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Crônica: É terra sem dono

Esse sou eu, emissário do futuro para aquele que desejar ler. Venho de lugares desconhecidos por todos, vocês que pensam ter o destino em mãos. Sou a desilusão que se aproxima no fim da madrugada, aquela que faz com que homens cometam erros pensando que estão acertando, sou eu e nada mais. Lembro bem que em meu passado distante, lá estava minha mãe a ensinar como se entra no mar. “Não, não vai entrando assim, tem que pedir licença.” E eu, com sete anos não sabia a quem pedir licença. “Mas a quem, mamãe?” Ela nunca me respondeu. Fora preciso alguns anos para compreender que o mar tem dona, tem domínio e não, não se pode invadir lugar tão sagrado de tal modo. Lembro também que em meu passado sempre me fiz de tolo e desgovernado, andava por ai sem saber com quem e como, mas a vida ensina e hoje, no futuro que tanto almejei, sei por onde ir. Esse passado nunca me condenou, longe disso, deu álibi para as tarefas futuras. Conquistas. Derrotas. Todas minhas, de mais ninguém. Compreendi que do mesmo modo que para entrar no mar é preciso permissão, para se fazer, qualquer coisa fora dele, também é necessário alvará. Entendi após erros e erros, muitos por conta de ingenuidade, outros por bem querer, sabendo que estava por errar.

Fé, palavra que faltava e hoje, no futuro, é de grande presença. Era uma fé inexistente a que tivera enquanto vivia no escuro, uma consciência culpada por não ter essa tal fé. Hoje, no futuro, a tenho como guia, mas não só ela, pois já dissera vovó, mulher de fé, que ao exagerar no uso de certa coisa, se cega. Aprendi com vovó que ficar cego não é uma das melhores coisa do mundo. E do mundo ela me ensinou tanta coisa, desde quando cantávamos às cinco da manhã, até quando acendia seu cigarro, tossia por conta da asma, sorria para a doença e acendia logo outro daqueles que era para não dar espaço para a morte. Nunca tivera medo da morte, a velha, e nem tem, ela continua aqui, falando comigo e dizendo: Tem fé. E tenho. Graças à ela todo dia oito de dezembro é sagrado, e toda manhã é triste. Bate as cinco e ouço sua voz desafinada: Vai boiadeiro, que a noite já vem. Me ensinou tudo e quase, a mulher.

Em meu passado ouvia canções inspiradas em Pessoa, poeta sem medo. Poeta com fé. Escrevia sempre que podia, com oito, nove anos, e no fim de tudo matava os personagens que com tanto zelo e inocência criava. Era cansativo viver, mas vivia, não por algo sobrenatural que me guiava, mas por ser teimoso desde pequeno. Olho para aquele garoto, ciente de uma coisas, de outras nem tanto, mas corajoso, ninguém lhe dizia um não e esse não continuava por vigorar. Ah, maldito moleque negro e descalço que subia ladeira correndo, pensando em ser o maior entre todos. Espiava lá do alto, via casas e mais casas, e pensava ser dono de todas elas. Moleque independente, prisioneiro de sua mente sonhadora. Hoje não sonho tanto, matei o garoto e lhe joguei na vala mais próxima. Hoje penso no moleque querendo sonhar, mas não consigo, é só nostalgia e medo. Mas tem fé, criança.

Esse mesmo menino aguardava o carnaval como se fosse a última coisa que veria na vida. Achava maravilhoso a brincadeira que transcorria nas ruas, via de sua janela os homens voltarem no fim da tarde encharcados de álcool, espiava os blocos lotados de conhecidos, seus e da família. Era belo de se observar, gente triste que naqueles poucos dias se fazia a mais bela e feliz gente do mundo. A noite era hora de esperar, aguardava todas aquelas escolas passarem na televisão, até que chegasse a vez da Portela. Toda de azul e branco, desfilando em homenagem ao bom samba. Não se entra no mar sem pedir licença. O carnaval de meu passado era assim, azul, branco, frevo e samba, alegria sem tamanho que resguardo bem no fundo de meus arrependimentos.

