dado perdido, continuo aqui
Autorais, Livros

diário de um atípico #3

trilha sonora recomendada para leitura deste texto: amar, amei – mc Don Juan [cover – Pedro Mendes]

 

não sei onde estou, tudo parece novo para mim

 

querido diário,

 

cheguei atrasado, certo? me perdoe. como bem sabes, penso demais, penso tanto que as vezes estrago algumas coisas que nem chegaram a acontecer. ansiedade que escreve, certo?

certo! mas não é sobre isso que quero escrever hoje, quero falar sobre perdão e algumas outras coisas a mais. a vida nos concede algumas dádivas, o que é estranho, pois ela ama pregar peças e nos cercar de ironias, trágico. esses “presentes” ficam guardados, escondidos debaixo dos escombros, em meio as cinzas, as vezes jogados no lixo ou até mesmo podem ser encontrados no guiar de uma correnteza. depois de uma briga, depois de uma discussão e tomada de decisão sem ser pensada, depois de uma chuva forte, uma tempestade, depois de sermos destruídos por dentro e aparentar não sobrar nada a não ser paredes caídas e pó, as lágrimas já se secaram. é neste espaço desértico, quase irrecuperável que encontramos alguns tesouros, o amor próprio e a verdadeira essência que uma vez fora perdida. então você percebe que, o relacionamento que você construiu dentro de você, somente você era morador, a confiança era somente cultivada na sua horta e que o respeito não era recíproco. você estava vivendo num universo particular. pode até pensar que a sua felicidade está no encontro do outro, somos criados e programados para pensar assim. “amar” alguém e dedicar cada segundo, cada sorriso. importa-se demais com o “outro”, o que o “outro” vai pensar, o que o “outro” gostaria que acontecesse, eu preciso/tenho que agradar o “outro” e você se perde dentro de si, se esconde tanto, deixando seus próprios interesses, deixando de conquistar seus sonhos, deixando de escutar as musicas que [particularmente] gosta e acaba perdendo tudo dentro de si mesma e nem mesmo você, conseguiria encontrar novamente, a não ser que todo o castelo que você chamava de “relacionamento” viesse ao chão. tenho algo pior a pensar, ninguém percebeu que o Amor morreu na segunda metade do século XIX e que hoje, as pessoas só experimentam o apego e a carência, drogas baratas, entorpecentes viciantes que degeneram a integridade e tornam cativo um espírito livre. com a morte do Amor, o Bom Senso se encontrou em desespero, como viver num mundo onde o Amor não se faz presente? desertou, coitado. a vergonha  de fugir não chegou nem perto do medo de viver a mediocridade e a superficialidade que o apego proporciona a carência, prostituição litigiosa, satisfação passageira. Enquanto isso, le-se “textoes” de facebook e fotos com legendas cercadas de corações vermelhos, ninguém mais sabe o valor que o coração vermelho tem? ora essa, que ilusão a minha, ninguém mais sabe o valor de um “eu te amo” quanto mais o significado da cor de um emoji de coração. acho que é pedir demais para essa geração, infelizmente.

acho que escrevi demais,

chega por hoje, meu caro, tivemos reflexões demais por um dia, estava com saudades, um até breve para você e se lembre, não conte para ninguém

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Comentários do Facebook







28 comentários

  • Responder Bia 15/06/18 em 21:17

    Um texto que nos faz refletir muito, principalmente nesse tema, perdão!

  • Responder Gabriele Eduarda 15/06/18 em 21:12

    Definitivamente perfeito, Gustavo! Que você nunca pare de escrever essas maravilhas, concordo com tudo, “eu te amo” atualmente vem perdendo a essência, de tantas vezes dito da boca pra fora, sem sentimento algum. Texto magnífico, ótima reflexão!

  • Responder Mateus Felipe 15/06/18 em 20:58

    Texto bem reflexivo! Uma verdade que estamos vivendo no século XXI, ninguém ama, ninguém conhece o amor, é só uma carência por pessoas, que apelidaram de amor… Para perdoar de verdade, precisa haver amor, e se não existe amor, não existe perdão!

  • Responder Edineia Maria Silva De Matos 15/06/18 em 20:43

    Ehhh…mais uma significativa reflexão! Protelamos, deixamos pra depois, ” outro dia faço isso”, e momentos importantes vão passando, pessoas importantes vão sendo deixadas de lado, atitudes de afeto e amizade vão sendo “esquecidas”, e nos assustamos sempre quando perdemos alguém ou perdemos a oportunidade de Amar, perdoar, rir com alguém…
    É possível Amar (a a), Perdoaar…como se não houvesse amanhã…

  • Responder Gabriela Cintra 15/06/18 em 20:33

    Ótimo texto, me fez refletir muito, por que várias pessoas falam que encontraram o amor, dizem que amam mas na verdade não sabem nem o verdadeiro significado de “amar”, como vc falou ficam só compartilhando coisas no Facebook mas na verdade não sabem nem o que estão compartilhando. Precisam amar mais, perdoar mais, porém ninguém mais sabe fazer isso…

  • Responder Nicoly 15/06/18 em 20:24

    Ótimo texto falando do perdão muito bonito parabéns

  • Responder Gabriela Cintra 15/06/18 em 20:20

    Ótimo texto, me fez refletir muito, por que várias pessoas falam que encontraram o amor, dizem que amam mais na verdade não sabem nem o verdadeiro significado de “amar” como vc falou ficam so compartilhando coisas do facebook mais na verdade não sabem nem o que estão compartilhando. Precisam amar mais, perdoar mais, porém ninguém mais sabe fazer isso….

  • Responder Árthus Antonine 15/06/18 em 20:11

    Belo texto, Gustavo! Realmente, o repetir demasiado de um “Eu te amo” vazio acabou com a força e a essência dessas palavras.

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