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Crítica: Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023)
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Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023)

Passando pelos cartazes de próximas estreias, e sentindo o cheiro de pipoca ao ver o display da mais nova adaptação da franquia Jogos Vorazes eu quase senti que tinha voltado para 2015 – quase.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes conta a história de um jovem presidente Snow antes de tornar-se o governador de Panem e posteriormente o vilão da 1ª franquia, título que a autora Suzane Collins faz o leitor questionar muitas vezes durante o livro prequel, que se pauta em teorias como a de Hobbes e Rousseau para discutir tudo o que levou o protagonista a ser quem ele é.

+ Resenha: A cantiga dos pássaros e das serpentes, Suzanne Collins

Para humanizar um personagem como Snow (Tom Blyth), Suzane Collins precisou de 576 páginas, concluindo a saga com o maior livro entre os 3 e deixando muito pano pra manga para uma adaptação muito fiel. Não foi isso que aconteceu de totalidade nos 157 minutos de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes.

Fazer um estudo de personagem seria insustentável numa franquia como Jogos Vorazes, visto que muitas questões circunstanciais atravessam demais personagens da mesma forma que o protagonista, mas o diretor  Francis Lawrence (Em chamas, A Esperança I e A Esperança II) flertou por este caminho quando deu a Snow o maior tempo de ponto de vista, o que cumpre seu papel no objetivo de dar elementos para o público enxergá-lo de outra forma mas tropeça quando deixa Lucy Gray (Rachel Zegler) de lado.

O filme foi separado em partes como nos capítulos do livro e todas foram utilizadas para expor os motivos pelos quais Snow mente e manipula para levar sua família de volta à elite de Panem, rico em detalhes que mostram a realidade com a qual a família Snow lidava e a dificuldade que Corialanus tinha para manter o padrão frente à seus colegas mais abastados. Dentro do universo deste personagem existem alguns que servem como forças motrizes para levar o protagonista ao limite do bom e do ruim. O mesmo não pode ser dito sobre Lucy Gray, artista, nômade, tributo e vitoriosa do distrito 12.

Lucy Gray – assim como Snow – Forjou-se de maneira que pudesse sobreviver ao ambiente em que estivesse, com as armas que tinha à disposição. No caso dela, o entretenimento. O filme apresenta Lucy como se ela fosse uma peculiaridade que caiu no colo de Snow por azar e que ambos caíram de amores por terem se conectado de forma imediata mas a verdade é que ambos estavam tentando ganhar seus próprios jogos. Antes de Snow, Lucy já era um espetáculo nato e usar isso à seu favor foi reflexo, assim como flertar com Snow. Mas a relação ambígua dos dois fica confusa por causa da velocidade com a qual o longa mostra os acontecimentos, sem dar o tempo que levou para o desenvolvimento da parceria entre ambos no livro e deixando tudo muito romântico para quem não leu o prequel.

Diferente dos primeiros filmes, este falta com a frieza e a solidez das imagens do distrito 12, bem como investe pouco nos diálogos, que são muito mais fortes no livro de Collins do que na adaptação. Ocorrência que não se vê nos outros 4 longas.

Mas desacelerar a adaptação significaria fazer um filme com mais de 2 horas e chuto que, depois de separar A Esperança em 2 filmes, Lawrence tenha decidido por acomodar tudo num só. Talvez porque não estamos mais em 2015 – quando era viável estender a presença da franquia no imaginário do público por mais 1 ano numa época em que distopias estavam faturando barbaramente mas fato é que: 8 anos depois, Jogos Vorazes ainda é espetacular.

O filme usa os protagonistas para passear do “homem nasce naturalmente mau e precisa de um Estado absoluto para ditar regras” para o “homem nasce naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe” enquanto tira o fôlego do espectador ao transcrever a violência com a qual Suzane Collins termina seus capítulos para as imagens. É brutal e é intimamente humano no que tange às guerras mundiais que estamos presenciando, como assistimos à morte de crianças e escolhemos “times” ao invés de lembrar quem é o verdadeiro inimigo.