Não fora de minha época, mas me lembro como sendo, aquela mulher cantando “Bandeira branca, amor”, com uma voz piedosa e vingativa. Ela cantava aquilo com um quê de perdão, mas sempre soube que ali residia raiva e ódio, mas ambos são primos do falsário amor. Da voz de Dalva lembro bem mais do que da minha, até hoje não a conheço, mas penso que canto bem, bandeira branca cantei por diversas vezes, como hino sem significado. Músicas que embalaram infância e adolescência, essas de longe, de um passado que tento lembrar aos poucos. Mas minha missão aqui não é fazer retrospectiva, muito menos lamentar e chorar o leite que não aproveitei direito. Venho do futuro e lhes digo com a certeza que nunca tivera: Fiquem onde estão, não se arrisquem, não venham. Tenham fé e apenas, não se esforcem nem pensem no que está por vir. Não tentem sair de onde estão. Ai é quente, é bom, é o que é. Aqui é incerto, é terra desabitada de esperança e paixão. Aqui é território do medo, não, não se esforcem.

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Autoria: Minha mãe, meu pai, meu povo

Meu grito de revolta é este. Esse pequeno texto que o faço sem mais nem menos, sem programação mental ou roteiro pré-estabelecido. É apenas isso que me vem, resultado de dias com falta de ar, produto de toda uma vida sem alegria ou motivação. Minha revolta pensada por eras, tenho medo de quase tudo. De ter, de perder, de conquistar, de fazer, lutar, ir contra a maré, esperar, tenho medo disto tudo e muito mais. Ah, mas não se sabe o tamanho do medo, ninguém conhece seus medos, fingimos conhecer, mas é pura hipocrisia, só se sabe o medo no momento em que ele é exigido. A vida para e fala: E agora, José? E você tem que correr para provar o contrário, dizer que é forte e inabalável, manter as aparências. É mentira. É falsidade. É uma enxurrada de desastres nesta tentativa de ser dono de si. Certo dia escutei uma bela canção, de Caetano, da Bahia, bela como o dia chegando ao fim entre São Lourenço da Mata e o comecinho do Recife. Um Índio, é o título da canção. E nela Caetano, filho de Canô e irmão de Bethânia, fala: “Virá que eu vi, apaixonadamente como Peri”. Ele fala isto do índio, mas fico me perguntando, que Peri? Que infeliz música é essa Caetano, que fala de aberração, plenitude e fim do mundo. VIRÁ, O Índio virá. E fico nesta, sem saber o que a música fala, mesmo tendo em mente o significado de cada verso, mas a mente acusa e diz: Não, você não sabe dizer o que está escrito ali. É coisa grande. Gonzaguinha falara “Coisa mais maior que grande”. Belo álbum por sinal. Esse texto é inútil, é uma mensagem subliminar para pessoas, para bichos e lugares, mas com toda a certeza não chegará até eles. Minha revolta aumenta a partir daí. Que vontade de descontar nas paredes, nas janelas, explodir e amaldiçoar o mundo inteiro com palavras fortes e nutridas de ódio. Mas não podemos, certo? O que será de mim, ser temente e fiel a um Deus soberano. Pois bem, Deus, vamos conversar. O que faço em momentos como este? Como lido com colapsos e vontades sanguinárias de vingança? Me diga, Deus, pois nem tão cedo terei essa resposta facilmente. Ah, esqueci que o senhor não gosta das coisas fáceis. Vai trabalhar, vagabundo. O Índio virá. Tudo me causa ânsia de vômito. Erro de português (principalmente os meus), pessoa que fala demais, homofobia, calor, zunido de lâmpada, cantor que não desafina, criança sem curiosidade, filme sem fim, série boa cancelada, guerra mundial. Tudo isso me é a gota d’água. Ah, traição. A pior de todas, ai está, é a traição, independente da forma. Tudo isso me incomoda e me deixa a ponto de se transformar em dois, apenas para a cópia dizer: Te cala. Mas é algo fora, algo bem longe do que sou e do que somos, é algo que vem de cima, desse Deus que admira as dificuldades. Porque? Pra que? Vem de lá do alto essa história de conhecer a si mesmo e conhecer a verdade. Eventos sobrenaturais. Mesas que giram, já observara Kardec. Quanto trabalho, não foi, Kardec. Quantas tarefas Deus te deu e você venceu, Allan, meus parabéns, pela codificação, pelo pseudônimo e pela paciência. Gigantesca paciência. Me revolto só de pensar em como as coisas são difíceis, isso causa uma preguiça tão imensa que me causa raiva. Raiva e ódio. Palavras que combinam perfeitamente com amor e solidão. Pausa. Peço uma pausa se quer. Consegui descobrir o motivo disso tudo e ele está incrustado em cada frase. Mil desculpas, Deus, pela blasfêmia e pela incredulidade, são motivos que não devem lhe incomodar. Chulos, desnecessários, idiotas e inúteis para o progresso. Consegui oferecer uma resposta temporária para a minha pergunta, mas ate quando ficarei satisfeito com ela? Ouço lá no fundo um piano, Nina Simone o comanda, ela canta Sinnerman, não canta, derrama sobre toda a plateia. A plateia sou eu, Miss Simone, apenas eu e ninguém mais. Essa é a resposta, por hora, eu e ninguém mais.

