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Bifobia: 6 atitudes para combater o preconceito
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Colunas, Histórias

Bifobia: 6 atitudes para combater o preconceito

Em um mundo de infinitas cores e possibilidades, o Dia da Visibilidade Bissexual, em 23 de setembro, é a oportunidade de explorar o debate sobre identidade sexual. Esta data não apenas celebra os bissexuais, mas também é um momento para aprender mais sobre a diversidade humana e fortalecer a empatia. Aqui estão algumas dicas e orientações para colocar em prática no combate a bifobia!

+ Como me assumir LGBT para os meus pais?

  1. Conheça a história: Antes de tudo, reserve um tempo para pesquisar um pouco sobre a bissexualidade. Descubra os momentos e as pessoas que moldaram a luta pelos direitos e pela visibilidade da comunidade bissexual. Compreender as raízes do movimento é essencial.
  1. Escute narrativas bissexuais: Leia livros, assista a filmes e ouça músicas que destacam narrativas bissexuais. Consumir esse tipo de literatura, como o livro Por trás dos meus cabelos, da autora Miriam Squeo, ajuda a expandir sua compreensão e empatia pelas experiências daqueles que se identificam como bi.
  1. Amplie o círculo de amizades: Permita-se conectar com pessoas de diferentes, inclusive que tenham orientação sexual diferente da sua. Converse, escute e compartilhe vivencias. Isso ajudará a criar uma atmosfera inclusiva e acolhedora, a qual todos possam compartilhar conhecimentos uns com os outros. 
  1. Combata a bifobia: Infelizmente, a bifobia ainda é uma realidade para muitos bissexuais. Dedique um tempo para compreender os preconceitos e estereótipos associados à bissexualidade. O entendimento dessa questão pode ajudar a combater o estigma.
  1. Seja um aliado ativo: Mesmo que você não se identifique como bissexual, ainda pode ser um aliado ativo. Defenda a igualdade de direitos e respeito para todas as orientações sexuais. Esteja pronto para apoiar e ouvir quando necessário. 
  1. Não julgue a jornada dos outros: Cada pessoa tem sua própria caminhada de autoaceitação. Sobretudo aqueles que se assumem como bi na fase adulta. O importante é acolher, reconhecer que o tempo e o contexto podem influenciar quando alguém se sente pronto para compartilhar a orientação.
Resenha: Caro Dr Freud, Gilson Iannini (Org.)
Livros, Resenhas

Resenha: Caro Dr Freud, Gilson Iannini (Org.)

Caro Dr Freud é um livro que me foi indicado por um perfil de psicanalistas que sigo nas redes sociais. Desde que terminei a formação, me interesso pela temática da sexualidade humana e esse livro, cai como uma luva de reflexões, ensinamentos e comentários sobre o assunto, todos baseados no que Freud disse em uma carta, escrita no século passado, mas que poderia facilmente ser dos dias de hoje.

+ Resenha: Além do princípio de prazer, Sigmund Freud

Vamos contextualizar: Sigmund Freud é o pai da psicanálise e certa vez, recebeu uma carta de uma mãe desesperada pelo filho ser homossexual. Ela gostaria de saber se a psicanálise poderia cura-lo. Freud, muito solícito, respondeu à mãe que a homossexualidade não era uma vantagem, mas também não era algo para se envergonhar, tampouco um vício ou uma degradação e que a psicanálise nada poderia fazer no sentido de “curar”, mas sim, no sentido de faze-lo viver uma vida mais plena.

Com isso, grandes psicanalistas da nossa atualidade, organizaram o Caro Dr Freud, um coletivo de cartas que respondem a essa carta de Freud. Alguns contam histórias pessoais, outros fingem ser a mãe, outros imaginam que na verdade, quem escreveu a carta foi o filho no lugar da mãe… Só para você ter uma ideia, os nomes do livro são ninguém mais, ninguém menos que: Acyr Maya, Adilson José Moreira, Antonio Quinet, Beatriz Santos, Berenice Bento, Carla Rodrigues, Christian Dunker, Ernâni Chaves, Fernanda Otoni Brisset, Gilson Iannini, Guacira Lopes Louro, Letícia Lanz, Lucas Charafeddine Bulamah, Marcelo Veras, Marcia Tiburi, Marco Antonio Coutinho Jorge, Marco Aurélio Máximo prado, Marcus André Vieira, Pedro Ambra, Richard Miskolci, Sarug Dagir, Serena Rodrigues, Tales Ab’Sáber e Thamy Ayouch. Nem preciso dizer que a leitura desse livro é quase uma pós-graduação, né?

Brincadeiras a parte, Caro Dr Freud nos traz histórias reais permeadas por teorias, descontentamentos, alegrias, tristezas e desejos. Mesmo para quem não é da área, vale muito a leitura, porque não é difícil. Tem passagens que são mais desafiadoras, partes que precisamos ler e reler, mas a essência de tudo o que é ensinado fica. Aprendemos teorias de como (possivelmente) a sexualidade surge, de acordo com a psicanálise, conhecemos e percebemos a luta que ainda está em alta nos dias de hoje e principalmente, as recentes alegrias da despatologização da homossexualidade e da transexualidade.

