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Eu queria ele morto
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Anti-heróis: Eu queria ele morto

Todo mundo tem uma história trágica de amor. Aquele romance que tinha tudo para dar certo e não deu. Aquele romance que deu certo por muito tempo e algo trágico separou. Alguém, que mesmo com o passar do tempo e das circunstâncias ainda faz seu coração bater mais forte. Nós queremos ouvir a sua história e publicar aqui, no Beco Literário na nossa nova seção: anti-heróis.

Baseado no álbum novo do Jão, Anti-herói, que conta a história de um amor que devastou e foi embora, nós vamos ouvir a sua história e reescrevê-la aqui no Beco Literário para que possa ser eternizada e ressignificada, afinal todo mundo tem o seu the one that got away. 

ATENÇÃO: O RELATO ABAIXO TEM GATILHOS DE SUICÍDIO, TRANSTORNOS MENTAIS, RELACIONAMENTOS ABUSIVOS E AGRESSÃO VERBAL E EMOCIONAL. NÃO PROSSIGA CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A UM DESSES ASSUNTOS E NÃO DISPENSE AJUDA PROFISSIONAL.

CVV – Centro de Valorização da Vida – Ligue 188 se precisar conversar

A gente se conheceu na minha casa. Ele era cliente da minha mãe e sempre ia lá com um amigo, o Gustavo*. O amigo e eu estudávamos na mesma escola.

Gustavo chegou em mim um dia e disse que o Fábio estava afim de mim e no dia seguinte, ele apareceu na saída da escola. Não ficamos nesse dia, mas nos encontramos de novo alguns dias depois e então, ficamos pela primeira vez.

Fábio era um garoto amoroso. Sempre dizia que eu era uma menina maravilhosa e divertida. Ele era só amores comigo. Depois disso, apareceu algumas vezes para me buscar na escola e começamos a namorar escondido.

Ele quis oficializar, então. Pediu aos meus pais.

– Sr. Antônio, eu gostaria de namorar a sua filha, Renata. – Ele disse.

– Não. – A reposta veio seca, cortante. E eu fiquei bem triste. Eu não era do tipo que pedia para sair nem nada do tipo. Achei que tivesse a confiança dos meus pais quando começasse a namorar, mas ela não veio.

Minha mãe intercedeu por mim.

– Antônio, deixa a garota namorar! Não tem mal nenhum, ela já tem 18 anos! – Ela dizia, o dia todo. – Melhor aqui em casa, com a gente sabendo, que escondido pelas beiradas da rua, hein?

Começamos a namorar duas semanas depois. Ele me levava para almoçar na casa dele aos fins de semana, rasgava elogios até não querer mais. Nosso começo de namoro foi lindo. Até que eu comecei a desconfiar.

– Amor, você é uma menina incrível! Eu amo quando você vem almoçar comigo, que você fica aqui comigo… – ele começava – O que seus amigos acham disso?

E eu, ingênua, respondia.

– Hum, não seria melhor se você não andasse mais tanto com o Mário? Nunca confiei muito nele. Ele repara muito em você. – Ele completava.

Eu, inocente, achava que eram sugestões para o meu bem. Ele sempre rasgava elogios sobre mim. Mas foi então que as coisas começaram e eu sequer percebi: me afastei de amigos, de pessoas que cresceram comigo. Me afastei de todos os rapazes que eu conhecia. Todos eles misteriosamente davam em cima de mim.

Foi quando o Gustavo começou a me vigiar na escola. Se eu falasse com um garoto no intervalo, ele corria para contar para o Fábio depois da aula. Sempre acabava em briga e eu sempre acabava me desculpando. Eu sempre era a culpada, afinal.

O controle avançou.

– Ei, você não acha essa blusinha muito decotada, não? Todo mundo tá olhando pra você. – Ele dizia.  – Esse shorts é muito curto, suas pernas são grossas. Todo mundo vai olhar.

Passei a mudar minhas roupas. Eu fui definhando. Hoje eu vejo o quanto morri aos pouquinhos naquela época. Comecei a andar de camiseta e calça. Nem sandália eu podia usar.

Então, eu comecei a adoecer fisicamente. O diagnóstico? Histeria. Quando aflições mentais começam a somatizar, isto é, encontrarem uma forma de saírem pelo corpo. Quanto mais a gente esconde, mais esses afetos saíam de mim em sintomas físicos.

Eu estudava perto de casa e consegui uma bolsa em uma escola cara da cidade. Ninguém poderia me vigiar lá e ele perderia seu controle sobre mim.

– Amor, você não acha que essa distância só vai nos separar? – Seu jogo mental começava. – É isso que as pessoas querem, deixar a gente enfraquecido, separado….