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Autoria: Para eu não me doer

Foi quando Iracema teve sua primeira face pintada, foi lá, que ela nasceu. Rebentou como faz menino que não avisa à genitora que está por vir, vem de lá seu rosto de índia, seu olho e pele de índia. Nativa de terras estranhas, filha de deuses desconhecidos por todos e por ela mesma, Deuses vingativos e carniceiros, esgotados de paixão e raça nas tintas e penas que se vestem. Gentios para os crentes em um só, mas guerreiros e sábios para os que em tudo acreditam. Índia que provoca guerra entre tribos e homens que qualquer pingo de honra almejam. Guerreira por ter nascido onde nascera, brotado entre as vitórias-régias que por sorte lá estavam, é uma mistura de América do Sul com Europa transcendente, trás consigo a delicadeza de Parisienses, mas quando mexem com os seus, transforma-se em onça que cruza Amazônia, Sertão, Rio e Mar. Mulher dos deuses, não, mulher sobre todos esses.

É mania sua escrever o que sente e o que não conhece, mas conhece por que acusa saber, nem que seja de um modo supérfluo, mas conhece porque afirma: Eu sei. E sabe, que de longe, entre Palmeira e Pau-Brasil, está seu sangue, cunhado de tristeza e raiva. Ódio da existência que lhe propiciou tanta maldade e rancor. Filha do fogo de Ogum, é cicatriz na história de todo um povo, vem banhada das águas de Janaína, emergindo no mar de ouro, é rainha de corações que nem ela mesmo tem conhecimento. Entre tantos reinos, os menos valiosos são seus, mas ela é flecha  certeira, sabe bem o que deseja e o que lhe motiva é nada mais que o melhor entre todos.

Quando pisaram os primeiros aqui na costa, como caranguejos sedentos de água e lama, lá estava, sobre o monte, derrubando cruz e sacerdote, lhe jogando de volta para o inferno de onde viera. Ela é problema, é mistério a ser decifrado. Mulata que aguenta meses no tronco de qualquer senhor, porque é forte como nenhum homem consegue ser. Despejo tudo que conheço sobre ela e ela repudia, menospreza o pouco saber que obtive neste tempo que Deus deu, para ela é pouco, e sabemos, é pouquíssimo para tamanha beleza, tamanha mente maquiavélica e necessitada não de profetas e ciências, mas de amor e do mais bruto. Ela é bruta como aquela pedra desprezada por alguns, mas cobiçada por milhões, pedra escura e profunda, presente na mais afogadora lagoa de toda a Bahia.

