Chegamos a mais um ano de Mostra Internacional de Cinema – o 43º para ser mais exata – mesmo que aos trancos e barrancos, como já é praxe. Neste ano, a 43ª Mostra Internacional de Cinema que acontece entre 17 e 30 de outubro traz uma programação de peso, mas com verba reduzida.
Entre as boas novas da edição estão a exibição de filmes brasileiros – e gratuitamente – no Theatro Municipal (18, 19 e 20 de Outubro), uma retrospectiva com 15 filmes do diretor Olivier Assays e a disponibilidade de 10 filmes da mostra na SpCine Play, plataforma de streaming gratuito da Spcine.
Com tanta oferta de filmes bacanas nesta edição da Mostra, selecionamos 5 filmes imperdíveis para você conferir:
Parasita
Ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o sul-coreano Parasita é uma magnífica surpresa. O filme que conta a história de uma família que dá seus pulos para pagar as contas, tem roteiro afiado e ritmo que engrandece o longa a cada sequência. Melhor filme do ano.
O Mágico de Oz
Clássico dos clássicos, o longa “O Mágico de Oz” será exibido no Vão Livre do Masp no dia 24 de Outubro. A escolha é uma homenagem a Rubens Edwald Filho, crítico de cinema que faleceu neste ano e tinha como um dos seus favoritos o filme de 1939. No Vão do Masp também serão exibidos alguns curtas de Georges Meliès.
Wasp Network
Adaptação do livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais. O filme tem produção brasileira e conta a história de um piloto cubano que se muda para Miami, deixando sua esposa para trás. O longa conta com um elenco de peso com Wagner Moura, Gael García Bernal e Penélope Cruz.
Uma Vida Invisível
Escolhido para representar o Brasil na corrida pelo próximo Oscar, o longa de Karim Aïnouz conta a história de duas irmãs que durante os anos 50 foram cruelmente separadas. “Uma Vida Invisível” levou a melhor e trouxe o prêmio Um Certo Olhar, de Cannes, para casa.
Synonyms
Mais um filme que faturou como o melhor em um grande festival. Vencedor do Urso de Ouro e Prêmio da Crítica, no Festival de Berlim, “Synonyms” fala sobre a trajetória de um jovem israelense que chega a Paris tentando deixar para trás suas origens.
43ª Mostra Internacional de Cinema Quando: 17 a 30 de outubro de 2019 Onde: 34 salas de exibição + Circuito Gratuito, com unidades do SESC, CEU, Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes, MASP, Theatro Municipal e Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes. Valores: Pacote de 40 ingressos: R$374
Pacote de 20 ingressos: R$220 Ingressos Individuais
Segunda a quinta: R$20 (inteira) e R$10 (meia).
Sexta a domingo: R$24 (inteira) e R$12 (meia). Site oficial.
Duas semanas após sua estreia é inegável que Coringa se tornou um sucesso. Muitas expectativas foram criadas em torno do novo filme, embaladas pelos elogios recebidos em festivais e os trailers que entregavam pequenos vislumbres da atuação primorosa de Joaquin Phoenix. Com a estreia nas bilheterias, Coringa não tardou em ser o filme número um no mundo, eclipsando as outras produções em cartaz e arrecadando mais de 500 milhões em bilheterias. Diante de tanto sucesso, resolvemos trazer para vocês uma Análise com Spoilers.
Afinal, cheio de críticas sociais e carregado numa série de polêmicas, o filme de Todd Philips é ambíguo, fundado em bipolaridades e equilibra uma prosa dramática e grotesca ao mesmo tempo. Se você ainda não viu, mas não se aguenta de curiosidade, ou quer relembrar e entender melhor alguns temas que o longa aborda, essa resenha é perfeita para você!
Durante toda a minha vida, eu nem sabia se eu existia de verdade, mas eu existo e as pessoas estão começando a perceber
A CIDADE E O POVO DE GOTHAM
Gotham é um epicentro de problemas.
Sempre foi assim nas histórias do homem-morcego e aqui as coisas não são diferentes. Retratada no início dos anos 80, a cidade está imersa em pobreza e desigualdade, acentuada por uma enorme crise de desemprego. Abandonada pelo governo, nem mesmo o lixo é recolhido nas ruas, levando Gotham a uma infestação de ratos. Como se não bastasse, as diferenças sociais se condensam em uma enorme onda de tensão, colocando os ricos contra as classes mais empobrecidas num clima de desesperança e desespero.
Dentro desse contexto, Arthur Fleck é um homem que representa essa população desolada da cidade. Vive para sobreviver, tendo acompanhamento psicológico pago pelo governo, um emprego precário, fazendo bicos como palhaço, e uma mãe doente para cuidar. Sua única esperança, ou objetivo a longo prazo, parece ser sua espera por uma chance de se tornar comediante de Stand Up – e mesmo essa mínima fantasia do personagem soa como uma piada irônica e constrangedora.
Sua primeira cena, uma das mais icônicas, mostra o palhaço forçando um sorriso entre os lábios – enquanto uma única lágrima borra sua maquiagem. Na sequência seguinte, ele é roubado enquanto trabalha em frente a uma loja e, ao perseguir os ladrões, é espancado.
O filme tem um aspecto gélido, explorando com calma a situação agonizante de Arthur. As cenas em que volta pra casa são marcas do tom em que a história se passa – há uma frieza que ronda as ruas, uma sensação de vazio e tensão iminente.
Quando chega em casa, Arthur precisa cuidar de uma mãe raquítica e doente. É um ponto interessante na trama, já que é na relação entre os dois que o aspecto humano do personagem se revela mais forte.
Embora pareça senil, Penny Fleck tem uma enorme consciência da situação em que se encontram e das condições em que o filho vive. Sua única esperança, contudo, está depositada em enormes ilusões – cartas que escreve para o milionário e candidato a prefeito, Thomas Wayne, de quem fora funcionária 30 anos antes.
Faça uma cara feliz!
Como uma cereja no topo desse bolo de desgraças, Arthur ainda sofre de uma condição rara, que o faz gargalhar em situações inoportunas, sem ter qualquer controle. Nesses momentos o brilho de Joaquim Phoenix é inegável – seus lábios gargalham, mas seus olhos permanecem em uma profunda agonia, revelando todo o abismo que mora dentro da personagem.