Eu passei a não dormir. Convulsões começaram a ser frequentes, assim como os desmaios. Eu mal andava na rua porque tinha medo de alguém ver e ir correndo contar para ele. Eu era um peso morto por dentro.

Comecei a tomar calmantes para dormir.

Um dia, eu estava com um outro amigo na rua. Ri como há muito tempo não ria. Tive uma crise de riso. Ele passou seu braço pelo meu ombro e pelo ombro de outra amiga, que estava do outro lado. O Gustavo viu e correu para contar ao Fábio.

– VOCÊ ME TRAIU!!!!!! – Ele esbravejava. – Eu faço de tudo por você e você fica aí, pra rua, me traindo feito uma piranha qualquer? Você me enoja, Renata. E você não dá a mínima pra mim e pro nosso relacionamento….

Minha mãe apareceu.

– Fábio, melhor você ir embora. – E então, se voltou para mim. – Assim, a Renata não faz mais coisas erradas para te magoar.

Fiquei sem reação. Minha mãe deveria ter me defendido. Mas ela não parou por aí.

– Você não tem vergonha não, Renata? – Seu tom era incisivo. – O garoto faz de tudo por você e você fica aí, brigando com ele… Assim não dá, né, minha filha? Não tem quem te aguente!

E nesse instante, eu cansei. O peso morto tomou conta de mim. Peguei minha cartela de calmantes e fui ao banheiro. Minha mãe achava que eu tinha tomado um comprimido para me acalmar.

Eu tomei os dez. 

No segundo seguinte, estou deitada na cama e todos os fantasmas vêm aos meus olhos meu saudar. Borrões disformes.

Ouço um barulho de sirene ao fundo, pessoas me carregando. Um médico? Alguém me amarrou. Eu vomito, mais de uma vez, repetidas vezes.

Meu pai tem mania de limpeza. Assim que alguém sai, ele entra pra ver se não fez bagunça. Ele achou um comprimido no chão. Minha mãe tentou se arrepender, mas já era tarde demais. Eu já estava entregue ao peso morto. Completamente grogue. Chamou a ambulância, fizeram lavagem estomacal. Sobrevivi, acordei dois dias depois.

Fábio sequer foi ao hospital. Fiquei dois dias apagada e ele não deu a mínima.

Voltei para a minha casa e ele apareceu.

– Oi, dona Márcia. Sou eu, Fábio. – Ele disse do portão. – Pode deixar que eu assumo a Renata a partir de agora.

Assumir. Como se eu fosse o volante de um carro. Como se eu estivesse grávida, mesmo sem nunca ter rolado nada. O peso morto virou uma bomba relógio em mim enquanto minha mãe falava.

– Fa, não estou encontrando a chave… Espera um minutinho só.

Peguei tudo de força que tinha dentro de mim e fui até a cozinha. Abri a segunda gaveta, das facas. E eu fui até o portão.

Depois da minha tentativa de suicídio, eu finalmente acordei. Eu sabia que era culpa dele e eu queria ele morto.

Vi seus olhos arregalarem, assim como os do seu pai, que estavam com ele. Ele correu para o carro. Foram embora arrancando pneu.

Ele nunca mais apareceu, eu me desfiz de tudo que envolvia Fábio na minha vida e nunca agradeci tanto pela chave que fora abduzida para baixo da mesa e ninguém viu. Ele finalmente estava morto pra mim.

* Os nomes foram trocados para manter as devidas identidades preservadas.

CVV – Centro de Valorização da Vida – Ligue 188 se precisar conversar

Tem uma história como “Eu queria ele morto” e quer contar aqui na “Anti-heróis”? Envie para [email protected]. *Os nomes foram e serão trocados para manter as identidades devidamente preservadas.

Ressignificar: uma imagem com um arco-íris de fundo e uma placa mostrando uma mãe e filho de mãos dadas para atravessar a rua
Autorais, Livros

Um ano de ressignificar tentativas

Eu já fiz tanta coisa. Tentei abrir vinte e cinco empresas diferentes, quarenta e nove projetos e já quis ser arquiteto, médico, dentista, engenheiro…. Acabei me formando como jornalista. Já entrei em tanta coisa que eu não queria entrar. E eu tive que ressignificar muito.

Eu já tentei de tudo e há quem veja de fora e diga: você não tem foco, não? A verdade é que eu, por muito tempo, achava que meu foco estava perdido. Mas quando o foco está perdido, a gente precisa encarar os fatos: estamos sem foco. E foi nessa que eu me meti em várias ciladas. Principalmente no âmbito profissional, onde pareço sublimar tudo o que acontece na minha vida.

