Este livro reúne textos que mostram o amor do ponto de vista de quatro jovens que escrevem sobre relacionamentos legítimos e atuais, que souberam se reinventar. Sem medo de expressar seus sentimentos, deixam para trás estereótipos já obsoletos – como o controlador machista ou o piegas choroso – e falam sobre viver a dois e sobre a natureza das relações em todos os seus aspectos. Assim, cada autor reflete sobre o amor representado por um elemento: Arthur Aguiar escreve que “O amor é água”, dizendo que ele é fluido, mas por vezes gelado; ora tempestade, ora profundo. Fred Elboni explica que “O amor é ar”, mostrando a leveza de se amar sem sofrer, da brisa que envolve os apaixonados, mas que por vezes torna-se furacão. Ique Carvalho se debruça sobre quando “O amor é fogo”, que arde, aquece a alma, mas que também pode incendiar até doer. E Matheus Rocha conta que “O amor é terra”, estável, tranquilo, mas que não escapa dos terremotos da vida, que tiram tudo do lugar para que a rotina não o extermine. Um livro apaixonante, para quem ama e para quem quer amar um dia… e sempre.
– O Amor É Água
Arthur Aguiar escreve sobre o amor quando ele é como a água: pode ser agradavelmente quente ou ferir se ficar gelado e rígido. Por vezes é tempestade, por vezes, calmaria. Mas quando é fluido, torna-se profundo e amolda-se a tudo.
– O Amor É Ar
Frederico Elboni fala sobre o amor ar, aquele que é leve, que eleva, faz flutuar. Mostra como é amar sem peso, sem amarras. Mesmo quando vem um vendaval, logo volta a ser a brisa, envolvendo os apaixonados com carinho e cuidado.
– O Amor É Fogo
Ique Carvalho escreve sobre o amor quando ele é fogo, que arde, arrebata, aquece a alma, mas às vezes incendeia até doer. Pode se manter como brasa por muito tempo, aguardando a chance de ser chama de novo, ou até renascer das cinzas
– O Amor É Terra
Matheus Rocha fala sobre do amor do tipo terra, aquele estável, certo, que traz segurança, mas que pode, de vez em quando, provocar terremotos que abalam estruturas, tiram tudo do lugar e viram a rotina de ponta-cabeça.
Vamos falar de amor? O livro “Muito Amor, Por Favor”, retrata uma série de histórias muito apaixonantes. Escrito por quatro autores, Arthur Aguiar, Frederico Elboni, Ique Carvalho e Matheus Rocha, em que cada um apresenta seu amor, que pode acontecer de várias formas diferentes.
Baseado em alguns de seus relacionamentos os textos nos permite ter a ideia do amor sentido nos quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar.
Arthur Aguiar fala do seu amor sendo água, tranquilo como uma lagoa ou mesmo agitado feito uma tempestade. Já Frederico Elboni, se diz sendo o ar, o amor leve. Ique Carvalho é o fogo, aquele amor ardente feito brasa, e Matheus Rocha tem o amor terra, seguro e estável.
Sempre acreditei que o amor é como a lágrima no momento em que sai dos nossos olhos. Quando ela surge e se forma, e os começam a ficar cheios d’água, já não existe mais nada que possamos fazer para evitar que caia e escorra pelo nosso rosto. Não há como controlar uma lágrima.
O texto é dividido em crônicas com várias histórias, e muitas delas contam suas experiências amorosas e envolventes, que conseguimos sentir e também nos identificar, porque muitos de nós já tiveram amores assim – e na maioria das vezes, é um amor com todos os elementos misturados.
Muito bem indicado para pessoas que gostam de romance com bastante amorzinho (porque romance não é só história de amor, né?), principalmente para quem está apaixonado, mas também para quem não está e quer se prender nas entrelinhas de um amor que pode chegar a qualquer momento. É uma ótima pedida para todos os casos!
É um livro muito bem escrito e com uma ótima finalização no enredo porque consegui me ver em muitas das histórias, na forma de ver e sentir os amores narrados. Algumas delas até parecem aquela coisa toda que só acontecem nos filmes, e nos bate “aquela” invejinha de poxa isso nunca aconteceu comigo ou nem vai acontecer, mas ainda sempre temos a esperança (é a ultima que morre, né?).
Cante as coisas do coração comigo? Aperte a minha nuca enquanto me beija? Vamos sincronizar nossas respirações? Me deixe, só hoje, te fazer leveza? Quero me enrolar nos dizeres só para você perceber a delícia do sentimento que há aqui dentro. Juntos vamos aprender a lidar com as emoções que virão. Sim, eu também tenho meus medos, mas vamos esquecê-los para que, nesse nosso beijo, só haja carinho e alegria. Um sopro de paraíso no meio da loucura da vida.
E se você atualmente tem um relacionamento e ainda está naquela fase toda mil amores dos primeiros meses, vale muito a pena ler juntinho com o mozão ou a mozona, que vai ajudar a perpetuar a chama do romance para ela durar para todo sempre!
A festa de Ano-novo terminou com uma tragédia irreparável, e Mary, Kat e Lillia podem não estar preparadas para o que está por vir. Após a morte de Rennie, Kat e Lillia tentam entender os acontecimentos fatais daquela noite. Ambas se culpam pela tragédia. Se Lillia não tivesse se apaixonado por Reevie. Se Kat não tivesse deixado Rennie ter partido sozinha. Se a vingança não tivesse ido longe demais, talvez as coisas seriam como antes. Agora, elas nunca mais serão as mesmas. Apenas Mary sabe a verdade sobre aquela noite. Sobre o que ela realmente é. Também descobriu a verdade sobre Lillia e Reeve terem se apaixonado, sobre Reeve ser feliz quando tudo o que ele merece é o sofrimento, assim como ela ainda sofre. Para Mary, as tentativas infantis de vingança ficaram no passado, ela está fora de controle e pretende sujar suas mãos de sangue, afinal, não tem mais nada a perder.
