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Resenha: Querido dane-se, Kéfera Buchmann

Desde o anúncio do primeiro livro de ficção da Kéfera, Querido dane-se, fiquei ansioso para conhecer um pouco mais da história e sobre como seria. Eu li o primeiro livro dela, Muito mais que 5inco Minutos, e era uma espécie de manual de instruções misturado com auto-biografia. O que esperar então de uma história concreta, agora? Confesso que fiquei só com mais vontade de ler conforme a divulgação acontecia de maneira BEM pesada, com livreiros lendo, sem saber que eram da atriz, e se surpreendendo com o resultado. Pois bem, encarei. Ontem, assim que acabei minha leitura anterior, prometi que iria começar o livro novo da Kéfera, mas só leria algumas páginas para que eu tivesse o que ler durante a semana, no caminho do trabalho.

Engano meu. Comecei ontem e terminei ontem, incapaz de largar a leitura para saber de uma vez por todas qual seria o destino da protagonista.

Querido dane-se conta a história de Jussara, ou simplesmente, Sara. Uma garota de vinte e seis anos, que acabou a faculdade de moda e trabalha como costureira em um ateliê super chique, daqueles que as socialites visitam quando precisam de roupas de alta costura. Em uma crise de identidade, ela acabou de terminar o namoro de três anos com Henrique, por uma mensagem no WhatsApp. Ou melhor, ele terminou com ela, do nada, sem mais nem menos. Não haviam brigado, muito pelo contrário, se davam super bem e tinham planos para o casamento.

De repente, ela se vê dominada pelo medo de não conseguir realizar nada e ficar para titia. O nome de tia ela já tem. Com quase trinta anos, como ela mesmo se descreve em vários trechos, ainda não conseguiu realizar o sonho de ir para Paris, de abrir o ateliê próprio com sua coleção de roupas, não se encontrou, o namorado a deixou largada às traças e o pior de tudo, sem perspectivas de encontrar o grande amor da sua vida e se casar… Um caos.

Mas tudo sempre pode piorar para aqueles que parecem ter hackeado o Instagram de Jesus Cristo, como Sara. Um dia, sua chefe a chama para uma conversa, em que ela jura que vai ser demitida. Mas não, é uma promoção. Tudo parece correr de maneira perfeita, já que, agora ela trabalhará em tempo integral para Gio Bresser, uma das socialites ricas, famosíssima no Instagram e com um corpo perfeito de quem dorme 2h por dia no formol, e vai ao dermatologista 3 vezes por semana, mesmo no auge dos seus cinquenta anos.

Chegando lá, animada por ter novas experiências, Sara leva um balde de água fria bem no topo da cabeça. Gio tem um namorado novo, Henrique. Seu ex. E para piorar, entre idas e vindas, Sara tem uma recaída e o beija no jardim da patroa. E o balde de água fria se torna um balde de água congelada. Henrique diz que terminou com ela justamente porque Sara não tem condições de bancar o estilo de vida que ele quer.

Sofrendo, e em frangalhos, Sara baixa o Happn e sai em busca de um novo amor. É lá que ela conhece Tiago, depois de se encontrarem em uma situação nada agradável na rua. Ele parece ser o príncipe encantado, que leva vinhos, croissant de queijo pelas manhãs… Mas sempre some por dias. Talvez seja só joguinhos de Aquarianos, né Sara?

Não. Tiago é casado. Há três anos. Sara não dá uma dentro?!

O livro de Kéfera é escrito no formato de um diário, que Sara começou a escrever após recomendação de sua terapeuta para aprender a lidar consigo mesma e para superar Henrique. Com uma linguagem irreverente, é impossível não enxergarmos os tracinhos de Buchmann nas entrelinhas, mas com um argumento totalmente diferente dessa vez. A história é muito bem amarrada, com um epílogo que me surpreendeu, e um pós-epílogo (isso existe?) mais surpreendente ainda. É uma leitura deliciosa, capaz de me tirar gargalhadas (sério, eu nunca tinha lido algo que me fez rir da forma com a qual esse livro fez), e lágrimas já na página seguinte.

É emocionante e me gerou uma identificação repentina. Trata da busca que todos nós fazemos pelos nossos sonhos e por quem nós somos. Mas também faz uma leve crítica ao comodismo e ao fato de que nada nunca está bom, principalmente para a geração Y. Sempre é preciso de mais, o que conquistamos nunca está bom.

Não sei definir se o livro tem um final feliz ou triste, ou se sequer possui um final. Tem uma vírgula aberta para possíveis continuações, mas espero que não o tenha. É delicioso conhecer a história de alguém, sem um início ou fim, só o meio, como conhecemos a de Sara, em uma tarde.

Sério, deixa o preconceito de lado e vá sim, ler o livro da Kéfera! Mudou um pouco a minha visão de certos acontecimentos da minha vida e me fez refletir sobre muitas coisas. Não confunda leveza com falta de profundidade ou irreverência com falta de seriedade e conteúdo. Querido dane-se é uma obra jovem-adulta que trata da nossa geração, só resta aceitar ou surtar…

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1 comentário

  • Responder Letícia Zucco 13/12/17 em 08:06

    Muito bom! Fiquei com mais vontade ainda de ler .

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