Sabe, eu já tive zilhões de blogs. Vários perfis no Instagram de coisas diferentes. Eu já fui influencer wannabe de todos os nichos possíveis: finanças pessoais, comportamento, marketing digital, literatura e, acredite se quiser, moda masculina. E eu tentei, sabe? Mas essas tentativas me deixaram por muito tempo com medo de mudar.

Com medo de tentar mais, eu me estagnei em muitas coisas que não fizeram tanto sentido pra mim. E eu ficava ali, insatisfeito, com medo do que as pessoas iriam pensar. Quem? Não sei. Talvez eu mesmo.

Parece prepotência dizer que tudo o que eu fiz, e quis fazer, deu certo. Mas na verdade, é que as coisas sempre dão certo. Nada dá errado pra gente, porque no final, sempre tem um aprendizado. E foi assim que eu aprendi a ressignificar minhas coisas e não deixei me estatizar. Tenho cada vez mais, deixado o Beco Literário ir, seguir seu caminho e cada vez mais ele tem se tornado quem ele sempre foi: eu, o Gabu. Com a cara e a coragem.

Talvez eu não tenha dado meu nome porque eu sempre quis me esconder. Talvez eu tenha me fragmentado em vários projetos, porque sim, eu sou plural! Eu quero fazer e experimentar várias coisas no mundo. Gosto do quentinho da minha cama, mas também gosto do frio da barriga do novo e do desconhecido. Eu gosto de tentar.

E foi então que eu tenho entrado nessa jornada de ressignificar. Eu acho que estou conseguindo, mas não sei dizer com certeza. Alguns dias são melhores e eu consigo focar. Outros dias, não são tão bons assim e eu só quero entrar em um ciclo de autossabotagem. Mas hoje, quando olho pra trás, vejo que sim, meu caminho foi meio tortinho. Vejo que minha arma atirou pra vários lados.

Mas isso me possibilitou chegar aqui, são e salvo. Não é meu aniversário, mas é aniversário do Beco Vips, a comunidade do Beco Literário, a primeira coisa que ressignifiquei e quero continuar a ressignificar. Quando o site estava falido, a beira de fechar de uma maneira que eu não queria, a comunidade surgiu e hoje ela faz um ano. Nela, fiz amigos. Quem está lá, pode conhecer um pouquinho mais do Gabu e eu tenho a sorte imensa de todos eles terem compreendido as minhas mudanças, as minhas fases e as coisas que eu queria ou não fazer.

O Beco Literário, o #BecoVIPs, antes era meu armário. Meu refúgio do mundo. Hoje ainda é um Beco, mas ele é mais iluminado, mais bem povoado e com mais pessoas no mesmo barco. Pode estar tudo bem, pode estar tudo ruim, mas é como ter sempre aquele abraço quentinho e fraterno, não importa se estejamos a uma rua ou a um oceano de distância. Agora, vejo que todas as vezes que pensei em fechar o site, eu não consegui levar pra frente porque precisávamos chegar nesse ponto em comum.

Mesmo que hoje em dia, eu não escreva tanto por lá, porque não me cabe ou porque não sinto vontade, é de onde eu vim. É de onde milhares de outras pessoas, outros escritores, virão. É o nosso pontapé inicial, e também é nosso ponto de referência. Depois de todos esses anos, dúvidas e tentativas de ressiginificar, o Beco não é só um site. O Beco é um pedacinho de mim e de cada pessoa que está lá.

Pode ser que não tenhamos o site no ano que vem, quem sabe? Pode ser que tenhamos por mais cinquenta anos, não sei. Mas tenho certeza que tem um pedacinho dele em cada um que teve sua vida mudada pelos ventos de lá. O Beco Literário é o Gabu Camacho. O Beco Literário é você, Becudo.

E ele sempre estará lá te dando as boas vindas e aquele abraço quentinho. Lá. No fundo do nosso coração. Obrigado pelo primeiro ano juntos. <3

Autoria: Mares novos, ares mais novos ainda, por Fernanda Rafaela
Autorais, Livros

Autoria: Mares novos, ares mais novos ainda, por Fernanda Rafaela

Um belo dia, nos mares que navegamos e nas ondas que nos deixamos levar, a tormenta em nossa vida vai embora e começamos a navegar em um oceano que jamais imaginaríamos estar.

Nos jogamos de um penhasco rumo direto ao mar, e chegando lá embaixo, sentimos a água gelada no rosto invadindo todo o nosso corpo, um leve choque que não parece tão ruim quanto parecia ser outrora, e a brisa que se mistura com a maresia logo quando voltamos para a superfície, toca levemente o rosto nos fazendo lembrar que a vida pode ser leve em alguns momentos.