Conforme Arthur escreve suas piadas, temos acesso a sua parte mais profunda e essencial – e não há dúvidas de que encontramos um homem à beira do colapso. Porém, o que mais chama atenção, são seus esforços para se adaptar e manter o controle da situação.
Querendo ou não, ele vai as consultas com a analista, ele toma seus remédios, ele tem um emprego… Arthur não é um monstro, a verdade é muito mais difícil, ele é só um homem comum – imerso até o pescoço em uma série de problemas.
OS ASSASSINATOS DO METRÔ
Uma série de incidentes compõe a base da transformação de Arthur.
Por conta da surra que levou de alguns moleques, enquanto trabalhava para divulgar uma queima de estoque, um de seus companheiros lhe oferece uma arma – para que pudesse se proteger. Arthur aceita, mesmo sabendo que não deveria.
Sem qualquer bom senso, Fleck leva a arma para um hospital cheio de crianças, onde está se apresentando. Acaba por se demitido, quando a arma escorrega por sua roupa e fica à vista de todo mundo. A cena é uma das primeiras que produzem aquela sensação de humor incomodo, como se ríssemos de nervosismo – coisa que o filme faz muito bem.
Voltando para casa, no metrô, Arthur fica no mesmo vagão em que três rapazes – depois ditos funcionários da Wayne Enterprises – importunam uma garota. A mulher saí do vagão, mas Arthur permanece, gargalhando. Fantasiado de palhaço, solitário e preso em seu acesso de risos, é uma presa fácil.
Os três homens o espancam, mas diferente da última vez, Arthur revida. Tudo é rápido. Tiros e tiros, o sangue jorra, um dos homens caí. Mais tiros, e o segundo segue o companheiro. O terceiro consegue fugir, assim que o metrô para. Arthur o persegue e fuzila seu corpo, descarregando todas as balas que tinha em seu revólver.
“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você aja como se não a tivesse
Desesperado, o assassino foge e se tranca em um banheiro público e, então… dança. Dança como se seu corpo fosse guiado por uma música suave e inaudível. A polícia começa a investigar o caso e testemunhas relatam ter visto um homem vestido de palhaço saindo da cena do crime. Thomas Wayne dá uma entrevista, lamentando a morte de seus três funcionários e, sem qualquer tato, chama a população de baixa renda de palhaços e os critica pelo suposto ódio que propagam contra os ricos.
Algumas cenas antes de tudo isso ocorrer, é mostrado que Arthur passa a se relacionar com uma de suas vizinhas, Sophie, que sendo jovem e mãe solteira, parece ser um par improvável para Fleck. Ainda assim, após cometer os crimes, o relacionamento deles parece alavancar. Juntos eles vão a um show de stand up, onde Arthur finalmente se apresenta. Tudo começa mal, mas a impressão é que ele passa a fazer as piadas certas em algum momento.
Nesse passeio, discutem sobre os recentes assassinatos e sobre como as pessoas passaram a usar uma máscara de palhaço como símbolo dos manifestantes contra o governo e a elite da cidade. A garota parece acreditar que o suposto palhaço assassino é um herói para Gotham – e Arthur sorri. E até mais do que isso, ele começa e encontrar uma identidade para si.
AS CARTAS PARA O PASSADO
Apesar do filme dar sinais de que as coisas se alinharam para Arthur, não demora para que sua vida desande mais uma vez.
Sua assistência vinda do governo é cortada, como parte de uma proposta de redução de verba pública, já que a cidade vai de mal a pior. É interessante notar como Gotham parece mais uma cidade-estado nessa mitologia, do que um município comum. Como se não bastasse, ele finalmente vai de encontro com uma verdade avassaladora – ao abrir uma das cartas que sua mãe envia frequentemente para Thomas Wayne, descobre que ele pode ser seu pai.
A mera suposição do Coringa ser irmão do Batman faz os nervos dos fãs entrarem em colapso – para o bem ou para o mal. Mas, mesmo após discutir com sua mãe e ela admitir ter tido um caso com o Wayne, a possibilidade disso ser verdade parece bastante remota.
Contudo, Arthur se anima. Vai até a mansão Wayne e encontra, mesmo separados por um portão, o jovem Bruce. Sua cena fazendo um sorriso falso em seus lábios vai habitar a imaginação dos fãs por um bom tempo. Finalmente, ele é expulso de lá, ouvindo pela primeira vez a afirmação de que sua mãe seria uma lunática.
É impressão minha ou o mundo está ficando mais doido?
Enquanto volta para casa, descobre que a polícia o procurou para falar sobre os assassinatos do metrô. Sua mãe entra em pânico ao ser interrogada por um dos oficiais e acaba passando mal. Arthur fica com ela no hospital e Sophie o acompanha também. É ali que, assistindo ao show de Murray Franklin, um comediante e apresentador por quem tem uma enorme fascinação, vê sua apresentação de Stand Up sendo transmitida. A princípio, sente que seu sonho está se realizando, mas caí em desilusão quando percebe que estão apenas gozando dele.
Se apegando as esperanças que ainda restam para ele, Fleck vai até um evento onde o próprio Thomas Wayne está presente. Ao interceptar o homem no banheiro, Arthur basicamente se declara, exigindo a atenção e o carinho de seu suposto pai. Contudo, recebe apenas um soco de partir o nariz e uma história intragável: sua mãe seria uma ex-funcionária mentalmente instável, que teria inventado a história sobre seu caso com Wayne, após adotar Arthur.
Incrédulo, Arthur vai até o Sanatório Arkham, onde vemos algumas referências a outros vilões do Batman, como o Charada. Ali ele consegue ver os relatórios psiquiátricos sobre sua mãe e os rouba. Finalmente a verdade vêm à tona: Penny o adotou, mas deixava-o totalmente alheio de qualquer cuidado. Mais do que isso, ela teria permitido que seu namorado da época tivesse torturado tanto ela quanto a criança. Arthur teria ficado acorrentado por dias, sem comida ou bebida.
Inconsolado, sem rumo ou propósito, Arthur vai até o apartamento de Sophie. Plot twist: descobrimos que todas os momentos que eles teriam passado juntos, foram criados pela própria mente psicótica de Fleck. A cena é breve, mas agoniante. Quando Arthur saí, sem deixar claro o que realmente teria acontecido, só podemos supor o pior.
