“Ele vai estar na faculdade, desencana”. Você se lembra de quando a sua melhor amiga de infância me disse depois que você comemorou que ia estudar em outro estado? Foram exatamente essas palavras. Eu estava feliz por você, mas não sabia que era isso que estávamos comemorando. Eu sabia que era fruto do seu esforço e que você merecia isso.
O problema é que eu gostava mesmo de você. Pra valer. Você me acordava com um sol no rosto todas as manhãs e eu queria isso pra sempre. Eu estava caindo rápido por você, como naquela música da Avril Lavigne.
Em um mês, você era meu porto seguro. Eu sentia que você sempre estaria lá por mim. E agora você está indo embora. Não é pra sempre, não é por algo ruim. Você não morreu e essa é a coisa certa a ser feita. Lembra que você viu que eu estava triste, estragando a sua despedida e você então, me chamou num canto e perguntou, como você me vê?
Eu não soube responder. Minha vontade de chorar estava insana. Como eu te via? Como alguém que eu estava perdidamente apaixonado. Condenado, como você me disse uma vez no parque, que sem você saber, agora considero como nosso.
Eu amo ser exagerado, mas não é exagero quando digo que realmente gosto muito de você. E acho que é muito para o meu final feliz. Eu não valho tudo isso, você diz e eu sempre discordo na mesma hora. Hoje em dia, eu sei que você não vale a roupa que veste. Mas eu sempre te enxerguei mais do que você era.
Houve uma época em que eu sempre discordaria disso, porque você está marcado em mim. Sei que você vai ler tudo isso, apesar de não dever. Só sei que me sinto dentro de um livro daqueles que chorei muito ao ler. E Deus sabe o quanto eu desejava estar dentro de um deles, mas precisava ser tão ao pé da letra?
Hoje eu sei que devia ter deixado você ir embora. Na época, eu não sabia.
Eu seria hipócrita de dizer que não sentirei saudades dos nossos sábados em São Paulo, dos cafés na Starbucks, de dormir com você e de te beijar na praça de alimentação do shopping. Está tudo guardado dentro de mim.
Sei que esse parece um texto triste, mas não é. Estou orgulhoso de você. Mas hoje, não estou orgulhoso da pessoa que você se tornou como eu achei que estaria anos atrás.
Eu sempre achei que você era muito para o meu final feliz. Mas a verdade é que eu era muito. Muito pra você merecer. Eu é que era muito para o seu final feliz.
“Eu vou te ajudar com isso e você vai ganhar esse concurso”, e eu queria mesmo te ajudar naquele dia. Eu tinha prometido naquele dia que você me chamou pra ir na Starbucks. Cada centímetro meu estava implorando pela próxima vez que nos veríamos. Ok, implorando não. Eu só estava torcendo muito, e você sabia disso. E ela veio mais rápido que eu imaginei, porque você conhecia alguns lugares que poderíamos ir em segurança.
Você me disse que queria ir no cinema e eu topei, sem pensar duas vezes. Me atrasei, como sempre, mas cheguei no shopping com aquele sorriso no rosto que eu mantinha desde a última quarta-feira e que todo mundo tinha reparado, em todos os lugares.
Leia ouvindo: I know places, Taylor Swift
Cheguei e te abracei. Corri tanto pra pegar aquele ônibus. Poucas vezes eu corri assim por coisas que eu realmente queria. Ajudei você com o que você precisava para ganhar o tal concurso. Você me deu brownie na boca enquanto eu trabalhava. Você sabia que aquilo me deixava balançado.
Fomos para o cinema. Antes do filme começar, você me beijou ali na porta. Você me abraçou. Eu deitei no seu colo, você passou a mão no meu cabelo. Eu sequer me lembro do filme que estávamos assistindo, se não era sobre o nosso amor. Eu estava gostando mesmo de você. E você sabia.
Eu achava tão fofa a maneira com a qual você me tratava. Você me beijava, não só na boca. O filme ficou em segundo plano e eu não sabia que estava no cinema. Eu só queria guardar aquelas memórias o máximo possível porque meu inconsciente devia saber que nós tínhamos um prazo de validade. Eu disse que você era alguém saído de um livro da Jane Austen.
Aquele lugar era tranquilo, com você. Era um refúgio, de tudo o que o mundo podia fazer. Aquele abraço que você fechou com os nossos rostos enquanto segurava a minha mão e eu cantarolava Taylor Swift. Just grab my hand and don’t ever drop it… DON’T EVER DROP IT. Talvez tenha sido uma das melhores noites da minha vida. E você sabia disso.