Nas noites calorosas vivenciamos uma aventura nova, criamos novos sonhos e criamos também expectativas de conhecer pessoas novas para mudar nossos ares, uma vida diferente afinal, mas é para isso que nascemos e não podemos ficar parados em um barco onde nada flui, nada acontece e ficamos esperando ali parados que tudo mude um dia.

Somos feitos de todas as aventuras das quais vivemos ao longo de nossa jornada, de nossas decepções que nos ensinam a corrigir nossos erros muitas vezes, de nossas frustrações, encantos e tudo o que pudermos sentir aqui dentro. Somos feitos disso, daquilo e jamais deixaremos de nos orgulhar de sermos aventureiros excêntricos e inigualáveis nesse mundo.

Pela primeira vez podemos ser nós mesmos, mostrarmos sem rodeios para o que viemos e não termos medo de mais nada, pois o medo já se foi há algum tempo e junto com ele foi-se também toda a tormenta dos mares, aqueles mesmos mares que nos prendiam desde o começo.

Então lemos e relemos essa reflexão dos mares e, alguns vão pensar em relacionamentos, outros em oportunidades da vida e terá também aqueles que pensarão sobre novos acontecimentos que podem enxergar que estão por vir logo ali na frente.

 As aventuras começam, e junto com elas todos os sonhos se realizarão, assim se é esperado! Sonhos então.

partir
Autorais, Livros

Autoria: parte de ir, partir

parte de te deixar ir, era também partir
mas você partiu antes que eu te deixasse ir, até hoje penso que nunca deixei
você partiu e me partiu, como um bolo

leia ouvindo: palo santo, years & years

eu lido bem com o vazio, sozinho, pensando se alguém algum dia vai demonstrar amor como você me demonstrou, com a simples diferença de que essa pessoa realmente vai ter um amor para me oferecer. não vai demonstrar e partir;

sigo pensando se esse alguém vai estragar meus melhores dias e pedir desculpa logo em seguida da maneira mais descarada possível, sigo pensando se tudo aquilo no início não era um sinal para eu ter desistido, mas teimoso como sou, infringia as regras.

esperei.

você agora é a escuridão que existe em mim, com a diferença de que ela me abraça de uma tal forma que você nunca fez e me acolhe de forma desesperada.

Esse é mais um daqueles textos que esqueci quando fui publicar “contando estrelas cadentes“. Olhando agora, talvez eu saiba que o deixei de fora por fugir um pouco da estética de poesia do livro em si. Eu também queria que o livro fosse uma montanha russa que vai só para cima, para nunca mais descer. E esse texto, desce nas raízes mais profundas de mim. É uma ida e volta ao submundo. Como não pretendo escrever tantas poesias assim por algum tempo, também resolvi deixar registrado por aqui.

Gosto de começar as coisas
Autorais, Livros

Autoria: Gosto de começar as coisas

É engraçado que esse ano de 2020 está me fazendo contradizer tudo o que eu já escrevi em meus quase vinte e quatro anos de vida. Sempre disse que eu era apaixonado pelos finais, mas recentemente descobri que gosto de começar as coisas.

Nós, seres humanos, temos uma tendência grande a reprimir as coisas, principalmente o que é doloroso. Isso é psicanalítico, até. Na linguagem técnica, a gente recalca certas coisas no nosso inconsciente e esse recalque, essa barreira, não deixa com que as coisas vazem de lá para a nossa consciência, para o nosso dia-a-dia.

Leia ouvindo: Love Ballad, Tove Lo

Eu tenho reprimido muitas coisas em mim há muito tempo. Sempre gostei de escrever sobre comportamento, sobre relacionamentos, sobre reflexões… Sempre me inspirei muito em nomes como Isabela Freitas, Daniel Bovolento, Igor Pires, Thalita Rebouças, Bruna Vieira. Meu primeiro livro foi inteiramente inspirado em um da Bruna.

Eu sempre quis escrever sobre o amor. Sobre mim. Sobre meus sentimentos. Quando foi que eu reprimi toda essa vontade e todos esses sentimentos? Quando foi que eu ignorei e segui outros caminhos? Quando foi que eu desisti de tudo isso? Quando foi que eu gostei de começar outras coisas tão longes do meu caminho?

Sempre que a gente reprime alguma coisa, ela vem à tona. Sempre. As coisas vem, e se não vem por bem, vem por mal, por meio de sintomas físicos e psíquicos. E essas coisas sempre esperam alguns momentos para irem de zero a um milhão.

Pode ser que espere um momento ruim, pra ir de zero a um milhão negativo. Mas também pode ser o contrário.

Desde o final da minha faculdade, minha presença na internet e no conteúdo que produzo não tem sido mais tão passiva. Eu não conseguia ficar só no entretenimento de resenhas sobre livros. Ou de opinar sobre romances de época. Eu precisava de mais. Eu precisava começar mais.