ABREM-SE AS CORTINAS: COM VOCÊS, O HOMEM QUE RI!
Já sem qualquer limite exterior imposto, o homem vai até o hospital, onde finalmente confronta sua mãe e assume saber a verdade sobre seu passado. Sem dar tempo para que Penny absorvesse suas palavras, ele a sufoca com seu próprio travesseiro.
É então que ele finalmente recebe uma chamada para participar do programa de Murray. Após aceitar, ele começa a ensaiar para o programa e descobrimos que seu plano é cometer suicídio ao vivo – num último e grande ato.
Quando pinta o cabelo de verde, Arthur já não é mais Arthur. A máscara finalmente caí e o interior se liberta. Vemos o eclodir de uma nova persona – Coringa. Enquanto se produz vemos a construção de seu verdadeiro rosto – decidido, frio e violento.
Dois de seus antigos colegas vão ao seu apartamento, prestar condolências pela morte de sua mãe, e então temos a cena mais gráfica do filme. Coringa mata brutalmente o colega que lhe deu a arma, num ímpeto de fúria e frieza. O outro, um anão que já era alvo de sátiras durante o filme, fica encurralado, totalmente sem reação.
“Só espero que minha morte valha mais centavos do que minha vida”
Coringa permite que ele parta, pois admite que o homem nunca o tratara mal. O anão não consegue abrir a porta por causa do seu tamanho, fazendo com que Coringa o assuste antes de deixa-lo sair, dando-lhe um beijo em sua testa. Mas a cena em si causa uma reação confusa nos espectadores – nesse momento, o cômico e o grotesco se misturam como nunca. Alguns riem, enquanto outros se encaram, atônitos.
Totalmente trajado, já assumindo sua nova identidade, Coringa dança por uma escadaria de seu bairro. É encontrado pelos policiais que o procuravam e decide fugir deles. Para esse dia, uma manifestação está marcada para o centro da cidade. Coringa entra no metrô, onde um enorme grupo de manifestantes está usando máscaras de palhaço. Ele consegue se camuflar no meio da multidão e uma confusão começa com a entrada dos policias que, pressionados, acabam por atirar em um homem. Coringa saí na estação, eufórico, enquanto um dos policiais é linchado.
Nos camarins do show de Murray, um dos produtores não quer permitir sua presença, já que seu visual pode ser associado aos movimentos políticos. O próprio apresentador questiona seu convidado, que garante não ter qualquer vínculo com os manifestantes. Após entrarem em um acordo, ele pede para que Murray o apresente como Coringa.
Aqui vale uma nota, já que talvez nada seja mais impactante em todo o longa do que a cena de Coringa coreografando sua dança macabra atrás das coxias. Ele está, enfim, pronto para o que tem de fazer.
A conversa com Murray, contudo, não poderia ser pior. É até difícil perceber o momento em que começa a desandar – simplesmente, parece destinado ao fracasso desde o princípio. Em determinado momento, Coringa admite a responsabilidade pelos assassinados do metrô. “Estou cansado de fingir que não foi engraçado”, é o que ele diz. A sensação do espectador é que cada frase a mais nessa conversa é um erro.
Tensão, tensão e um novo plot twist – Coringa dispara contra Murray. Correria, gritos, desespero… p agente do caos se revela. Ele encara uma das câmeras, antes que a transmissão seja interrompida: “And remeber ‘That’s’… ”, tenta dizer, quando as imagens são cortadas.
ENFIM, OS APLAUSOS!
Coringa é preso, levado em um carro de polícia enquanto contempla a cidade ser consumida pela fúria dos manifestantes, que encaram seu ato de assassinato como um gesto de rebeldia e afronta contra as instituições que eles combatem.
De repente, um caminhão acerta o carro de polícia, e Coringa é liberto pelos manifestantes. Nesse mesmo momento, ao saírem de um cinema que exibia a Máscara de Zorro, fugindo para um beco ao tentarem sair do epicentro do tumulto, os Thomas e Marta Wayne encontram seu fim trágico e reimaginado, diante do pequeno Bruce.
Coringa, por outro lado, se vê rodeado por homens e mulheres mascarados que bradam o seu nome. Usando seu próprio sangue, ele desenha um sorriso distorcido em sua face. É seu momento de glória. O caos domina a cidade, Thomas Wayne está morto, Penny Fleck, Murray Franklin e o próprio Arthur também, mas o palhaço vive.
É uma noite sombria para Gotham City.
A tela, enfim, escurece e ouvimos o som de sua risada rouca e involuntária. Há mais um trecho para a conclusão do filme, uma conversa entre Coringa e sua psiquiatria, provavelmente preso no Asilum Arkham.
– Qual é a graça? – A mulher pergunta para ele.
– Eu pensei numa piada – Coringa responde antes de cair na gargalhada.
– Quer me contar?
– Você não vai entender – Ele responde e traga seu cigarro.
A música “That’s Life” de Frank Sinatra inicia. Coringa a canta em conjunto com o fundo. Então, ele aparece correndo pelos corredores, sendo perseguido por funcionários numa cena que remete aos filmes pastelões.
Seus passos deixam marcas de sangue pelo corredor.
Disseram que eu não sou engraçado o suficiente, dá pra acreditar?
Qual a conclusão que podemos chegar?
Nenhum filme de super-herói, talvez em todos os anos de existência do cinema, tem metade da profundidade que Coringa. A proposta do longa, somados a sua execução por parte de uma direção impecável e uma atuação de tirar o fôlego de Phoenix, criaram uma obra digna de tanta repercussão.
Há muitas polêmicas envoltas ao filme, certamente. Contudo, parece bastante claro que Arthur Fleck não se tornou Coringa porque teve um dia ruim, nem mesmo porque tinha uma condição psiquiátrica, ou porque era socialmente isolado. Mas sua transformação foi uma fusão de todos esses fatores, ainda mais intensificados pela situação política e precariedade social de Gotham.
Arthur era um homem que queria ter uma vida normal. Mas foi sendo tragado por circunstâncias que o levaram a um ponto de ruptura. Nesse estágio, sem ter qualquer suporte, optou pela via mais agressiva – escolheu parar de tentar conter seu lado mais sombrio e usou-o como ferramenta para se libertar.