Me incomoda saber que um ser desses caminha por ai, entre todos nós, como se fosse comum termos alguém assim respirando o mesmo ar, sentindo o mesmo odor que os esgotos expelem. Me incomoda pois tenho medo de topar com essa pessoa, temo seus movimentos e suas palavras. Ela é perigosa como os raios que pendem nas noites de verão, como o sol escaldante guiado por Carcarás nos dias de inverno. Maltrata saber que ela vive por viver, desde que viera para este lugar. Não é que os compositores sejam tolos, longe disso, mas é que ela sintetiza todas as letras, transformando-se em sinfonias e xotes do mais talentoso sanfoneiro de meu Pernambuco. Ninguém consegue definir quem seja a Índia dos olhos de Índia. Olhos que reúnem paixão e desprezo, quando ela se move a terra entra em transe apenas para observar cada traço de seu corpo, moldado perfeitamente por uma natureza que não erra. Se a natureza errasse, ela seria o único acerto. Mas não, ela não consegue falhar, e toda a perfeição, todo o sincretismo de meu povo, toda a mística de São Luís até Salvador vive em seu trejeito. Meu cérebro cultiva tumores só ao primeiro rastro de sua lembrança, é devastadora como um mar de gente.

Seu rastro tem cada mulher que por aqui passou, seu passado é nutrido de histórias e histórias, não apenas suas, mas de todos, pois é seu rosto um emblema para cada Capitu. Capitu, ah, cigana dos sonhos, você é a realidade que duela com essa, você se transformou em personagem da vida, Capitu, e deixou, o pobre escritor, o desolado escritor sem reação. Cada sorriso seu brilha como os símbolos de minha bandeira, você é o Recife beijando Olinda, é a estrela que do mar nasceu, dançando entre os corais de Iemanjá, é o que de mais belo existe e que venha a existir.

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Autoria: Vá se amar

You think tou broke my heart, oh… for goodness sake!

A vida é frágil. Não só no sentido de morte. Aliás, existem várias maneiras de se morrer. A que lido hoje é a morte camuflada. A morte cuja investida vem da pessoa a qual você menos espera.

A falta de capacidade de seguir em frente parece algo comum, mas se tem uma coisa que aprendi, é que atraímos para nós mesmos o que nós já temos. Não atraímos amor com amargura. Não atraímos amor desacreditando nele.

Foi ali, naquele corredor rodeado de livros estrangeiros, ao som de Owl City que conheci o amor da minha vida entre minha abundância de infinitos numerados e interminados, entre livros do Stephen King e fugas sagazes dos meus próprios eus.

Todo mundo tem medo de alguma coisa. Exceto que o maior dos meus medos era eu mesmo. Prazer, me chamo Otávio. Assumi-me gay em um turbilhão de acontecimentos, litros de lágrimas e misto de sentimentos. Na época, fui tratado bem pelo meu pai. Minha mãe ficou sem falar comigo e me tratou como lixo por alguns dias. Ela dizia que eu era egoísta o suficiente pra não querer a felicidade dela. A felicidade de ter um filho hétero, talvez. Mas a verdade é que eu não podia mais me privar da minha própria felicidade.

As pessoas, na verdade, não se importam com você.

É tudo sobre elas.

Depois de certo tempo, a poeira abaixou. Tudo estava bem, e como o final de Harry Potter, a cicatriz não me incomodava mais. Mas claro, as pessoas vivem de camuflagens. Era tudo uma mentira. A minha vida, por mais autêntica que eu seguisse, era uma mentira pelas minhas costas.

Os seres humanos tem mania de controle.

Cortam as asas dos seus pássaros assim como escondem o lado mais sombrio e vergonhoso de si mesmos.

Talvez você, que me cortou, devesse ter um pingo de amor próprio.

Sem amor próprio você é assim, exatamente como é.

Sim.

Um nada.

Sabe, existe um clichê que diz que não podemos voltar atrás das palavras ditas. Mas graças ao cosmos, eu nunca deixei nada que você disse chegar perto da minha bolha. Porque coisas ruins são inúteis para mim. Você pode alegar que disse sem pensar, mas não pode ir atrás.

Sabe outro clichê que diz isso e você mesmo já me citou ele? Quebre um vaso. Peça desculpas. O dia que ele voltar intacto, você pode ter o mínimo de direito de se arrepender.

Honre cada uma das suas ações.

Um pingo de decência e dignidade, às vezes vem a calhar.

Para de se camuflar, porque você não pode voltar atrás de nada disso mais. Você já machucou tanta gente. Mas continua machucando.

Porque é egoísta o suficiente para achar que o sol é o seu umbigo.