Eu poderia ficar aqui, escrevendo páginas e páginas sobre como me senti, como me descobri ou ainda poderia escrever a próxima continuação de Cinquenta Tons de Cinza. Eu poderia descrever em detalhes quando o filme estava próximo de acabar e você me puxou pela mão e me beijou com gosto de cereja na porta de saída do cinema, no escuro. Quantas reticências.
O meu sorriso estava dez vezes mais forte que qualquer outra vez na minha vida e era interminável. Nada conseguia tirar o meu bom humor naquele momento, porque eu sou assim quando estou gostando pra valer de alguém. Parece que tenho poderes mágicos. Crio histórias, danço no ritmo da música, tudo ganha um significado especial em forma de palavras. E droga, você sabia disso.
O meu rosto se ergue feito botox, a pele melhora, o sono some ou vem avassalador com os sonhos do futuro perfeito. Nós éramos infinitos aquela noite, aceitando o amor que achamos que merecemos, nem parecia que a página seguinte do meu capítulo estaria manchada de lágrimas.
Eu te acho perverso. Como alguém que me beijou com gosto de cereja na porta do cinema e me deu brownie na boca poderia ser tão… frio? Você fez tudo isso comigo e com mais outras cinco pessoas nos outros dias da semana. Você sabia que eu estava me apaixonando. Você sabia que me tinha na mão, que eu era seu, que eu sempre fui. Até hoje eu não sei o porquê.
Porque você sabia. E isso te dava mais vantagem nesse jogo que eu não queria ser o ganhador.
É, eu não sei como essas coisas funcionam direito, ele disse. Eu sou ruim no amor, sempre cometo os mesmos erros.
Perguntei como assim. Não era possível que uma pessoa espetacular, como aquela que se apresentava pra mim nas entrelinhas das mensagens fosse “ruim no amor”. A narrativa não batia com a vida real e dessa vez era de uma forma positiva, ao contrário de quando um livro não condiz com um filme, por exemplo.
Leia ouvindo: Bad At Love, Halsey
Foi então que ele começou sua narrativa no dia em que perdeu a virgindade com o menino que seria seu amor por três anos a partir daquela fatídica noite. Eles eram muito diferentes, mas mesmo assim tudo tinha corrido bem e continuou correndo. Ele nunca o apoiou no sonho de ser escritor, achava que deveria desistir daquele curso de marketing na faculdade e seguir carreira na loja de carros do pai.
Mas ele queria mesmo era escrever. Assim como eu, sentia muito, transparecia pouco. As pessoas achavam que ele era besta. Achavam que aquela voz de sono e aquele jeito de quem não liga pra nada sob o moletom preto com rosa escondiam só mais um garoto fútil que tinha ficado preso no ensino médio. Não, eu não era assim. Sempre fui mais que as coisas podiam transparecer, ele falava, como se precisasse provar algo pra mim, para si mesmo.
Eles ficaram juntos por muito tempo até que o garoto começou a exigir algumas coisas bem esquisitas. Você precisa malhar mais essa bunda. Não gostei do seu corte de cabelo. Eu não vou tocar em você se você não de depilar por completo, credo… Isso é só a ponta do iceberg de coisas que ele me falava, sabe? Eu não podia ser eu mesmo, ele choramingava pra mim entre uma frase e outra no mensageiro verdinho.
A saída daquele calabouço veio de quem ele menos esperava. Do ex-namorado do seu então namorado. Nós estamos juntos há três meses agora. Mas eu já terminei tem mais de um ano.
O ex do ex veio a se tornar seu melhor amigo. Ele ouvia todas as lamentações e acariciava seu cabelo cor de mel naquelas noites que não eram tão silenciosas assim. As coisas pareciam ficar mais fáceis quando ele estava por perto e agora, ele parecia se convencer que estava apaixonado. Ele me pediu em namoro depois de uma briga, a gente estava em um evento público, disse e eu imaginei que ele estava corando.
Eu não sei se ele estava perdidamente apaixonado pelo ex do ex nessa altura do campeonato, mas me parecia que não. Ele queria mais, queria conquistar o mundo, queria escrever quatro livros, viajar para o Egito e conhecer a França. Queria assinar contrato para ter seus livros adaptados para o cinema. Queria vender os direitos para a Warner produzir parques temáticos…. Mas estava ali, preso de novo.