“Fogo contra fogo” é o terceiro livro da trilogia de Jenny Han e Siobhan Vivian. No primeiro volume, “Olho por olho”, somo apresentados à Lillia, Kat e Mary, que tomam turnos na narração dos capítulos. O primeiro livro narra a volta de Mary à Ilha de Jar. A três se juntam para colocar em pratica uma vingança contra alguns de seus “ex amigos”. O segundo livro “Dente por dente”, mostra a consequência da vingança das meninas contra um dos amigos, Reeve. Infelizmente, por causa de um acidente, uma amiga próxima das meninas morre.
O terceiro livro começa exatamente no funeral da personagem. Durante o livro, somos apresentados a uma circunstância, ou até mesmo um segredo, sobre a personagem Mary que muda o rumo de todas as histórias. A sede de vingança de Mary por Reeve ainda permanece, e isso tira a menina cada vez mais do controle de suas ações. Lillia, uma das personagens principais, é quem está no momento mais confuso sem saber o que fazer. Ela vive uma batalha entre seus sentimentos e a vingança que prometeu às amigas.
A narrativa flui facilmente e provoca muita curiosidade ao leitor. O foco do terceiro volume é a descoberta de Lillia e Kat sobre quem (ou o que) Mary é e como elas vão lidar com isso. Nesse terceiro livro em específico podemos aprender a importância dos laços afetivos na vida das pessoas, especialmente adolescente. As autoras deixam também bem nítida a ideia de que é necessário refletir sobre suas atitudes e como um simples ato pode mudar a vida de alguém para sempre.
O fim do livro é totalmente surpreendente e te prende em cada palavra e decisão das personagens no meio de toda a vingança e ódio. Tudo acontece de forma muita rápida e eletrizante, com várias reviravoltas assustadoras e de tirar o fôlego.
“Os estivadores vêm correndo. Não conseguem acreditar nos próprios olhos. Sei que um deles vai acabar identificando de quem era o barco e vai chamar Kat e lhe contar que ele foi destruído. Sinto muito, Kat. Mas você sabia onde estava se metendo.Na verdade, não sinto nada. Nem um pouquinho.Elas merecem ser punidas. Agora, Reeve – ele merece muito mais. Merece morrer.”
A trilogia vale muita a pena não apenas para adolescentes, mas também adultos por se tratar de um tema atemporal descrito de uma forma muito cuidadosa e dinâmica. É necessário, porém, ficar atento aos gatilhos que a história pode provocar, já que ela é recheada de sexo, bebidas, morte, suicídio e bullying. “Fogo contra fogo” fecha de uma forma muito redonda e amarrada uma história que não permite o leitor a desgrudar do livro nem por um segundo.
Maitê Passos é uma garota linda, de dezessete anos e mais de cem quilos. Ela passou a infância e a adolescência sendo resumida ao peso. Mas e quando é justamente esse o fator que pode mudar completamente a sua vida? Em meio ao turbilhão do ensino médio, com uma mãe obcecada por dietas, um crush antigo por Alexandre, o cara mais gato da escola, e uma amizade deliciosa com Isaac, fotógrafo amador, Maitê vai descobrir que não precisa ser igual a todas as outras meninas para ser feliz. Neste romance corajoso e cheio de reviravoltas, Larissa Siriani narra a história de uma jovem descobrindo seu lugar no mundo, construindo uma jornada incrível de autoconhecimento, aceitação e empoderamento.
O livro Amor Plus Size da Larissa Siriani (Verus Editora) foi uma grata surpresa para mim! Apesar de adorar ler livros YA (Young Adults/Jovem Adulto), meu foco sempre foi nos romances de fantasia e ficção científica, então eu sempre “fugi” de livros focados na vida de adolescentes que não tivessem nenhum elemento sobrenatural nele. O motivo, além de eu simplesmente ser apaixonada por fantasia, principalmente em fantasia urbana; era porque geralmente esses romances (na minha percepção) eram focados em apenas duas coisas: problemas na escola e garotos (e essa sou eu, generalizando muuuito, sei que tem romances YAs focados na adolescência dos personagens, principalmente agora, que vão muito além disso). Esse era um dos motivos, por exemplo, de apesar de amar a Meg Cabot, não curtir muito O Diário da Princesa, e preferir A Mediadora (eu sei que YAs sobrenaturais também trazem dramas na escola e com garotos, mas geralmente, é focado mais no enredo fantástico do que nos dramas adolescentes).
Imagem: Verus Editora
Mas, a vida é feita de desconstruções e aprendizagens, e aproveitando que eu estava em um momento mais calmo da minha vida, resolvi realizar dois desafios literários que fiz para mim mesma: ler um autor nacional contemporâneo (de preferência uma autora) e ler um YA que não fosse sobrenatural. Calhou de eu escolher Amor Plus Size, que reúne as duas categorias. Peguei meu Kindle e mergulhei fundo no mundo da Maitê, e não me arrependi!
ALGUNS SPOILERS ABAIXO:
Imagem: Verus Editora
Maitê Passos é uma garota comum, como eu fui (e ainda sou em muitos aspectos) e como você provavelmente foi/é: não é popular, não tira notas muito boas, está no último ano do Ensino Médio e com isso está passando pela pressão do vestibular, tem um crush no garoto mais popular da sala, e sofre bullying pelo seu peso. Maitê pesa 110 quilos, e vive sofrendo pressões de todos os lados para emagrecer: de sua mãe, que vive levando ela ao médico, tentando mil dietas, e faz comentários, que sem ela perceber, machucam e muito a sua filha; da sociedade de um modo geral, sendo personificado pelos bullies do colégio; e dela mesma. Esse último é o mais constante.