Eu comecei a questionar, entender que as coisas tem um buraco mais embaixo do que realmente vemos. Passei a cutucar, entender e então, exemplificar, falar, demonstrar. Eu gosto de dividir o meu conhecimento, as minhas reflexões e tudo o que aprendo.

Nunca pensei que seria um Jornalista da televisão. Sempre soube que seria da internet. E sempre soube que eu seria questionador, mas também, que eu escreveria sobre esses sentimentos que temos vergonha de sentir. Ou que recalcamos dentro do nosso inconsciente.

Esse ano, com a quarentena, foi o meu momento bom de ir de zero a um milhão. Eu fui. E as coisas explodiram dentro de mim. Eu entendi que deveria ter começado a escrever sobre sentimentos, autoconhecimento e comportamento há pelo menos cinco anos atrás. Eu só não podia ainda.

Agora eu posso e explodo por isso. Cada vez que você aceita quem você é de verdade, você explode, você cresce e começa a ir mais alto.

E aí, nos encontramos lá no topo?

O ansioso e o surtado
Autorais, Livros

Autoria: O ansioso e o surtado, ao mesmo tempo

Eu não sei o que acontece comigo que tem dias que eu acordo surtado. Mas aquele surtado 300% ansioso, querendo fazer tudo e que tudo aconteça ao mesmo tempo. Abraçar o mundo e o resto que se dane.

Eu sou ansioso, desde sempre. Já se foram alguns milhares de reais em florais, fitoterápicos, terapia, psiquiatras, remédios…. As coisas melhoraram. Ultimamente, tenho conseguido controlar (na maioria dos dias, pelo menos), só com a ajuda da psicanálise que tenho feito religiosamente toda sexta-feira de manhã.

Sexta é o meu dia preferido da semana, então, eu achei bom começa-lo já com esses tapas na cara tão necessários pra eu seguir em frente. E eu fico bem.

Acontece que hoje é terça e o universo jogou os dados resolvendo me testar. Acordei ansioso.

Sim, eu abraço o mundo. Atualmente, tenho meu trabalho principal, na Helpis. Tenho meu trabalho paralelo, aqui e nas redes sociais. Tenho meu trabalho social, no Beco Literário. E a minha pós-graduação, que coincide de ser na área da psicanálise também.

Vou tentar colocar uns pingos nos Is agora, porque eu sempre sei que gosto de pegar coisas demais pra fazer e quando eu vejo, o desastre está feito e eu não sei o que eu quero fazer da minha vida mais.

Na Helpis, sou diretor de conteúdo e recursos. Isso significa que eu escrevo e aprovo todos os textos, de todos os clientes. Também significa que eu gerencio todos os recursos da empresa: funcionários, pagamentos, contas, salários e afins. É a parte que eu mais gosto de fazer. O meu escritório é em casa, então, dentro do meu horário de trabalho, a Helpis não me toma mais que meio período.

Aqui, no Gabu Camacho e nas redes sociais, o buraco é mais embaixo. Ainda é um trabalho paralelo e talvez seja assim para sempre, não sei. Gosto de escrever sobre comportamento, relacionamentos, minha vida, psicanálise, astrologia, tarô, o infinito e além. Porque eu sou infinito assim. A mesma coisa acontece nas redes sociais. Minha vida se torna roteiro pra tudo o que eu faço. E é nesse ponto que a porca torce o rabo, porque eu quero fazer tudo. Eu quero falar sobre tudo que eu gosto (o que não é pouco, não, viu?). Compartilho os livros que leio, as músicas que ouço, minha jornada na pós, o que eu aprendo e o que eu desaprendo. Gabu, mas pra que isso? Pelo autoconhecimento, talvez. Eu amo me conhecer e carregar nessa jornada comigo e consigo quem eu puder. Já falei de livros, literatura, moda, marketing, finanças…. Será que eu nunca percebi que tudo isso faz parte de quem nós somos? Do nosso comportamento? Porque é disso que eu gosto de falar.

E ainda tenho que acrescentar que recentemente abri um lote de vendas do #GabuClub, minha leitura dirigida! Vai ser massa. 😛

O Beco Literário é autônomo. Os próprios membros aprenderam a se servir dele. E ele tem se tornado cada vez mais o Gabu. Não o Gabu Camacho do Beco Literário. O Gabu que não precisou mais se esconder, que se encontrou e tem se encontrado com seus próprios textos. Talvez o site não exista mais daqui a algum tempo, não sei dizer.

A pós-graduação tem altos e baixos. Alguns módulos que devoro em dois dias e outros que me arrasto pelos 15 dias. Estou em um desses. Amo o que estudo, cada vez me parece mais certo, mas tem dias que só por Deus, hein?

