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Emanuel Antunes

Colunas

The Epic Battle: Joga pedra na Geni!

Não sei o que está ocorrendo, não sei mesmo. Acho que as pessoas se sentiam assim quando algo grande estava acontecendo. Por exemplo, a prisão de Bastilha caiu, contou a vizinha do meu primo, que na verdade é primo da minha tia, mulher do meu tio que é irmão da minha mãe por parte de pai. E lá estava a pessoa, sem saber o que comentar, sem ter opinião formada: Eu apoio a Revolução ou não? Vejamos, sou pobre, como um pão hoje e amanhã não, mas os Nobres tomam banho com leite de vaca, a minha vaca, que eu alimento, gasto todo tempo do mundo, passeio por ai com ela, tudo isso para uma linda senhora lavar suas partes íntimas com o leite de Arlinda. Ou, quer dizer que tem um cara dizendo ser filho de Deus? Me contaram, foi a Ruth, um homem, magro, porque prefere que seus irmãos comam antes dele, que incomoda pra caramba porque veio com essas ideias mirabolantes, querendo ser a verdade, o caminho e a vida. Quem ele pensa que é? Eu estou todo dia no Templo, pago o que devo pagar, dai vem um Nazareno, metido a Messias dizer que isso está errado, aquilo está certo, mas faça-me o favor. E mais, Raquel, a irmã da Ruth me contou também que ele saiu quebrando tudo no Templo, gritando que a casa de seu pai não era lugar para isso. Não, não admito, estávamos todos bem, agora um monte de gente segue esse louco, alguém crucifica esse homem, pelo menos nos poupa de mais furdunço. 

Nós não temos certeza de como agiríamos em determinadas situações. Jogaríamos lança em Cabral quando ele chegou na costa?  Defenderíamos o golpe militar ou correríamos para a esquerda assim que o primeiro dia de Abril finda-se? Situações, diversas situações. Hoje deixamos ser levados por uma enxurrada de comentários iguais aos do paragrafo anterior, muitos causam repulsa, outros aceitação, e ficamos nessa, sobre o muro sem saber para onde ir. Até que o cérebro entra em ação e acabamos caindo em um dos lados, defendemos tal opinião, mas nessa defesa acusamos veemente aquele outro lado, como se aquele fosse todo o absurdo do mundo. Nós estamos. Isso já foi comprovado, o ser humano é apresenta uma constante de mudanças que surpreende o mais abobado extraterrestre. Os donos da verdade xingam os relativistas, os relativistas tentam compreender as pessoas de mentes fechadas e vivemos nesse ciclo, onde certo ou errado depende do ponto de vista. Mas graças à mulheres e homens uma coisa foi criada, algo que rege todas as sociedades que podemos imaginar, ela pode ser escrita ou não. Mas lá está, o bendito e entrelaçador espírito da lei. Nada se faz sem ser visto pela cegueira da justiça.

Parada gay, 2015, uma mulher (Sim, ela escolheu ser e será, independente do que pensam ou dizem) transformou em protesto tudo aquilo que ela sofre diariamente, tudo aquilo que a comunidade LGBT passa dia após dia, isso seja por questões religiosas, políticas, independente do âmbito o preconceito vive como uma erva daninha, quanto mais se tenta combate-ló, ele enraíza-se nas mentes adeptas da ideologia do ódio, da repulsa. O protesto que tomou conta do país esta semana já fora usado em diversos momentos, mas não falemos deles, foquemos apenas nesta situação, onde diversos REPRESENTANTES de religiões se posicionaram contra. Ser contra ou a favor é uma escolha a se fazer, isso é o princípio de uma democracia, mas ocorreu algo que não condiz com práticas democráticas. Esses representantes perseguiram, sim, como a igreja católica fizera com “as bruxas”. Caçaram a mulher com toda ira que uma pessoa poderia ter. É válido destacar que essas são ações de HOMENS, a religião, em seu berço não resguarda nenhum tipo de ódio, nenhum tipo de segregação, longe disso. Prega-se o amor, a caridade, a aceitação. Isso está nas escrituras, independente em ser do Oriente ou Ocidente. O epicentro de toda essa confusão se deu porque, os homens e mulheres que já falamos acima, usaram de suas posições para declarar que um protesto artístico nada mais era que uma afronta às religiões cristãs. Cristofobia, foi esse o nome que deram. Assim sendo, meus amigos parlamentares que no dia de hoje, em sessão plenária, quando deveriam está trabalhando, rezaram o pai nosso, vos digo: Existe em suas ações uma Alafobia, uma Krishnofobia, pois já vimos aos montes templos protestantes, católicos, espíritas, falsos templos, castigarem outras religiões. É um sistema hipócrita, egocêntrico onde se recebem os tributos, mas não os paga.