Larissa utilizou muito bem a primeira pessoa, pois nos conectamos rapidamente com a personagem, já que constantemente estamos expostos aos seus medos e inseguranças. Para mim, esse foi um dos pontos altos do livro, pois muitos dos pensamentos que Maitê teve sobre o seu peso, e suas reações aos comentários gordofóbicos, principalmente aqueles que não possuíam intenção, mas machucavam mesmo assim; eram pensamentos que eu já tive/tenho. Constantemente, principalmente nós mulheres, sofremos com os padrões de beleza impostos pela sociedade: temos que ser belas, magras, mas não muito magras, precisamos ter curvas, mas não muitas curvas, precisamos ter o cabelo perfeito (de preferência comprido e liso), precisamos ser femininas; enfim precisamos ser perfeitas para sermos “aceitas” pela sociedade.
– Mas será que é o suficiente? Tipo, ser eu mesma? Será que é o bastante?
E esse ideal de perfeição nos atinge de todos os lados, principalmente pela mídia, e desde muito cedo, nos fazendo odiar a nós mesmas, de não querermos nem olhar para o espelho porque não gostamos de nada que vemos ali. Fazemos dietas malucas para atingir um ideal de peso cruel para os nossos corpos, queremos fazer cirurgias e mudar cada detalhe que achamos feio ou horrível em nós mesmas, pois não conseguimos olhar para o espelho sem achar que tem algo errado. Nossos pensamentos nos mutilam e nos machucam, e são constantes. Não à toa que distúrbios alimentares são mais frequentes em mulheres: somos ensinadas a nos odiar, de nunca acharmos que somos bonitas.
Como eu disse, Larissa utilizou muito bem a primeira pessoa, pois juntos com a protagonista, vemos os seus pensamentos, de auto-depreciativos se tornarem empoderadores gradualmente durante a narrativa. Vamos aprendendo com Maitê a nos aceitarmos como somos, que o importante não era as opiniões externas e sim estar bem consigo mesma. Maitê, ao se tornar uma modelo plus size, começa a se enxergar de outra forma, a ver suas qualidades, não só externas, mas, principalmente, internas. A finalmente se conhecer e poder ser essa pessoa maravilhosa e segura que ela era, mas não enxergava isso.
– Eu não quero perder peso, eu não quero mudar, eu quero me sentir bem do jeito que eu sou. Eu quero me sentir bonita. Quero conseguir olhar no espelho e não ter vergonha do tamanho do meu manequim.
Maitê não tem muitos amigos no colégio. Ela tem apenas duas amigas que estão no segundo ano: Josi e Valentina. As duas personagens são ótimas e apesar de estarem em segundo plano, a existência das duas não se resumem apenas a protagonista, o que é ótimo. Também adorei ver que a personagem tinha duas amigas, pois é sempre bom ver amizades femininas, principalmente adolescentes, serem retratadas.
Maitê é constantemente atormentada por Maria Eduarda, a garota mais popular do colégio e a que pratica constantemente bullying com Maitê. Maria Eduarda é, para Maitê, o ideal de beleza: loira, magra, cabelo e roupas impecáveis; Maria Eduarda poderia estar em uma dessas capas de revistas para adolescentes. Ela também é uma das personagens mais complexas e interessantes do livro, além da Maitê. No início do enredo, Maria Eduarda parece ser o clichê da mean girl do colégio: bonita, popular, bullie, e que “rouba” o interesse amoroso de Maitê. Mas, aos poucos que o enredo se desenvolve, vemos que Maria Eduarda também possui os seus complexos ligados à aparência, e que por trás da aparência impecável está uma menina que sofre de distúrbios alimentares e que está se matando aos poucos. O desenvolvimento da personagem é uma das melhores coisas que já tive o prazer de ler em romances YA, e adorei como a autora utilizou o clichê da garota má e popular e foi desconstruindo aos poucos.
O desenvolvimento da sua relação com Maitê, de bullie para uma amiga, também foi muito bom, e ver garotas apoiando garotas, apesar das diferenças é sempre bom de se ver retratado. Porém, algo que me incomodou durante o enredo foi aquele velho clichê de garotas que brigam por um garoto, com Maitê, Josi e Valentina chamando Maria Eduarda de vadia, e etc. Maria Eduarda era uma pessoa horrível pois praticava bullie, mas para as meninas ela era uma vadia porque começou a namorar o crush da protagonista. Sei que isso é comum, mas não me deixou de incomodar durante a leitura.
Era tão surreal que uma garota tão bonita como a Maria Eduarda pudesse ser tão… danificada por dentro. Sempre a tinha achado tão segura, mas podia ver agora que sua incerteza sobre si era grande o bastante para deixá-la à beira do abismo.
Agora os dois interesses amorosos de Maitê: Alexandre e Isaac. Alexandre é o crush de Maitê e o garoto mais popular da escola. Ele e Maitê desenvolvem uma amizade bem legal, e gostei que rolou um expectativa x realidade no desenvolvimento do relacionamento dos dois. Maitê sempre fantasiou e criou expectativas em namorar Alexandre, mas era algo puramente platônico. Quando realmente rolou algo entre eles, não foi como (e nem na hora) que ela esperava.
Era legal dar asas à imaginação, mas fantasiar sobre amar uma pessoa não era a mesma coisa do que sentir pra valer.
Já Isaac, aah Isaac! Amor supremo por esse menino e ele e Maitê são perfeitos juntos, já estava escrito OTP, antes mesmo do ship se concretizar, mas a amizade deles em si é linda demais. Isaac é o vizinho fotógrafo e melhor amigo (mais que amigo, friend) da Maitê, e super a apoia em todos os momentos, sempre a colocando pra cima, e tentando fazê-la enxergar suas qualidades e o quanto ela é maravilhosa. É por causa das fotos dele, inclusive, que Maitê é descoberta por um agente de modelos e começa a sua carreira de modelo.