Coringa é um vilão. Mas é muito mais complexo do que um vilão que nasce assim, como os da Disney, ou daqueles que se tornam antagonistas por terem algum objetivo controverso e impopular, como Thanos. Arthur Fleck foi sendo minado pela doença, pela sociedade e por pessoas a sua volta, e esse homem sucumbiu ao Coringa, que assumindo no controle da situação, optou por virar o mundo de cabeça para baixo.
Sim, essa perspectiva é assustadora. Não porque o filme é puramente polêmico, mas porque ele reflete a nossa realidade. Dessa forma, não é o filme que deve ser combatido, mas sim os nossos próprios valores sociais – que acabam por permitir que um filme de ficção seja tão próximo da realidade.
Em comemoração aos 90 anos de uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, o Beco traz um especial sobre Fernanda Montenegro. Nascida em 16 de outubro de 1929, Arlette Pinheiro Esteves Torres completa 90 anos nesta semana e carrega uma carreira admirável. Fernanda Montenegro iniciou sua carreira no teatro em 1950, sendo a primeira atriz contratada pela TV Tupi em 1951. Foi protagonista na primeira novela da emissora, A Muralha, e estrelou inúmeras peças no teleteatro da TV Tupi em São Paulo, que eram apresentadas no Grande Teatro Tupi.
Fernanda Montenegro trabalhou na TV Tupi, Record, Bandeirantes e na extinta TV Excelsior, chegando à Rede Globo em 1965 para uma série de teleteatros, porém sua consolidação na emissora foi ocorrer somente em 1981 na novela Baila Comigo, de Manoel Carlos. Sua estreia em cinema se deu na produção de 1964 para a tragédia de Nelson Rodrigues, A Falecida, sob direção de Leon Hirszman.
Em 1999, por sua atuação no filme Central do Brasil, de Walter Salles, Fernanda Montenegro foi a primeira artista brasileira a ser indicada para o Oscar de melhor atriz. Um ano antes, ainda por sua atuação nesse filme, recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim. Foi convidada para ocupar o Ministério da Cultura no governo dos presidentes José Sarney e Itamar Franco, porém, apesar do grande apoio da classe artística e intelectual, recusou ambas as ofertas. Em 1985, ao recusar o convite de Sarney, afirmou em carta ao então representante do governo que não estava preparada para abandonar a carreira artística, não por medo ao desafio que lhe era oferecido, mas sim, por entender que seria muito melhor no palco do que no Ministério.
Recebeu em 1999, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Ordem Nacional do Mérito Grã-Cruz “pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras”. Na época, uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro comemorou os 50 anos de carreira da atriz. Em 2004, Fernanda Montenegro foi escolhida como melhor atriz da terceira edição do Festival de TriBeCa. Ela foi premiada por sua atuação em O Outro Lado da Rua, único filme da América Latina a participar da competição de longas de ficção. Em 2009, recebeu a Ordem do Ipiranga, no grau de cavaleiro, do Governo do Estado de São Paulo, e, em 2012, o Emmy internacional de melhor atriz por sua personagem no especial de Natal Doce de Mãe.
Na televisão, Fernanda Montenegro coleciona 52 trabalhos, entre teleteatros, novelas e minisséries, sendo que, nos teleteatros, contam-se dois programas, Retrospectiva do Teatro Universal e Retrospectiva do Teatro Brasileiro, porém são inúmeras peças e inúmeros personagens. Já no cinema, temos os impressionantes 42 filmes. Fernanda Montenegro também coleciona os invejáveis 35 prêmios nacionais e internacionais de melhor atriz no cinema, 18 prêmios por seus trabalhos na televisão e 28 no teatro. Já de comendas temos nove, inclusive uma da França e uma de Portugal. Pisa menos, Fernanda!
Não dá para negar que Fernanda Montenegro é mesmo a primeira dama do teatro, televisão e cinema brasileiro, e o Beco deseja um feliz aniversário para essa rainha da dramaturgia. Rumo aos próximos 90!
Angry Birds 2 – O Filme estreia no próximo dia 03 e nós do Beco Literário assistimos ao filme a convite da própria Sony Pictures, só para contar pra vocês o que achamos em primeira mão.
Sinopse: Os raivosos pássaros que não voam e os engenhosos porquinhos verdes levam sua briga para o próximo nível em AngryBirds 2 – O Filme! Quando surge uma nova ameaça que coloca as ilhas dos Pássaros e dos Porcos em perigo, Red, Chuck, Bomba e Mega Águia recrutam a irmã de Chuck, Silver, e se unem aos porcos Leonard, sua assistente Courtney e o técnico Garry para juntos estabelecerem uma trégua instável para formar uma improvável superliga que irá salvar suas casas.
CONTÉM SPOILERS A PARTIR DESTE PONTO
O filme começa recordando o enredo principal do filme anterior, que era a guerra entre a Ilha dos Pássaros e a Ilha dos Porcos, com muita animação e diversão. Até que, de repente, a Ilha dos Porcos é atingida por um objeto misterioso até então. Com isso, o líder Leonard pede uma trégua para a Ilha dos Pássaros, ação que deixa Red desolado, porque seu maior passatempo era proteger a sua ilha e, com a trégua determinada, isso não vai mais acontecer por enquanto.
Trégua decretada, os amigos Red, Chuck e Bomba saem para se divertir, até que Red conhece uma garota pela qual não se dá bem de imediato. Ele sai um pouco triste, até que Leonard o procura para que combatam os ataques da Ilha das Águias, que havia sido descoberta pelos drones das Ilhas dos Pássaros.
Juntos, precisam arquitetar um bom plano a fim de chegar na tal ilha misteriosa e para isso, o grupo precisa encontrar alguém realmente bom. Chuck pensa em sua irmã Silver, engenheira e vão ao seu encontro. Quando ele acontece, plau! É a garota que Red havia conhecido e não se dado bem de primeira. A história deles começa nesse ponto, em que ele começa a se gabar por ser o líder do planejamento, mas não tem ideias muito boas durante o plano em si.
Quando chegam a Ilha das Águias, Red e Silver vão para um lado, e o restante da turma, fantasiados de outra ave, entram pela porta principal. Rola todo aquele esquema de invasão e todos são pegos lá dentro, no flagra, só que o inesperado acontece: Zeta, a águia que comanda a Ilha das Águias é “ex-peguete” do Mega Águia.