Mas posso te contar um segredinho, aqui?

Ele não é.

Você é um grão de poeira.

Então, se ainda me permite, o que eu duvido, deixo aqui um último conselho:

Vá se amar.

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Crônica: Sobre letras e palavras

O AMOR VERDADEIRO E O VERDADEIRO AMOR É O QUE MAIS QUEREMOS ENCONTRAR.

Os finais de ano para Derek eram sempre iguais, fugia nas madrugadas frias com cobertores e agasalhos que arrecadava para distribuir para aqueles que tinham a infelicidade de enfrentar o frio como ele é. Sua mãe mal imaginava que ele já fazia isso há dois anos, já que tudo era muito bem planejado. Nos meses anteriores ele conseguia doações com amigos e em bairros afastados de sua casa, para que ninguém o reconhecesse, pois se sua mãe soubesse de suas aventuras noturnas seria quase impossível que ele saísse de casa novamente para esses fins. Não que a mãe dele seja egoísta, ela simplesmente é super protetora.

Todas as doações eram guardadas no sótão de sua casa só esperando o momento que ele sairia para as ruas novamente.

. . .

Era sua primeira noite na madrugada fria daquele ano, ele se agasalhou e recolheu tudo que iria entregar, era tudo sempre incerto, mas ele acreditava na possibilidade de ajudar os outros. Ele abre a porta de sua casa e o frio grita fazendo todo seu corpo tremer e sendo um incentivo maior para ele sair de sua casa e levar tudo que havia conseguido.

Derek decidiu ir a um posto abandonado, que não ficava tão longe de sua casa, lá famílias inteiras se espremiam para tentar suportar a dor que as frias noites de Campos do Jordão ocasionavam. As ruas estavam desertas, mesmo sendo véspera da véspera de natal, eram poucas as pessoas que tinham coragem de sair com tamanho frio.

Algumas pessoas se assustavam quando Derek aparecia com aqueles sacos no meio da madrugada. Um menino branco, não muito alto e com sardas na cara, era difícil entender o que ele estava fazendo ali sozinho. No ano passado uma senhora chegou a perguntar se ele era filho do prefeito fazendo campanha para as próximas eleições, outra perguntou se era um anjo e uma criança chegou a pedir para ele nunca ir embora. A comoção tomava seu coração nesses momentos e sem saber o que responder, ele dizia que sempre voltaria.

O coração de Derek nunca teve dona, porque ele não procurava por uma, tudo era confuso na cabeça dele, nunca havia se apaixonado por ninguém, pensava somente em ajudar as pessoas e torcer para quem sabe um dia ser presenteado com o amor de sua vida.

Derek se aproxima do posto e já sabe que está sendo visto pela maioria das pessoas que ali estavam, porque dormir exposto naquele frio era praticamente impossível, ele vislumbra cerca de doze pessoas e uma lamparina acesa. Um garoto estava ajoelhado em frente a uma caixa e perto de uma senhora que estava deitada em um fino papelão, ele claramente não era dali, suas vestes diziam isso. O garoto olha na direção de Derek, ao escutar os passos dele em sua direção.

Os olhos de Derek se aqueceram ao fitar aquela pessoa. Nunca tinha conhecido alguém que a feição lhe chamasse tanta atenção, era tudo harmônico. A sensação foi tão estranha que ele sentiu seu corpo se aquecendo entrando em contato com o frio do momento, o que deixava tudo mais quente.

— Você pode me ajudar aqui? — dispara o garoto.

Derek fica sem entender nada e se aproxima ainda mais.

— Ela está muito mal, me ajude a encontrar um remédio que trouxe para tentar melhorar essa tosse — aquiesce Derek.

Ele vasculha a caixa enquanto o garoto que aparenta ter a mesma idade de Derek pega uma garrafa e um copo, colocando um pouco de água nele. Derek acha uma cartela de comprimidos, o garoto vê que ele encontrou e destaca um e entrega para a senhora deitada no papelão.

— Vai te ajudar, tome — o garoto diz.

A senhora bebe o comprimido, mas o garoto ainda não estava satisfeito e Derek envolvido e encantado com a solidariedade dele.