O abraço dele tinha o estranho poder de fazer com que eu me sentisse em casa, protegida.
Outro ótimo desenvolvimento é a relação da Maitê com a sua mãe, que vai passando por mudanças ao longo da narrativa. Assim como Maitê, sua mãe também passa enxergar a filha como a pessoa maravilhosa que ela é, e não apenas os supostos defeitos que ela via na filha. Ela não percebia o quanto seus comentários a machucavam, o que é o retrato da nossa sociedade que é gordofóbica, muitas vezes sem perceber, achando que estão se preocupando com a saúde e o bem-estar.
-Eu tenho sorte por ter uma filha como você, Maitê.
Em resumo, Amor Plus Size é um livro maravilhoso e extremamente necessário, principalmente para as adolescentes, que estão passando pela fase mais complexa e complicada de suas vidas, rodeadas por padrões cruéis de beleza, e as mais afetadas. Já conhecia Larissa Siriani, mas ainda não tinha lido efetivamente nada dela (apenas um conto), e fiquei apaixonada por sua escrita simples e o modo como desenvolveu esses personagens, tão próximos e identificáveis com a nossa realidade. Vou, com certeza acompanhar o trabalho dela daqui para frente (ansiosa desde já por Princesas GPower , que possui além de Larissa, outras autoras maravilhosas: Janaina Rico, Mila Wander e Thati Machado).
Vocês podem acompanhar e conhecer mais a Larissa Siriani pelo seu canal no Youtube e Twitter.
O Dia Mundial da Alfabetização, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no ano de 1967, é comemorado em 08 de setembro e tem como principal objetivo fomentar a alfabetização em vários países. Visando contribuir para a alfabetização no Brasil e reforçar o compromisso de comunicar para pluralizar culturas, o Beco Literário sorteará dois kits de livros infantis em parceria com a Editora Ciranda Cultural no próximo dia 17/09/17!
– Kit um: Sisi e o Pássaro + Mari Miró e o Abaporu + Mas e eu?
– Kit dois: Mili e a Tempestade + Galinhas não enxergam no escuro + Mari Miró e as Cinco Moças de Guaratinguetá
Regulamento Completo
1. Informações Gerais:
1.1. A promoção “Dia Mundial da Alfabetização” é promovida pelo site Beco Literário em parceria com a editora Ciranda Cultural e será realizada de 08 de setembro de 2017, encerrando-se 23h59 (horário de Brasília) do dia 17 de setembro de 2017.
1.2. A promoção é aberta à participação de todas as pessoas físicas residentes do território brasileiro.
2. Promoção
2.1. Para concorrer o participante deverá:
3. PRAZOS
3.1. A revelação do vencedor será realizada na página do Beco Literário (https://www.facebook.com/becoliterariocom) no prazo de 24 horas após o encerramento da promoção.
3.2. O ganhador da promoção, após revelado resultado, tem até 24 horas para realizar contato com a Equipe do Beco Literário para passar seus dados e endereço de envio.
3.3 Após autenticação do resultado e contato do ganhador, o Beco Literário enviará o kit correspondente ao vencedor através de registro módico dos Correios.
4. PREMIAÇÃO
4.1. Serão sorteados dois ganhadores, e cada um deles receberá aleatoriamente um dos kits de livros infantis da Ciranda Cultural.
– Kit um: Sisi e o Pássaro + Mari Miró e o Abaporu + Mas e eu?
– Kit dois: Mili e a Tempestade + Galinhas não enxergam no escuro + Mari Miró e as Cinco Moças de Guaratinguetá
4.2. Os ganhadores não poderão escolher o kit que receberão. Eles serão enviados de maneira aleatória.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. O Beco Literário não se responsabiliza, em qualquer hipótese, por problemas na entrega decorrentes de informações incorretas ou incompletas fornecidas pelo participante, da transportadora ou pelo recebimento dos prêmios por pessoas não autorizadas. Além disso, não nos responsabilizamos por um segundo envio em caso de extravio, devolução por erro nos dados informados ou entrega sem sucesso.
5.2. O Beco Literário irá realizar a entrega dos prêmios no endereço informado pelo participante, em território nacional.
5.3. O Beco Literário reserva-se o direto de cancelar a promoção, caso seja detectada fraude na participação ou determinação do vencedor da promoção.
Tallis Gomes, considerado um dos empreendedores mais influentes do País, no dia 11 de setembro, irá realizar o lançamento do seu primeiro livro, o “Nada Easy: O passo a passo de como combinei gestão, inovação e criatividade para levar minha empresa a 35 países em 4 anos”, em São Paulo. Com a obra o autor tem o objetivo de compartilhar, por meio de um guia prático, como em sua gestão a Easy Taxi se tornou uma das maiores empresas de serviço mobile do mundo. Gomes estará, às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.
Produzido com base em hangouts que Tallis fez por quatro meses, onde pôde entender as dores e dúvidas dos empreendedores brasileiros e com base nas suas memórias daquilo que o autor considera mais relevante para o empreendedor, ele apresenta o passo a passo das etapas necessárias para criar um business global. O livro entrega um guia prático com ferramentas e dicas claras para empreendedores de todas as fases, da concepção da ideia até o momento do exit.
“Tirar uma ideia do papel é uma arte; fazer isso nos Estados Unidos, por exemplo, é muito fácil. Nosso cenário é hostil, o mercado brasileiro é diferente de todos os outros que conhecemos e, por isso, precisamos pensar e agir com o que temos em mãos”, explica Gomes. Na obra, aborda temas como: “Como ter uma ideia viável”, “Como transformar sua ideia em produto”, “Como construir seu time”, “Como se proteger juridicamente”, “Como levantar capital na realidade brasileira”, “Como escalar seu negócio” e, por fim, “Qual é a hora de vender a empresa”.
