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Autoria: Veredas

Tópico I (Louvação à Iansã)

E quando você disser não
Pois bem
Serei o sim que não se muda
E que o faça de erro
Que se transforme em transtorno
Que se jogue do mais alto prédio
Sou presente e não arredo
Sou todo um horizonte, e ai
Ai daquele que fechar os olhos
Os feche e nunca mais consiga abrir.

Tópico II (Dos filhos)

Derrubei os muros que nos transformaram em estranhos
Cada qual com seu dialeto, com seu mundo
Derrubei a mesmice que nos impossibilitava a dança
Mas você acostumou-se com o cativeiro
Não sabe viver além do que já foi visto
Acabei com sua crença
Com sua falsa alegria
Derrubei e despenquei junto ao pesado concreto
Melhor não por aqui ficar do que ser o seu
Quando você nunca desejou posses
Ser sua nova prisão
Sou sim a entrada para os carnavais que por ai vierem
Sou a cidade quando queima e clama
Grita por um pouco de paz
Paz essa que sempre foi tua
Mas és cega, minto, te fazes disto para ocultar os olhos atentos
a malícia escorrendo pelo canto da boca
Podridão de meus esforços
Motivo pelo qual morro a cada dia que passa
Os derrubei
Os levei cá comigo
Para o sem fim do inferno que me colocastes ao se libertar de ti.

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Autoria: Ascendências

Dizem que encontrar o amor verdadeiro nos dias de hoje é mais difícil que encontrar magia. É mais fácil encontrar a rota para Hogwarts do que obter reciprocidade. Não discordo. Sabe, tenho dezessete anos, menos experiência que a maioria dos garotos da minha idade, óbvio. Não estou dizendo que sou inocente, porque não sou. Só digo que não estava preparado para tantas pancadas que a vida podia dar.

Sempre vi casais se dando bem. Sempre vi felicidade e eletricidade nos seus olhares, mas jamais pensei sobre os labirínticos problemas que cada sorriso esconde. Mas quem sorri quando se está triste, não é?

Eu.

Eu, Troye Noah Scott, sorrio quando estou triste. E isso significa quase todos os momentos.

Apesar de não parecer, eu não sou superficial. Mas não era isso que qualquer um pensava ao me ver, bêbado, dançando loucamente naquela pista de dança, beijando qualquer alma que viesse me dar um oi. Independente do sexo.

Eu não estava vendo nada ao meu redor. Minha cabeça eram luzes florescentes, meus olhos caçavam vorazmente qualquer coisa para se apoiar. O copo vermelho pendia da minha mão direita, a vodka pura estourando como refrigerante nos meus lábios.

Bitch the end of your live are near
This shit been mine, mine
What you gone do when I appear?
W-when I premier?
Bitch the end of your live are near
This shit been mine, mine

Eu dançava como se o mundo fosse acabar, ali, com a minha melhor amiga, Savannah Lee Johnson. 212 era definitivamente a nossa música, e a pista era nossa. E por alguns momentos, não estávamos na nossa pacata cidade. Estávamos na mais populosa balada de Los Angeles. A música tomava conta de nós. A dança, que devia ser ridícula ao ver de um sóbrio, era nossa. O mundo era nosso naquela noite. Nossa vida acabaria nos próximos segundos.

“Sav, preciso de mais.” Eu disse, no pé do seu ouvido,

“Let’s go to the bar!” Ela retornara há pouco do seu intercâmbio na Inglaterra, e falava inglês quando bebia. A sorte era que eu entendia.

Ainda dançando, jogando meu cabelo escorrido para o lado, coloquei minha mão em seu ombro e fomos para a fila do bar. Fila que jamais seguimos.

“Duas catuabas, por favor.” Eu disse.

“Roy, isso vai acabar com a gente!” Savannah odiava.

“É o que temos dinheiro.”

O moço colocou os dois copos vermelhos no balcão. Pegamos e voltamos para a pista, de mãos dadas. É inegável como catuaba é ruim. O gosto de vinho barato misturado com gelo não me agradava em nada, mas me deixava louco. Nunca liguei muito para a opinião alheia, então, no meu estado de bêbado irremediável, dancei como se ninguém tivesse me olhando.