Conforme a trama vai se afunilando para o final, ele aparece na ilha e tenta contornar toda a situação, sem obter sucesso. Zeta continua com seu plano para destruir as duas outras ilhas a fim de se apropriar delas, já que prefere o clima tropical delas ao clima frio de sua ilha. Porém, a ideia de Silver e Red, aliadas com a corda de engenharia de Silver de retardar as bombas funciona e destrói a máquina der bombas de Zeta.
Depois de tudo, Zeta revela ao Mega Águia que tem uma filha com ele, e acabam se casando. A Ilha dos Pássaros ficam eternamente agradecidos a Red pela salvação, mas ele diz que a vitória também deve ser de Silver.
FIM DOS SPOILERS
O filme tem uma pegada bem divertida que vai bem para qualquer idade, principalmente crianças pelas cores, diálogos engraçados e todo o enredo lúdico. Aborda muitos temas cotidianos que valem a pena serem colocados em pauta e é um filme que com certeza deve ser visto em família, superando o primeiro da série, lançado em 2016.
O filme original apresenta um elenco de vozes estrelares que também inclui Leslie Jones, Eugenio Derbez, Pete Davidson, Zach Woods, Dove Cameron, Lil Rel Howery, Tony Hale, Beck Bennett, Nicki Minaj, Brooklynn Prince e JoJo Siwa. No Brasil, Marcelo Adnet empresta sua voz para Red, Fábio Porchat dubla Chuck e Dani Calabresa dubla Matilda. Além deles, o filme também conta com participações especiais de influenciadores na dublagem: Thomaz Costa é Bubba, Mileninha é Lola, Luluca é Beatrice e Authentic Games é o Authêntico.
Uma apresentação da Sony Pictures Animation em associação com Rovio Entertainment, dirigido por Thurop Van Orman e produzido por John Cohen. O roteiro é de Peter Ackerman e Eyal Podell & Jonathon E. Stewart.
Angry Birds 2, assim como em seu precursor, é baseado na franquia de grande sucesso para Android e iOS de mesmo nome, que foi por diversos anos um dos jogos mais baixados e sempre em relevância. Na Play Store, por exemplo, com aplicativos de redes sociais, jogos de franquias famosas, de saúde, de apostas esportivas (agora que tais apostas estão legalizadas no país), Andry Birds sempre manteve grande relevância e ainda mantém. Angry Birds 2, jogo relativamente recente da franquia, detém a faixa de mais de 100 milhões de downloads.
Quando se fala o nome Emma Watson, a primeira imagem que vem à mente da maioria das pessoas e dos fãs é a Hermione Granger, personagem icônica do filme Harry Potter, série de filmes britânico-americana baseada na série de livros homônima da escritora J.K. Rowling. O longa levou à atriz ao estrelato desde criança.
Nascida em Paris, mas criada na Inglaterra, a atriz, recentemente graduada em Literatura Inglesa pela Universidade Brown, é famosa não apenas pela sua carreira artística. Nomeada embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, desde 2014 vem se dedicando a engajar meninos e meninas, mulheres e homens na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar homens e mulheres a modelarem juntos uma nova sociedade. A atriz é uma das protagonistas da iniciativa ElesPorElas (HeforShe), movimento criado pela ONU Mulheres.
Levando em conta esse comprometimento, o projeto Donas da Rua escolheu a atriz para comemorar o quinto aniversário do movimento ElesPorElas (HeforShe). A dona da rua em pessoa, Mônica, foi a personagem escolhida para a homenagem.
O Donas da Rua foi criado em março de 2016 e tem o apoio da ONU Mulheres. Nesta parceria, a MSP tornou-se signatária dos Princípios de Empoderamento da ONU Mulheres. Uma de suas áreas, o Donas da Rua da Ciência, tem como objetivo resgatar a trajetória de pesquisadoras e cientistas que marcaram a humanidade com suas ações.
Abigail e a cidade proibida é um filme russo que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (12) e surpreende em vários aspectos. Primeiro, é um filme russo, e, vivendo em um mundo dominado pelo cinema hollywoodiano, é surpreendente quando somos expostos a um filme russo. Segundo, ele ressuscita o gênero steampunk tão popular nos anos 80 e 90. Porém, as surpresas não são suficientes para amenizarem os furos no roteiro e a fraqueza da história.
Para quem não conhece, steampunk é o termo usado para uma ficção científica que fala sobre avanços tecnológicos em uma história que se passa mais no passado. Confuso? Deixe-me explicar. Júlio Verne descreve uma máquina parecida com um submarino no início do século 20, assim como também fala sobre uma viagem ao redor do mundo em um balão de ar quente. Submarinos e balões são coisas totalmente comuns para nós, mas não são na época em que a história passa.
Agora, voltando à história da Abigail, temos um mundo onde há pessoas capazes de produzir magia que pode ser canalizada em armas futurísticas que lançam raios. A tal cidade proibida é o local onde eles moram, uma cidade totalmente cercada onde ninguém entra e ninguém sai. O motivo dado à população é que há uma doença mortal que se espalhou pelo mundo e eles só estão vivos por causa da muralha que cerca a cidade.
Ninguém sabe o que há lá fora ou se ainda há algo lá fora, porém, já se passaram tantos anos que ninguém mais pergunta, só aceita. Homens mascarados patrulham as ruas o tempo todo, colocando luzes nos olhos das pessoas para testar se a tal “doença” se manifestou. Aqueles que têm um diagnóstico positivo são levados para fora da cidade.
Dentro desse mundo pós-apocaliptico meio futurista e mágico, temos a nossa mocinha, a Abigail, cuja o pai trabalhava para o governo e foi levado quando ela tinha 8 anos. A história se passa quando ela já está com 18, mas temos vários flashbacks ao longo do filme, onde Abigail se lembra das lições que seu pai a ensinou e segue em uma busca implacável de seu paradeiro.
Abigail e a cidade proibida tinha tudo para dar certo, porém, a fórmula não funcionou tão bem quanto esperado. Apesar do roteiro diferente, essa aposta arrojada no steampunk em contrapartida da ficção científica tradicional que está tão em alta e toda aura de magia e ótimos efeitos especiais, o filme peca na execução em falar muito em tão pouco tempo e forçar um romance entre Abigail e o líder da resistência que se consolidou em menos de dez minutos.
