versão de 1991 que é baseado o live action estrelado por Emma Watson e que chega aos cinemas amanhã (16). CONFIRA NOSSA CRÍTICA AQUI!
A Bela e a Fera de 2017, estrelado por Emma Watson e com direção de Bill Condon
De abril de 1994 a julho de 2007, A Bela e a Fera ficou em cartaz na Broadway por um total de 5461 performances, sendo o oitavo musical por mais tempo em cartaz na história da Broadway. Produzido pela Walt Disney Theatrical, essa montagem foi inspirada na animação de 1991 e veio a se tornar a primeira da Disney nos palcos da Broadway (Nova Iorque – EUA), após a ideia de apresentar uma peça de 25 minutos sobre a história no Walt Disney World. Pelo sucesso do musical em Nova Iorque, foram montadas adaptações para inúmeras filiais da Broadway pelo mundo, como em São Paulo, no antigo teatro Abril (hoje, Teatro Reunalt), em 2002-2003 e novamente em 2009.
A Bela e a Fera exibido no antigo Teatro Abril em 2009
A Bela e a Fera é mais uma prova de como os contos de fadas são atemporais. Eles se adaptam às épocas e lugares e instigam a imaginação humana. Que menina nunca sonhou em ser uma princesa? Ou que menino nunca quis ser um bravo cavaleiro defendendo seu reino em batalhas épicas? As histórias de amor impossíveis e o triunfo do bem sobre o mal nunca vão deixar de encantar e nos trazer essa esperança de que tudo sempre dá certo no fim e de que todos têm direito ao seu felizes para sempre.
Brilho é o primeiro volume da série Em busca de um novo mundo, da autora Amy Kathleen Ryan, publicado pela Geração Editorial. A primeira vez que ouvi falar sobre esse livro foi no Sarau mistérios da meia-noite, no Halloween de 2015, e fiquei encantada com a história. Uma mistura de distopia, ficção científica, uma pitada de romance e muita ação: a receita perfeita para uma obra de sucesso.
Tudo começa com a Terra entrando em colapso. Os recursos naturais acabaram, o povo está morrendo e não há mais nada que possa ser feito. Uma nova Terra é descoberta, um planeta cheio de água fresca, terras férteis e um ecossistema perfeito para habitar a raça humana. Duas naves são abastecidas com plantas, animais e pessoas, e é enviada para esse planeta a fim de que a humanidade não entre em extinção. A viagem é longa, a expectativa é mais de 40 anos, e a missão é clara: as pessoas devem sobreviver e se reproduzir para povoar a Terra nova e começar tudo de novo.
A história é, inicialmente, contada pela visão da vida na segunda nave, a Empyron, e somos apresentados a dois personagens que se mostrarão bem fortes no futuro, Kieran e Waverly, dois adolescentes vistos como grandes pilares do recomeço da vida na nova Terra. Tudo parece correr como planejado, as pessoas convivem em sociedade, cooperando para o bom funcionamento da nave, até que são surpreendidos pela primeira nave, a New Horizon, e um ataque catastrófico destrói tudo o que eles conheciam. Todas as meninas são sequestradas e levadas para a New Horizon, pois suas mulheres apresentaram um problema de fertilidade. Os adultos são mortos e Kieran e os outros garotos se vêem sozinhos, tendo que cuidar da nave e tentar resgatar as garotas.
Além da história fantástica e toda a ação, uma das coisas mais interessantes neste livro é o que as pessoas são capazes de fazer quando são arrancadas de sua zona de conforto e vêem sua sobrevivência ameaçada. Até onde uma pessoa é capaz de ir para salvar sua própria vida? O que é capaz de fazer para manter o poder? O ponto de vista de cada um pode acabar distorcendo um pouco o que é o bem comum e o egoísmo pode se sobressair em quem antes era visto como alguém tão bom. Adorei o livro e já comecei a ler o segundo, ansiosa para descobrir mais do desenrolar dessa história. Para quem gosta de distopias, mas está cansado do mesmo de sempre, Brilho chegou para surpreender.
Após 8 anos de governo, um dos presidentes mais populares da História, Barack Obama, deixou a Casa Branca neste dia 20. Tão influente quanto popular, Obama faz parte da lista de celebridades que exaltam a importância da leitura, junto com Oprah Winfrey, Mark Zuckerberg, Emma Watson, Bill Gates, entre outros. O Beco traz para você uma lista com 13 livros recomendados pelo ex-presidente que estão disponíveis em língua portuguesa:
1 – Toda luz que não podemos ver, Anthony Doerr
O romance foi publicado em 6 de maio de 2014 nos Estados Unidos pela editora Scribner e venceu o Prémio Pulitzer de Ficção em 2015, assim como o prémio Andrew Carnegie Medal for Excellence in Fiction. A história do romance passa-se na França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e centra-se numa menina francesa cega e num rapaz alemão que acabam por se encontrar.