Mas alguém estava me olhando.

E esse alguém, era o garoto pelo qual eu estaria condenado a amar pelo resto dos meus dias.

(…)

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Autoria: As crianças não estão bem

Amor, corre. Corre rápido, chama ajuda. Corre, mesmo. As crianças não estão bem. Já pensam sozinhas, já discordam das minhas ideias. Achava que você era meu melhor amigo. Corre, por favor. As crianças não estão bem, não.

Vem pra casa, por favor. Acho que tem algo fora do lugar aqui. Acho que eu também não estou muito bem, não. Tá tudo bem confuso por aqui.

Em julho éramos fogos de artifício que se apagaram de maneira precoce. Ainda éramos, até você sair pela porta da frente… E nunca mais voltar, nem mesmo ao meu chamado de que as crianças não estão bem. Desculpa, tive um pesadelo. Arrumei a cama, então. Poli a maçaneta da porta que você saiu. Arrumei a cama de novo. As crianças não estão bem.

Você achava fofo o meu transtorno, quando disse que precisava escovar os dentes antes de te beijar pela manhã. Ou passar álcool gel na minha mão antes de segurar na tua. Ou ainda, quando levantei quatorze vezes da cama para checar se a porta estava trancada. Era fofa a minha preocupação com a sua proteção, não era?

Não sei quando a fofura passou a te amedrontar. Você disse que eu te sufocava, não. Não, não, não. Não era sufoco as minhas sete mensagens de bom dia. Juro que não. Só queria continuar minha proteção, então sempre checava se a porta estava mesmo trancada e se os dois certinhos indicavam mensagem recebida.

Mas então, os certos não surgiram mais. Tudo ficou mal, amor. As crianças não estão bem. Os certos não estão mais ficando azuis quando te mando bom dia. Mas a porta? Nunca mais conferi para ver se estava trancada na esperança de que um dia você voltasse.

 

Texto baseado no poema OCD, de Neil Hilborn.

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Autorias: A volta do que jamais deveria ter partido, por Gabu Camacho

Talvez você tenha pensado que eu escreveria sobre você. Sobre como eu sonho com a sua volta triunfal. Sobre como você talvez tenha pensado que poderia me conquistar de novo, como fez da primeira vez. Você não poderia estar mais enganado. Afinal, escrevo sobre a volta de mim mesmo. Sim, aquele eu que você sugou a força como um vampiro. Você era uma pessoa vampira.

Pessoas vampiras são aquelas que ficam ao nosso redor só esperando para sugarem qualquer coisa que te faz feliz. Elas te paralisam como dementadores, e te afastam de quem você é de verdade. Nunca gostei de ser mudado, ou domado. Mas era além de mim, era involuntário.

Eu escrevia cada vez menos, algo que nunca julguei viver sem. Não lia mais nenhum livro. Não conseguia forças para prestar atenção naquela aula maravilhosa de Comunicação que a professora tanto me amava. Era impossível ficar sem olhar para os alertas do celular, e pensar em que parte de mim você estaria literalmente destruindo agora.

Cada parte destruída, era uma parte de mim que eu deixava para trás, sim, evitava sentir. Evitava admitir que estava cada vez mais longe de mim mesmo. Então, você destruiu por completo o que eu tinha e em um lapso de sanidade que um outro alguém me trouxera, te expulsei com um feitiço do patrono, daqueles fortes, daqueles que usamos a memória mais feliz que alguém pode nos trazer. E infelizmente, ela não vinha de um momento com você. Ela vinha, de um momento qualquer. Não é estranho? Que um momento qualquer possa me trazer mais alegria do que todos aqueles com você?