A mulher na parada gay, sim, pode se manifestar daquele modo, pois não infringiu nenhuma lei, não difamou religião ou cidadão algum. Apenas usou de uma história milenar para transpassar seus sentimentos. Imagine você, amigo leitor, se fossemos censurar todas as analogias que são feitas no mundo literário ao crucificamento? Ou a tortura que sofrera Jesus? Varreríamos séculos, rasgaríamos páginas preciosíssimas, destruiríamos a arte. É uma pena que muitos não consigam enxergar o propósito, o real valor de uma pintura, escultura, música, ou de uma simples protesto. Certas coisas transformam panoramas, assim como uma bandeira erguida e gritos de “Vive la France”, ou um clérigo se desligando de sua santa igreja para formar outra, reeditada e nova em folha. Não percebemos, mas eis aqui, agora, mudanças acontecendo aos montes. Ser agente histórico ou não, isso cabe a cada consciência. Mas que uma coisa fique emoldurada: A escrita,  vai e vem de corpos, a ânsia por mudanças, isso nos leva a estradas diversas, o conformismo, tal não interfere em nada e de nada é lembrado.

Resenhas

Resenha: Escola Noturna – O Legado – C. J. Daugherty

Allie Estou tentando salvar você, Allie. A Escola Noturna não é só uma escola, uma época maluca para a gente lembrar quando ficarmos velhas e chatas. É para a vida toda. No ano anterior, Allie Sheridan viu sua família se dissolver e foi presa três vezes. Ir para um colégio interno parecia um pesadelo, mas a Academia Cimmeria acabou se tornando um lar — o primeiro lugar onde ela se sentiu realmente bem-vinda. No entanto, os salões da escola eram mais sombrios do que Allie poderia imaginar, e um ataque brutal quase lhe tirou a vida. Um grupo misterioso está disposto a destruir a Escola Noturna e tudo que ela representa. Agora, os estudantes correm perigos que ainda não compreendem. E, para piorar, a família de Allie — especialmente sua poderosa avó e seu irmão desaparecido — está bem no meio de tudo isso. Allie precisa de respostas. Mas, para consegui-las, terá que escolher se confia na família ou nos amigos. Porque segredos podem ser mortais e destruir até o mais forte dos relacionamentos. E, dessa vez, Allie está sozinha.

Capa_Escola noturna - legado.ai

A Cimmeria ardia em chamas, os alunos ainda se recuperavam do choque que fora o ataque de um grupo secreto mas que no fim das contas era íntimo da maioria dali, no meio de tudo isso uma heroína emergia. Allie foi sendo esculpida durante todo o primeiro livro, explorada ao máximo para que pudéssemos ter a garota sem receios como acontecera no primeiro volume de “Escola Noturna.” O Legado inicia eletrizante, uma perseguição entre as ruas londrinas marca o ponto inicial, vemos em poucas páginas o frágil treinamento do ano que passara sendo colocado em prática pela garota Sheridan. Ela é retirada da situação por Raj Patel, pai de Rachel.

Na casa da amiga Allie sente algo que raramente sentira: Estava em família. Após alguns dias na residência de Rachel, o retorno à Academia Cimmeria vem junto com diversas desconfianças. Nathaniel estaria a espreita? Seria realmente seguro voltar ao local onde tudo acontecera e insistir para que na melhor das hipóteses, aquilo tudo se repetisse? Eles arriscam. A Escola vai tomando ritmo aos poucos. Temos a inclusão de novos personagens, como a garota prodígio, Zoe, que seria a parceira de Allie nos treinamentos na Escola Noturna (Sim, ela entrou e já estava certo, depois do que fizera, depois da revelação de seu histórico familiar, a Escola Noturna era o lugar de Allie). Retornaremos para a relação Allie-Zoe daqui a pouco, mas antes falemos deste tal “Histórico Familiar”. Vimos no primeiro livro o retorno do então desaparecido irmão de Allie, ele estava lá, do lado contrário da força. Páginas e páginas dedicadas a esse embate psicológico, a jovem procura motivos, justificativas plausíveis. A resposta não surge do nada como ela esperava.