2 – Harry Potter e as relíquias da morte, J.K. Rowling
Sim, Obama é Potterhead. Em um vídeo de 2007, o ex-presidente comentou sobre as expectativas para o lançamento de Harry Potter e as relíquias da morte, último volume da saga que foi lançado em junho daquele ano. A saga Harry Potter foi escrita pela britância J.K. Rowling e é composta por 7 livros. Conta a história de um pequeno bruxo chamado Harry Potter que, junto com seus amigos, vive muitas aventuras na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, faz feitiços, poções e luta contra um grande vilão para salvar o mundo bruxo.
O universo de Rowling conquistou fãs em todo o mundo, sendo o livro mais traduzido depois da Bíblia Sagrada e uma das maiores bilheterias da História, com 8 filmes. A franquia também mantém 2 parques dentro do complexo Universal, na Flórida, 1 em Los Angeles e uma exposição de cenários, figurinos e afins nos estúdios Warner, em Londres.
3 – Cem anos de solidão, Gabriel García Marquez
É uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel da Literatura em 1982, e é atualmente considerada uma das obras mais importantes da literatura latino-americana. Esta obra tem a peculiaridade de ser umas das mais lidas e traduzidas de todo o mundo. Durante o IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, na Colômbia, em março de 2007, Cem anos de solidão foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de Dom Quixote de la Mancha.
Sua história passa-se numa aldeia fictícia e remota na América Latina chamada Macondo. Esta pequena povoação foi fundada pela família Buendía – Iguarán. A primeira geração desta família peculiar é formada por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán. Este casal teve três filhos: José Arcadio, que era um rapaz forte, viril e trabalhador; Aureliano, que contrasta interiormente com o irmão mais velho no sentido em que era filosófico, calmo e terrivelmente introvertido; e por fim, Amaranta, a típica dona de casa de uma família de classe média do século XIX. A estes, juntar-se-á Rebeca, que foi enviada da antiga aldeia de José Arcadio e Ursula, sem pai nem mãe.
A história desenrola-se à volta desta geração e dos seus filhos, netos, bisnetos e trinetos, com a particularidade de que todas as gerações foram acompanhadas por Úrsula (que viveu entre 115 e 122 anos). Esta centenária personagem dará conta que as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estão associadas a um nome: todos os José Arcadio são impulsivos, extrovertidos e trabalhadores enquanto que os Aurelianos são pacatos, estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior.
4 – Destinos e fúrias, Lauren Groff
Aos 22 anos, Lotto e Mathilde são jovens, perdidamente apaixonados e destinados ao sucesso. Eles se conhecem nos últimos meses da faculdade e antes da formatura já estão casados. Seguem-se anos difíceis, mas românticos: reuniões com amigos no apartamento em Manhattan; uma carreira que ainda não paga as contas; uma casa onde só cabem felicidade e sexo bom. Uma década depois, o caminho tornou-se mais sólido. Ele é um dramaturgo famoso e ela se dedica integralmente ao sucesso do marido. A vida dos dois é invejada como a verdadeira definição de parceria bem-sucedida.
Porém, nem tudo é o que parece; toda história tem dois lados, e em um casamento essa máxima se faz ainda mais verdadeira. Se em “Destinos” somos seduzidos pela imagem do casal perfeito, em “Fúrias” a tempestuosa raiva de Mathilde se revela fervendo sob a superfície. Em uma reviravolta emocionalmente complexa, o que começou como uma ode a uma união extraordinária se torna muito mais.
5 – Entre o mundo e eu, Ta-Nehisi Coates
Ta-Nehisi Coates é um jornalista americano que trabalha com a questão racial em seu país desde que escolheu sua profissão. Filho de militantes do movimento negro, Coates sempre se questionou sobre o lugar que é relegado ao negro na sociedade. Em 2014, quando o racismo voltou a ser debatido com força nos Estados Unidos, Coates escreveu uma carta ao filho adolescente e compartilha, por meio de uma série de experiências reveladoras, seu despertar para a verdade em relação a seu lugar no mundo e uma série de questionamentos sobre o que é ser negro na América.