Então, você tentou voltar, sem sucesso, várias vezes. Eu não deixava mais, jamais deixaria de novo. Estava retornando a mim mesmo, a quem eu realmente era antes de você. Mas sabe, me afastar assim de mim mesmo não foi de todo ruim. Voltei melhor, decidido de quem eu realmente era, e do que eu realmente queria. Sabia agora quem eu queria ser, e aos poucos, conquistava de novo a minha liberdade antes privada e assistida. Era a minha volta. A volta do que jamais deveria ter partido. Era meu sangue retornando às minha veias, sim, aquele que você tinha engolido como o bom vampiro que era. Mas sabe, é preciso perder para encontrar, não é assim que dizem? E eu me perdi, me perdi tremenda e dolorosamente nas entrelinhas das suas presas, mas consegui encontrar o caminho de volta.

E isso, foi contra tudo o que eu acreditava antes. E eu consegui voltar. Consegui ressuscitar e não foi graças a alguém de fora. Foi graças a mim mesmo. Então, por favor, pelo seu próprio bem, não tente mais atravessar esses portões maciços de novo, porque eu não vou me quebrar com seus golpes, por mais forte que seja o seu aríete. O único quebrado aqui, meu amor, é você.

Quebrado por si mesmo.

Porque, obviamente, pessoas completas e intactas, jamais precisam de partes das outras para sobreviverem. E você, precisa muito.

Por isso, ainda tenho um sentimento por você. Ele é leve, mas existe.

Chama-se pena.

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Autoria: Nós só nos sentimos vivos, morrendo de amores, por Gabu Camacho

Desembarcamos na rodoviária lotada de São Paulo. Era um lugar enorme, e eu estava colidindo com pessoas em todos os lados. Era gente carregando mala, gente carregando gente, e eu, com uma mochila apenas, tentando enxergar coisas que minha estatura não permitia. Nunca havia ido para uma cidade grande assim, tão depressa.

Eu estava seguindo Nick, com os olhos, tentando não me perder naquele mar de pessoas enquanto subíamos e descíamos pelas mais variadas escadas procurando o portão de desembarque, aquele lugar era um verdadeiro labirinto espiral, como alguém sabia andar com propriedade lá dentro? Era algo que ia um pouco além das minhas capacidades de aluno de humanas.

Mas conseguimos sair de lá, e então seguimos para desbravar a grande selva de pedras. Nick ia um pouco a frente, e eu gostava de observá-lo falando. Eu gostava muito de observar as pessoas assim, calmas. Todo mundo deveria se ver assim, e ver como a beleza se mostra na sua maneira mais simples e primitiva. Todo mundo, deveria se ver sorrindo despreocupadamente.

Nossos olhares se encontravam hora ou outra, quando ele se virava para falar comigo. Você sorri sempre que olha para mim. Por quê? Eu era péssimo com disfarces, sempre fui um livro aberto e continuaria sendo, provavelmente. Mas era verdade. Eu era incapaz de olhar para o rosto de Nick sem soltar um sorriso bobo.

Andamos bastante, peguei metrô pela primeira vez, talvez me sentindo especial, talvez me sentindo um pouco besta por nunca ter feito aquilo antes. São Paulo era um lugar incomum, com uma beleza primitiva, sem lapidações. São Paulo não tinha máscaras, talvez por isso dissessem que não há amor em SP. Mas o que eu via, era o contrário. Casais apaixonados se beijando na porta do metrô, dormindo de mãos dadas nas estações e se despedindo carinhosamente nas ruas.

Estava anoitecendo quando chegamos perto do lugar em que eu mais queria visitar no mundo: a avenida Paulista. Eu adorava a maneira com a qual falavam dela por aí, e quando diziam que era a Times Square de São Paulo, minha vontade de andar por lá só aumentava.

São Paulo é incomum, é interessante. As pessoas são quem elas querem ser, e todos vivem despreocupadamente. Um mendigo apertou minha mão e me desejou boa noite. As pessoas cantavam e se abraçavam aleatoriamente, meninos beijavam meninos sem serem julgados, e meninas andavam de mãos dadas com outras meninas como se o mundo fosse acabar ali, e precisassem provar seu amor ao mundo. E isso é lindo porque, de certo modo, me fez perceber que só estamos realmente vivos, quando morremos de amores. Amor é o que move o mundo e portanto, existe amor em SP, sim, por mais que digam o contrário.

