Controle de Trânsito (Traffic Stop)
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Controle de Trânsito (Traffic Stop, 2019)

Controle de Trânsito (Traffic Stop) é a prova de que é praticamente crime ser negro nos Estados Unidos. O documentário começa a partir de cenas reais, captadas por uma viatura policial na rodovia de Austin, Texas. Vemos então o policial Bryan Richter seguir um carro até o momento em que ele é estacionado em um shopping. Ele também estaciona e conhecemos nossa protagonista, Breaion King, que recebe a ordem de voltar para o carro.

A partir daí, os dois começam a bater boca. Richter justifica sua abordagem por um suposto excesso de velocidade e começa a ficar impaciente. O clima de tensão aumenta e já sabemos que nada de bom vai suceder aquela cena. Entramos então para a cena mais brutal do documentário: o policial puxa King para fora do carro, jogando-a no chão e ameaçando usar sua arma de choque. Em extremo pânico, ela tenta reagir contra as agressões do policial que com muita brutalidade a imobiliza no chão para algemá-la. Nesta cena, não tem como ficar neutro ao ver uma situação de agressão gratuita. A convite da HBO, fizemos parte da cabine de Controle de Trânsito (Traffic Stop) e todo mundo da sala teve um baque durante essas cenas angustiantes.

O documentário em curta-metragem então desliga-se momentaneamente daquelas capturas policiais para que possamos conhecer nossa protagonista após o ocorrido. Breaion é uma professora afro-americana de apenas 26 anos e com ares carismáticos de Mary Poppins, queridíssima por seus alunos. Passamos a conhecer seu dia a dia e as sequelas que ainda a marcam, mesmo anos depois do ocorrido. São 30 minutos de documentário – ágeis e com ritmo, mas que poderiam ter se desdobrado facilmente em um documentário longa-metragem -, com impacto o suficiente para ter sido sido indicado ao Oscar de melhor documentário de curta-metragem na edição de 2018.

Voltamos para as capturas da viatura. Outro policial é chamado para conduzir nossa protagonista até a delegacia. Num primeiro momento, ele chega com calma para entender a situação e conversar com Breaion. No caminho, ela engata uma conversa sobre racismo, injustiças e polícia. Para a surpresa de ninguém descobrimos que este policial é outro racista, com falas em que afirma que ninguém da polícia americana é racista e que há de se entender o comportamento dos mesmos, uma vez que os presos mais violentos seriam os negros. Ou seja, passando aquele pano. O famoso: feito por homens brancos, para homens brancos em mais uma narrativa de abuso de poder. Acho importante ressaltar que mesmo com tantas provas tão claras em vídeo, o processo dela continua em aberto.

Documentário excelente. Do tipo que deveria ser passado em escolas durante aulas de filosofia e sociologia. E também que não pesa a mão na edição, ficando longe dos documentários massantes de temas parecidos. Fica a reflexão de quanta Breaions não passam pela mesma situação – senão pior – todos os dias. Nos créditos do curta-metragem, ficamos sabendo que o policial foi afastado após uma outra situação similar de racismo. Já diria Childish Gambino, This is America.

O documentário estreia na HBO e na HBO GO hoje, dia 22 de outubro.

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