O ex do ex era só um algoz liberando de outro algoz. E eu não entendia o porquê. Eu não sabia porque ele estava me contando aquilo, então lhe perguntei. A gente só tinha se trombado na saída da faculdade ontem e começamos a conversar sobre Taylor Swift. Minha van chegou e eu precisei ir, mas deixei meu número com ele. Estamos conversando desde então. E já estamos na segunda aula do segundo dia.
Daqui a pouco são vinte e quatro horas, só interrompidas para o sono dos justos.
Você pode me encontrar no meu carro? Ele disse. Eu disse que sim e saí da sala com a minha bolsa laranja no ombro. E eu nem sabia que ele tinha carro.
Por que ele estava esperando a van se ele tinha carro, afinal?
Eu saí e fui em direção ao pátio e depois em direção ao portão. Eu o vi e achei que fosse sorrir, mas senti minha cara arder.
Ele beijava um garoto uma cabeça menor que ele, com piercing no septo e uma camisa xadrez amarrada de forma brega na cintura. Não, não era o ex do ex. Era outra pessoa e eu imaginei que era pra ser eu.
Acordei. Sofrendo, como sempre. Sofrendo por alguém que sequer liga pra isso. Sofrendo por quem não me merece. Sofrendo por deixar minha felicidade depender de alguém que a massacra como uma daquelas bolinhas que nos obrigam a apertar quando doamos sangue. Nunca doei sangue, por sinal. Me vesti como sempre: uma calça legging preta, uma camisa xadrez vermelha e um coturno. Balancei meu cabelo e fui andando daquele jeito de sempre, bem negativo.
Leia ouvindo: One last night, Vaults
Trabalhei na velocidade mínima, eu não conseguia render nos sábados. Ainda estava sofrendo por alguém e não queria mais isso. Eu não merecia ser a segunda opção. Prefiro andar sozinha que interpretar um papel de suporte, se não posso ser a protagonista.
Ultimamente, tenho conversado muito com um amigo, que chamarei aqui de Edward, como o de Crepúsculo. Ed, pra simplificar. Ele era um cara muito legal, que compartilhava alguns gostos comigo. Fazia inclusive a faculdade que eu pretendia iniciar no próximo ano.
Conversei uma época com ele no passado, quando comecei um relacionamento com o J – como chamarei aqui -, sim, o mesmo que citei indiretamente no começo do texto. O Ed tinha sido amável comigo. Conversamos sobre carteira de motorista, faculdade… Ele até tinha dito que tinha um crush em mim! E eu também confesso que tinha desenvolvido certo crush por ele. Mas ficou por isso mesmo, porque as coisas com J foram tomando uns rumos um pouco absurdos, né.
Voltando ao meu dia de merda, eu estava trabalhando quando Edward me chamou para ir com ele na Starbucks, que vínhamos combinando há séculos, mas nunca tinha rolado de verdade. Confesso que fiquei bem feliz de ele ter me chamado pra valer, sabe. Cheguei a achar, por um momento, que essas coisas ficariam só naquele limbo onde combinamos as coisas e nunca fazemos de verdade.
Cheguei em casa, animadíssima, como uma animação que fazia tempo que eu não sentia. Era algo despreocupado, até.
Me atrasei, claro. Se não me atrasasse, não seria eu. J estava me mandando algumas mensagens com ciúmes porque eu sairia com o Ed. Mas que porra, né? Eu havia passado a semana toda dizendo que estava com saudades e nada… Nada de ações, só palavras. Parecia que as ações só vinham de mim e isso me cansava. Deixei-o falando sozinho, no limbo da dúvida em que ele sempre me deixava.
Minha cabeça, talvez comprometida pela alegria que eu estava sentindo, não se conectava mais a dele. Nem meu coração. Estava livre, afinal. Tomei banho, me arrumei e devo dizer que caprichei, mesmo. Fiz limpeza de pele, a sobrancelha, maquiagem… Coloquei um vestido novo e um chapéu coco. Minha mãe me deixou na porta do shopping que eu marquei com Edward.
Estava chovendo, e fiquei um pouco triste por me molhar. Dei umas voltas no shopping para me secar, enquanto conversava com uma amiga por mensagem de texto. “Estou com medo do que vai rolar”, eu disse. “Deixa rolar. Mesmo, ele pode ser um cara incrível e você não pode perder certas oportunidades na vida”. Isso me encorajou bastante.