Chegamos na Haddock Lobo e subimos até o último andar da Starbucks. Nick não sabia, mas eu o associava muito àquele lugar. Por inúmeros motivos. Era um terraço, aberto, rodeado por vidros e com sofás extremamente confortáveis, de uma maneira em que podíamos ver a rua povoada com o pessoal lindo que habita aquela região, enquanto podemos ainda, observar as estrelas. Sentei ao seu lado, e ele me abraçou, porque estava um pouco frio. Eu queria sorrir mais, mas não acho que seria justo, meus amigos provavelmente comentariam que eu estava com cara de apaixonado de novo. Mas já não adiantava negar, não é mesmo? Defendo que a vida é curta demais para me negar a certos prazeres. Então, se gosto, vou. Se não gosto, não vou.

Não sou de engolir palavras, não gosto de me privar. Então, aproveitei o momento, assim como vinha fazendo desde que havia chegado. Aproveitando cada segundo, porque a verdade é que nunca sabemos o dia de amanhã, e portanto, devemos aproveitar enquanto estamos vivos. Enquanto respiramos, e enquanto somos capazes de irradiar as coisas boas que sentimos. Talvez eu tenha feito coisas erradas, talvez não. Mas sempre temos a chance de experimentar coisas novas, sentir novos aromas e despertar coisas novas.

É fácil se prender ao passado, é fácil remoer coisas que não darão em nada. Não sei se saberia dar meus primeiros passos sozinhos, mas sei que posso sempre tentar.

“Ed, você é maravilhoso.” Nick escreveu, me tirando dos meus devaneios e lutas internas.
“Mas você, é incrível.” Escrevi de volta.
“Eu só queria fazer você feliz.”

Então eu, Edwin, me permiti sorrir para Nick mais uma vez, e ele apertou minhas mãos nas suas, e sorriu de volta. E eu poderia jurar que, mesmo naquela noite escura, cada canto daquela cidade, se iluminou de uma só vez.

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Autoria: Entre as nuvens cinza de paranoia, por Gabu Camacho

Era verdade que eu sempre me encolhia quando perguntavam de você, ou ainda, se eu estava bem. Dizia que sim, e sorria. Mas disso, passava longe.

Eu tinha certas paranoias, e era só tocar Taylor Swift que um curta (ou devo dizer longa?) passava pela minha cabeça. E eu ouvia sua voz de novo, sentia seu toque e seu gosto.

Eram tiros, e diziam que só o tempo era capaz de curá-los. Mas o tempo nunca fez nada por mim, e confesso, não queria que fizesse. O tempo provavelmente me faria esquecer o ritmo da sua respiração, a textura da sua pele ou onde estava cada pinta do seu corpo. E para isso, eu não estava preparado.

Não estava preparado para ter só as fotos do país das maravilhas que encontramos e fingimos ser para sempre. Um para sempre numerado e limitado. Se tivesse dormido de olhos abertos, talvez tivesse aproveitado mais, observado mais.

Mas agora tudo o que resta são fotografias e lembranças. Gosto das fotos por isso. Elas são as provas de que pelo menos, por um milésimo de segundo, tudo estava perfeito. Tudo era realmente, o país das maravilhas em que nos perdemos por um infinito finito.

Eu sabia que minha escapada da realidade duraria pouco, de certo modo. Sempre soube. Mas não queria admitir para mim mesmo. Mas eu sabia. Soube quando foi a primeira vez, e quando foi a última. A vida nunca foi tão ruim, mas também, nunca foi tão boa. E bota boa nisso.

Então, tempo, obrigado por me deixar nesse limbo. Porque nem eu sou capaz de decidir o que eu quero. Aliás, eu sou, sim. Eu decido ficar. Fico por todos que jamais ficaram, fico porque é preciso. Mas acima de tudo, fico por mim mesmo – afinal, eu ainda não encontrei o caminho de volta do nosso país das maravilhas que você há tanto tempo partiu.