É preciso elogiar o elenco, destacando Tom Blyth, Viola Davis, Peter Dinklage e Rachel Zegler, que confesso ter me emocionado na cena com as serpentes e quando recitou “The Hanging Tree”, música que viria a ser o hino e o estopim da revolução que causa a 2ª guerra de Panem. Cancelamentos a parte, quem diria que escalar uma atriz que também é cantora faria diferença, né?

Parecendo ter poucas saídas criativas dentro de uma franquia muito consolidada, Lawrence entrega o que os fãs querem e parece trabalhar melhor na metade do filme para o fim, ainda incitando fome de mais um jogo voraz.

Livros, Resenhas

Resenha: A cantiga dos pássaros e das serpentes, Suzanne Collins

Lançado na última sexta-feira (19) pela Editora Rocco, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é o mais novo livro da tão conhecida autora de Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. Ambientado mais de 60 anos antes dos eventos ocorridos em sua famosa trilogia, Collins nos leva agora, por 576 páginas, algo bem diferente dos seus livros anteriores que eram mais curtos, a conhecer o passado tortuoso daquele que viria se tornar o tirano e genocida Presidente Snow. Dessa vez, ela nos leva a conhecer a vida na Capital e como os Jogos Vorazes funcionavam nos primeiros anos após os Dias Sombrios, mais precisamente como foi a 10° edição do Jogos, onde o jovem Snow é escolhido como mentor de um dia tributos.

Bem longe da vida cheia de luxos de Coriolanus Snow vista por Katniss em Jogos Vorazes, vemos A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes ser iniciado com um jovem Snow que outrora fora muito rico, mas que agora leva uma vida de pobreza tendo que se alimentar apenas de repolho e preocupado por não ter uma roupa decente para o dia da Colheita. Depois da perda total da fortuna investida pelo pai em armamentos no Distrito 13 nos anos pré-guerra, tudo na vida de Coriolanus, da porta para fora de casa, é uma farsa para que as pessoas não descubram a decadência em que se encontra a família Snow. Sua maior ambição se torna, portanto, reconquistar tudo aquilo que eles perderam, tendo até um lema de família que o motiva a acreditar ser melhor que todos:

“Snow cai como a neve, sempre por cima de tudo”

Ao receber a notícia de que na edição dos Jogos Vorazes daquele ano os jovens da Academia onde Snow estuda, na Capital, serão responsáveis pela mentoria dos Tributos, ele percebe ali uma oportunidade de tentar reconquistar todo o poder e prestígio que uma dia sua família teve.

Diferente do espetáculo que os Jogos são quando Katniss participa, Suzanne Collins nos mostra agora algo bem mais brutal. Nada de transportes confortáveis, apartamentos luxuosos ou um prêmio para o Tributo vitorioso existe ali, há somente um jogo cheio de sofrimento e brutalidade que nem mesmo a Capital gosta de assistir. E é exatamente por isso que os jovens da Capital recebem o trabalho de, como mentores, tornar tudo aquilo em um programa mais atrativo para toda Panem.

Por ser um dos melhores alunos da Academia, Coriolanus já está preparado para ser escolhido como mentor para algum dos melhores distritos e com isso poder conquistar sua glória como o responsável por aquele que sairá como vitorioso dos jogos. No entanto, ele vê seus planos serem totalmente frustrados ao descobrir que será o responsável pela mentoria da garota vinda como tributo do Distrito 12, o qual ele acredita ser o pior entre todos os distritos. Mas as coisas não serão totalmente como Snow espera.

Ao iniciar a Colheita no 12, Lucy Gray, a garota sorteada para representar o distrito, causa um grande tumulto ao jogar uma cobra dentro da roupa da filha do prefeito. Além disso, a garota consegue ainda pegar o microfone e cantar uma canção, algo que impressiona a todos. É nesse momento que Snow percebe que nem tudo está perdido para ele, pois ainda há a esperança de, mesmo que ela não saia como vitoriosa dos jogos, transformar a garota em algo muito maior e poder aproveitar disso para garantir sucesso e alcançar prestígio na sua caminhada pelo poder.