O fato é que apesar de tudo isso, em alguns dias eu quero mais. Quero criar novos projetos dentro da Helpis, do Beco Literário e do Gabu Camacho. Quero criar quinhentas coisas e botar em prática seiscentas.

Qual é, dá tempo, né? O ansioso e o surtado dão as mãos e vão em frente.

NÃO? Ah, ok.

travesseiro
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Autoria: O quarto travesseiro

eu me lembro de querer um amor, me lembro de levantar da cadeira às duas da tarde, todos os dias, andar pelo bairro de rico, passar pelo trabalho da minha mãe e comprar uma marmita. o meu fone estava no ouvido, eu tinha o tinder instalado e um iphone quatro. no meu fone, eu ouvia the neighbourhood e entendia a dor. só queria ser feliz e encontrar alguém para dividir meu quarto travesseiro. durmo com quatro. um dia pensei que eu era fodido da cabeça.

leia ouvindo: capitão gancho, clarice falcão

sempre gostei da solidão, do belprazer que era estar comigo mesmo. de passar a mão pelo meu braço e me sentir. sentir que era eu cuidando de mim mesmo. de sentar no banco do parque, ao anoitecer, ver o por do sol sozinho sobre as vitórias régias enquanto rabiscava alguma coisa no meu caderninho de textos que viria a se tornar meu livro mais tarde.

no dia que imprimi meu manuscrito, você foi embora.

no dia que te dei de presente, no mesmo lugar, te filmei

te disse que um dia ia te aplaudir da primeira fileira quando ganhasse um prêmio, a minha cabeça achava que você faria o mesmo, mas eu não era alguém com quem você queria dividir o travesseiro. você não me aplaudiu da primeira fileira. você sequer foi ao show.

no meu camarim, pedi para sair e tomar um ar. eu havia tomado um shot de tequila para perder a vergonha antes de entrar no palco. ninguém sabia disso até agora. me desculpem. mas eu saí, um pouco tonto, você sabe minha tendência a exageros.

liguei para o meu pai e disse me busca agora

ele demorou

fiquei andando e desisti de ir embora, cantarolando jar of hearts da christina perri. será que eu sempre estaria destinado a viver essa merda? seria esse o meu karma? eu queria esquecer a primeira vez que a gente se beijou.

eu devia ter abraçado o meu sofrimento naquela época e nunca ter ido te encontrar com meu chapéu coco, meu manuscrito e minha camisa azul que você abriu com tanta destreza. minha alma se curou da gripe, mas com o tempo ela voltou, felizmente sou vacinado.

hoje eu ainda tenho meu quarto travesseiro e quem dorme nele é a minha cachorra. muita gente já passou por ele e não me orgulho disso. segundo o ministério da saúde sou uma pessoa promíuscua. engraçado que até o ministério da saúde usa palavra rebuscada e você não, você disse que eu era puta.

a gente caiu tão rápido e eu falava que o amor ia nos separar. amor nunca é suficiente. mas sou grato que a gente deu uma chance enquanto podíamos dar e aproveitamos todas as oportunidades no banco traseiro do carro, mesmo quando tínhamos platéia.

eu queria ter roubado a sua blusa, porque assim eu teria uma lembrança sólida de que tudo isso aconteceu um dia, mas eu não tenho nada sólido senão nossos ingressos de cinema que tendem a se desgastar com o tempo. desde o primeiro, guardado, e um dia minha memória não vai ser a mesma que é hoje.

eu esperava ter você do meu lado até lá, para me relembrar do quanto a vida foi gostosa.

do quanto a vida é gostosa todos os dias, mas você pediu demissão de mim e eu de bom, grado, te mandei embora com todos os benefícios que poderia ter. eu nunca amei por aí, mas você eu amei em todos os lugares, chorei em todas as calçadas. meus amigos acham que nós seríamos uma novela mexicana da melhor qualidade, outros acham que eu insisti demais nos seus abusos.

será que eu deveria encontrar outra pessoa?

já cheguei a pensar que nunca teria mais ninguém para mim na terra, acredita? sete bilhões de pessoas no mundo, a ciência diz que temos até gêmeos espalhados por aí e eu pensando que não encontraria mais ninguém como você. na verdade, eu ainda acho que não.

sempre que tento encontrar alguém além de você, eu penso como seria se fosse com você. ou como se eu tirasse você da sua carcaça e colocasse nessa nova pessoa. é difícil lidar com o luto, ainda mais quando a parte morta continua viva.