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Autorias: Mas tudo bem… por Rodrigo Batista

Eu olho a noite, ela me traz tantas lembranças. Lembro do primeiro dia que nos falamos, foi à noite. Varamos a madrugada, sentimos a brisa noturna um no outro. Acordamos já com o celular na mão para conversar, para dizer um bom e sonoro bom dia, para falar de como era incrível o fato de ter nos conhecido. Desde muito tempo eu não sentia um carinho tão grande por alguém, uma vontade insana de ter uma pessoa por perto. Uma pessoa que mesmo falando de coisas idiotas tornava aquilo em algo inteligente e poético. Pode parecer até uma história saída de algum folhetim das 6 ou das 7, bobinho mas no fundo, intenso.

Posso parecer um completo tolo digitando isso para esse alguém que sequer vai ler todos os meus sentimentos. É trágico mas revigorante. Se um dia a pessoa para quem escrevo ler todo esses sentimentos quase saídos de um dramalhão mexicano, irá rir, olhar para a tela e dizer: por que fui me envolver logo com alguém assim? Não me importo, a única coisa que me importa agora é dizer que tudo o que passamos foi incrível, triste em alguns momentos, mas incrível.

É impressionante o quanto o ser humano passa por transformações quando está com alguém. Eu fui transformado de uma forma irreversível, estranho, não? Isso é o que o amor faz com as pessoas. Torna-as irreconhecíveis. Não me arrependo de ter me tornado outra pessoa, aliás, precisamos mudar constantemente, não é? O problema é quando mudamos mas com a mudança a marca da pessoa vem e fica em você. O relacionamento, a amizade, o vínculo acabam mas a pessoa continua dentro da sua alma. Vai entender esses mistérios da vida. Mas tudo bem, um dia superamos essas peripécias da vida…

E como dizia a música:

Não há salvação para mim agora
Nenhum espaço mais entre as nuvens
E eu sinto que eu estou indo para baixo
Mas tudo bem …
Tudo bem …

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Autorias: O garoto da coroa, por Victor Augusto

O amor já bateu em sua porta uma porção de vezes, entrou, se acomodou e por fim, saiu. A vida lhe mostrou caminhos intensos, lhe cruzou com novas pessoas e por fim, manteve poucas. Ele sempre tentou buscar razões nas complicações que a vida colocava a sua frente.

Ele era só um garoto. Um garoto diferente, talvez, único. Um garoto sensível por fora e por dentro, por dentro tinha sua armadura protetora. Por dentro existia um lado que poucas pessoas conheciam de verdade. Por trás de toda armadura, existia um menino. Um menino que ria sozinho de coisas bobas, um menino que tinha suas crises, seus problemas, suas paranoias, um menino que tentava achar graça nas coisas simples da vida. Um menino que andava pelas ruas com uma coroa e um sorriso frouxo no rosto.

Como eu havia dito, um menino diferente. Ele via as coisas com seus próprios olhos. Às vezes, o amor lhe cegava, mas quem nunca ficou cego de amor por alguém? Por trás de tanta bondade, ele tinha sua base. Ele não era inocente, só não estava preparado para tantas surpresas. Suas palavras descreviam seus problemas, mas o seu olhar, ele descrevia o que realmente não era notável.

Seu olhar tinha audácia própria, assim como ele tinha seu próprio controle. Seu coração não era descartável, suas palavras eram sinceras. Ele era expressivo. E talvez isso o destacasse tanto, expressar e sentir muito. O nosso maior problema é sentir muito por quem sente tão pouco. Somos reféns de sentimentos incabíveis, sentimentos que não cabem dentro da palma de uma mão. Certo dia, eu lhe disse, você não merece sofrer dessa maneira. E olha, sorte de quem o tem na palma da mão. A vida é uma montanha russa, quando tudo está indo para cima, ela te coloca de ponta cabeça sobre seus maiores medos.