O que é habitar um corpo negro e encontrar uma maneira de viver dentro dele? Como podemos avaliar de forma honesta a história e, ao mesmo tempo, nos libertar do fardo que ela representa?
Em um trabalho profundo que articula grandes questões da história com as preocupações mais íntimas de um pai por um filho, Entre o mundo e eu apresenta uma nova e poderosa forma de compreender o racismo. Um livro universal sobre como a mácula da escravidão ainda está presente nas sociedades em diferentes roupagens e modos de segregação.
6 – Garota exemplar, Gillian Flynn
O livro começa no dia do quinto aniversário de casamento de Nick e Amy Dunne, quando a linda e inteligente esposa de Nick desaparece da casa deles às margens do rio Mississippi. Sinais indicam que se trata de um sequestro violento e Nick rapidamente se torna o principal suspeito. Sob pressão da polícia, da mídia e dos ferozmente amorosos pais de Amy, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamento inapropriado.
Ele é evasivo e amargo – mas seria um assassino? Ao mesmo tempo, passagens do diário de Amy revelam um casamento tumultuado – mas ela estaria contando toda a história? Alternando entre os pontos de vista de Nick e Amy, Flynn cria uma aura de dúvidas em que o cenário muda a cada capítulo. À medida que as revelações surgem, fica claro que, se existe alguma verdade nos discursos de Nick e Amy, ela é mais sombria, distorcida e assustadora do que podemos imaginar.
7 – F de falcão, Helen Macdonald
O relato emocionante de uma mulher que se empenha para superar a dor do luto por meio da excêntrica arte de treinar falcões. Aclamado best-seller do The New York Times, F de Falcão é uma autobiografia nada usual sobre superação e autodesenvolvimento. A autora, Helen Macdonald, conta sua história a partir do momento em que viaja até a Escócia para comprar um falcão. A depressão que lhe acometera após a morte do pai criara um abismo entre ela e as demais pessoas e nada mais fazia sentido em sua vida. Porém, ao praticar a falcoaria com Mabel, sua nova ave de rapina, e ler os diários de T. H. White, clássico autor da literatura inglesa, Helen começa a entender que o luto é um estado que não pode ser evitado, mas que pode ser superado, inclusive, com a ajuda de um inusitado açor.
Muito mais do que explicar como domesticar ou caçar com falcões, a prosa magnética de F de falcão narra a angustiante história de uma mulher que se sente infeliz e sem rumo. Uma mulher que, na ânsia por superar a melancolia, encontra ao lado de um dos mais ferozes animais o caminho para expulsar os próprios demônios.
8 – A garota no trem, Paula Hawkins
Todas as manhãs, Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante passeio de galpões, caixas d’água, pontes e aconchegantes casas. Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho.
E é de lá que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada com seus belos habitantes – a quem chama de Jess e Janson -, Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias depois, ela descobre que Jess – na verdade Megan – está desaparecida. Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da vida de todos os envolvidos.
9 – Onde vivem os monstros, Maurice Sendak
Neste livro, o leitor poderá acompanhar Max, um garoto agitado que se sente incompreendido pela família, numa viagem de barco, cruzando os mares à procura de outros mundos. Ele encontra a ilha dos monstros, um lugar onde ser selvagem não é um problema. Os monstros coroam Max e ele tem de reinar numa terra de batalhas amigáveis, cachorros de 30 metros de altura, fortalezas gigantescas e perigosas perseguições. A vida na ilha também apresenta outros desafios – os monstros esperam muito de seu rei e, se não estiverem contentes, eles podem muito bem devorá-lo.
10 – O sol é para todos, Harper Lee
Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.
Um dos grandes livros da ficção norte-americana, a obra de Harper Lee apareceu no discurso de despedida de Obama realizado na semana passada.
Nesse momento de mudanças, é importante lembrar a palavra de Atticus Finch, um dos grandes personagens de nossa ficção que lutou pela dignidade de um povo e pregou a compaixão entre as raças.
11 – Pureza, Jonathan Franzen
A jovem Pip Tyler não sabe quem é. Ela sabe que seu nome verdadeiro é Purity, que está atolada em dívidas, que está dividindo um apartamento com anarquistas e que a sua relação com a mãe vai de mal a pior. Coisas que ela não sabe: quem é seu pai, por que a mãe a força a uma vida reclusa, por que tem um nome inventado e como ela vai fazer para levar uma vida normal. Um breve encontro com um ativista alemão leva Pip à América do Sul para um estágio numa organização que contrabandeia segredos do mundo inteiro – inclusive sobre sua misteriosa origem. Pureza é uma história sobre idealismo juvenil, lealdade e assassinato. O mais ousado e profundo trabalho de um dos grandes romancistas de nosso tempo.
