Asas no coração
Asas no coração
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Autoria: Asas do Coração

Com bico para fora da gaiola, admirava. Seus olhinhos arredondados acompanhavam as penas das araras em alto voo. Penas grandes, lustrosas com cores bem vivas e suntuosas. Avermelhadas, azuladas e amareladas. Essa era a visão do pequeno pardal sem asas.

O pequeno assistia o mundo das aves pelas grades de sua gaiola. Para estar na ala mais alta de sua morada precisaria das asas de outro pardal. Pegava carona para subir, pegava carona para descer. Um pássaro sem asas, ironia. Ainda no aconchego da casca de seu ovo em um ninho constantemente construído e almofadado pelas mais macias folhas, perenes em tom carmesim e arejado com gardênias e pequenos lírios do vale. Ali, alimentava seu sonho de voar. Não reconhecia a própria deficiência, não vivia a própria realidade.

Ao olhar para si, via enormes asas com penas alvas e longas, asas capazes de subir tão alto que as nuvens tocariam suas patas. Encostava o bico nas grades e assim, varava o dia, perdia a noite em sonhar. Mas como? Como voar? Acontece que as asas do pequeno pardal estavam em seu coração. Essas eram as asas de verdade. Mesmo que nunca tenha sentido o vento sendo cortado pelas suas penas, ele sabia qual era a sensação. Mesmo nunca tenha precisado pousar depois de um longo voo, o pequeno pardal sabia qual era o frio na barriga que a gravidade lhe causaria ao fechar as asas e tocar o chão.

Amanhecia em imaginar e anoitecia em sonhar. Todas as noites se maravilhara com os vários voos, movimentos em pleno ar que imaginava e criava. Vivia, mas em sonhos.

Sentia, mas na imaginação. Voava, só que com o coração. O que me admira meu amigo, o que realmente me surpreende e fascina, não é um pardal sem asas sonhar em um dia voar, mas um pardal sem asas ter a certeza de que está voando sem nunca ter saído da gaiola.

Aplausos para imaginação.

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