Ela é sacana, mas comigo ela foi boa, me fez conhecer alguém que realmente veio fazer parte dos meus maiores dias. Como por exemplo, meu aniversário. Ele não merece alguém que não é capaz de preenchê-lo como ele preencheria um coração vazio.

Às vezes, às vezes ele errava, agia por impulso, caia de cabeça, se atirava sobre suas decepções e por fim notava que tudo não passava de uma grande neura, não é? Calma, ainda vamos enfrentar essas neuras juntos. Ele é incrível e tem sua própria originalidade, mas poucas vezes consegue reconhecer o quão bom consegue ser. Nós nunca nos olhamos em frente ao espelho e notamos todas nossas qualidades expostas. Alguns tem certa dificuldade. E quando o mundo o machuca, ele encolhe sobre o canto e assim desliza nas palavras, e assim descreve o que realmente sente. Como havia dito, ele tem seu próprio armamento.

Espero que seu coração não se despedace com a vida por pessoas que não o merecem, você só vai entender bem quando ver que a vida é curta demais pra quem não sabe valorizar os bens que cruzam nosso caminho. O para sempre é místico, e a certeza que a vida lhe dá é: você é para sempre, as pessoas, talvez. As passagens são necessárias, as idas principalmente, mas o que realmente vem a mudar nossa rotina se torna algo inesquecível.

“Escrevi um texto em que você é o personagem principal”, foi assim que o Victor havia me falado que tinha escrito algo sobre mim. Fiquei super curioso em saber o que ele falava, afinal, ele sempre soube de tudo o que se passava comigo, foi meu psicólogo particular inúmeras vezes e claro, escrevia de uma maneira de dar inveja. Nos encontramos no horário de almoço, certo dia, ele virou o notebook pra mim, com uma música que não lembro o nome, e que ele não quer me passar (chateado), e me mostrou o texto chamado “O garoto da coroa”. Li em um lugar público, e portanto não poderia chorar, então me limitei a cobrir o rosto, enquanto lia essas palavras que me descreveram com maestria. Sim, postei, primeiro como uma forma de agradecimento por me ouvir sempre, por entender todos esses dramas e segundo porque pessoas que escrevem tão bem assim merecem ser lidas e apreciadas. Espero que tenha gostado, e Victor, muito obrigado pelo texto, mais uma vez! <3
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Autorias: A primeira vez em que alguém havia me salvado dos meus próprios pensamentos, por Gabu Camacho

Todos temos inúmeras crushes durante a vida, durante a festa, durante o dia ou até mesmo, durante a ida de ônibus para a escola ou trabalho. Muitas delas, são efêmeras, vem e vão, e isso que talvez seja o mais gostoso nessa casualidade toda. Mas existem exceções, e algumas crushes ficam. Talvez não na sua vida, mas marcadas em você como tatuagem feita à ferro. Você pode começar a namorar, esquecer, deixar de falar com a pessoa… Mas o sentimento primitivo ainda está ali, só esperando a chance de se mostrar sem culpa, sem medo.

Eu sempre fui meio Augustus Waters, meus pensamentos são estrelas que jamais conseguirei organizar em constelações, não importa quantos moleskines eu compre, e quantas noites eu perca escrevendo coisas aleatórias no parque perto de onde eu trabalho. Nunca organizarei minha cabeça da maneira apropriada, nunca deixarei de sucumbir aos meus próprios pensamentos suicidas.

Confesso que não gosto de casualidades, não gosto muito de surpresas – mas amo ser surpreendido -, e fiquei um pouco sorridente quando você confirmou nossa ida ao café. Eu estava trabalhando, rodeado por pessoas, e não deveria mexer no celular. Mas foi impossível conter minha excitação, então, cheguei a afastar a cadeira da mesa só para que eu pudesse te responder da maneira mais apropriada possível. Achei que só iríamos ao café mesmo, a princípio.