eu juro que tentei rezar para todos os santos para te ter de volta. li as cartas de tarô, mas nelas sempre estivemos destinados a terminarmos. dia ou outro, elas diziam que voltaríamos ao normal. o meu tarô sempre teve esperança na gente mesmo quando nem a vida tinha.

mesmo assim, você teve coragem de recusar o meu travesseiro, e dizer que eu era louco em todas as oportunidades que teve. meus amigos eram todos vilões, eram todos loucos. lembra? agora não tenho quase nenhum amigo. não que eu me importe muito, eu amo estar sozinho, eu amo estar só comigo. mas você nunca percebeu que ao chamar meus amigos de loucos você estava me chamando de louco? felizmente, sempre fui louco. deus me livre ser normal e ser como você, com medo de me expressar. meu coração é uma janela aberta.

sabe de quem você gostava e nutria um amor pressionado? daquele seu amigo que te dava um brownie de aniversário. eu te dei todo o meu amor e você gostava de um brownie de procedência duvidosa. um brownie custa 10 reais no starbucks. se ele vale mais, meu amor vale pelo menos nove reais.

você pagou nove reais e eu paguei milhões, ainda pago. sério que você me acha tão baixo assim? sério que você nunca percebeu em mim as qualidades que mais admirava nos outros? poxa, eu te dei meu travesseiro.

agora estou aqui no escuro, ouvindo the neighbourhood e pensando que todos esses anos se passaram para eu dar uma super volta em círculo. eu sei que nós temos a vida que escolhemos viver, mas você realmente acha que pode me deixar mais uma vez de molho, no escanteio? quando criança eu morria de medo do escuro, mas hoje ele é quem mais me acolhe junto a essas palavras e essas músicas. vou acender um incenso e tomar um banho de sete ervas.

a biologia demora anos para regenerar minhas células, é reconfortante saber que um dia terei um corpo que você nunca vai ter tocado, mas vai demorar. eu quero te tirar da minha alma agora, mas não sei como se nos tornamos uma pessoa só. a gente virou um só quando dividiu aquela banheira, os sete brigadeiros nos sete meses e até a escova de dentes.

a gente virou um só quando você levantou de noite para pegar água para mim. a gente virou um só quando você ficou sozinho e eu morri por duas horas na sala de cirurgia. você quase me perdeu ali, mas não como quem perde um jogo de copa do mundo. como eu. como eu perdi você agora, mas a culpa nunca foi minha. você sempre quis partir. sempre me gabei de ser um goner, mas o goner era você. sempre estive mais para um stayer. eu fiquei aqui todo esse tempo.

eu pensei que estaria feliz a essa altura do campeonato. não me entenda mal, não estou triste, mas estou levando. meu coração está leve, um peso saiu dele, mas ainda é como se tivesse um carrapato ali que insiste em manter seu nome tatuado a ferro e fogo. não se preocupe, eu não vou remover sua tatuagem assim como você me removeu. sempre fui bandaid na sua ferida, enquanto para mim, você era tatuagem permanente.

passado
Autorais, Livros

Autoria: Sobre o passado

Esses dias li essa frase na internet. O passado é um ponto de referência, não um lugar de permanência. Nós estamos carecas de saber que não é saudável viver o passado, que precisamos focar no presente e no futuro sem trazer o passado. Mas você já parou para pensar no que significa esse “trazer”?

Pois bem, eu parei, essa semana. O passado como local de referência não é trazido ao presente. Ele é parte do seu presente, ele forma quem você é agora. Se você faz alguma coisa no presente é pelo o que você foi. No passado. Não é pelo o que ainda você vai fazer no futuro.

Já parou para pensar em como você vai se relembrar do presente, quando ele já for passado, lá no futuro? Vão ser lembranças boas ou lembranças que você prefere esconder nas profundezas do seu inconsciente até que não seja mais possível?

Eu tenho essa mania de achar que trago as coisas, de me culpar por lembrar de algumas coisas. Mas a verdade é que nós nunca vamos esquecer a nossa história. Porque no fundo, ela é isso. Nossa história, quem nós somos, parte de quem estamos construindo como seres humanos.

Ensaiei algum tempo para vir falar de setembro amarelo, prevenção e saúde mental, mas eu não sabia por onde começar nem qual assunto abordar, mas resolvi falar disso, do passado. Ele passou. Certa vez até escrevi que ele não servia para mais nada, porque já tinha passado. Que engano! Ele está comigo porque é parte de quem eu sou agora. E se eu faço alguma coisa que eu me orgulho no presente, é graças ao Gabu do passado, não graças ao Gabu do futuro. O Gabu do futuro, fará algo em seu presente graças ao meu presente que será meu passado. Dá pra entender?