12 – Sapiens, Yuval Noah Harari
Harari cita o livro Armas, Germes e Aço, do autor Jared Diamond, como uma das maiores inspirações para o livro, mostrando que era possível “pedir muitas grandes perguntas e respondê-las cientificamente”. Diamond caracterizou o livro como uma obra que “Ilumina as grandes questões da história e do mundo moderno”.
O livro aborda a História da Humanidade desde a evolução arcaica da espécie humana na idade da pedra, até o século XXI. Seu principal argumento é que o Homo sapiens domina o mundo porque é o único animal capaz de cooperar de forma flexível em largo número e o faz por ser a única espécie capaz de acreditar em coisas que não existem na natureza e são produtos puramente de sua imaginação, tais como deuses, nações, dinheiro e direitos humanos. O autor afirma que todos os sistemas de cooperação humana em larga escala – incluindo religiões, estruturas políticas, mercados e instituições legais – são, em última instância, ficção.
Traduzido para mais de 30 idiomas, o livro foi selecionado por Mark Zuckerberg, criador do Facebook, para o seu Clube do Livro Online, em 2015.
13 – O problema dos três corpos, Cixin Liu
China, final dos anos 1960. Enquanto o país inteiro está sendo devastado pela violência da Revolução Cultural, um pequeno grupo de astrofísicos, militares e engenheiros começa um projeto ultrassecreto envolvendo ondas sonoras e seres extraterrestres. Uma decisão tomada por um desses cientistas mudará para sempre o destino da humanidade e, cinquenta anos depois, uma civilização alienígena a beira do colapso planeja uma invasão. O problema dos três corpos é uma crônica da marcha humana em direção aos confins do universo. Uma clássica história de ficção científica e um jogo envolvente em que a humanidade tem tudo a perder. Primeiro volume de uma elogiada trilogia, foi o primeiro proveniente da Ásia a vencer o Prêmio Hugo.
Foi uma leitura muito divertida, pois percebi que meus desafios diários como presidente não se comparam a uma ameaça iminente de invasão alienígena, brincou Obama.
O que achou da lista? Já leu algum? Que livro você acrescentaria? Deixe aqui nos comentários!
Não Pare! é o livro 1 da primeira trilogia da queridíssima FML Pepper. Quem já teve o prazer de conhecê-la, sabe do que eu estou falando. Bem na capa do livro, temos a seguinte pergunta: “Para se sentir vivo, você entregaria sua vida nas mãos da morte?” Sentiu o drama? Pois é, eu também senti, por isso, não resisti ao ver esse livro na Bienal e ainda garanti um autógrafo super fofo! Mas, vamos à história…
À primeira vista, Nina é só uma menina extremamente azarada, com uma mãe super protetora e neurótica e uma deficiência peculiar nos olhos que faz suas pupilas parecerem com as de um gato. Estranho, você deve estar pensando, mas nada muito bizarro. Eu também pensei assim, até que a história começa a ficar mais estranha do que o “normal” e você percebe que os surtos de azar de Nina não são tão deliberados assim e começa a parecer que tem alguém tentando matá-la. Aí, você vai me perguntar: tem alguém tentando matar a menina e ela não sabe? Como assim? É, fica meio difícil identificar seu assassino quando ele é o assassino de todos nós: a própria morte.
Bugou geral? Eu sei como é. Fazia tempos que eu não me deparava com uma história tão bugante assim. A trama é totalmente fora do padrão que temos visto por aí, chega a ser viciante de tão boa! É uma trilogia, ou seja, tem muito ainda para acontecer e é meio difícil falar desse livro sem dar spoilers, pois a história flui frenética do início ao fim, mas, tentando dar uma ideia geral, posso dizer que, na história de Pepper, a morte é como mensageiros de um povo que vive em outra dimensão e vêm para a nossa para dar fim à vida daqueles de quem chegou a hora, uma maldição que eles carregam desde o início dos tempos.
