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The Epic Battle: Harry Potter e o Golpe Militar de 64

O texto abaixo apresenta uma visão bruxa. Todos os tópicos serão levantados e debatidos sob uma ótica do mundo da magia. 

“Mundo da Magia: ame-o ou deixe-o.”

A última década do século passado fora mais que movimentada. O mundo dos trouxas saía de uma Guerra ideológica e econômica, para viver sob um regime de livre concorrência e cheio de desigualdades que perduram até hoje. Juntamente ao término das disputas Socialistas X Capitalistas, o nosso mundo enfrentava a sua grande segunda guerra. Lorde Voldemort ascendera ao poder, deixando no fosso todos aqueles que não lhe apoiaram. Formava-se assim o que poderíamos chamar de Regime Ditatorial Bruxo.

Anos antes do evento que ocorrera em nossa comunidade, um, no Brasil (Trouxa) também emergira, e com semelhanças assustadoras. Em 1964, o então Presidente, João Goulart, perdera seu mandato graças ao golpe de estado realizado pela Frente Militar Brasileira. Nosso país abandonava sua recém-instaurada Democracia para um Regime Militar que perduraria até 1985, com a eleição do candidato do PMDB, Tancredo Neves. O golpe no Brasil foi simbolizado e oficializado pela tomada de Brasília pelas forças Armadas, imagens de tanques de guerra sobre o Planalto até hoje assombram os reais conhecedores dos efeitos de uma Ditadura Militar.

Em Londres, temos o assassinato do então Ministro da Magia, Rufo Scrimgeour, como marco inicial do governo regido por Tom Riddle. Na Inglaterra Parlamentar da década de 1990 podíamos observar um âmbito de livre expressão e direitos civis e políticos assegurados. O nosso mundo se recuperava de duas guerras (a primeira causada pelo desejo de soberania da raça pura defendido por Gellert Grindelwald, e a segunda com mesmo objetivo, só que dessa vez com líder diferente). A partir do renascimento de Lorde Voldemort a paz aparente deixou de existir e o pânico que assolara o mundo da magia há décadas agora voltava à tona. O mesmo ocorrera no Brasil, após o Estado Novo encabeçado por Vargas, tivemos anos de Democracia, até que o golpe fosse dado. Com um ideário de “salvação” frente as idéias comunistas defendidas por algumas esferas de nossa população, os militares derrubaram o atual regime.

A oposição foi pintada como assassina e antinacionalista. Observe, o mesmo foi feito com Harry Potter e seus aliados. O menino-que-sobreviveu ganhou outro nome: “Indesejável Nº 1” e o Ministério da Magia começou uma perseguição incansável aos nascidos trouxas, mestiços e a todos os apoiadores do garoto Potter. Estabelecendo linhas entre ambas situações podemos notar que enquanto no Brasil tivemos os Atos Institucionais como principal arma dos militares, no mundo da magia o lado negro da força usou as palavras de um só para guiar vários. Durante a Ditadura Militar brasileira outro ponto de estabelecimento do regime foi a alienação por meio da educação. Se hoje temos o hábito de cantar o hino Nacional e hastear a bandeira diariamente é por conta desta época. O ufanismo fora marca dos governos ditatoriais, principalmente no governo de Garrastazu Médici. Durante o regime Voldemortiano não foi diferente, os livros didáticos e revistas destinadas a adolescentes defendiam as ideologias governamentais. Livros como “O perigo que trouxas podem provocar em nossa sociedade” exemplificam as ações do poder sobre a população.

No que se refere à oposição organizada temos diversos exemplos, no Brasil três focos foram formados. O primeiro refere-se à Frente Ampla, liderada por nomes já famosos no cenário: Juscelino Kubitschek, o então presidente deposto João Goulart e Carlos Lacerda. O segundo foco era o Partido Comunista Brasileiro, pelo menos um grupo desse. Tal organização defendia uma luta armada contra os militares, e até conseguiram formar núcleos de guerrilhas. E o terceiro, e um dos mais importantes, fora a UNE, que mesmo colocada na ilegalidade continuou com sua campanha contra o regime. No mundo da magia tivemos pelo menos dois focos de oposição. O primeiro e mais importante fora a Ordem da Fênix, podemos comparar com o PCB, que projetara diversas guerrilhas antes e depois do Golpe. A Batalha do Ministério, a disputa na Toca, a Resistência no Chalé das Conchas, a Invasão de Hogwarts e tantas outras batalhas se assemelham com os atos do PCB e de outras instituições.O segundo foco é a Armada de Dumbledore, que tem todas as caracterizações da UNE, que mesmo tida como excluída da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts manteve suas ações da forma que era possível (e até mesmo impossível).

Na Imprensa Bruxa tivemos “O Pasquim” e o “Observatório Potter“como meios de propagação da resistência. O primeiro mantivera seu caráter oposicionista até certo ponto, já o “Observatório Potter” nascera dentro do golpe e contra ele seguiu sua luta. No Brasil dezenas de jornais entraram na ilegalidade, alguns passaram até a não existir. Outro meio de propagação da resistência em nosso país foi a criação de músicas que levavam em suas letras todo o protesto que a população desejava expor no seu dia a dia. Os Festivais Nacionais fervilhavam, e os militares, sem poder conter as mensagens subliminares usavam de todos os métodos para silenciar seus intérpretes. O “desaparecimento” de cantores, escritores, teatrólogos foi marca do regime brasileiro, assim como no bruxo, que noticiava diariamente o desaparecimento de homens, mulheres e crianças quando na verdade tais haviam morrido.

Embelezava-se tudo ao extremo para que a população aceitasse a situação. No Festival de 1967, Edu Lobo levantou a bandeira de sua música: Ponteio. Já que estamos associando ambos os mundos não seria insensato modificar a letra da campeã do Festival de 67, trocarmos “Quem me dera agora eu tivesse a viola para cantar”, por “Quem me dera agora eu tivesse uma varinha para usar”, pois assim acontecera. Em ambos os lugares o povo foi transformado em nada e em nada poderia agir.

É válido destacar que no fim os regimes caíram. “Nada mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”, escrevera Victor Hugo, e assim o ideário de Democracia tornou-se verdade. Ano passado completamos cinquenta anos do golpe, mas também chegamos ao 24º ano de Democracia pós-Regime Ditatorial. Mesmo com tantos problemas na infraestrutura do país, seguimos, e – por seguir – já evoluímos. Os dois mundos se assemelham e se completam, e se existe algo que devemos aprender com a história de Harry Potter é nunca desistir. Mesmo que seja mais fácil jogar tudo para o alto, é melhor insistir. Foi assim com Harry, Ron, Hermione e tantos outros bruxos, foi assim com os estudantes, políticos e outras classes de nossa sociedade, e assim será nos anos que virão. Nada, senão pelas mãos do povo, de bom acontece.

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