“Cheguei no shopping”, enviei para Edward. “Estou no carro. Vem aqui.”
Segui para a portaria, mandando mais mensagens para minha amiga, desesperada. Ed me buscou ali na porta e disse para voltarmos ao carro porque ele tinha esquecido o bilhete do estacionamento. Uma parte interna de mim sorriu quando entrei no banco de trás.
Estava óbvio o que aconteceria a seguir e eu estava bem nervosa. “Vou ficar aí atrás com você”, e ele foi, afastando os bancos para a frente. Conversamos aleatoriamente por alguns minutos e ele ligou o rádio. Tocava Love Me Like You Do, da Ellie Goulding.
“Tô com medo de te beijar agora, você sempre diz sim pra todo mundo”, ele disse. E eu deixei, como um dos meus desejos mais íntimos se tornando realidade. As coisas que compartilhávamos em comum deixava tudo mais incrível para mim.
Eu sei que beijamos muito, explorei com a minha boca cada centímetro daquela boca maravilhosa que Edward tinha. Meu celular vibrava com mensagens de J, mas nem meus profundos pensamentos lembravam-se dele. Joguei meu celular embaixo do banco. Dane-se. Estávamos dentro do carro, com os vidros embaçados pela chuva, no estacionamento do shopping. Era proibido, era melhor.
As mãos dele exploravam meu corpo embaixo do vestido, e apesar de insegura, deixei. Deixei que elas percorressem minhas pernas ao som de Take me to church, do Hozier, suas mãos alcançaram a barra da minha calcinha e os beijos se tornaram mais quentes. Aliás, tudo se tornou mais quente, e eu preciso reforçar que estava amando?
“Cansou já?” Ele parou, com as mãos na minha cintura. Como resposta, beijei mais e sua mão começou a puxar minha calcinha pra baixo. Tirei o vestido pela cabeça em um golpe só e o ajudei a tirar minha calcinha. Abri sua calça e tirei seu suéter e sua camiseta, juntos. Estávamos ali, praticamente sem roupas e ali ficamos, enquanto várias músicas tocavam.
Lembro-me de comentar algo sobre Thinking out loud, ao mesmo tempo em que agradecia mentalmente por ele estar me dando novas – e melhores – lembranças para aquela música. Engraçado como a música afeta a gente.
Eu estava em seu colo, completamente nua, e ele ainda estava de cueca. Senti uma pressão no meio das minhas pernas e não sei descrever as sensações que eu tinha naquele momento. Wow, que sensação. Sou incapaz de descrever profundamente, apesar de estar gostando para caralho. Uma pontada de medo surgiu em mim quando me afastei para tirar sua cueca. Apesar de tudo, eu ainda era virgem.
Tocava One last night, da Vaults, que está na trilha sonora de Cinquenta Tons de Cinza. Olhei para os olhos dele, como se lembrássemos do filme e ele assentiu com a cabeça. E então, se já não estava bom o suficiente, a força e a intensidade com me voltei a ele, triplicou. Eu estava de volta, em seu colo, dessa vez sem nenhuma barreira entre nossos corpos.
Me lembro de puxar seu cabelo, arranhar suas costas, morder seu lábio perfeitinho e deixar uma marquinha… talvez não tão pequena assim. Não consigo falar sobre todos os detalhes de tudo o que fizemos no banco de trás daquele carro sem sentir um arrepio que percorre cada centímetro da minha pele. Tudo era muito novo pra mim e vou me limitar a dizer de novo que quero repetir. Ai, como eu quero repetir.
Terminamos, recolocamos nossas peças de roupa amassadas, ajeitamos a aparência, limpamos os vidros e seguimos shopping adentro, para a Starbucks. Pedi um café e um cookie, enquanto Ed pediu um brownie. “Você já experimentou?”, ele perguntou e eu só neguei com a cabeça. Ele cortou um pedaço e levou até minha boca.
Preciso comentar o quão fofo achei que esse gesto foi? Apesar de extremamente simples e efêmero. Sou ridícula, mas sorri internamente e isso foi suficiente para me deixar feliz.
Terminamos de comer e fomos na livraria. Edward também gostava de Jane Austen e agora discutia comigo – e ainda citava trechos – de Orgulho & Preconceito. Ficamos pouco, falamos sobre alguns livros aqui e ali, sobre como era bom ganhar livros de presente. Cada vez mais surgiam coisas em comum.