O prefácio do livro foi escrito por Eduardo Mendes, CEO e cofundador do Hotel Urbano, um dos maiores empreendedores brasileiros e que recentemente comprou de volta o controle da empresa, fazendo uma das jogadas de maior coragem na história do ecossistema brasileiro.
Com o livro, Tallis acredita que poderá devolver ao ecossistema todo o apoio que ele teve ao começar sua trajetória empreendedora, principalmente no começo da Easy Taxi. Além disso, pretende desmistificar pontos que com disciplina e resiliência, podem ser executados por qualquer pessoa. O valor é de de capa: R$ 34,90.
Nesse misto de A Bela e A Fera e Game of Thrones, Sarah J. Maas cria um universo repleto de ação, intrigas e romance. Depois de anos sendo escravizados pelas fadas, os humanos conseguiram se libertar e coexistem com os seres místicos. Cerca de cinco séculos após a guerra que definiu o futuro das espécies, Feyre, filha de um casal de mercadores, é forçada a se tornar uma caçadora para ajudar a família. Após matar uma fada zoomórfica transformada em lobo, uma criatura bestial surge exigindo uma reparação. Arrastada para uma terra mágica e traiçoeira — que ela só conhecia através de lendas —, a jovem descobre que seu captor não é um animal, mas Tamlin, senhor da Corte Feérica da Primavera. À medida que ela descobre mais sobre este mundo onde a magia impera, seus sentimentos por Tamlin passam da mais pura hostilidade até uma paixão avassaladora. Enquanto isso, uma sinistra e antiga sombra avança sobre o mundo das fadas e Feyre deve provar seu amor para detê-la… ou Tamlin e seu povo estarão condenados.
Faz um tempinho que não venho aqui falar sobre o que ando lendo por inúmeros fatores… é a faculdade? é sim, mas principalmente é a falta de ânimo que venho tendo com as minhas leituras. Sempre as mesmas histórias base, disfarçadas por personagens com os outros nomes e cometendo os mesmos erros… estaria eu enjoada do mundo young adult? Para me tirar da minha monotonia e me fazer mergulhar completamente numa história nova e diferente de tudo que lá li chega Corte de Espinhos e Rosas.
O livro começa nos apresentando Feyre, uma jovem de 19 anos que luta sozinha pela sobrevivência da sua família. Após a morte da sua esposa, o pai de Feyre tomado pela depressão, negligenciou a família e Feyre se vê na obrigação de sair e caçar comida para ela e para suas irmãs, bem como cozinhar e cuidar de todos.
Em uma noite fria, nossa protagonista mata um lobo especialmente estranho e ameaçador. Feliz em voltar com comida que duraria semanas, Feyre nem imagina que ali mudou o completamente o destino de sua vida.
Quando comecei a ler confesso que estava bem desanimada… mais uma distopia, mais uma mocinha de caráter forte, que batalha pela sua vida mas espera docemente por um príncipe para começar a viver de verdade. Como fiquei feliz em conhecer Feyre. Na verdade ela passa longe de ser uma dama aguardando o homem perfeito. Ela é mal humorada, não sabe ler nem escrever, é excelente no arco e flecha e tem um caso (sexual, não amoroso) com seu vizinho. Nesse momento do livro conhecemos pouco seu pai e suas irmãs, o que me parece uma perda enorme. Mas com o passar da leitura eles se tornam extremamente importantes para a série como um todo, principalmente Nesta, que até os dias de hoje ainda não decidi se amo ou odeio.
Em mais uma noite fria, a cabana da família é invadida por uma fera imensa nunca antes vista. Com ele, o ar de magia não deixa dúvidas: a besta é um féerico e foi até ali buscando vingança pela morte do seu amigo, o lobo. E como pagamento ele exige que Feyre se entregue. Com medo do que a fera pode fazer a sua família, Feyre parte rumo ao desconhecido: é levada ao outro lado da muralha, erguida há muitos anos para separar o território dos humanos do lado dos feéricos.
Do outro lado Feyre descobre que a fera é na verdade um homem… Tamlin, que assumiu sua forma de batalha para ir busca-lá. Ali ela descobre que Tamlin e todos os outros feéricos que vivem na Corte Primaveril usam uma máscara no rosto, resultado de uma praga mágica que há quase 50 anos assola todos os moradores.
É nesse momento em que vamos sendo conquistados. Sarah J. Maas cria um universo encantador, com personagens imensamente ricos. Podemos ver uma protagonista que cresceu em meio a dificuldades e repleta de ódio no coração conhecer o cuidado e o amor. Somos envolvidos com o mistério das máscaras que nunca saem, imaginando junto com Feyre o rosto de cada personagem e claro, tendo nossos corações conquistados aos poucos pela atenção de Tamlin.
“Porque sua alegria humana me fascina, o modo como vivencia as coisas em sua curta existência, tão selvagem e intensamente e tudo de uma vez, é… hipnotizante. Sou atraído por isso, mesmo quando sei que não deveria, mesmo quando tento não ser.”
Sarah J. Maas já é conhecida pela sua escrita impecável e por personagens apaixonantes, e dessa vez ela se supera. Não são poucas as surpresas e reviravoltas no final da leitura. Em determinado momento é humanamente impossível parar de ler. E mesmo no fim a autora não para de nos surpreender. Corte de Espinhos e Rosas entrou bruscamente na minha lista de favoritos e espero que entre na sua (o quanto antes!).
