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The Epic Battle: O identitário de um homem sem lembranças

Um questionamento surgiu em meio à aula, qual a necessidade de um mártir? Porque um povo se apega tanto a dados históricos que de nada parecem servir, que só são informações adicionais em pesquisas? A resposta é simples: Porque sim.

O zumbar de tambores, o bradar de espadas, o registro apressado de um qualquer que tornou-se grande, é assim que se constrói o panorama suficiente para ao menos resguardar pessoas ao redor. Tudo influencia nas questões políticas, tudo converge para esse ponto, não me diga que existem esferas singulares, existe sim uma rede de informações, a qual estamos inseridos e sem ela não conseguimos achar significância na existência. Veja bem, existiu uma época em que foi necessário captar a essência de um Jesus mineiro, foi preciso construir essa imagem de um mártir surreal, um homem que nunca existiu, para que no fim se justificasse uma causa, para que tivéssemos o que outros tem. Transformaram pessoas escravizadas em guerreiros estupendos, que se pudessem usariam até armaduras, ergueram-se monumentos em prol destes homens e mulheres, mas me diga, para que? Isso na mente do desavisado não influencia em nada, o presente aparente ser intocado por tais fatos, de nada serve, a política não usa essas justificativas, a economia não funciona por conta desses heróis e deuses, a educação não é guiada por tais premissas. O inocente assim pensa.

Para que existisse uma revolta, criou-se o centro motivador, para que chamassem esse território de república, convocaram Marianes, para que a monarquia caísse tiveram que se apoiar em teorias de outros. Somos a cópia, não é agradável ser a cópia. Por esse motivo e nenhum outro o homem deseja ser a primazia, deseja ser o primeiro a habitar este território, deseja ser o inventor do avião, de tal religião, da poesia, deste tipo de poesia. Se não temos lembranças, por mais que sejam falsas, não temos nada no que se apoiar. Ao falar em política, falasse com toda a vontade que inconfidentes já tiveram, usa-se todo o sangue derramado por filhos de Olindas, se resguarda em qualquer resquício de tupi guerreiro, de Xavante indominável. Percebeu? A memória é essencial em qualquer situação, se não existe um ideário, uma referência, não se existe.

O romantismo usado nas diversas obras atuais é tremendo, ele está revestido por diversas camadas de contemporaneidade mas ainda resiste em qualquer história. Das sagas internacionais até os livros, os novatos, de nosso país. Não se escreve uma palavra bem dita sem um pingo de amor e ódio no coração, nem que seja um resquício, lá está presente na produção literária, fale-se de tragédia, alegria ou desprezo, é intrínseco e muitas vezes não percebido, digamos que a maioria dos escritores não desejam passar tal imagem, mas passam, só basta um olhar específico, um olhar não traumatizado ou enjaulado pela máquina internacional. Não se constrói boas obras ao se limitar à fronteiras, isso é óbvio, não se faz uma história convincente se ficarmos brincando de admirar Clarices ou Vinicius e apenas esses, se entrincheiramos o conhecimento ele acaba por não servir de nada, é necessário sim uma visão geral das coisas, um tatear abrangente ao procurar escrever, mas existe um porém, nesse porém vive a balança cultural de muitos. Quando está pende para o de fora um problema pode sair das páginas, devorar o leitor e transforma-lo em só mais um no meio de tantos, persuadidos por uma política de que não é necessário ser o primeiro ao habitar o continente, que isso de encarar o histórico não é primordial para se entender, que conceitos de nação e país são apenas conceitos e de nada influenciam. É perigoso transmitir ideias, principalmente quando nessas ideias prevalecem uma síndrome de vira-lata, de tolo desinteressado.

Não somos os coitados, os bestializados, nunca fomos. O problema não está em ser ou não ser, mas em querer transformar-se, em desejar ter aquela face. Não se engane, deixe de ilusões, você nunca terá um sangue uno, nunca será alvo como seu consciente, poluído de névoa impenetrável, você é o aglomerado de idades, de tragédias, você, ao tomar a verdade para si acabara percebendo que sempre foi a vitória. O resultado de construções que despencam mas que emergem por serem o que são, o que sempre foram. Você vive a memória, aceite.

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