Você, era uma daquelas pessoas pelas quais eu nutria o sentimento de crush, apesar de reprimido entre o turbilhão de outras coisas que se passavam pela ponte aérea entre minha cabeça e coração. Mas naquele dia, eu havia decidido me reinventar, eu estava com a minha mente limpa, tranquila, e fui com a cara e a coragem mostrar meus manuscritos mal feitos e manchados por eventuais lágrimas. É bom sentir a tranquilidade de novo, é bom se sentir valorizado.

Sempre me entreguei demais, e recebi de menos. Sempre fui o nadador que se joga de cabeça na piscina rasa, e acaba machucado no final. Nunca liguei muito para os conselhos que me davam, e talvez seja por isso que eu me arrastei tanto por algo que jamais teria um final feliz, e reprimi os sentimentos que deveria ter deixado aflorar logo naquela festa em que eu bebi um pouco além dos limites e talvez tenha feito bosta.

Apesar de tranquilo, apesar de bem resolvido, minha cabeça ainda estava totalmente bagunçada, sei que você percebeu. Mas tudo começou a seguir outro rumo quando você me beijou ao som de Take me to church com aquela chuva fria de julho como testemunha. Eu então, senti algo que jamais havia provado antes naqueles lábios maravilhosos com gosto de cereja mentolada. Aquela, havia sido a primeira vez em que alguém havia me salvado dos meus próprios pensamentos. Aquela, havia sido a primeira vez em que eu havia entendido o que era ser valorizado como a pessoa maravilhosa que eu era – sem joguinhos de ego inflado, dessa vez.

E ah, como foi bom te ter nos meus braços, como a âncora que eu precisava para manter os meus pés no chão, ou então, o balão que eu precisava para me libertar, e me deixar voar. Eu estava salvo dos meus próprios pensamentos que ameaçavam boicotar o bom funcionamento do meu coração. Eu estava, finalmente salvo, liberto.

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Autorias: Noventa dias, por Rafaela Donadone

Oi Pai, Tudo bom?

Você sabe que nossas cartas sempre foram uma coisa nossa. Ninguém mais sabia. A partir do momento que eu mostrei (e postei) a primeira delas, algumas pessoas  vieram me perguntar como eu estou. Não foi uma pergunta simples “como você está?”. Era mais como uma desconfiança, como se eu escrever sobre minha saudade pra você fosse um um pedido de ajuda oculto, como se eu não estivesse bem, sabe pai? Se você estivesse vivo, será que eu ia ser julgada por escrever pra você?

“Já se passou tanto tempo…”. Quem padronizou o tempo do luto? Quem criou essa linha arbitrária de até quantos dias meu luto é normal? Alguém mensurou a intensidade da minha dor ao longo dos anos? Não, ninguém fez isso, pai. Pesquisando um pouco sobre o luto me deparei com a informação que após noventa dias eu já teria uma vida normal. Sairia do “luto”.

Sabe pai, eu achei isso um insulto. Como em noventa dias, eu seria capaz de assimilar que nunca mais vou te ver? Como em noventa dias eu seria capaz de aceitar que nunca mais vou ouvir sua voz? Como em noventa dias eu seria capaz de me acostumar a não sentir seu cheiro? Já se passaram nove anos e eu ainda não consegui nada disso. E acredito que se passarão noventa anos e eu ainda vou ter você dentro de mim.

Noventa dias é o prazo. Ninguém criou esse prazo pra quem está sofrendo, porque na verdade, o luto de perder alguém que se ama nunca passa, ele apenas muda de forma. Meu luto era carregado de lágrimas diárias e desespero, passou por uma longa fase de lágrimas silenciosas e apáticas, hoje ele é um pouco mais saudoso, e amanhã quem sabe como ele vai ser? A única certeza que eu tenho é que ele continuará existindo. Acredito que as pessoas criaram esse tempo quantificável para que elas possam voltar ao normal. Para que depois de noventa dias eles possam falar sobre outros assuntos sem se sentirem culpadas. Três meses é o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que eu nunca esquecerei.

Ah, e sim, eu estou bem. Isto não é um pedido de ajuda velado. É só uma carta de uma filha saudosa  para um pai amado.

Saudades,

Sua filha.