Saímos dali, passando rapidamente no mercado e então, ele me disse que levaria para casa. Fomos, rindo no caminho como poucas vezes eu tinha rido na vida. Eu expliquei pra ele como eu era incapaz de fazer algumas coisas na vida e acho que ele pensou que eu era louca. Expliquei, também, precariamente, como chegar na minha casa.
Droga, eu era uma perdida. Péssima em localizações. Enquanto isso, eu ria mais e percebia mais coisas que eu era incapaz.
Chegamos e eu tentei, sem sucesso, explicar como ele voltaria para sua casa. Caralho, o que eu tinha feito com o garoto? Esperei que ele desligasse o carro e tiramos uma foto bem escura no Snapchat. Ele se rendeu ao GPS e foi embora.
Subi saltitante para o meu apartamento e vi que J me mandou algumas mensagens de que ele sairia para uma festa com alguns amigos. Ele disse que só iríamos nessa festa se estivéssemos juntos. Jamais iríamos separados. Mas tudo bem, estava tudo acabado mesmo e nada poderia afetar meu humor hoje. Eu estava bem feliz com tudo o que tinha acontecido.
Cheguei e fui direto pro banho, mas sei que fiquei um bom tempo contando para algumas amigas o que tinha acabado de acontecer. Elas surtavam comigo da maneira como deveria ser. E eu ainda tinha o gosto da boca dele predominando a minha. Atípico, salpicado com menta e cereja. Eu amava cereja.
Tomei banho, finalmente, coloquei um moletom confortável e mandei mensagem para ele perguntando se ele tinha chegado bem. Enquanto ele não me respondia, escrevi um textinho, agradecendo pelo dia maravilhoso, dizendo que queria de novo.
Edward provavelmente mencionaria que eu era muito fofa, que também queria de novo. E eu me sentiria bem, como há muito tempo não me sentia. Eu tinha conseguido ser minha própria âncora, sabe? Minha ponte de felicidade.
A mensagem chegou, foi visualizada. No segundo seguinte, sua foto, seu status e seu nome sumiram do meu WhatsApp. Edward tinha me bloqueado? Mandei uma interrogação, que nunca mais chegou.
É, eu não enviaria o textinho agradecendo e ele não mencionaria nada daquilo.
Esse poema ficou esquecido no primeiro manuscrito de “contando estrelas cadentes”, que até então se chamaria “costume”. Não sei porque o deixei de lado, porque o deixei passar. Achei encolhido num canto e acho que ele tem um poder muito forte. Não pretendo escrever tantas poesias regularmente como fiz na época em que escrevia o livro, por isso achei importante deixa-lo registrado. “quando gostei de você” me parece um texto inacabado, nunca terminado, quando olho agora. Inclusive, quando o encontrei, achei que não tinha colocado porque nunca tinha finalizado, mas sim, eu finalizei. Não sei qual foi o sentimento que o motivou agora, nem tampouco quais são os sentimentos que ele vai te causar. Por isso, deixa aí nos comentários, combinado?
Eu já fiz tanta coisa. Tentei abrir vinte e cinco empresas diferentes, quarenta e nove projetos e já quis ser arquiteto, médico, dentista, engenheiro…. Acabei me formando como jornalista. Já entrei em tanta coisa que eu não queria entrar. E eu tive que ressignificar muito.
Eu já tentei de tudo e há quem veja de fora e diga: você não tem foco, não? A verdade é que eu, por muito tempo, achava que meu foco estava perdido. Mas quando o foco está perdido, a gente precisa encarar os fatos: estamos sem foco. E foi nessa que eu me meti em várias ciladas. Principalmente no âmbito profissional, onde pareço sublimar tudo o que acontece na minha vida.
Sabe, eu já tive zilhões de blogs. Vários perfis no Instagram de coisas diferentes. Eu já fui influencer wannabe de todos os nichos possíveis: finanças pessoais, comportamento, marketing digital, literatura e, acredite se quiser, moda masculina. E eu tentei, sabe? Mas essas tentativas me deixaram por muito tempo com medo de mudar.
Com medo de tentar mais, eu me estagnei em muitas coisas que não fizeram tanto sentido pra mim. E eu ficava ali, insatisfeito, com medo do que as pessoas iriam pensar. Quem? Não sei. Talvez eu mesmo.