— O que você trouxe nessas sacolas?

— Cobertores e agasalhos.

— Você é um anjo? É exatamente que essa senhora precisa urgentemente… Prazer, Théo.

— Derek — ele diz enquanto começa a abrir as sacolas com a ajuda de Théo.

Théo era alto e realmente chamava atenção, seus olhos claros que contrastavam com seu cabelo escuro e liso, faziam dele uma peça única e Derek já havia reparado nisso.

As mãos dos dois se chocam quando estão tirando o conteúdo das sacolas, fazendo os dois olharem face a face, algo aconteceu ali.

Eles se levantam e levam primeiramente para a senhora que estava doente um agasalho e dois cobertores, um para forrar o papelão e outro para ela se cobrir, os dois partem para auxiliar outras pessoas que ali estavam presentes, todas se mostram muito agradecidas e Théo que trouxe em sua caixa alguns mantimentos e remédios pede novamente a ajuda de Derek para distribuir entre os presentes.

A sintonia dos dois era clara, eles se completavam, o coração de Derek batia depressa e sua mão estava tão quente que poderia ajudar a aquecer qualquer pessoa com frio.

Tudo entregue, a missão daquela noite estava realizada, os dois se despedem de todos no posto e são muito elogiados e agradecidos pelo ato que fizeram. Os dois partem juntos e perguntas começam a ser feitas.

CONFIRA A PARTE II EM BREVE AQUI NO BECO LITERÁRIO.
Atualizações, Autorais, Colunas, Críticas de Cinema, Cultura, Filmes, Livros, Lugares, Música, Novidades, Resenhas, Reviews de Séries, Séries

O que mudou? – Conheça o Beco Literário 4.0!

Olá, #BecoLovers, como estão?

Nos últimos dias tiramos o site do ar para passar pela nossa maior e melhor reformulação até o momento. Instigamos vocês ao máximo pelas redes sociais e enfim chegou a hora de lhes apresentar o Beco Literário 4.0!

O Layout
Optamos por não fazer mudanças drásticas no layout, uma vez que elas já estariam presentes no conteúdo. Então, em uma reunião com toda a equipe, que conta com designers, jornalistas, publicitários e outras pessoas do ramo, mantemos o mesmo estilo, modificando apenas poucos detalhes. Foi o que chamamos de releitura da nossa versão 3.0, uma vez que melhoramos, consertamos erros e mantemos o mesmo formato que já era ótimo para todos nós.


Novas Seções
Talvez essa tenha sido a maior bomba da versão 4.0, mas o que seria do Beco só mudando o layout, não é mesmo? Mas Gabu, o site não chama Beco LITERÁRIO? Sim, precisamente. No entanto, sentimos a necessidade de expansão, assim como surgiu demanda do público e esperamos que tenha uma boa aceitação. Então agora, além de Literário, somos Lifestyle, Gourmet, Gossip…


O que esperar?
Bom, cada seção nova tem sua proposta única:

Literatura: A literatura sempre foi nosso carro-chefe e portanto, não mudaremos isso. O foco principal do Beco, continuará sendo nela, para sempre! Aqui você verá sempre as novidades sobre seus livros preferidos e claro, nossas resenhas, autorias e crônicas de sempre.

– Cinema e TV: Mantendo os padrões, continuaremos a informar vocês sobre tudo o que acontece no mundo do cinema e da televisão, incluindo seriados e Netflix! O que antes era exclusivo para adaptações literárias, agora se expande para novas vertentes.

– Música: Quem vive sem música? Ninguém! As boas e velhas notícias sobre o mundo musical, nossas indicações de playlist, e as opiniões no formato fucking de sempre.

– Colunas: Aqui nós falamos de tudo, sem tabus ou qualquer tipo de bloqueio. Opiniões sobre diretores, filmes, política, história… O que der na telha, tem coluna sobre!

– Eventos: Presente nas versões anteriores, apesar de inativa, a seção de eventos agora contará com coberturas mais periódicas de tudo o que acontece na mídia, e claro, que o Beco participou!

– Lifestyle: Inspirações para fotografias, dicas de todos os tipos, coisas aleatórias… Nisso consiste o Beco Lifestyle. Tudo para os mais variados estilos de vida, num lugar só.

