Resenhas

RESENHA: CORDILHEIRA, DANIEL GALERA

Moderno e contemporâneo, Cordilheira, de Daniel Galera, nos pega por ser um livro extremamente atual, mas deixando algumas particularidades modernas de lado, nos envolvendo como num romance que se passa há 20 ou 30 anos – e não me refiro apenas a ausência de telefones e celulares nos pontos chaves da trama, mas ao fato dos envolvidos estarem muito bem sem eles.

Conta-se a história de Anita, uma escritora de um único sucesso que renega o seu livro e prefere se manter longe da literatura. Em São Paulo, duas de suas melhores amigas tentam se matar – e uma delas consegue – e querendo se manter longe dessa negatividade e querendo dar uma mudança na sua vida, ela aproveita o lançamento tardio de seu livro na Argentina e decide largar tudo, ficando de vez em Buenos Aires. Antes de partir, a moça termina com o namoro de dois anos porque o namorado não tem intenção de ter filhos tão cedo, e essa passa a ser uma necessidade de vida ou morte para a jovem, que sente que se tornar mãe vai dar uma guinada e sentido para sua vida.

Precisamos ser sinceros em certo ponto: não tem como se morrer de amores por Anita enquanto ela está em São Paulo: ela nos é apresentada como fútil, arrogante, mesquinha e até egoísta. Do momento em que ela põe os pés em Buenos Aires, parece que somos apresentados a uma nova mulher: segura, sombria e determinada. Quando conhece o jovem José Holden, um grande fã de seu trabalho, a ex-autora começa a viver a grande aventura pela qual sua vida pedia, e fascinada, passam a morar juntos. O grande foco do livro é que tanto Holden quanto seus amigos estão interessados em Magnólia, personagem principal do romance da autora paulista, e não nela própria, e é neste ponto que este romance bem peculiar começa.

Cordilheira explora o limite da realidade e ficção e nos convida a pensar o que leva um escritor a falar sobre os assuntos que estão em seus livros, onde está o limite da arte com a vida. Terceiro lugar no prêmio Jabuti foi o penúltimo livro de Daniel Galera, anterior a Barba Ensopada de Sangue, e mantém as suas peculiaridades de detalhar bem o cenário em que se contam os fatos narrados, fazendo uma introdução muito bem feita não apenas do ambiente, como dos personagens. Breve, sombrio e bastante envolvente.

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