No último dia 02 de setembro, o Beco Literário organizou com o Estante LZ, o primeiro encontro de influenciadores digitais visando o networking e a produção de conteúdo entre eles do Vale do Paraíba, o Vale Influenciadores! Para quem acompanha as redes sociais, viu que os últimos dias foram uma correria para arrumar os brindes, conseguir os últimos patrocinadores e ainda manter todo mundo informado sobre o que estava acontecendo no evento. Não foi uma tarefa fácil, mas conseguimos! E para mostrar um pouquinho de como foram as coisas, produzimos um vídeo no formato de daily vlog, olha só:
O evento aconteceu na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) de São José dos Campos e contou com a presença de nomes como Nicole Oliveira, Gabriel Lucas, Henrique Silva e Armindo Ferreira em um debate totalmente aberto para o público, que beirou as 100 pessoas na manhã de sábado. E essa foi só a primeira edição! Com certeza teremos mais.
E claro, aproveitando esse post para deixar um super obrigado ao Matheus Malex, aqui do Beco, que capturou quase todas as imagens desse vídeo enquanto eu estava na correria da organização ou lá em cima do palco.
Continuando a história de Draccon, em Corações de Neve, segundo volume de Dragões de Éter, o tempo pula 8 meses e o reino de Arzallum parece começar a se recuperar de todas as tragédias que o assolaram. Anísio Brandfort assume o trono do pai com a promessa de honrar a fama do maior de todos os Reis, Maria e Axel engatam um romance digno de contos de fadas e João e Ariane enfrentam os desafios de crescer e assumir todas as responsabilidades que vem com isso. A caçada às bruxas parece cada vez mais inevitável, os segredos desse povo tão intrigante começam a ser revelados e mais personagens surgem, como um tal moço conhecido por roubar dos ricos e dar aos pobres.
A escrita continua a mesma, a marca de Raphael Draccon: quadro a quadro, como em um filme. A descrição é surpreendente, descrição esta que não é feita por um narrador frio e impessoal, mas pelo criador desse mundo tão fantástico. Comicidade e drama se misturam em um tempero perfeito e Nova Éter passa a se solidificar mais em nossas mentes. Conhecemos o reino dos Corações de Neve, a qual a filha foi prometida a Anísio e, após a quebra da maldição do príncipe/rei, vira a nova rainha de Arzallum. Claro que história boa tem que ter maldição, então, algo muito estranho começa a acontecer com o pai da rainha… As histórias não param. Os personagens não param. Tudo se entrelaça e, ao contrário do que se espera de um livro longo, não tem encheção de linguiça, nem enrolação. Cada página é necessária e vale a pena ser lida.
Esse livro voou mais rápido do que o primeiro e tenho que admitir que o Draccon me surpreendeu. Olhando de fora, tem tudo para deduzirmos que vai ser uma leitura longa e dolorida, me julgaram louca por andar de um lado para o outro com um livro de 500 páginas em plena era de e-books, mas valeu a pena! O mundo se torna muito mais bonito quando acreditamos que contos de fadas podem ser reais. Recomendo tanto quanto o primeiro, mas se preparem: você vai pular da última página para a primeira do terceiro volume, não vai conseguir parar. Agora, de volta para Nova Éter, pois tenho uma história para terminar. E um.. Dois… Três.
Escrever um poema após Auschwitz é um ato bárbaro – Theodor W. Adorno
Maus é uma graphic novel de Art Spiegelman. Publicada inicialmente em capítulos na Raw, revista de quadrinhos e artes visuais de vanguarda editada pelo próprio Spiegelman e Françoise Mouly, entre 1980 e 1991, foi posteriormente publicada em duas edições: em 1986 a parte I História de um sobrevivente: meu pai sangra história e em 1991 a parte II E aqui meus problemas começaram, sendo, por fim, publicada em 1994 em edição completa contento as duas partes.
Segundo EISNER (2005, p. 8) entre 1965 e 1990 os autores das histórias em quadrinhos começaram a se interessar por conteúdos literários, acarretando em um mercado de distribuição e no surgimento de lojas especializadas.
Autobiografias, protestos sociais, relacionamentos humanos e fatos históricos foram alguns dos temas que passaram a ser abraçados pelas histórias em quadrinhos. As graphic novels com os chamados “temas adultos” proliferaram e a idade média dos leitores aumentou […]. Acompanhando essas mudanças, um grupo mais sofisticado de talentos criativos foi atraído por essa mídia e elevou seu padrão. (Ibidem)
Esta obra de Spiegelman se encaixa no que Eisner chamou de “temas adultos”, já que nos apresenta uma narrativa sobre o Holocausto por meio da biografia de seu pai, Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu aos campos de concentração.
O sucesso e aceitação da obra são tamanhos que Maus passa a ser o único quadrinho a ganhar, em 1992, o Prêmio Pulitzer, importante premiação norte-americana dada a obras e instituições que se destacam nas áreas de jornalismo, literatura e composição musical.
Maus nos traz várias dimensões dentro da obra como, por exemplo, o caráter jornalístico, a metalinguagem e a autobiografia. Art nos mostra não só uma história do Holocausto, mas o processo de “contação” e de “investigação” dessa história (já que ele se coloca como personagem). Sendo assim, o autor vai além ao fundir sua própria autobiografia àquela do pai, é uma história sobre consequências acima de tudo e como o evento traumático vivido por Vladek pôde influenciar sua relação com o filho e demais pessoas que o cercam.
Autobiografia e investigação em Maus. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 13.
Outra dimensão interessante dentro desta obra de Spiegelman é o caráter de fábula. Como se pôde perceber pela imagem acima, em Maus os humanos passam pelo processo de personificação (ou prosopopeia): judeus são representados como ratos, alemães como gatos, norte-americanos como cachorros, poloneses como porcos e franceses como sapos.