Temos magia, um mundo pós-apocalíptico, uma trama cheia de conspiração, várias intrigas e muitos personagens com histórias mal acabadas no mesmo filme. Levando em conta o público-alvo que eu não julgaria ser mais do que infanto-juvenil, a confusão é muito grande e, ao final do filme, saímos com aquela sensação de que não foi tudo entendido de verdade. Até agora eu não entendi como se consegue trancar uma população inteira dentro de uma cidade por mais de 100 anos sem ninguém desconfiar de nada. Quem era o líder dessa coisa toda? Porque temos um líder na época da Abigail, mas é impossível que seja o mesmo desde o início. Ou ele tem o poder da imortalidade? Isso não é explicado na história.
Como todo o restante do filme, o clímax é rápido e confuso demais, com mais enfoque nas lutas e efeitos especiais do que em amarrar as pontas soltas. O tal shipp dos mocinhos não tem química nenhuma, e ninguém parece se importar muito com os mortos durante o processo. Talvez, se eles tivessem diminuído um pouco a quantidade de informações e investido mais em solidificar o roteiro, dando realmente um princípio, meio e fim para tudo, Abigail e a cidade proibida teria tudo para ser um sucesso. Infelizmente, não é esse o caso.
Fui pego por elite pelas roupas. Sim, o uniforme de um suposto colégio-internato que parece do Elite Way School, de Rebelde me deixou com a pulga atrás da orelha, ainda mais sendo uma produção espanhola. Seria meu RBD 2.0 vivo? A chama de fanboy já acendeu lá em cima e eu comecei a assistir a Elite, da Netflix.
Assisti à primeira temporada no ano passado, logo no lançamento e me perguntei hoje porque nunca escrevi sobre, sendo uma das minhas séries preferidas hoje em dia. E eu sou ruim de assistir série, fico impaciente, durmo e nunca chego até o final. Mas ontem fui rever a primeira temporada, antes de ver a segunda, e entendi muitas coisas além disso.
CUIDADO COM SPOILERS DA PRIMEIRA TEMPORADA A PARTIR DESTE PONTO
Ela começa um pouco confusa, pelo final, com a cena que parece ser um assassinato. Não sabemos de quem é, mas ao decorrer dos episódios sabemos que é Marina. Mas por que ela?Como?
Os episódios transcorrem com cenas no passado e no presente. No passado, no colégio e no presente, em uma sala de interrogação policial sobre o assassinato. Dado isso, vamos ao enredo: três alunos – Samuel, Nadia e Christian – de classe baixa, ganham uma bolsa de estudos no melhor colégio da Espanha. De lá saem os novos “donos do mundo”, e está repleto de alunos bem característicos com ego inflado, classe altíssima, filhos de marquesas, bilionários, CEOs e outros do gênero.
Obviamente, o trio tenta se misturar, mas os riquinhos não querem saber de “pobretões” no colégio. Parece um clichê, mas as teias vão se emaranhando cada vez mais e pra isso, preciso comentar sobre cada um dos personagens mais característicos pra comentar a série, a começar pelo Samuel, que de início, pareceu ser o principal mas eu quase morri nas cenas dele. MUITO CHATO. É daqueles personagens que dá vontade de gritar e falar ALÔ, ACORDA, PLANETA TERRA CHAMANDO! Seu irmão, Nano, acabou de sair da cadeia e ele vive com a mãe, alcoólatra, e trabalha como garçom em um lugar que coincidentemente os alunos do colégio costumam comer e por isso todo mundo sabe e o chama de “garçom”. Samuel se apaixona por Marina, que é irmã de Guzmán, filhos de um importante engenheiro que está metido até as calças nos escândalos de construção da cidade. Coincidentemente, esse engenheiro que paga as bolsas dos três alunos após o teto de sua escola antiga desabar sobre eles (a construção era dele).
Mas Marina gosta mesmo de Nano, irmão de Samuel, e fica mantendo os dois a banho e maria por algum tempo. Apesar de me irritar muito com ela ao longo da série, entendemos que ela não quer participar do mundo dos ricões. Ela quer apenas viver sua própria vida sem alguém a controlando, principalmente depois de ser contagiada pelo vírus do HIV aos 14 anos de idade.
Nadia é a segunda bolsista. Vem de uma família muçulmana muito tradicional e já vê sua cultura sendo desrespeitada no colégio quando é proibida de usar seu Hijab. Foi uma das cenas que mais amei na série inteira, quando a diretora a proíbe e ela enfrenta, dizendo que vê todos ostentando suas bolsas caras e relógios de marca. Se torna uma grande amiga de Guzmán, apesar do seu relacionamento não ser aprovado por seu pai, que após perder a filha mais velha “para o mundo”, mantém ela e seu irmão, Omar com regras pesadas. No entanto, Omar é homossexual e quer viver sua vida longe dos moldes do pai, e para isso, revende drogas para juntar dinheiro e nessa, conhece Ander, um dos melhores amigos de Guzmán, por quem se apaixona e precisa lutar para poder sequer dar um toque. Ander é filho da diretora do colégio Las Ensinas e, apesar de ter uma condição de vida confortável, também não está na nata da sociedade, como os outros.
Christian é o personagem mais irritante do mundo. Ele entra no colégio querendo manjar de tudo e fazer contatos para ascender socialmente. O digital influencer, como é chamado pejorativamente pelos colegas de turma, faz de tudo para conquistar seu lugar ao sol. Foi ele que apresentou Ander a Omar, durante uma compra. Se apaixona por Carla, filha de uma marquesa rica, que por sua vez, namora desde que se entende por gente com Polo, o outro melhor amigo de Guzmán e filho das duas maiores CEOs do universo editorial (sim, ele tem duas mães!), porém Polo é voyeur, o que significa que ele experimenta prazer sexual o próprio ato sexual praticado por outros, e ao se ver quase terminando o relacionamento com Carla, juntos decidem chamar Christian para apimentar as relações.
No meio de tudo isso, tem a Lu cujo papel ainda considero dispensável para a história, ainda mais fazendo essa análise. Ela aparece provocando Nadia, Guzmán, fazendo chantagens aqui e ali, mas sem uma função expressiva dentro da teia.
