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Resenha: Black Silence, Mary Cagnin

No futuro a Terra está com os dias contados. Uma equipe de astronautas é convocada para fazer reconhecimento de um planeta que pode ser a única chance de sobrevivência dos seres humanos.

Lucas é um exobiólogo renomado que se encontra numa situação complicada e sua carreira está por um triz. O destino o leva até Nee, uma militar com uma reputação e tanto, que o faz uma proposta irrecusável. O que ele não sabe é que esta missão mudará tudo o que ele acreditava um dia ser verdade.

Imagem, Mary Cagnin, Divulgação

Black Silence é uma HQ brasileira de ficção científica, da quadrinista Mariana Cagnin (Mary Cagnin), ambientada em um futuro pós-apocalíptico, onde os humanos estão procurando recursos e estabelecer colônias em outros planetas, pois a Terra está com os seus dias contados. Essa é a missão da oficial Neesrin Ubuntu e sua tripulação, composta por Fumika Yamamoto, uma geóloga; Peter Logrado, um engenheiro espacial, Joana Finnigan, copiloto da nave e braço direito de Neesrin; e Lucas Ferraro, um exobiólogo que está com sua carreira por um fio e com problemas com as autoridades. Conhecemos Lucas logo no início da HQ, sendo recrutado pela própria comandante Neesrin, na cadeia; e de início ele está relutante a ir, mas logo aceita pela curiosidade de descobrir novos mundos, e pela grande reputação da comandante Neesrin.

Com a tripulação reunida, eles logo partem para o espaço, e descobrem um novo planeta, que eles denominam Adda- 48B. No entanto, o que seria só uma viagem de reconhecimento, logo se torna um dos piores pesadelos para Neesrin e toda sua tripulação.

Na minha vida, vi coisas extraordinariamente terríveis. Vi crianças serem tiradas de seus pais e homens sendo mortos diante dos meus olhos. Eu vi o nosso mundo ruir. Ainda assim, eu não estava preparada para isso. Existem muitos tipos de violência… E o silêncio é uma delas.

ALGUNS SPOILERS ABAIXO

O grande trunfo de Black Silence é a atmosfera. Mary Cagnin conseguiu transpor uma atmosfera densa de medo e paranoia, elementos importantes para uma boa história de terror psicológico, em cada página. A HQ tem uma narrativa simples e que com certeza você já viu em filmes de ficção científica hollywoodianos: uma tripulação de uma nave partem para uma missão no espaço, e param em um planeta desconhecido, com um terror desconhecido, o que será a condenação deles. Geralmente o terror desconhecido é algum/alguma civilização alienígena, porém no caso de Black Silence o terror está exatamente no silêncio do espaço e no desconhecido.

Ao pousarem no planeta Adda-48B, que aparentemente é um planeta inabitado, a tripulação dá de cara com uma Pirâmide Negra. Isso mesmo, um monumento construído por alguma civilização antiga, mas se alguma vez existiu civilização naquele planeta arenoso, não existe mais há muito tempo. A presença daquela Pirâmide misteriosa afeta Neesrin mais do que ele imaginavam. Se de início é um enigma que eles precisam decifrar, logo passa a ser uma presença extremamente perturbadora, exatamente pelo fato de eles não saberem o que é e o que significa.

Logo, eles começam a ouvir vozes, há algo falando com eles, seja uma presença alienígena, seja o seu próprio consciente; deixando todos em um estado perpétuo de paranoia e medo. A tensão entre os personagens é crescente, assim como o medo e o desespero irracional. Não é um alien que é a causa de sua destruição, e sim os seus próprios medos e inseguranças. E o silêncio. Aquele silêncio incômodo que enlouquece, e não há uma resposta lógica ou racional, apenas o silêncio.

Toda essa tensão é passada com maestria com o roteiro de Mary Cagnin, que de acordo com o seu Editorial, queria passar para os leitores a mesma sensação que ela tem com a imensidão do universo, o que ela consegue com maestria:

Quando decidi fazer um sci-fi espacial, eu queria passar a sensação, o sentimento que tenho em relação ao universo: o desespero e o terror diante do desconhecido, do imensurável. Existem certas coisas que nossa compreensão, tão humana, não é capaz de decifrar, e o que sentimos é aquela estranha… insignificância. Afinal, quem somos nós em relação ao resto do mundo? Talvez um pequeno, ínfimo grão de areia.

Essa estranheza diante do desconhecido, também é passada para os leitores, pois não sabemos tanto quanto os personagens o que diabos está acontecendo, e a cada página somos pegos com situações, que assim como Neesrin e sua tripulação, não estávamos preparados. Outro trunfo da HQ, é a construção  dos personagens e a sua diversidade: Neesrin, a comandante e protagonista, é uma mulher negra (um refresco, diante de narrativas de ficção científica onde apenas homens brancos são permitidos a desbravar o universo); e além dela há mais duas mulheres, uma mulher asiática e a outra também negra (adeus Princípio de Smurfette!); e dois homens. A construção da personalidade de cada um é feita de uma forma em que você consegue se identificar com os personagens, mesmo que no fim, a narrativa não se aprofunde na vida de cada um, muito devido às poucas páginas.

Neesrin é uma protagonista maravilhosa, e apesar do final conclusivo, eu queria ler mais histórias com a comandante. Os traços dos desenhos, é outro ponto alto, em uma arte linda em P&B.

Black Silence é uma ficção científica de qualidade, com uma atmosfera de terror psicológico primoroso, e Mary Cagnin é definitivamente uma das quadrinistas brasileiras que vale a pena ser acompanhada.

Vocês podem comprar Black Silence no site da autora, e acompanhá-la no Facebook, Twitter e Instagram.

 

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