Em um primeiro momento, se considerarmos o conceito de fábula como: narrativa fantasiosa que apresenta uma lição de moral e na qual animais têm características humanas, podemos entender a escolha de Art Spiegelman como um meio de acentuar o caráter “surreal/absurdo” do tema, no sentido de se narrar um fato que foge à compreensão.
Diversos autores que trabalharam com esta temática ou vivenciaram o Holocausto deixaram trechos em que comentam a impossibilidade de se entender Auschwitz. Como, por exemplo, Sarah Kofman no livro Paroles suffoquées:
Sobre Auschwitz e depois de Auschwitz, não é possível narração, se por narração entende-se: contar uma história de eventos fazendo sentido. (KOFMAN apud SILVA, s.n.t., p. 6)
Ideia também presente no trecho de Adorno que escolhemos para epígrafe deste artigo.
O Holocausto perseguiu e exterminou cerca de seis milhões de judeus em uma operação que ficou conhecida como “Solução Final”. Múltiplas formas de assassinato foram utilizadas: fome, frio, trabalho forçado, além da mais conhecida: a morte nas câmaras de gás e posteriormente incineração dos corpos para que nada, nenhum vestígio, sobrevivesse.
Além da dimensão da fábula, o entendimento do Holocausto como um evento que recusa a interpretação lógica é abordado pelo próprio Spiegelman dentro da obra:
A incompreensão de Auschwitz. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 224.
Para além desta primeira explicação, o uso da personificação também pode ser considerado como parte do ideal nazista, já que uma das crenças que sustentavam o regime era a de que os alemães eram uma raça superior e os judeus, inferiores.
Isto é, ao não desenhar rostos humanos e suas particularidades, Spiegelman unifica as personagens e as coloca como pertencentes a um grupo homogêneo: aquele designado pela raça. Tal fator fica ainda mais visível ao analisarmos a epígrafe escolhida para Maus, uma conhecida frase de Hitler:
Sem dúvida os judeus são uma raça, mas não são humanos – (SPIEGELMAN apud Hitler, 2009, p. 10).
MAUS E A LITERATURA DE TESTEMUNHO
Nunca existiu um documento da cultura que não fosse ao mesmo tempo um [documento] da barbárie – Walter Benjamin
Literatura de testemunho é o relato de alguém (a testemunha) que passou por algum evento ou experiência traumática. Esse tipo de literatura está primeiramente associado à literatura do Holocausto, aquela feita pelos sobreviventes dos campos de concentração da II Guerra Mundial como, por exemplo, Primo Levi e sua obra mais conhecida É isto um homem? (1947).
Contudo, tal conceito também pode se estender aos depoimentos feitos por sobreviventes de outros genocídios, como os massacres indígenas da América Latina, ou mesmo aqueles que foram perseguidos e sobreviveram a outros períodos ditatoriais.
Segundo Márcio Seligmann-Silva, narrar o trauma assume, para além da importância histórica, o desejo de “estabelecer uma ponte com o outro”, encaixando na categoria de “outro” aqueles que não vivenciaram tal experiência e por isso são incapazes de entender sua total complexidade.
Por outro lado, há inúmeros fatores que dificultam tal processo. Além da já mencionada dificuldade de narrar um evento de natureza tão traumática, há a condição “psicológica” do sobrevivente.
Aquele que produz o depoimento sente dificuldade de se afastar para poder produzir um testemunho lúcido e íntegro, “mais especificamente, o trauma é caracterizado por ser uma memória de um passado que não passa” (SILVA, 2008, p. 69).
O muro não é derrubado por completo e o estranhamento entre o enunciador e o outro e entre a realidade vivida como trauma e a realidade exterior permanecem. A inverossimilhança, o absurdo e o surreal dos eventos vividos precisam ser traduzidos por meio da lógica linguística e da verossimilhança atribuída ao mundo exterior, surge, então, o desafio de se “narrar o inenarrável”. Tal fato pode ser visto em inúmeras passagens de Maus.
Art x Vladek. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 6.
Logo nas primeiras páginas da obra somos apresentados a uma remota lembrança de Art durante sua infância em um diálogo com o pai, Vladek. Neste momento, já podemos perceber como um fato corriqueiro da vida entre pai e filho (o aconselhamento) é mediado pela experiência de Vladek nos campos de concentração.
Ademais, outro fator presente em inúmeras páginas é a obsessão de Vladek por economia e organização.
Consequências do Holocausto. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 100.
Esta personalidade não é compreendida pelo filho e é o motivo da maioria das brigas entre os dois, contudo, colocando o comportamento atual de Vladek em paralelo às experiências vividas por ele em Auschwitz relatadas ao filho, fica evidente ao leitor a ligação entre as duas realidades.
Um dos motivos que fizeram Vladek Spiegelman sobreviver ao Holocausto foi sua habilidade para negociar. Racionava porções de comida para mais tarde trocar por objetos de seu interesse, negociava com guardas e outros prisioneiros, sempre tentando sobreviver e melhorar, ainda que minimamente, seu tempo no campo de concentração.
Com relação à organização, ela pode ser atribuída à disciplina exigida dos prisioneiros dentro de Auschwitz. Em um dos momentos do relato, Vladek menciona que durante um tempo teve a profissão de bettnachzieher – um “arrumador de cama”, depois que todos arrumavam as camas e saiam dos pavilhões, ele era o responsável por ficar e deixar tudo mais organizado e arrumado.
Um ponto interessante ainda a ser tratado diz respeito ao personagem de Art dentro da obra. As conclusões chegadas acima, por exemplo, são subentendidas pelo leitor. O comportamento de Vladek permanece uma incógnita para o filho.
A incompreensão de Art. Fonte: SPIEGELMAN, 2009, p. 174.