Parece prepotência dizer que tudo o que eu fiz, e quis fazer, deu certo. Mas na verdade, é que as coisas sempre dão certo. Nada dá errado pra gente, porque no final, sempre tem um aprendizado. E foi assim que eu aprendi a ressignificar minhas coisas e não deixei me estatizar. Tenho cada vez mais, deixado o Beco Literário ir, seguir seu caminho e cada vez mais ele tem se tornado quem ele sempre foi: eu, o Gabu. Com a cara e a coragem.
Talvez eu não tenha dado meu nome porque eu sempre quis me esconder. Talvez eu tenha me fragmentado em vários projetos, porque sim, eu sou plural! Eu quero fazer e experimentar várias coisas no mundo. Gosto do quentinho da minha cama, mas também gosto do frio da barriga do novo e do desconhecido. Eu gosto de tentar.
E foi então que eu tenho entrado nessa jornada de ressignificar. Eu acho que estou conseguindo, mas não sei dizer com certeza. Alguns dias são melhores e eu consigo focar. Outros dias, não são tão bons assim e eu só quero entrar em um ciclo de autossabotagem. Mas hoje, quando olho pra trás, vejo que sim, meu caminho foi meio tortinho. Vejo que minha arma atirou pra vários lados.
Mas isso me possibilitou chegar aqui, são e salvo. Não é meu aniversário, mas é aniversário do Beco Vips, a comunidade do Beco Literário, a primeira coisa que ressignifiquei e quero continuar a ressignificar. Quando o site estava falido, a beira de fechar de uma maneira que eu não queria, a comunidade surgiu e hoje ela faz um ano. Nela, fiz amigos. Quem está lá, pode conhecer um pouquinho mais do Gabu e eu tenho a sorte imensa de todos eles terem compreendido as minhas mudanças, as minhas fases e as coisas que eu queria ou não fazer.
O Beco Literário, o #BecoVIPs, antes era meu armário. Meu refúgio do mundo. Hoje ainda é um Beco, mas ele é mais iluminado, mais bem povoado e com mais pessoas no mesmo barco. Pode estar tudo bem, pode estar tudo ruim, mas é como ter sempre aquele abraço quentinho e fraterno, não importa se estejamos a uma rua ou a um oceano de distância. Agora, vejo que todas as vezes que pensei em fechar o site, eu não consegui levar pra frente porque precisávamos chegar nesse ponto em comum.
Mesmo que hoje em dia, eu não escreva tanto por lá, porque não me cabe ou porque não sinto vontade, é de onde eu vim. É de onde milhares de outras pessoas, outros escritores, virão. É o nosso pontapé inicial, e também é nosso ponto de referência. Depois de todos esses anos, dúvidas e tentativas de ressiginificar, o Beco não é só um site. O Beco é um pedacinho de mim e de cada pessoa que está lá.
Pode ser que não tenhamos o site no ano que vem, quem sabe? Pode ser que tenhamos por mais cinquenta anos, não sei. Mas tenho certeza que tem um pedacinho dele em cada um que teve sua vida mudada pelos ventos de lá. O Beco Literário é o Gabu Camacho. O Beco Literário é você, Becudo.
E ele sempre estará lá te dando as boas vindas e aquele abraço quentinho. Lá. No fundo do nosso coração. Obrigado pelo primeiro ano juntos. <3
Um belo dia, nos mares que navegamos e nas ondas que nos deixamos levar, a tormenta em nossa vida vai embora e começamos a navegar em um oceano que jamais imaginaríamos estar.
Nos jogamos de um penhasco rumo direto ao mar, e chegando lá embaixo, sentimos a água gelada no rosto invadindo todo o nosso corpo, um leve choque que não parece tão ruim quanto parecia ser outrora, e a brisa que se mistura com a maresia logo quando voltamos para a superfície, toca levemente o rosto nos fazendo lembrar que a vida pode ser leve em alguns momentos.
Nas noites calorosas vivenciamos uma aventura nova, criamos novos sonhos e criamos também expectativas de conhecer pessoas novas para mudar nossos ares, uma vida diferente afinal, mas é para isso que nascemos e não podemos ficar parados em um barco onde nada flui, nada acontece e ficamos esperando ali parados que tudo mude um dia.
Somos feitos de todas as aventuras das quais vivemos ao longo de nossa jornada, de nossas decepções que nos ensinam a corrigir nossos erros muitas vezes, de nossas frustrações, encantos e tudo o que pudermos sentir aqui dentro. Somos feitos disso, daquilo e jamais deixaremos de nos orgulhar de sermos aventureiros excêntricos e inigualáveis nesse mundo.