FINAL DOS SPOILERS AQUI
Com base nessas informações, toda a trama se desenvolve, com muito teor sexual, crimes e rebeldia, como seria normal para adolescentes de 16 anos. Não tem muita verossimilhança, pelo menos para mim que nunca estive inserido nos contextos sociais que a série retrata, mas ainda sim muito importante por sua representatividade em locais que jamais imaginaríamos encontrar.
Vai além de uma simples série adolescente e nos faz pensar como sociedade em vários aspectos de corrupção e que as pessoas são plurais até de formas que jamais conseguiríamos imaginar. A primeira temporada tem um final sem deixar muitas pontas, mas sempre com abertura para a segunda, que estou indo assistir agora.
Tarantino ama cinema – você sabe disso e eu também. O diretor já trabalhou como balconista de uma rede de locadora de filmes e pouco depois escreveu o roteiro de Cães de Aluguel(1992), filme que definiu o tom dos que viriam a seguir, nos deixando sedentos pelas cenas de sangue e roteiros com diálogos afiados, cheios de referência ao universo pop.
Grande fã de “western spaghetti” (sub gênero do western das décadas de 60 e 70, estrelados por astros – já em decadência – que tentavam alavancar suas carreiras internacionais com os filmes), não é coincidência que Tarantino tenha escolhido como título de seu novo filme “Era uma vez em… Hollywood”, prestando homenagem e declarando sua admiração ao diretor Sergio Leone, de “Era uma vez no Oeste” (1968) e “Era uma vez na América” (1984).
Na trama, temos a dupla de personagens principais Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) – ator de uma série de caubóis, já em decadência – e seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt), amigos que vivem uma espécie de bromance em Los Angeles. Na outra ponta da história temos os novos vizinhos de Dalton – e desta vez personagens que representam pessoas reais e conhecidas na indústria do cinema -, o casal formado pela atriz Sharon Tate (Margot Robbie atuando com incrível leveza) e o diretor polaco Roman Polanski (Rafal Zawierucha), que na época já vivia o prestígio pelo filme “O bebê de Rosemary” (1968).
E como estamos falando em Los Angeles nestes anos, a história dos nossos personagens principais e da própria cidade se misturam com a figura e influência de Charles Manson . Se nomes como Charles Manson, Sharon Tate e Polanski são estranhos para você, vale dar um google antes de ver um filme. A história do filme também se mistura a do diretor, que adiciona elementos da sua infância, comos os cinemas que frequentou (Cinerama e Bruin), o carro que Cliff dirige é um Karmann Ghia, assim como o de seu pai e alguns elementos da casa de Rick são itens pessoais do Tarantino.
Temos belos enquadramentos e movimentos de câmera que ajudam a trazer ritmo para o longa – e marcam a longa parceria do diretor com Robert Richardson, diretor de fotografia que já trabalhou com Tarantino em filmes como Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre. Os últimos dois filmes citados, inclusive, aparecem reverenciados diversas vezes em “Era uma vez em… Hollywood”. A playlist também não deixa a desejar, com clássicos como “Mrs. Robinson” e “California Dreamin’”.
Quem tem sede pelo “sangue tarantino” vai ter que ser paciente. As famosas cenas sanguinárias só aparecem lá pelo final do filme, quando já começa a se arrastar – e mesmo assim pode não satisfazer a tal sede do filme menos violento do diretor. Mas a tal grande cena mostra um Brad Pitt energético em suas cenas de ação. Já quem gosta dos diálogos característicos do diretor vai se satisfazer ao longo do filme.
No final de “Era uma vez em… Hollywood”, Tarantino dobra a realidade oferecendo uma alternativa mais otimista de um fato que realmente aconteceu – e aqui “traio” Tarantino que antes da exibição do filme deixou uma carta assinada pedindo que os jornalistas e críticos não dessem spoilers do filme. Sorry, Tarantino). Na vida real, a seita “La Familia”, liderada por Charles Manson foi a responsável por um massacre na residência Polanski-Tate, em 1969. Os membros mataram Tate – que estava grávida de oito meses, esperando o primeiro filho do casal – e mais quatro amigos da atriz. No filme, o grupo resolve invadir a casa de Rick Dalton e acaba se dando mal. No final feliz de Tarantino, Dalton acaba sendo chamado para frequentar a casa de Polanski pela própria atriz, após a invasão de sua casa.
Mas afinal de contas, é bom? O filme é um jogo de acerto e erros de um Tarantino que sempre tem ânsia de declarar seu amor ao cinema, tipo aqueles jovens hipsters que enchem o corpo de tatuagem com os filmes cult que amam. Mas esse é um Tarantino maduro que sabe imprimir a sua marca em tudo que faz. Não me satisfez como Cães de Aluguel, mas é um ótimo filme.
Dia 18, chegou aos cinemas O Rei Leão em sua tão esperada versão live action. Sendo muito criticado pela falta de inovação nas cenas que podem ser comparadas quadro a quadro com sua versão animada de 1994, O Rei Leão chegou para mostrar que nostalgia vende.
Um live action sem humanos e feito totalmente de animação, com exceção de uma cena, pode ser considerado um live action? Essa é a pergunta que não quer calar ao assistirmos um filme estrelado totalmente por animais tão reais que nos deixa na dúvida, tirando um pequeno detalhe: animais não falam.
Jon Favreau, diretor do filme, revelou em seu Instagram que a única cena verdadeira presente n’O Rei Leão é o trecho de abertura com a música Circle of life, quando vemos a savana africana. Fora isso, há 1490 planos renderizados criados por animadores e artistas de efeitos visuais.
Relembrando um pouco a história, O Rei Leão conta a trajetória do príncipe Simba que, após a morte de seu pai, se atormenta com a culpa, foge e não assume o trono. Porém, após seu tio ser coroado e levar o reino à fome e destruição, Simba volta, enfrenta o tio e assume seu lugar de direito. Alguém mais notou algo familiar nesse enredo? Sua percepção está muito boa se a peça Hamlet, de Shakespeare, lhe veio à cabeça.
Para quem não conhece a peça, Hamlet conta a história do príncipe homônimo que tem seu pai assassinado pelo tio, Cláudio, que casa com a rainha e assume o trono. Atormentado pelo fantasma do pai que cobra vingança, Hamlet mata o tio, vira rei e recupera a honra da família. Idêntico, não é?