Zoe surge como Allie surgira, é claro, a novata verdadeiramente é um prodígio, quando Allie estava longe de ser exemplar. Mas insegurança que a personagem poderia expor seria a mesma, estava em idêntica situação. Algo que irá se repetir também são os abalos na amizade de Sheridan e Jo, assim como o namoro que para chegar onde chegou foi preciso muita paciência, é arremessado aos ares. A vida de Allie novamente está em mãos alheias, mas ela consegue, por ser quem é, retomar as rédeas, mostrar que nasceu para ser protagonista de sua própria história. Os mistérios reascendem, a curiosidade do leitor se torna maior a cada página, queremos saber o porque de tudo aquilo, o porque da existência de tantos conflitos, internos, externos, psicológicos. Desejamos poder resolver cada problema, cada passo mal dado por nossos personagens prediletos, e saiba, o fim do segundo capítulo de “Escola Noturna” realça o porque de tanto sangue em suas capas, o porque da morte ser retratada nas entrelinhas. Ninguém está a salvo na grandiosa Cimmeria.

A edição é igualmente sensacional à primeira. a capa elaborada perfeitamente, transparecendo os temas abordados por Daugherty, e falando nesta linda e talentosa mulher: Senhorita Daugherty, porque tão cruel? A escrita de C.J. evolui quando necessário, pausa levemente, sem mostrar falhas, sem deixar sobrar nada. Uma teia maravilhosa. No mais, ambas as partes realizaram um trabalho incrível. A Suma não foge de seu padrão, com impressão impecável e uma tradução digna, a editora não falha. “O Legado” mistura drama, tensão, romance, tudo que um bom livro precisa, mas com um toque peculiar, Sheridan consegue ser destemida quando precisa. Consegue se superar, Allie, carregando em suas costas anos e anos de história.

Tradução: Regiane Winarski
Ficção
ISBN: 9788581052335
Lançamento: 10/03/2015
Formato: 16 x 23
296 páginas

Atualizações

CONFIRMADO: Eddie Redmayne será Newt Scamander

O anúncio foi feito hoje por Greg Silverman, presidente de Desenvolvimento Criativo da Warner Bros. Pictures.

“Eddie Redmayne tem emergido como um dos atores mais extraordinariamente talentosos e aclamados da atualidade. Estamos muito contentes em recebê-lo no mundo mágico de Rowling, onde sabemos que ele vai ter umum desempenho notável como Newt Scamander, o personagem central de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. disse Silverman. David Yates, que dirigiu os últimos quatro filmes “Harry Potter” e vai dirigir “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, afirmou, “Eddie é um ator destemido, cheio de invenção, inteligência e humanidade. Eu não poderia estar mais animado com a perspectiva de trabalhar com ele”.

O filme chega aos cinemas mundiais em  18 de novembro de 2016.

Reviews de Séries

Review: Game of Thrones 5×08 – Hardhome

Já declararam diversas vezes que o silêncio ecoa mais alto do que qualquer grito. Ontem confirmamos da melhor forma possível.

Game of Thrones corria, sem demonstrar direções satisfatórias, falava um “The north remembers” aqui e nisso nós nos apegávamos, pois pouco se via. Até que no episódio passado a mesmice dessa temporada trouxe, graças aos sete, a face da produção de volta.  GoT retornou com toda a força que um dia poderia ter, não falo aqui de uma adaptação, não, só iremos comentar sobre a televisão e o trabalho gigantesco que vem sendo construído nesses cinco anos.  Neste domingo, mais uma vez, Game of Thrones voltou a ser impiedosa, estratégica, maquiavélica. Sim, após sua repetição exaustiva, a frase que mais escutamos tornou-se realidade. Estamos no verdadeiro inverno.

Antes de chegarmos ao ápice do episódio, transitaremos por entre outros três focos. Cersei e seus amigos religiosos, a batalha ganha de Tyrion perante Daenerys e Arya, ou Lanna. Comecemos pela rainha-mãe.  O momento que mais esperávamos, chegou. A traiçoeira Cersei acurralada, sem esperanças, sem soluções para seus problemas. Mas a trama nos trai, ela nos leva para caminhos que nunca imaginávamos trilhar. Depois do que Cersei proporcionou a diversas pessoas (Principalmente a Ned) só poderíamos ter um sentimento e esse seria o ódio, mas estamos falando de Game of Thrones. Quem não vibrou com a prisão semana passada? Eu comemorei absurdamente, mas ontem as reações mudaram, no fundo queria que a Lannister fosse liberta, inconscientemente eu queria. No mais, vimos tudo transcorrer como o previsto. Tommen se acovardando mais ainda e sua mãe xingando qualquer rato que aparecesse naquela cela. O reinado de Cersei acabara quando ela dera poder a fanáticos, ali selou-se o fim de um ciclo. No norte, um outro começou.