Pela primeira vez podemos ser nós mesmos, mostrarmos sem rodeios para o que viemos e não termos medo de mais nada, pois o medo já se foi há algum tempo e junto com ele foi-se também toda a tormenta dos mares, aqueles mesmos mares que nos prendiam desde o começo.
Então lemos e relemos essa reflexão dos mares e, alguns vão pensar em relacionamentos, outros em oportunidades da vida e terá também aqueles que pensarão sobre novos acontecimentos que podem enxergar que estão por vir logo ali na frente.
As aventuras começam, e junto com elas todos os sonhos se realizarão, assim se é esperado! Sonhos então.
parte de te deixar ir, era também partir mas você partiu antes que eu te deixasse ir, até hoje penso que nunca deixei você partiu e me partiu, como um bolo
leia ouvindo: palo santo, years & years
eu lido bem com o vazio, sozinho, pensando se alguém algum dia vai demonstrar amor como você me demonstrou, com a simples diferença de que essa pessoa realmente vai ter um amor para me oferecer. não vai demonstrar e partir;
sigo pensando se esse alguém vai estragar meus melhores dias e pedir desculpa logo em seguida da maneira mais descarada possível, sigo pensando se tudo aquilo no início não era um sinal para eu ter desistido, mas teimoso como sou, infringia as regras.
esperei.
você agora é a escuridão que existe em mim, com a diferença de que ela me abraça de uma tal forma que você nunca fez e me acolhe de forma desesperada.
Esse é mais um daqueles textos que esqueci quando fui publicar “contando estrelas cadentes“. Olhando agora, talvez eu saiba que o deixei de fora por fugir um pouco da estética de poesia do livro em si. Eu também queria que o livro fosse uma montanha russa que vai só para cima, para nunca mais descer. E esse texto, desce nas raízes mais profundas de mim. É uma ida e volta ao submundo. Como não pretendo escrever tantas poesias assim por algum tempo, também resolvi deixar registrado por aqui.
É engraçado que esse ano de 2020 está me fazendo contradizer tudo o que eu já escrevi em meus quase vinte e quatro anos de vida. Sempre disse que eu era apaixonado pelos finais, mas recentemente descobri que gosto de começar as coisas.
Nós, seres humanos, temos uma tendência grande a reprimir as coisas, principalmente o que é doloroso. Isso é psicanalítico, até. Na linguagem técnica, a gente recalca certas coisas no nosso inconsciente e esse recalque, essa barreira, não deixa com que as coisas vazem de lá para a nossa consciência, para o nosso dia-a-dia.
Leia ouvindo: Love Ballad, Tove Lo
Eu tenho reprimido muitas coisas em mim há muito tempo. Sempre gostei de escrever sobre comportamento, sobre relacionamentos, sobre reflexões… Sempre me inspirei muito em nomes como Isabela Freitas, Daniel Bovolento, Igor Pires, Thalita Rebouças, Bruna Vieira. Meu primeiro livro foi inteiramente inspirado em um da Bruna.
Eu sempre quis escrever sobre o amor. Sobre mim. Sobre meus sentimentos. Quando foi que eu reprimi toda essa vontade e todos esses sentimentos? Quando foi que eu ignorei e segui outros caminhos? Quando foi que eu desisti de tudo isso? Quando foi que eu gostei de começar outras coisas tão longes do meu caminho?
Sempre que a gente reprime alguma coisa, ela vem à tona. Sempre. As coisas vem, e se não vem por bem, vem por mal, por meio de sintomas físicos e psíquicos. E essas coisas sempre esperam alguns momentos para irem de zero a um milhão.
Pode ser que espere um momento ruim, pra ir de zero a um milhão negativo. Mas também pode ser o contrário.
Desde o final da minha faculdade, minha presença na internet e no conteúdo que produzo não tem sido mais tão passiva. Eu não conseguia ficar só no entretenimento de resenhas sobre livros. Ou de opinar sobre romances de época. Eu precisava de mais. Eu precisava começar mais.
Eu comecei a questionar, entender que as coisas tem um buraco mais embaixo do que realmente vemos. Passei a cutucar, entender e então, exemplificar, falar, demonstrar. Eu gosto de dividir o meu conhecimento, as minhas reflexões e tudo o que aprendo.
Nunca pensei que seria um Jornalista da televisão. Sempre soube que seria da internet. E sempre soube que eu seria questionador, mas também, que eu escreveria sobre esses sentimentos que temos vergonha de sentir. Ou que recalcamos dentro do nosso inconsciente.