Podemos ver o tio invejoso, Scar, a rainha Sarabi que fica sob o poder dele, o príncipe Simba que perde o trono e fica ouvindo a voz de seu pai: “Lembre-se de quem você é”, e o gran finale que culmina na morte do tio e a retomada do trono. Claro que tudo muito bem atenuado com músicas e comédia como só a Disney sabe fazer. Afinal, quem pode me dizer uma história da Disney que não começa em uma verdadeira tragédia e termina no mais lindo e radiante felizes para sempre?
Apesar de a animação de 94 e a versão live action serem praticamente iguais, a diminuição do fator atenuante na segunda fez muita diferença. O filme está mais sombrio e deixou bem claro que não veio para atrair novos fãs, mas sim, para alimentar a nostalgia das crianças dos anos 90 que hoje já são adultos. Alguns detalhes que sequer são citados na animação, ficaram bem evidentes agora, como a cicatriz do Scar que é resultado de seu duelo com Mufasa pelo trono.
A rejeição de Sarabi ao não querer ser a rainha de Scar, o que faz as outras leoas o rejeitarem também, é algo que não foi abordado na animação, porém, nessa nova versão, deixa claro que a rejeição é de cunho sexual. Timão não interrompe mais Pumba quando este canta a música sobre suas flatulências e não temos mais a musiquinha alegre de armadilha para as hienas porque, convenhamos, elas não são animais que ficariam esperando o fim de uma música para atacar.
Alguns detalhes, porém, são observados pelo nosso amadurecimento em sermos mais céticos e críticos ao assistirmos um filme, do que provavelmente éramos há 25 anos. Se só há um leão vivendo na pedra do rei, ou seja, o próprio rei, então quem é o pai dos outros filhotes? Claro que sabemos que são do próprio Mufasa, então, por que só o Simba é o herdeiro do trono? E, ao se casar com Nala, ele se casa com a própria irmã? Claro que sabemos também que nada disso importa no reino animal, porém, ao humanizarmos os personagens, somos levados a esse tipo de questionamento.
Outra pergunta que não quer calar é: como sustentar um animal que está no topo da cadeia alimentar somente com insetos? E como ele conseguiu ficar tão gordo e saudável assim? Ao pensarmos por esse lado, seria impossível também aceitar que um leão seria amigo de um porco. Enfim, só nos resta render-nos à magia do faz de conta e nos entregarmos como fizemos há 25 anos, quando a nossa maior preocupação era aprender as letras das músicas, viver o Hakuna Matata e torcer pelo final feliz já tão esperado.
O Rei Leão faturou US$ 531 milhões em seu final de semana de estréia, o que ultrapassa mais da metade de todo o faturamento da primeira versão. Porém, como, na China, o filme foi lançado 1 semana antes, podemos dizer que O Rei Leão estava há 10 dias em cartaz. Como uma das histórias mais clássicas da Disney que inspirou peças e musicais por todo o mundo, inclusive na Broadway, vamos ver se o old ainda é gold e se a versão live action vai desbancar o primeiro lugar em bilheterias de animações da Disney, que continua intacto com Frozen desde 2013.
Marco da cultura pop global, a série Gossip Girl ganhará continuação nas telas do futuro serviço de streming resultante da parceria entre a HBO e WarnerMedia, o HBO Max. Se passando 8 anos após os eventos que culminaram no fim da última temporada da série em 2012, a nova leva será composta por 10 episódios.
Em comunicado oficial, a HBO Max afirmou que os novos acontecimentos irão explorar o mundo das redes sociais e o quanto a cidade de Nova York mudou nos últimos anos. Ainda não foi informado se os personagens originais da trama estão inseridos nesta sobrevida do seriado – nem mesmo se em participações especiais. Ainda assim, a torcida por ver como andam Blair Waldorf (Leightoon Meester) e Serena VanDerWoodsen (Blake Lively) está tomando conta das redes sociais. O ator Chace Crawford, interprete de Nate falou sobre o retorno da série: “Foi uma grande parte da minha vida, estou aberto a qualquer coisa. Seria difícil juntar todo o elenco, por causa de suas programações, Penn, Leighton, Ed … Eles estão todos fazendo ótimos programas de TV. Eu absolutamente gostaria de aparecer”, afirmou.
Importante reforçar que Penn Badgley (Dan) atualmente é o protagonista do sucesso “You”, da Netflix; Leighton Meester na comédia “Single Parents”, da ABC e Ed Westwick na divertida “White Gold” da BBC.
A sequência de Gossip Girl tem previsão de estrear em 2020, como falado, na HBO Max.
Impacto Cultural
Baseada em uma série de livros de mesmo nome, da escritora Cecily von Ziegesar, Gossip Girl foi um fenômeno cultural que ultrapassou as barreiras linguísticas e até a falta de distribuição legal em diversos países. Seu primeiro episódio foi ao ar pelo canal The CW em 19 de setembro de 2007 e se tornou a série jovem mais popular da década. O prefeito de Nova Iorque entre 2002 a 2012, Michael Bloomberg, proclamou o dia 26 de Janeiro como “O Dia Gossip Girl” na cidade, que a utilizava como cenário, e tendo impulsionado o turismo teen na Big Apple, além de contribuir direta e indiretamente com a criação de mais de 100 mil postos de empregos.
Gossip também influenciou diretamente na moda – os cachecóis usados pelo personagem Chuck Bass se esgotavam em lojas online logo após os episódios irem ao ar, assim como clássicos arquinhos de Blair Waldorf. “É sem dúvidas uma das maiores influências jovens já existentes. Os fãs correm para boutiques com fotos e capas de revista que tragam o elenco da série e pedem exatamente os mesmos modelos”. Afirmou o jornal The New York Times em 8 de julho de 2008.
Por fim, Gossip Girl foi determinante na popularização da comunicação mobile – foi a primeira vez em que jovens e adolescentes se viram conectados com a tela. Antes mesmo da popularização de plataformas como Twitter ou Mensageiros Instantâneos, a troca de mensagens via SMS e acesso em sites online eram comuns no ambiente do Upper East Side, provando que o seriado estava sempre a frente de seu tempo.