A nossa história define quem nós somos e como tal, não é perfeita. Não é feita de acertos, nem só de erros. Ela é plural, tem vários lados, vários participantes, vários itens…. O que eu faço agora pode não me definir no futuro, ou pode. Pode esclarecer para mim o que eu devo e o que não devo fazer. Os erros podem ser acertos quando a gente faz as pazes com a nossa história.

Eu estou nessa jornada. Fazendo tudo o que eu faço agora graças a quem eu fui no passado, esperando que, o Gabu do futuro faça a mesma coisa. E você? Já fez as pazes com o seu passado hoje?

Sementes de amor próprio
Autorais, Livros

Autoria: Sementes de amor próprio, por Milênia Aquino

que o amor é um sentimento nobre, todo mundo está careca de saber. uns escolhem explaná-lo ao mundo sem medo. outros o guardam a sete chaves numa espécie de segredo. e há também aqueles que acham que amor é só doação. esse costume em distribuí-lo por aí, para qualquer um, coloca em questão o mais importante dos amores: o próprio.

nenhuma relação é saudável quando você coloca seu parceiro em um pedestal e abre mão de quem é por ele. também não compensa colocar o bem estar alheio em primeiro lugar, numa situação de sacrifícios. isso é reflexo de dependência, não de amor. e muito menos de amor próprio. está muito longe de egoísmo se colocar em primeiro lugar, porque no final será você por você e seu amor por si que te salvará.

o amor próprio é o principal ingrediente para qualquer tipo de relação. é libertador, exercício de prática diária. é andar de mãos dadas consigo mesmo. ser a melhor companhia nos dias nublados, bem como nos ensolarados que pedem praia e água de coco. é auto cuidado. querer seu bem antes de qualquer outro. viajar bem acompanhado, levando na mala as lembranças, cicatrizes, feridas, dores e amores; mas sem querer jogá-la pela janela. é carregar a bagagem da vida sem pender para os lados. é se auto satisfazer. promete que nunca vai amar ninguém antes de si amar? como dizem por aí, não se pode dar o que não tem.

só desejo que de todos os amores, o próprio seja o mais tranquilo. mais afetuoso. em maior quantidade. que jamais você se diminua para preencher espaços apertados, onde o amor seja pouco. e que o próprio crie inquietação para ir embora desses lugares que não cabem sua imensidão. que você não tenha medo da descoberta. em si descobrir, principalmente, em si amar. a jornada pode ser longa, mas quando nascer as primeiras sementes do cultivo de amor próprio e posteriormente,as flores, nunca mais vai olhar para trás e sentir culpada. vai saber o que merece, por onde e quanto tempo ficar.

Autoria: Vai me destruir?
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Autoria: Vai me destruir?

“O menino nunca mais chorou e nunca mais se esqueceu do que aprendeu: que amar é destruir e que ser amado é ser destruído.”

– Cassandra Clare, “Cidade dos Ossos”

Sempre me orgulhei de ser a pessoa que vai se destruir por sentir demais em um mundo onde as pessoas sentem de menos. Eu escrevi isso no meu primeiro livro, O garoto que usava coroa. Sobre o quanto era horrível sentir demais, se destruir demais por coisas que não valiam a pena.

Leia ouvindo: Você vai me destruir, Jão

Mas quando foi que eu parei? Quando foi que eu deixei de sentir tanto e a reprimir os meus sentimentos? Quando eu parei de me permitir sentir tanto? Pera lá, eu estava reclamando mas não eram pros sentimentos ficarem tão reprimidos, não!

Entrei em um estado de negação profundo. Como se negar fosse fazer sumir a sua existência, que para mim, estava sendo inexistente. Sua morte seria mais fácil pra mim. Mas quando foi que eu gostei de seguir o caminho mais fácil, no final das contas?

Então te reneguei. Te velei. Deixei me destruir.

Ao negar, senti que me neguei. Me deixei reprimir, reduzir ao tamanho de uma bolinha de gude. Deixei que tudo se escondesse no mais íntimo do meu ser. Te vi definhar e isso foi meu combustível. Por que parei de me deixar sentir? Porque te deixei me destruir.

Eu sei que preciso me permitir sentir mais. Preciso sofrer esse luto de alguém que está morto mas pode aparecer como um zumbi na minha frente a qualquer momento ansioso por devorar cada parte minha. Por que não se permitir julgar as pessoas quando elas merecem?

Eu sempre falei que era jornalista, não juiz. Seria isso um pressuposto pra deixar você massacrar cada pedacinho meu e ainda sim esperar o melhor de ti? Por que, sabe, eu sempre espero o melhor das pessoas. Mas as pessoas não entregam o que a gente espera.

O que acontece? Quando foi que eu deixei você entrar? Quando foi que eu me permiti?

Me deixa ir.

Você vai me destruir?