Se eu tivesse que definir rodo esse livro em uma só palavra, ela seria “Escolhas”. Tudo que acontece na história nos leva refletir sobre as escolhas tomadas por Snow, principalmente as más. Em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, Suzanne Collins nos leva a conhecer a mente de alguém ambicioso e sem nenhum escrúpulo para conquistar o que quer, tudo em sua vida é baseado em uma forma de fazer com que a sorte esteja sempre a seu favor e mesmo as coisas boas que ele faz são sempre feitas pensadas no proveito que ele pode tirar daquilo.

Quando o anúncio sobre a história do livro ser sobre o jovem Coriolanus, muitas pessoas ficaram preocupadas com a forma que a autora poderia retratar isso, visto que ela correria o risco de tentar justificar, de alguma forma, todos os atos terríveis cometidos por ele durante sua vida toda ou até mesmo tentar criar uma empatia no leitor para com a vida do jovem Snow.

No entanto, Suzanne Collins conseguiu criar uma história muito consistente que nos mostra que apesar de ter feito coisas boas, ter vivido momentos agradáveis e ter tido sempre a oportunidade de escolher fazer o bem, Coriolanus sempre fez somente aquilo que lhe trouxesse benefícios e poder. Em todos os momentos nós vemos que ele sempre foi uma pessoa fria e calculista e mesmo com as pessoas de quem gostava sua relação era sempre entremeada pela ideia de obter vantagens com aquilo.

Seu preconceito com os distritos também sempre esteve presente em sua vida. A ideia de que todas as pessoas que viviam fora da Capital eram selvagens é constantemente debatida em sua cabeça, com seus colegas de classe e com a terrível Dra. Ghaul, a idealizadora chefe dos Jogos. Em vários momentos podemos vê-lo se questionando sobre o estado de natureza das pessoas e acreditando plenamente na necessidade de se ter um poder soberano exercido pela Capital para evitar o caos e a guerra em Panem.

” – O que aconteceu na arena? Aquilo é a humanidade despida. Os tributos. E você também. Como a civilização desaparece rapidamente. Todas as suas boas maneiras, a educação, a formação da família, tudo de que você se orgulha, arrancado num piscar de olhos, revelando o que você realmente é.

[…]

Quem são os seres humanos? Pois quem somos determina o tipo de governo de que precisamos.”

Outro ponto importante a se destacar no livro é a música e toda a sua simbologia. Por Lucy Gray ser uma cantora no seu distrito, vemos em vários momentos ela apresentando canções que representam coisas muito importantes para o momento que está vivendo, nos levando a conhecer também a história de algumas das  canções anteriormente apresentadas na trilogia Jogos Vorazes.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes se desenvolve de forma fluída assim como os livros anteriores e a leitura corre muito bem, no entanto, como nem tudo é totalmente perfeito, acredito que o único erro de Suzanne Collins foram as 576 páginas que o livro possui. A história, apesar de muito bem escrita, alcança seu ápice em 50% do livro nos fazendo enxergar um final muito claro ali e tudo o que vem depois disso parece ser um livro novo. Essa quebra no ritmo da leitura acaba causando uma certa estranheza e a impressão que fica é que a intenção da autora era publicar dois livros, mas tudo acabou sendo compilado em apenas um.

Tendo em vista tudo isso, a leitura de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes pode se tornar uma surpresa muito boa para quem o lê. Collins nos envolve em uma trama muito bem escrita sobre disputas por poder e estado de natureza tornando o livro uma agradável aula sobre política. E não precisa se assustar ao ler isso, porque tudo é muito bem inserido e você se vê imerso em questionamentos que talvez nunca houvesse pensado sobre.

Para finalizar, deixo como indicação para aqueles que quiserem ouvir as músicas cantadas por Lucy Gray no livro, ou para quem já quiser escutar antes da leitura, três versões de canções do livro  que a cantora Maiah Wynne gravou e postou em seu canal no YouTube (elas estão listadas abaixo por ordem de aparição na história):