Esse ano, com a quarentena, foi o meu momento bom de ir de zero a um milhão. Eu fui. E as coisas explodiram dentro de mim. Eu entendi que deveria ter começado a escrever sobre sentimentos, autoconhecimento e comportamento há pelo menos cinco anos atrás. Eu só não podia ainda.
Agora eu posso e explodo por isso. Cada vez que você aceita quem você é de verdade, você explode, você cresce e começa a ir mais alto.
Eu não sei o que acontece comigo que tem dias que eu acordo surtado. Mas aquele surtado 300% ansioso, querendo fazer tudo e que tudo aconteça ao mesmo tempo. Abraçar o mundo e o resto que se dane.
Eu sou ansioso, desde sempre. Já se foram alguns milhares de reais em florais, fitoterápicos, terapia, psiquiatras, remédios…. As coisas melhoraram. Ultimamente, tenho conseguido controlar (na maioria dos dias, pelo menos), só com a ajuda da psicanálise que tenho feito religiosamente toda sexta-feira de manhã.
Sexta é o meu dia preferido da semana, então, eu achei bom começa-lo já com esses tapas na cara tão necessários pra eu seguir em frente. E eu fico bem.
Acontece que hoje é terça e o universo jogou os dados resolvendo me testar. Acordei ansioso.
Sim, eu abraço o mundo. Atualmente, tenho meu trabalho principal, na Helpis. Tenho meu trabalho paralelo, aqui e nas redes sociais. Tenho meu trabalho social, no Beco Literário. E a minha pós-graduação, que coincide de ser na área da psicanálise também.
Vou tentar colocar uns pingos nos Is agora, porque eu sempre sei que gosto de pegar coisas demais pra fazer e quando eu vejo, o desastre está feito e eu não sei o que eu quero fazer da minha vida mais.
Na Helpis, sou diretor de conteúdo e recursos. Isso significa que eu escrevo e aprovo todos os textos, de todos os clientes. Também significa que eu gerencio todos os recursos da empresa: funcionários, pagamentos, contas, salários e afins. É a parte que eu mais gosto de fazer. O meu escritório é em casa, então, dentro do meu horário de trabalho, a Helpis não me toma mais que meio período.
Aqui, no Gabu Camacho e nas redes sociais, o buraco é mais embaixo. Ainda é um trabalho paralelo e talvez seja assim para sempre, não sei. Gosto de escrever sobre comportamento, relacionamentos, minha vida, psicanálise, astrologia, tarô, o infinito e além. Porque eu sou infinito assim. A mesma coisa acontece nas redes sociais. Minha vida se torna roteiro pra tudo o que eu faço. E é nesse ponto que a porca torce o rabo, porque eu quero fazer tudo. Eu quero falar sobre tudo que eu gosto (o que não é pouco, não, viu?). Compartilho os livros que leio, as músicas que ouço, minha jornada na pós, o que eu aprendo e o que eu desaprendo. Gabu, mas pra que isso? Pelo autoconhecimento, talvez. Eu amo me conhecer e carregar nessa jornada comigo e consigo quem eu puder. Já falei de livros, literatura, moda, marketing, finanças…. Será que eu nunca percebi que tudo isso faz parte de quem nós somos? Do nosso comportamento? Porque é disso que eu gosto de falar.
E ainda tenho que acrescentar que recentemente abri um lote de vendas do #GabuClub, minha leitura dirigida! Vai ser massa. 😛
O Beco Literário é autônomo. Os próprios membros aprenderam a se servir dele. E ele tem se tornado cada vez mais o Gabu. Não o Gabu Camacho do Beco Literário. O Gabu que não precisou mais se esconder, que se encontrou e tem se encontrado com seus próprios textos. Talvez o site não exista mais daqui a algum tempo, não sei dizer.
A pós-graduação tem altos e baixos. Alguns módulos que devoro em dois dias e outros que me arrasto pelos 15 dias. Estou em um desses. Amo o que estudo, cada vez me parece mais certo, mas tem dias que só por Deus, hein?
O fato é que apesar de tudo isso, em alguns dias eu quero mais. Quero criar novos projetos dentro da Helpis, do Beco Literário e do Gabu Camacho. Quero criar quinhentas coisas e botar em prática seiscentas.
Qual é, dá tempo, né? O ansioso e o surtado dão as mãos e vão em frente.