– Mundi: Quer viajar mas está com dúvidas? Você está no lugar certo. Dicas de viagens e o que fazer nelas, orçamentos, fotos, hotéis…

– Gourmet: Sábado a tarde, sozinho em casa. Nada melhor que preparar aquele brigadeiro. Mas que tal conhecer novas receitas tão simples e saborosas quanto? Além, é claro, de saber como se manter na dieta!

– Gossip: Tudo sobre o mundo dos famosos e seus bastidores! Porque no final das contas, todos nós queremos saber o que acontece quando as cortinas se fecham.

– Tech: Últimas novidades sobre tecnologia, reviews de aparelhos eletrônicos e a parte mais nerd do novo Beco!

– College: Dúvidas sobre o que fazer após o ensino médio? Quer saber como se portar na faculdade? Vem que nós ajudamos você, e compartilhamos experiências.


Esperamos que tenham gostado da nova apresentação do Beco Literário, e fiquem despreocupados: nosso foco jamais mudará, apenas se ampliará!

Sejam bem-vindos ao Beco Literário 4.0 e lembre-se: Qualquer coisa é possível se você tiver coragem!

Atualizações, Autorais

Autoria: Relógio Interno

Morra morra morra corra morra fuja

Um tic tac incessante.
Um vai e vem nauseante de ideias confusas.
Um relógio quebrado.
No sentido anti horário do próprio sentido errado.
Sim não sim não sim não claro
No entanto, não tente conserta-lo.
Deixo-o trabalhar marcando horas erradas.
Não se arrisque, apenas risque da lista de compras um novo relógio.
O seu funciona;
Só não é do modo convencional.
Você acha? Você quer? Por que não faz fujafujafuja
Sem demora, já demorando, tente racionalizar seu atraso interior.
Tic tac, alguém lhe chama.
Você (se) chama.
Interprete da forma que quiser.
Hora tarde cedo, sim ou não? Refaça
Ponha o alarme.
Autorais

Autoria: É um tempo de guerra

Ando com o andar de quem vai para o abate, de quem está pronto para ser sacrificado. Ando por ai sem saber com quem vou esbarrar e como essa pessoa vai reagir a tal erro da natureza. Passaram-se os anos, muitos anos por assim dizer, mas chegou o maldito dia em que a realidade fez de minha consciência seu abrigo e por fim revoltei-me. Rasgo tudo que me ensinaram desde pequeno e jogo tudo isso aos leões, jogo no mais profundo inferno e esses predecessores, esses inúteis reprodutores de preconceitos, esses senhores e senhoras que se dizem de bem, se joguem junto a ele, vão em busca de seu produto imensurável, vão e mergulhem no inferno que me colocaram. É um grito de alívio e medo, este que coloco por aqui. Medo por não saber as reações, o que isso causará à minha pessoa no fim de tudo, como verei tudo isso no fim da semana que vem, quando parar para ler os escritos, absurdos, mal feitos, não capazes para uma pessoa de meu porte. Tem absoluta certeza que foi você que escreveu isso? Já me perguntaram por diversas vezes. Tem certeza que não copiou de algum lugar? Sim, copiei do ódio que aprendi a dar fermento, fiz cópia de todo mal que já me lançaram “sem querer”. Não sou mais a criança que sofria por ter a cor que tem, não sou mais o filhote de uma mãe sozinha, não sou mais um sem voz. Em uma dessas aventuras desse sistema imbecil, consegui obter nem que seja alguns minutos de poder, consegui colocar para fora minha súplica contida em Castros e Alves, medo, é o que tenho diariamente, hora após hora, de não se rejeitado como sempre fui por milhares. Alívio por saber que esses milhares não importam. Sou dono de herança tão grande, herança que vem de atlânticos transplantados, que vem de longe e de tão perto. Sou cada sangue derramado nos navios brancos que conduziam homens para o abate, aquele que tanto falei e falarei. O abate da liberdade. Sou terços de corajosos vermelhos tupinambás, xavantes, guaranis, sou feito deles e por eles continuarei minha estadia nesse lugar que chamam de casa. Não, eu não sou daqui. Sou de onde o sol, quando acorda clama por Oiá e quando se põe abraça seus filhos em nome de mamãe Oxum, mas esse mesmo sol banha o recôncavo, o marco zero, a Pessoa de todos nós, é desse sol que falo, é ele que me guia no meio de tantos negativos, é esse sol que me faz acordar e clamar por um pouco de coragem. Sol esse que não brilha para todos, não, ele brilha para os ofendidos, para os que sofrem e mesmo assim continuam por lutar, esse sol brilha para aqueles que não conseguem aceitar tais modelos a serem seguidos, tais vitrines a serem contempladas. Meu sol é totalmente meu e não divido com seu ninguém, que julguem, que desfaçam, que tentem me puxar para sua escuridão, mas em nome de todos aqueles que me fizeram, continuo, persisto. Sou sangue, sofrimento e crença, sou parte de tribos e tribos trazidas e excluídas por entre as eras. Sou batuque no fim da tarde, flecha que transpassa as floretas, sou a resistência de uma voz que ainda canta. Canta a mais bela canção de revolta, que chora seus mortos, mas os comemora, porque estes não desistiram quando todos achavam que fariam tal coisa. Sou desse povo que grita por justiça, que não espera sentado vendo o tempo passar, sou dessa gente que não consegue absorver os insultos, que os repudia e continua a levar a vida como sinônimo de bravura. Não, por fim, perco o medo e deixo explodir o que por tanto ficou entalado no meio da garganta. Que tentem nos derrubar com seus padrões pré-fabricados, que façam de tudo para nos extinguir, que façam. Até aqui chegamos e por muito mais continuaremos com essa saga, de raça e suor. Seja na terra ou nas frases mais que bem fixadas, frases feitas não por mera vontade, mas por forças que não condizem com o normal. Força que é motivo para que isso exista.