Nina é o resultado de quando o encarregado da morte de alguém se apaixona por esse alguém e não o mata, pelo contrário, faz um filho com ele. Agora, ela é vista como uma ameaça a esse equilíbrio e deve ser eliminada antes de seu aniversário de 17 anos, quando terá acesso à dimensão de seu pai. No meio de tudo isso, temos Richard, o encarregado pela morte de Nina, descrito como um bad boy charmoso e sedutor, aiai…
Além de seu próprio resgatador, Nina também tem que se preocupar com os outros resgatadores de Zyrk, planeta desse povo amaldiçoado, formado por 3 clãs que lutam pela sua posse. Afinal, ela é uma híbrida (junção de uma humana com um zirquiniano) e, de acordo com a lenda, é dotada de uns poderes um pouco peculiares, como o poder de fazê-los “sentir”. Sentir? Sim, sentir bons sentimentos, como o prazer sexual. É, minha gente, em um lugar onde ninguém sente nada de bom e só faz sexo para procriação, Nina vale mais do que todo o ouro de todas as dimensões juntas, e isso causa muita confusão.
Não preciso nem dizer que recomendo a leitura e estou ansiosa para ler o resto da série e saber o que acontece com a menina, com o bad boy, com o equilíbrio, se mais alguém morre, enfim, as coisas de sempre. Não pare!, Não olhe! e Não fuja! estão disponíveis em livro físico e e-book em todo o país e, principalmente, na internet, já que foi na Amazon que a autora começou a vender a sua história, sendo publicada depois pela Editora Valentina.
Há um tempo, depois de algumas mudanças na vida, redescobri em mim a necessidade de escrever. Como a faculdade tinha terminado e todas as possibilidades estavam em aberto, resolvi tentar me dedicar um pouco a isso, à escrita. Comecei a procurar coisas que pudessem ajudar, não só com dicas, mas também com encorajamento, e agora divido algumas delas com vocês, leitores do Beco. Talvez essas referências ajudem a dar os primeiros passos na escrita; de qualquer forma, tenho certeza de que não vão atrapalhar.
A primeira dica é o AntiCast, um site que abriga vários podcasts interessantes. O primeiro que ouvi foi o “3 páginas”, onde os participantes lêem e comentam textos enviados pelos ouvintes. Além dele, você pode encontrar no site podcasts sobre filosofia, design, análise de filmes, entrevistas, discussões quanto aos acontecimentos no mundo da política e da arte, entre outros. Conhecer a técnica é importante, mas é preciso conhecer também os conteúdos, e lá você consegue um pouco dos dois.
Esse livro é curto e muito interessante. A primeira parte é uma autobiografia, uma leitura bem tranquila que mostra a trajetória que levou King a se tornar um escritor. Ver um cara com uma carreira tão consolidada passando por dificuldades similares às de muitos de nós, é aquele tapinha nas costas que todos precisamos na hora do desespero. É como se ele dissesse “cara, não existe milagre. Se você precisa escrever, escreva! E chega de drama!”. A segunda parte dá algumas dicas quanto ao processo de escrita que vão desde a gramática até a fase de venda do seu trabalho. Apesar de o livro fazer mais sentido na realidade estadunidense dos anos 2000, ainda tem MUITO a oferecer.
Ah, que descoberta maravilhosa foi o Medium! Ele é uma plataforma na qual você pode criar um perfil que funciona como um blog, onde publica seus textos, fotos, HQ’s, entre outros; pode também “seguir” pessoas ou publicações, que são como revistas eletrônicas – lá tem várias ótimas em português. Mas o mais interessante do Medium, para mim, é a rede que ele proporciona. Tem muita coisa, de todo o tipo: crônicas, jornalismo, poesia, ficção… Dá para trocar informação com muita gente que está ou esteve em situação parecida em relação à escrita, além de ter acesso a mais fontes de informação, para além da mídia tradicional. Façam um perfil e dêem uma olhada, acho que vão gostar!
Uma das dicas que você verá em Sobre a Escrita é a importância de ler tudo que você puder, dos clássicos às novidades. Até mesmo um livro ruim, como coloca King, pode te ensinar muito do que não fazer, afinal, quando a gente lê bastante fica mais fácil identificar um diálogo meio forçado, uma descrição exagerada ou um personagem fraco demais e, assim, não cometer tais erros. O mesmo vale para não-ficção: ainda que seu desejo seja escrever na área do jornalismo, o ritmo de escrita e as formas de abordar um tema são essenciais. Por isso indico o BecoClub. É fácil encontrar dicas quanto aos livros clássicos, e é INDISPENSÁVEL lê-los. Mas quando se trata das novidades, que são muitas, fica mais difícil escolher, e é comum que, sem saber o que ler, acabemos por não ler nada. O BecoClub te envia mensalmente um livro, marcadores, revista e brindes, dando um empurrãozinho para que você não passe nem um mês sem ler um novo livro. Mas se a grana está curta, uma forma de conhecer esses livros é ler as resenhas que postamos aqui; assim você pode ter uma noção de seus conteúdos e escolher o que mais chamar a atenção.