Para além-mar a repetitividade da burrice de Daenerys Targaryen, por incrível que pareça, deixou o episódio mais atrante. A garota tentava passar uma imagem de rainha soberana. Tentava de todas as formas mostrar seu poder absoluto, que seria ela a quebrar a maldita roda que tanto castiga Westeros e outras civilizações. O problema é que ela estava diante de Tyrion e não de Jorah, pois esse, graças à uma mão amiga, se fora junto com a insensatez de Dany. Devemos admitir, ela se esforçou para parecer uma comandante mas neste esforço todo pudemos ver o quanto a garota ainda é despreparada, o quanto ainda precisa absorver e quantos conselhos ela ainda irá tomar para um dia poder reinar verdadeiramente. Tyrion aparece como uma válvula de escape, sacia nossa sede por estratagemas, seu diálogo com Dany foi de tirar o fôlego, ela jogava os argumentos da garota para onde desejava, transformava desvantagens em avanços seus. O anão voltara e junto com ele veremos uma Daenerys forte, sem temor, sem receio. Uma aliança, que muitos podem julgar indestrutível, está se formando.

Voltando para religiosos, Arya Stark se aproxima cada vez mais de se tornar “Ninguém”. Esta temporada emergiu perante os telespectadores toda a mitologia que tem direito. Game of Thrones aposta e com razão em um ponto que despertou no momento certo. Muito ouvimos falar nas outras quatro temporadas, mas o que um dia fora boatos agora torna-se realidade. Enfim, chegamos ao norte. Sansa deu o ar de sua graça por alguns minutos, mas esses valeram por horas. Theon revelou o que não acontecera com seus irmãos e assim derrubara alguns tijolos do muro que separa os dois, Sansa agora tem uma razão para persistir e se tudo acontecer como está sendo desenhado, ela mudará drasticamente, mais uma vez.

Alcançamos minutos preciosos de uma episódio de Game of Thrones, tudo estava em sua maior normalidade, tudo do modo que esperávamos, até ali o capítulo ganhava o título de melhor da temporada. Mas não, a melhor série de todos os tempos não se contenta com tão pouco, nunca se contentara. De um minuto para outro a temporada que estava sendo criticada por milhares tornou-se a melhor entre as cinco, alavancou sentimentos que em quatro anos não sentimos. Ontem o medo se apoderou de todo e qualquer fã de Game of Thrones. O medo de perder o seu personagem favorito, pois isso acontece comumente, o terror pelo que estava por acontecer, tudo isso se agravou, tudo isso tomou forma e sob nossos olhares o inverno chegou, avistamos a cada brandir de espadas o que a neve pode esconder, o que seria uma batalha de verdade. Jon Snow, senhor comandante, o maior que a muralha um dia poderia ter. No fim, como no início, só sobrara o silêncio. O medo e o silêncio.

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Game of Thrones voltou.

Reviews de Séries

Magnífica 70 1×01 – A Boca do Lixo

E com um desabafo, um pedido de desculpas, um remorso que ali não cabia, se encerra o primeiro episódio de Magnífica 70. Muito se aguardava da nova produção da HBO, sexo, drogas, todo e qualquer tipo de música. Surgia nas redes sociais um conceito  que muitos adotam como padrão “Brasil” de qualidade, onde só vemos A Boca do Lixo, o que de pior tem-se para oferecer quando falamos de trama. Ah, como é gratificante poder notar o silêncio dos que falam demais, como é bom ver o arrependimento dos sem criticidade. A nova série da HBO, que gira em torno de dois polos, o regime e aqueles que viveram sobre tal, premei-a o telespectador. Reproduz da forma mais fiel possível os anos de chumbo.

O piloto foca no drama psíquico de Vicente (Marcos Winter), que após vetar um entre outros filmes em seu emprego (Que obviamente é na censura federal) se vê transtornado. O homem liga a ficção a sua vida, trás o enredo para eventos passados, eventos que existiram por sua culpa e a partir dai vemos um emaranhado de lembranças, receios, medos e uma atuação esplêndida de Winter. Após termos visto o cotidiano de Vicente, corremos para o passado muito mais sombrio de Manolo (Adriano Garib), este por sua vez apresenta um problema comum: A impotência. Mas ela nascera de atos não tão comuns assim.