Atualizações, Autorais

Autoria: Apenas Sabe

Você sabe, você simplesmente sabe.
É uma sensação diferente. Ela não vem de um único lugar, não vem de dentro de você, das pessoas ao seu redor.
Não.
Está por toda parte. Te pressionando, tocando com as mãos geladas, corações entalados na garganta, borboletas que explodem de dentro dos casulos.
Você respira, come, dorme, vive.
Às vezes demora para perceber, às vezes não. Não existem mais planos, metas, momentos, desejos, lembranças, partidas e chegadas.
Só existe o agora, aquele agora.
O agora do agarradinhos numa cama, do sol no seu rosto e um beijo nas covinhas.
O agora do som da voz, da risada nervosa, dos dedos úmidos e rosto corado.
O agora dos pensamentos frustantes, das palavras não ditas, mas interpretadas.
O agora dos gestos errôneos porém singelos, da possessividade manhosa e dos ciúmes sem motivos.
Não se tem futuro, não se tem passado. É uma coisa nova.
Um novo “simplesmente é”.
Você cai de cabeça e se afoga de corpo e alma.
Se molha até os ossos e se conforta no abraço mais quente e seguro, aquele que nunca imaginou ser possível existir.
Aquele abraço que é um misto de saudades sem lógica e desejo que corre pelas veias.
Ele te sufoca, te anima, te alegra, muda teu dia.
O mundo conspira, luta, finge afirmar, pra que você desabe bem no buraco da morada do medo, mas sem um motivo aparente, você ignora. Por que acredita naquilo, lá no fundo você acredita em cada centelha. Cada motivo.
É bem assim, você sabe quando é para ser, simplesmente sabe.

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Autoria: Ponta Cortante

Fiz da lâmina minha caneta.
Escrevi em cursiva, seu nome na minha pele, marcando-te em mim pela eternidade.
Descrevi nosso amor em pequenas palavras:
Submissão entre os prazeres, suspiros e falta de coragem nos meus lábios.
Um riso abaixo da clavícula, um beijo na bochecha. Segredo foi sussurrado pela faca na minha orelha. Eternidade, cumplicidade e jovens, foram rasgados como uma ciranda em meus pulsos.
E redenção, bem na minha nuca.
Deixei minhas costas nuas para um dia você poder terminar de me escrever.