Há dois momentos-chave na obra para entender tal relação. O primeiro em uma conversa entre Art e sua esposa, Françoise, e o segundo entre Art e seu analista, Pavel, também sobrevivente dos campos de concentração. Em tais situações, o autor revela a relação conturbada e os sentimentos conflituosos que nutre com relação ao pai e a Auschwitz.
Retomando a teoria da literatura de testemunho, percebemos que há também em Art Spiegelman a dificuldade do narrar. O próprio autor, ainda que não tenha sido perseguido pelos nazistas, também é um sobrevivente e faz parte do trauma já que teve sua vida inteiramente modificada pelo Holocausto, o qual desencadeou a morte do irmão mais novo, Richieu, o suicídio da mãe, Anja, e os problemas de relacionamento com o pai.
Art Spiegelman faz parte de um grupo de quadrinistas que retratam em suas obras temas polêmicos e complexos como o Holocausto. Para além de suas habilidades técnicas e as dimensões do testemunho dentro de sua obra, o livro aqui analisado é um documento importante para a compreensão das grandes catástrofes produzidas pela humanidade.
Em uma era como a nossa, em que regimes de direita sobem novamente ao poder, em que guerras civis se espalham pelo mundo e a aversão entre diferentes povos e religiões parece cada vez maior, é fundamental o conhecimento e compreensão das atrocidades do passado para que, talvez, não cometamos os mesmos erros novamente.
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, Theodor W. Crítica cultural e sociedade In:____ Indústria cultural e sociedade. Trad. Juba Elisabeth Levy. Paz e Terra: São Paulo, 2002, 5. e.d., p. 61.
EISNER, W. Narrativas gráficas. Trad. Leandro Luigi Del Manto. Devir Livraria: São Paulo, 2005. Enciclopédia do Holocausto. Disponível em: < https://www.ushmm.org/ptbr/holocaust-encyclopedia>. Acesso em: 5 dez. 2016.
GERHARDT, Rosani Ketzer; UMBACH, Carla Carine. Uma leitura de Maus: a história de um sobrevivente. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo. Santa Maria, n. 22, p. 46 – 55, 2013. Disponível em: < https://periodicos.ufsm.br/LA/article/view/12972/pdf>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SALGUEIRO, Wilberth. O que é literatura de testemunho (e considerações em torno de graciliano
ramos, alex polari e andré du rap). Matraga: Estudos Linguísticos e Literários. Rio de Janeiro, v. 19, n. 31, p. 284 – 303, 2012. Disponível em: < http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga31/arqs/matraga31a17.pdf>.
SILVA, Márcio Seligmann. Testemunho da Shoah e literatura. s.n.t. Disponível em: < http://diversitas.fflch.usp.br/files/active/0/aula_8.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SILVA, Márcio Seligmann. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. PSIC. CLIN., Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 65 – 82, 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05>. Acesso em: 5 dez. 2016.
SILVA, Rodrigo Vieira da. Quando a guerra alquebra o pai: a falência da figura paterna em Maus, de Art Spiegelman. Editora EDUEPB: Campina Grande, 2009, 13p.
SPIEGELMAN, Art. Maus: a história de um sobrevivente. Trad. Antonio de Macedo Soares. Companhia das Letras: São Paulo, 2009.
Encerrando os nossos especiais do Beco na Bienal (aaaaaaah) sobre a Bienal do Livro, hoje temos o especial da FML Pepper. Autora carioca com nome gringo, Pepper conquistou o público infanto-juvenil com a trilogia Não Pare!, publicada pela editora Valentina. Agora, na Galera Record, ela promete surpreender com seu novo livro Treze, lançamento da Bienal do Livro Rio 2017. Confira a programação e vá lá pegar um autógrafo com ela, é um amor de pessoa. http://bienaldolivro.com.br
FML PEPPER
Ser apaixonada por leitura não ia de encontro à minha origem. Vinda de uma família humilde, eu não tive acesso a livros de ficção no decorrer de minha infância. Eles eram caros e meus pais esforçavam-se por comprar os estritamente necessários (e chatos!), tais como: matemática, física, química, etc.
Tive que deixar minha paixão pela leitura de lado e começar a trabalhar desde cedo. O tempo se esvaía, como água entre os dedos, e não me sobravam minutos para os sonhos. Nunca. Minha vida foi tomando outros rumos e acabei me formando em Odontologia (que, por sinal, aprendi a amar também).
Porém, a mesma vida que me fez mudar de direção, deu uma guinada em sua trajetória e me colocou face a face com meu antigo e fulminante amor: Os Livros de Ficção, mais especificamente, os livros infanto-juvenis. Wokaholic assumida, vi meu mundo ficar de cabeça para baixo quando meu médico me disse que estava grávida, mas que era uma gravidez de risco e que teria que ficar de repouso durante os nove meses, caso realmente quisesse segurar o bebê em meus braços.
De início, achei o máximo ficar algumas semanas sem fazer nada, só comendo besteiras e vendo todos os programas da televisão ( que nuca tive a oportunidade de assistir!). Mas, os dias foram passando e, com eles, a minha paciência. Após um mês deitada, comecei a ficar nervosa e estava a um passo da depressão quando meu marido (e nas horas vagas, meu super herói) entrou em ação. Vou me recordar até os últimos dias de minha vida quando ele chegou em casa carregando um presente envolto num lindo embrulho e disse com um sorriso travesso nos lábios:
“Você já dormiu demais. Está na hora de começar a sonhar.”
Abri o pacote e lá estava o meu grande amor piscando para mim: um livro de ficção e não de odontologia. E era infanto –juvenil!
Bom, dali em diante, devorei quantidades absurdas deles. Não sei se vale a pena dizer, mas eu li quase 100 livros em menos de um ano. Loucura, não? Mas é a pura verdade.
O resto são detalhes.
Obras: Trilogia Não Pare! (Não Pare!, Não Olhe!, Não Fuja!), Treze.