Eis que encontramos ela. A não tão confiável, Dora Dumar (Simone Spoladore).  Encantadora, rodeada de misticismo, dita enviada pelo destino mas nos é revelado também que tudo ali fora bem planejado. O episódio começa com certezas aos montes, mas chega aos seus cinquenta e poucos minutos deixando na mente do telespectador as mais enraizadas dúvidas, os medos dos personagens transpassam a tela e tomam forma bem na nossa frente. Não se trata apenas de uma série que fala do período militar, mesmo começando com um retrato de nosso querido Garrastazu Médici, não assistimos à uma série que tem como objetivo expor apenas e exclusivamente a pornochanchada. Magnífica 70 não fica restrita ao clima artístico, mesmo quando Sangue Latino ecoa na voz de Ney na abertura. É um conjunto, uma mistura de política, tragédia, tensão, isso tudo acoplado a um elenco gigantesco, à uma fotografia de dar inveja a qualquer produção internacional, a um enredo eletrizante, que mistura Julietas e Romeus, que trás para nosso presente um passado não tão distante, que ressalta a auto censura, o temor pelo conhecido.  Magnífica, sem mais, Magnífica.

Recomendamos o não veto de toda a obra.

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The Epic Battle: Pernambuco falando para o mundo

O novo, somente o novo atrai os olhos da população, que vidrada, abobada com as construções faraônicas se deixa levar por falácias, mitos do capital. Quando não já se foi desprezado de nossa história para que se ergue-se a modernidade? Quantos prédios não foram jogados ao chão por simples fetiches de homens de pensamentos unilaterais? Não só no que se fala de espaço material, mas também em toda nossa cultura imaterial muito já foi desprezado. Hoje pouco se escuta o som do pifano, do ganzá, do acordeon, outros tempos, outras mentes, preconceitos idênticos. O Rio de Janeiro transformou-se em Paris no século passado, São Paulo verticalizou-se de uma hora para outra, eis que chegou a hora de Recife, que sem voz, vai aos poucos ganhando forma de uma Dubai em pleno nordeste. Mas não é tão fácil assim, não se mexe com quem está ileso, sem ofender, sem querer brigar. Ao encostarem no Estelita, incomodaram os jovens que se esforçam para preservar seus traços culturais, afetaram os professores que diariamente transmitem o amor pela história, por seu povo, atingiram até os cantores, escritores, atores que por ai vagam. Atingiram o povo e isso meus amigos, isso não se faz.

Na literatura essa constante de querer mudar por mudar acontece séculos pós séculos, mas existe uma diferença entre a escrita e os interesses econômicos. Machado colocou um basta entre eras, fez da antiga literatura a nova e remodelada arte, isso causou impacto em diversos contextos, assim como na música podemos ver uma transição brusca dos estilos. Saímos da bossa nova, corremos para os festivais, instituímos uma MPB formada por diversos ângulos e hoje vemos emergir movimentos como o funk carioca e o sertanejo universitário. Já cantara Elis: “O novo sempre vem.” O problema é quando esse novo afeta diretamente as estruturas sociais, políticas e econômicas. Brasileiro tem a mania de se comparar com europeu. Vamos brincar com isso também. Nos comparemos à França. O país famoso por suas belas artes não mede esforços para valorizar uma faísca de história. Eles tem o Louvre, tem o rastro de revoluções que só deixam ainda mais fixo na mente do povo o quanto é necessário preservar enquanto se pode. Resguardar o patrimônio, é a sua identidade, fala de onde viestes e pra onde vai. Senta brasileiro e pensa: Porque se comparas tanto ao homem europeu e não ages como ele? Nem que seja no sentido cultural? Porque não se deixa levar por tuas raízes, pelos ensinamentos passados de geração por geração? Porque tens medo de tocar no que te pertence e levantar bandeira? Porque ao se comparar com o Francês desejas antes de mais nada esquecer que um dia foi brasileiro?

Diariamente as tribos indígenas são pressionadas a abandonar suas crenças, suas moradias e são cada vez mais empurradas para o interior da floresta Amazônica. A exploração sem poréns, sem contenções é causada diariamente graças à um legislativo lotado de interesses, uma cúpula egocêntrica, eleita pelo povo e que nunca servira o mesmo. Isso ocorreu no Recife. O projeto “Novo Recife” fora aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito da capital, Geraldo Júlio (PSB). O chamado líder Socialista tomou medidas neoliberais, isso nos leva a uma discussão que vem batendo sempre na mesma tecla, existe ainda uma esquerda e uma direita no Brasil? Ou são os políticos, de direita e de esquerda quando lhes convém? Ergue-se-á treze torres onde hoje está o Cais Estelita. Se depender da prefeitura, que mesmo contra o ministério público aprovou o início das obras, cairá por terra uma área que há muito já deveria ter sido tombada como Patrimônio Histórico e se erguerá uma construção nascida da ganância, da cede das construtoras por espaço, por dinheiro. Mas o povo não para, o povo não se cansa e assim como eles sonham com o levantamento de suas torres, nós, os estudantes, os professores, os civis inofensivos, saltamos sem receios, sem temor do que está por vir e deixamos claro que a cidade tem dono. O estado tem dono. O país pertence ao seus integrantes e nada mais

