Resenhas

Resenha: A Culpa é das Estrelas, John Green

A culpa é das estrelas narra o romance de dois adolescentes que se conhecem (e se apaixonam) em um Grupo de Apoio para Crianças com Câncer: Hazel, uma jovem de dezesseis anos que sobrevive graças a uma droga revolucionária que detém a metástase em seus pulmões, e Augustus Waters, de dezessete, ex-jogador de basquete que perdeu a perna para o osteosarcoma. Como Hazel, Gus é inteligente, tem ótimo senso de humor e gosta de brincar com os clichês do mundo do câncer – a principal arma dos dois para enfrentar a doença que lentamente drena a vida das pessoas.

Inspirador, corajoso, irreverente e brutal, A culpa é das estrelas é a obra mais ambiciosa e emocionante de John Green, sobre a alegria e a tragédia que é viver e amar.

CONTÉM SPOILERS!

Antes de mais nada, esse é de longe o meu livro preferido. Ah, mas você disse isso nos outros livros do John Green também. Eu sei, mas quando se trata de John Green, é isso que acontece. Não sei se consigo descrever com toda a emoção contida nesse livro, mas é uma leitura que conseguiu, sem sombra nenhuma de dúvidas, tirar lágrimas mais que qualquer outra.

Alguns infinitos são maiores que outros… Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter.

O livro conta a história de Hazel Grace, uma adolescente que foi diagnosticada com câncer na tireoide dias depois de virar uma mulher, aos 13 anos, em um quadro extremamente grave, que incluí metástase nos pulmões. Depois do diagnóstico, Hazel está sem ânimo nenhum para socializar com muitas pessoas de fora, nem tampouco realizar passeios ou sair de casa.

Faltando pouco para eu completar meu décimo sétimo ano de vida minha mãe resolveu que eu estava deprimida, provavelmente porque quase nunca saía de casa, passava horas na cama, lia o mesmo livro várias vezes, raramente comia e dedicava grande parte do meu abundante tempo livre pensando na morte. Sempre que você lê um folheto, uma página de internet ou sei lá o que mais sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que na verdade, ela não é um efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo. (O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade).

No entanto, em um dia que parecia ser como outro qualquer, a mãe da garota a obriga a ir em mais uma visita ao Grupo de Apoio para Crianças com Câncer, e lá, ela conhece Augustus Waters, apelidado de Gus. O garoto, possui dezessete anos e perdeu uma perna em um quadro de osteosarcoma que teve anos antes e, até o presente momento, está sem indícios de que o câncer possa voltar.

– Eu sou tipo. Tipo. Sou tipo uma granada, mãe. Eu sou uma granada e, em algum momento, vou explodir, e gostaria de diminuir a quantidade de vítimas, tá?
Meu pai inclinou a cabeça um pouquinho para o lado, como se eu fosse um cachorrinho que acabou de ser repreendido.
– Eu sou uma granada – repeti. – Só quero ficar longe das pessoas, ler livros, pensar e ficar com vocês dois, porque não há nada que eu possa fazer para não ferir vocês; vocês estão envolvidos demais, por isso me deixem fazer isso, tá? Não estou deprimida. Não preciso sair mais. E não posso ser uma adolescente normal porque sou uma granada.

O desenrolar do maravilhoso enredo criado por Green, se dá entre a amizade de Hazel e Gus, que após poucos minutos de conversa, descobrem inúmeros pontos em comuns e, quase que imediatamente, vira um romance, do tipo mais improvável possível, e também, o mais bonito que já li.

– O.k. – falei.
– O.k. – ele disse.
Eu ri e repeti:
– O.k.
Aí a linha ficou silenciosa, mas não completamente muda. Era quase como se ele estivesse no meu quarto comigo, mas de um jeito ainda melhor – como se eu não estivesse no meu quarto e ele, não no dele, mas, em vez disso, estivéssemos juntos numa invisível e tênue terceira dimensão até onde só podíamos ir pelo telefone.
– O.k. – ele disse, depois do que pareceu ser uma eternidade. – Talvez o.k. venha a ser o nosso sempre.
– O.k. – falei.
E foi o Augustus quem desligou.

Juntos, eles vivem suas vidas da melhor maneira possível, procurando aproveitar cada segundo, que parece ser especial e sagrado, e chegam até mesmo, a viajar para Amsterdã, para encontrar o autor preferido de Hazel e obter algumas respostas sobre seu livro preferido. Então, no que parece ser um sonho permeado com a realidade de uma noite de núpcias, o casal faz de tudo em busca da felicidade que fora privada de certa forma pela doença.

– Eu estou apaixonado por você – ele disse, baixinho.
– Augustus – falei.
– Eu estou – ele disse, me encarando, e pude ver os cantos dos seus olhos se enrugando. – Estou apaixonado por você e não quero me negar o simples prazer de compartilhar algo verdadeiro. Estou apaixonado por você, e sei que o amor é apenar um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fizemos voltará ao pó, e sei que o sol vai engolir a única Terra que podemos chamar de nossa, e eu estou apaixonado por você.

Apesar do desenrolar triste que a história segue a partir da viagem, que faz você chorar inconsequentemente, o final não poderia ter sido mais perfeito, deixando algumas questões dentro da sua cabeça, para que você então, possa imaginar o que aconteceu. Em uma dessas questões que me surgiu, segui o exemplo de Hazel e enviei para o autor, John Green, que me respondeu que o livro pertence aos leitores. Cada qual tem sua concepção do que acontece depois do final, depois do Eu aceito, Augustus.

Passei a maior parte da minha vida tentando não chorar na frente das pessoas que me amavam, por isso sabia o que o Augustus estava fazendo. Você trinca os dentes. Você olha para cima. Você diz a si mesmo que se eles o virem chorando, aquilo vai magoá-los, e você não vai ser nada mais que uma Tristeza na vida deles. Você não deve se transformar numa mera tristeza, então não vai chorar, e você diz tudo isso para si mesmo enquanto olha para o teto. Aí engole em seco, mesmo que sua garganta não queira, olha para a pessoa que ama você e sorri.

A história passa uma lição de vida permeada de realidade, isto é, mostrando que nem sempre obtemos o final feliz que queremos, mas apesar disso, nossa cabeça deve permanecer sempre em pé, e não é válido reclamar do que temos, mesmo que seja pouco, já que mesmo o pouco, já é o suficiente. Somos privilegiados apenas por estarmos respirando, e que cada dia já é uma batalha merecidamente vencida, e portanto, precisamos ter vontade de viver.

Mas eu acredito em amor verdadeiro, sabe? Não acho que todo mundo possa continuar tendo dois olhos nem que possa evitar ficar doente, e tal, mas todo mundo deveria ter um amor verdadeiro, que deveria durar pelo menos até o fim da vida da pessoa.

É uma leitura que deveria ser considerada obrigatória para todas as pessoas, sejam nas escolas ou no trabalho, porque a mensagem que Green traz é perfeitamente realista de modo que, apesar dos momentos de tristeza, é preciso saber viver, e como contornar tudo isso. Foi de longe, o livro que mais chorei lendo, e o mais rápido também: quatro horas. É impossível interromper a leitura por muito tempo.

– Não é justo – falei. – É tudo tão injusto…
– O mundo não é uma fábrica de realização de desejos – ele retrucou.

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