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Autoria: Nós só nos sentimos vivos, morrendo de amores, por Gabu Camacho

Desembarcamos na rodoviária lotada de São Paulo. Era um lugar enorme, e eu estava colidindo com pessoas em todos os lados. Era gente carregando mala, gente carregando gente, e eu, com uma mochila apenas, tentando enxergar coisas que minha estatura não permitia. Nunca havia ido para uma cidade grande assim, tão depressa.

Eu estava seguindo Nick, com os olhos, tentando não me perder naquele mar de pessoas enquanto subíamos e descíamos pelas mais variadas escadas procurando o portão de desembarque, aquele lugar era um verdadeiro labirinto espiral, como alguém sabia andar com propriedade lá dentro? Era algo que ia um pouco além das minhas capacidades de aluno de humanas.

Mas conseguimos sair de lá, e então seguimos para desbravar a grande selva de pedras. Nick ia um pouco a frente, e eu gostava de observá-lo falando. Eu gostava muito de observar as pessoas assim, calmas. Todo mundo deveria se ver assim, e ver como a beleza se mostra na sua maneira mais simples e primitiva. Todo mundo, deveria se ver sorrindo despreocupadamente.

Nossos olhares se encontravam hora ou outra, quando ele se virava para falar comigo. Você sorri sempre que olha para mim. Por quê? Eu era péssimo com disfarces, sempre fui um livro aberto e continuaria sendo, provavelmente. Mas era verdade. Eu era incapaz de olhar para o rosto de Nick sem soltar um sorriso bobo.

Andamos bastante, peguei metrô pela primeira vez, talvez me sentindo especial, talvez me sentindo um pouco besta por nunca ter feito aquilo antes. São Paulo era um lugar incomum, com uma beleza primitiva, sem lapidações. São Paulo não tinha máscaras, talvez por isso dissessem que não há amor em SP. Mas o que eu via, era o contrário. Casais apaixonados se beijando na porta do metrô, dormindo de mãos dadas nas estações e se despedindo carinhosamente nas ruas.

Estava anoitecendo quando chegamos perto do lugar em que eu mais queria visitar no mundo: a avenida Paulista. Eu adorava a maneira com a qual falavam dela por aí, e quando diziam que era a Times Square de São Paulo, minha vontade de andar por lá só aumentava.

São Paulo é incomum, é interessante. As pessoas são quem elas querem ser, e todos vivem despreocupadamente. Um mendigo apertou minha mão e me desejou boa noite. As pessoas cantavam e se abraçavam aleatoriamente, meninos beijavam meninos sem serem julgados, e meninas andavam de mãos dadas com outras meninas como se o mundo fosse acabar ali, e precisassem provar seu amor ao mundo. E isso é lindo porque, de certo modo, me fez perceber que só estamos realmente vivos, quando morremos de amores. Amor é o que move o mundo e portanto, existe amor em SP, sim, por mais que digam o contrário.

Chegamos na Haddock Lobo e subimos até o último andar da Starbucks. Nick não sabia, mas eu o associava muito àquele lugar. Por inúmeros motivos. Era um terraço, aberto, rodeado por vidros e com sofás extremamente confortáveis, de uma maneira em que podíamos ver a rua povoada com o pessoal lindo que habita aquela região, enquanto podemos ainda, observar as estrelas. Sentei ao seu lado, e ele me abraçou, porque estava um pouco frio. Eu queria sorrir mais, mas não acho que seria justo, meus amigos provavelmente comentariam que eu estava com cara de apaixonado de novo. Mas já não adiantava negar, não é mesmo? Defendo que a vida é curta demais para me negar a certos prazeres. Então, se gosto, vou. Se não gosto, não vou.

Não sou de engolir palavras, não gosto de me privar. Então, aproveitei o momento, assim como vinha fazendo desde que havia chegado. Aproveitando cada segundo, porque a verdade é que nunca sabemos o dia de amanhã, e portanto, devemos aproveitar enquanto estamos vivos. Enquanto respiramos, e enquanto somos capazes de irradiar as coisas boas que sentimos. Talvez eu tenha feito coisas erradas, talvez não. Mas sempre temos a chance de experimentar coisas novas, sentir novos aromas e despertar coisas novas.

É fácil se prender ao passado, é fácil remoer coisas que não darão em nada. Não sei se saberia dar meus primeiros passos sozinhos, mas sei que posso sempre tentar.

“Ed, você é maravilhoso.” Nick escreveu, me tirando dos meus devaneios e lutas internas.
“Mas você, é incrível.” Escrevi de volta.
“Eu só queria fazer você feliz.”

Então eu, Edwin, me permiti sorrir para Nick mais uma vez, e ele apertou minhas mãos nas suas, e sorriu de volta. E eu poderia jurar que, mesmo naquela noite escura, cada canto daquela cidade, se iluminou de uma só vez.

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