Já cantara Antônio Nóbrega: “É Pernambuco falando para o mundo!” Fala e como fala, grita que devemos nos mobilizar e parafraseando o próprio Nóbrega novamente: “Vinde, vinde, moços e velhos!”. Venham para as ruas, caminhem, onde quer que seja, por seus direitos, por oportunidades de se expressar. Cantemos, gritemos o máximo que pudermos para que os patrimônios sejam tombados, para que os escritores possam escrever, para que os professores possam ensinar, para que um dia, esse país, por mais utópico que seja, se valorize. Que prédios não bloqueiem nossa visão, nosso anseio por mudanças eficazes, que a democracia mostre sua existência, que em meio a tentativas de nos transformarem em surdos, possamos ouvir, o ecoar das palavras planejadamente colocadas nos livros, nos versos, estampadas nos grafites. Ainda na companhia de interpretes, lembremos de Elis, que cantando “Redescobrir”, dera voz à seguinte frase: “Não tenha medo, meu menino povo” e todos, em um de seus últimos shows, completaram: “Memória!”.  O que nos falta. Memória.

Resiste Estelita.

 

Reviews de Séries

Review: Bates Motel 3×08 – The Pit

Fico impressionado com o crescimento dos fãs de Bates Motel. Existe uma necessidade de compartilhar essa história, ela é inquietante, mostra que a mente pode afetar não só um sistema, mas toda rede. O realismo, a transformação constante dos personagens, o eclodir de problemas que aparentemente não podem ser resolvidos, faz de Bates a série que briga em qualquer quesito com uma “Hannibal”. Cinco temporadas foram previstas, mas teimo profundamente com isso. Depois do episódio 8 desta temporada a história de Norman Bates merece infinitas seasons.

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Em “The Pit” podemos ver dois setores amplamente explorados. Um é a psicose, fator esse que estava aparecendo como segundo plano nesta temporada, forte mas um pouco excluída do centro, ficava ali na periferia do enredo esperando uma brecha, e no 3×08 ela encontrou portas e mais portas para adentrar na história. O outro ponto é o recém anti-herói Dylan. O irmão mais velho de Norman aparece principalmente neste capítulo como o oposto total de seu personagem na primeira temporada. Recentemente estava assistindo os primeiros episódios da 1ª temp. e pude notar todo o contraste do garoto. Dylan chamava Norma de “A Puta”,  hoje ele beija sua testa ao se despedir. O relacionamento mãe/filho está fortalecido, completamente consolidado, assim como o pai/filho. Caleb marca presença essencial nas situações que estão por vir no episódio, temos dois senhores “salvadores-da-pátria” emergindo em Bates Motel. Como sempre, tenho medo. Tudo é tão incerto que de uma hora para outra podemos perder Dylan, logo agora que o “Dylemma” está se formando.

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Falando em “Dylemma”… A garota perdeu espaço na segunda temporada, espaço precioso, mas aos poucos vai retornando. Faltando dois episódios para o fim da temporada um novo cenário nos é mostrado, bem no início do episódio Emma acaba o namoro nunca vi um namoro ali com Norman, bem ali, ao lado da piscina, ou pelo menos o buraco que cavaram para colocá-la (voltaremos a esse ponto lá embaixo, aguardem). Quase caí da cadeira, a garota fica ali, com toda inocência do mundo, batendo um papo com seu atual e depois de dois segundos, ex-namorado, mesmo sabendo que o garoto de uma hora para outra pode dar pane e matar quem estiver na frente, principalmente se só bastar um empurrão e a pessoa mergulhar em metros e metros de vazio até chocar-se com o chão. Mas não se preocupe, ele não faz isso (por hora). Emma está se arriscando muito, em sua mente aquilo é lindo. Está saindo do problemático da série para o novo mocinho, ela leva flores para Massett, bolinhos, deixa bilhete, pare de se iludir, garota.  Se fosse certeza de que eles ficariam juntos, todos os Baters ofereceriam o maior apoio possível mas sabemos que uma hora ou outra Norman, o infeliz Norman, acabará com todo romance. Mas isso até que é bom, um conflito maior se aproxima de Bates e este acréscimo só deixa tudo mais interessante.