Como bônus, dou um último conselho, que é algo que tenho dito constantemente a mim mesma: desligue a tv! Não digo isso em relação a filmes, documentários ou boas séries. Mas sabe aquele costume de ligar a tv aleatoriamente, só para esperar o tempo passar? Esse costume consome um tempo em que poderíamos estar lendo, vendo um filme interessante, ESCREVENDO ou mesmo “curtindo” um momento de solidão, desses que podem nos fazer repensar a vida ou, pelo menos, descansar o cérebro.
É isso. Boa caminhada para nós. Se quiser trocar uma ideia, comenta aqui e procura a gente nas redes sociais!
No instante em que Lucy conhece Nate em Veneza, durante o intercâmbio da faculdade, ela tem certeza de que é o amor da sua vida. Com toda a magia do primeiro amor, eles se beijam ao pôr do sol sob a Ponte dos Suspiros, o que, segundo a lenda local, os uniria para sempre.
Passados dez anos, porém, eles perderam contato por completo. Até que Lucy se muda para Nova York, e o destino faz com que se reencontrem. E se reencontrem. E se reencontrem. Mas o Nate atual é muito diferente do que ela conheceu aos 19 anos, e Lucy preferia o antigo. Será que ele é mesmo sua alma gêmea? Como ela conseguirá se livrar dele? Afinal “para sempre” pode ser muito tempo…
Uma comédia romântica original e mágica sobre o que acontece quando o sonho de toda menina de encontrar sua alma gêmea se torna verdade.
O sonho da maioria das mulheres é encontrar o homem da sua vida. Lucy só quer se livrar dele.
Como descobri esse livro? Sou apaixonada por capas, e isso foi a primeira coisa que me chamou atenção. Além do título que achei bem divertido, quem nunca achou que aquela pessoa era sua alma gêmea? Então, depois de ler a sinopse, resolvi dar uma chance.
Durante suas férias de verão em Veneza, Lucy conheceu Nate. A história de amor entre os dois é intensa e eles resolvem eternizar seu amor. Mas mesmo assim, com o tempo, suas vidas seguem caminhos diferentes. Dez anos depois, ela ainda sonha com Nate. E não consegue se desapegar das lembranças românticas daquele relacionamento tão perfeito e mágico. Todos os relacionamentos que seguiram fracassaram e ela vive com a sensação que perdeu, para sempre, sua alma gêmea.
Está bem, eu confesso. Já o procurei no Google uma vez.
Talvez duas.
Ah, está certo, então perdi a conta ao longo dos anos. Mas e daí? Quem não foi para casa e procurou no Google o homem que ama?”
Um certo dia, inesperadamente ele se reencontram, e Lucy vê ali, diante do seu grande amor, uma nova chance. Um momento cheio de expectativa e emocionante. Mas eles acabam descobrindo que o tempo passa e as pessoas mudam. Como cada um seguiu seu caminho, suas realidades são bastante diferentes da vivida 10 anos atrás. E então, decidem se afastar. Quanto mais eles tentam, mais eles continuam a se encontrar. Parece que uma força misteriosa quer mantê-los juntos. E ficarem distantes um do outro, se torna quase impossível.
Os personagens contribuem demais para essa linha divertida. As amigas Magda, Robyn e a irmã Kate, são um caso à parte. Com historias bem desenvolvidas durante a trama, e igualmente engraçadas. A autora consegue transitar tanto pelo romance como pela comédia nesse livro. Sendo bem sucedida em ambos os momentos. O enredo é construído no eterno clichê de encontrar sua alma gêmea. Mas se destaca pelo efeito antagônico em meados da trama. A relação entre a expectativa e a realidade, que muitas vezes podem interferir consideravelmente na “vida real”. O tempo, o amadurecimento, as idealizações que fazemos, são os elementos que nos fazem questionar as nossas certezas.
Você (não) é o homem da minha vida, nos ensina que tudo é relativo. O momento que você vive hoje, pode ser mágico, perfeito. Mas amanhã, talvez seja diferente. Não devemos idealizar um amor. Algumas vezes estamos tão ocupados fazendo isso, que deixamos de buscar na nossa realidade o que realmente nos completa. Quem sabe sua alma gêmea não é nada do que você sonhou mas mesmo assim é perfeita para você?!
A leitura é leve e divertida. Superou minhas expectativas!