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Crônica: A dor do crescimento

Nascemos chorando. É a primeira coisa que aprendemos a fazer, é a primeira coisa que realmente fazemos neste mundo – chorar. Talvez porque algum médico tenha nos feito chorar para “ativar” nossos pulmões. É o que minha vó diz. Talvez, porque de certo modo, saibamos que sair daquele lugar aconchegante que é nossa mãe, seja doloroso. Talvez, já saibamos que o mundo não realizará os nossos desejos.

Conforme crescemos, choramos quando estamos com fome, ou sujos, porque isso é o maior dos nossos problemas. Nossa mãe então, nos alimenta, nos limpa, e nos dá amor. Tudo está bem novamente, então dormimos, respirando fundo como se nada mais importasse. Porque na verdade, nada mais importa.

Depois, não choramos mais ao sentir fome ou quando estamos sujos. Simplesmente vamos lá e comemos, ou tomamos um banho. Mas choramos quando um marimbondo pica nossa mão e deixa aquele ferrão enorme entre as camadas da nossa pele, ou quando ralamos o joelho no asfalto. Aquela é a maior dor que podemos sentir, parece. Dói muito, então nos permitimos chorar.

Mas os machucados saram, e depois se tornam comuns. Ainda choramos, mas sempre dói mais na primeira vez. Chega a fase então, que nossos pais começam a moldar nosso caráter, então choramos ao sermos repreendidos. Choramos por não correspondermos às expectativas que eles botam em nós.

Chega então, a adolescência. Não choramos por fome, sujeira. Não choramos por expectativas não correspondidas porque já nos acostumamos a fracassar mais do que suceder. Já sabemos que esperam muito mais da gente do que realmente somos, então, se ficamos tristes, fica por essa mesmo. Não choramos, mais.

Também não choramos pela dor da picada do marimbondo, apenas retiramos o ferrão e chupamos o veneno. Um joelho ralado, também não é nada. Essas dores não chegam nem perto da dor que sentiremos ao ter nosso coração partido pela primeira vez, e então, choraremos como nunca antes. A picada do marimbondo, que doía como um inferno na infância, agora não chega nem a um incômodo. Porque a dor de um coração partido raramente passa com um remédio, ou quase que imediatamente com um band-aid de um personagem que gostamos.

Mas como toda dor, ela também passa, e com ela, passa o nosso choro. Paramos de chorar, e vemos que todas aquelas dores da infância eram apenas uma preparação para a dor final que chegaria na adolescência. Dor essa, que nos transforma, que nos tira a pureza e a inocência, mais que qualquer outro ato carnal. A dor de um coração partido muda as pessoas, as transforma. Talvez de uma maneira boa, talvez não.

Mas depois, aprendemos a juntar nossos próprios cacos, e nos fixar. Aprendemos a nos curar sozinhos, porque não é algo que nossa mãe pode fazer por nós. E é nisso que sentimos a dor do crescimento.

Lembra quando simplesmente acordávamos com o corpo todo doendo, e nossos pais simplesmente falavam isso é dor do crescimento? Era um alerta, um alerta de tudo o que viria a seguir, com a fase adulta. De todas as dores que viriam de brinde conforme ganhávamos o mundo.

Mas sabe o melhor de tudo isso? A dor passa. Não choramos mais por fome, não choramos mais pelo joelho ralado… Então, logo, não choraremos mais pelas decepções de um coração partido.

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