Ainda falando de Dylan, toquemos agora no assunto “Papai, eu te amo”. Eita coisa linda está sendo isso, sabemos que no episódio passado fora fechado um carregamento que resultaria em uma boa quantia em dinheiro para o jovem, neste as coisas acontecem e lá se vai, Dylan e Caleb viajando com armas e mais armas na traseira do veículo. Até aí tudo bem,  estamos acostumados com essa aproximação, só que acontece o imprevisto (já não é novidade em Bates…) e a dupla se vê no meio de um tiroteio. Fitamos uma cena eletrizante que só fortaleceu o episódio. Enfim, cheguemos a “The Pit”. Quando vi o nome do episódio imaginei tudo. Norman enterrando alguém, alguém levantando de uma cova, alguém caindo em uma cova, uma cova sendo uma cova, tudo veio em mente, menos a opção de que a piscina que Norma exigiu episódios atrás realmente viria a acontecer. Isso, é claro, foi uma boa cartada de Bob, o mandachuva do Arcanum Club. O maldito pen drive ainda vigora (entrega logo, Norma!) e Bob não tem receio em mandar simples mensagens para a mulher, uma dessas é a profundeza do buraco que foi criado para a futura piscina. Só um meio de falar: “Cuidado para não cair, Norma…”.

Neste, finalmente, Norman desabou. O episódio serviu de vitrine do que vem por aí, depois da declaração de James no S03E07, o garoto transformou-se em uma bomba-relógio, juntando os pontos, tentando assimilar seu apreço excessivo pela mãe e concluiu que deveria expor tudo aquilo, o resultado foi cômico e perturbador. Norman declara o que pensava sentir e Norma Bates reage como sempre reagiu. Consola o filho e tenta disfarçar o que está acontecendo.

As coisas estão bem em Bates Motel, assim pensa a mulher, seu filhote e os tantos outros personagens (tirando a parte em que Norma e Romero se desentendem, mas isso será resolvido facilmente no próximo episódio, você vai ver…). Mas temos consciência de que nada está a salvo em Bates, nada se mantém inerte no universo da família, e como é costumeiro na série, nos últimos minutos algo revelador, traumatizante, desafiador, acontece. Tenho pena daquele que perde os minutos finais de um episódio de Bates Motel. Após tanta ansiedade, medo, tensão, no segundo que restava, naqueles milésimos em que ninguém aposta nada, a história mostra que é mais incerta do que já imaginamos. A psicose retornou, mas nem toda imaginação é realidade, e nem tudo que pensamos ser fruto de nossas mentes na verdade são meras visões. Cuidado, muito cuidado com as reviravoltas, é a mensagem de The Pit.

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Atualizações

Ruth Rocha declara: "Harry Potter não é literatura"

Em entrevista para o portal “Ig”. A autora com seus 50 anos de carreira, declarou em uma pergunta um tanto quando pretensiosa: “Não acho errado os livros fazerem sucesso. Eu gosto porque acho que as crianças leem, mas eu não gosto de ler “Harry Potter”, não acho que é literatura.” e mais… ” Isto não é literatura, isto é uma bobagem. É moda, vai passar. Criança deve ler tudo, o que tem vontade, o que gosta, mas eu sei que não é bom. O que eu acho que é literatura é uma expressão do autor, da sua alma, das suas crenças, e cria uma coisa nova. Esta literatura com bruxas é artificial, para seguir o modismo. Acho que o Harry Potter fez sucesso e está todo mundo indo atrás.”Ruth Rocha, aos 84 anos e com diversos livros publicados desconsiderou milhões de leitores com sua fala e deixou no ar certa indignação com o sucesso da britânica Joanne Rowling. Colocando o segundo livro mais vendido do mundo em uma categoria “Não literária”, Rocha desprezou o trabalho de J.K. e os frutos que o mesmo proporcionou ao cenário mundial. Errático pronunciamento.

Para ter acesso a toda entrevista, acesse aqui.

Novidades, Resenhas

Resenha: Escola Noturna, C. J. Daugherty

O mundo de Allie está desmoronando. Sua família está destroçada, ela foi expulsa de várias escolas por mau comportamento e acabou de ser presa. De novo. Quando os pais a mandam para um colégio interno longe de casa e de seus amigos, Allie espera encontrar um presídio.

Apesar das regras rígidas, que incluem proibição de celular e laptop, ela descobre que a Academia Cimmeria é um lugar bastante peculiar. Os alunos são ricos e talentosos — diferentemente dela — e um grupo de elite participa de uma organização secreta: a Escola Noturna. Logo ela faz algumas amizades e se vê envolvida entre o atencioso Sylvain e o misterioso Carter.

Mas Allie não demora muito a perceber que a Cimmeria é um lugar cheio de segredos e mentiras que envolvem não só seus colegas, mas também alguns professores. E, quando uma aluna é encontrada morta, ela precisa descobrir em quem confiar se quiser desvendar o que está acontecendo.

Allie Sheridan, a perfeita problemática retratada nos diversos livros deste estilo, de Divergente a Crepúsculo, incorpora diversos perfis. Em alguns momentos insegura, em outros dona de si, a garota deixa todo e qualquer leitor confuso, assim como o livro em si. “Escola Noturna” é um emaranhado de informações, uma após outra e nós ficamos sem saber o que fazer, sem saber como agir frente aquilo tudo. Daugherty sabe como escrever um bom livro, sabe como manipular a mente das milhares de pessoas que entraram na Cimmeria e pensaram que seria só mais uma obra. A autora consegue ser mestre em seu terreno. Digna de um King, a veracidade de cada frase, de cada trecho de “Escola Noturna” afetará o mais disperso leitor. É caótica a escrita da mulher, no melhor e mais impactante sentido.

Um dos pontos que mais facilitaram o transcorrer da história é como a autora não abusa das cenas supérfluas, a cada capítulo nota-se que existiu um corte no que deveria e o que não deveria aparecer. O início é claro, Allie envolve-se em problemas na sua atual escola, é transferida e a partir daí já somos introduzidos na Academia Cimmeria, simples assim, em menos de vinte páginas, sem toda uma introdução cansativa. Isso poderia até ser algo negativo, mas funcionou com “Escola Noturna”. Somos transportados para um mundo sem tecnologias, uma Hogwarts, menor e não praticante de bruxaria. Os mistérios na Cimmeria revelam-se do meio do livro em diante, após os capítulos treze e quatorze começamos a perceber que não trata-se de algo restrito, o colégio atravessa os muros e vai muito além, uma organização que deixa qualquer um boquiaberto. Faltava isso no enredo e foi acrescido da melhor forma possível.

A caracterização da personagem principal, Allie Sheridan ocorre progressivamente. Primeiro descobrimos os cabelos vermelhos, depois o rosto típico britânico e assim por diante, não é algo pronto. Isso se repete com a sua futura melhor amiga, Jo, com os seus dois pretendentes, Carter e Sylvain. O destaque para o triângulo amoroso me incomodou no início, mostrava a fragilidade excessiva de Allie, mas quando tudo ganhou forma pude perceber que aquele era só mais um caminho para ressaltar o quanto a garota herdara de seus familiares. É a teia perfeita criada por Daugherty, como falei no começo.

Outro personagem que conquista qualquer um é Isabelle, o semblante místico da diretora da Cimmeria incomoda, te faz criar diversas teorias, o bom de “Escola Noturna” é isto: ele não é totalmente exposto, fica correndo nas sombras, escondendo-se do leitor e quando menos se espera, revela-se. Se você espera algo “trevoso”, que te arrepie do começo ao fim, esse é o livro, não que exista uma série de horrores, mas sim as reviravoltas provocam isso. Nada é certo no gigantesco castelo da Academia, o que hoje são inimigos, amanhã tornam-se aliados. Aqueles que mais se preza amanhã te dão as costas. Drama, medo, insegurança, pavor do desconhecido, a sensibilidade posta em cada página impressiona. Assim acontece com o segundo volume, “O Legado”, que ganhará resenha ainda está semana aqui no Beco. A continuação mantém este ritmo lancinante, que te joga para diversas direções.

A mentira é alvo principal no primeiro livro de “Escola Noturna”, nunca conseguimos detectar quem apresenta um perfil confiável, todos estão suspensos, alguns sendo motivados por outros, e esses outros muitas vezes nem sabem que estão provocando tais coisas, é um suspense psicológico que mexe de modo milimetricamente planejado. A situação que nos é exposta torna tudo mais inquietante. Nas primeiras semanas Allie encontra-se sozinha, não conhece ninguém, não decorou os caminhos que aqueles corredores levam, foi jogada ali sem saber até mesmo onde a escola fica no mapa. Cercada por filhos de grandes empresários, senhores do capital, Sheridan, encurralada, espera e nós nos juntamos a ela nesta tensão íntima. Como foi destacado na contra-capa, a frase da Booklist: “Daugherty sabe aonde quer nos levar, e rapidamente o leitor é fisgado.”

A Suma de Letras trabalhou muito bem com está edição, começando com todo o produto visual. A capa, tanto do primeiro livro como do segundo, encanta, tudo conforme o clima do livro. A diagramação também ficou à altura da obra. É uma junção de acertos que agradara do começo ao fim impactante de “Escola Noturna”. Christi mostra-se perspicaz, uma neblina comum no cenário de Cimmeria, típica entre tantos mas com uma diferença gritante: Daugherty não sente medo de inovar, é a sua escrita e apenas sua, sem rastro algum. Não estamos seguros, não depois que folheamos pela primeira vez a história da garota Sheridan.