Quebrada Queer é o destaque do MTV Prestatenção do mês de fevereiro
Música, Séries

Quebrada Queer é o destaque do MTV Prestatenção do mês de fevereiro

O coletivo Quebrada Queer, formado por Apuke, Boombeat, Guigo, Harlley, Murillo Zyess e Tchelo Gomez, é a revelação da música nacional em destaque no MTV Prestatenção do mês de fevereiro. O grupo lançou a primeira cypher gay em 2018, mas passaram por muitas redescobertas e transformações ao longo dos últimos três anos, se tornando o primeiro coletivo LGBTQIAP+ de rap da América Latina e do mundo.

+ Campanhas em prol da comunidade LGBTQIAP+

No final do ano passado, em um retorno potente, após dois anos sem lançar músicas e três sem lançar videoclipe, o coletivo lançou o novo single ‘’ABC do QQ’’, com vídeo patrocinado pela marca global Tommy Hilfiger, Eyxo e Mavo Content. A faixa traz um mix de estilos que tem ganhado espaço e destaque nos últimos anos como o Funk Carioca, Trap e Hiphop.

Atualmente, o Quebrada Queer conta com mais de 5 milhões de streams, mais de 500 mil seguidores e mais de 8 milhões de visualizações no Youtube. O single ‘’ABC do QQ’’ está disponível em todas plataformas digitais.

Sobre o MTV Prestenção

Este selo da MTV que, inclusive, é categoria do MTV MIAW, renova ainda mais o compromisso de conectar a audiência às tendências e apostas do momento, reforçando o DNA musical da marca e o compromisso constante com o cenário da música.

Sobre o Quebrada Queer

O Quebrada Queer é o primeiro coletivo LGBTQ+ de Rap da América Latina. O trabalho influencia diversas pessoas a iniciarem suas carreiras e viverem bem diante de tantos casos de homofobia/transfobia. Na música, o grupo denuncia as dores cotidianas, causadas pelo preconceito, mas também compartilham o prazer de ser quem são. Recebem mensagens diariamente de pessoas agradecendo por colocar a verdade em pauta no país que mais viola corpos LGBTQ+. Somente no Youtube, se somam mais de 6 milhões de visualizações nos conteúdos.

Casa 1 convida elenco LGBT+ do Teatro Oficina para visitar a poesia de Mário de Andrade
Atualizações, Livros

Casa 1 convida elenco LGBT+ do Teatro Oficina para visitar a poesia de Mário de Andrade

Para marcar centenário da Semana de Arte Moderna no calendário do Centro Cultural Casa 1, a ONG de acolhida LGBT+ convidou 21 artistas da Companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona para fazerem leituras dramáticas do livro Paulicéia Desvairada, lançado por Mário de Andrade justamente no ano da Semana. Fazem parte do projeto artistas de todas as gerações da companhia, como Marcelo Drummond, Camila Mota, Letícia Coura, Joana Medeiros, Kael Studart, Lucas Andrade e Wallie Ruy. A trilha sonora dos vídeos é assinada por Amanda Ferraresi, da banda do Oficina.

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O Prefácio Interessantíssimo, que antecipa os poemas, também foi interpretado por um artista LGBT+: o quadrinhista Ivo Puiupo, que ressignificou as páginas escritas por Mário para a linguagem em quadrinhos. O projeto também ganhou um site exclusivo e já está disponível para acesso.

A identidade visual, criada pelo artista Nolo, da Casa 1, faz uma releitura da capa da 1ª edição livro, que ficou conhecida pelo padrão geométrico de losangos coloridos. Para muitos, o lançamento dessa primeira edição é um marco do Modernismo brasileiro e, por isso, será relembrado pelos projetos que celebram o centenário da publicação.

Escritos ainda em 1920, os poemas retratam o clima vertiginoso da capital paulista no início daquela década. Segundo o próprio Mário, a ideia do livro surgiu após a indignação de sua família ao vê-lo comprar uma escultura de Victor Brecheret que revelava a face de Jesus Cristo, com os cabelos trançados:

“A notícia correu num átimo, e a parentada que morava pegado invadiu a casa para ver. E pra brigar. Berravam, berravam. Aquilo até era pecado mortal!, estrilava a senhora minha tia velha, matriarca da família. Onde se viu Cristo de trancinha!, era feio, medonho! […] Fiquei alucinado, palavra de honra. Minha vontade era matar. Jantei por dentro, num estado inimaginável de estraçalho. Depois subi para o meu quarto, era noitinha, na intenção de me arranjar, sair, espairecer um bocado, botar uma bomba no centro do mundo. Me lembro que cheguei à sacada, olhando sem ver o meu largo do Paissandu. Ruídos, luzes, falas abertas subindo dos choferes de aluguel. Eu estava aparentemente calmo, como que indestinado. Não sei o que me deu. Fui até a escrivaninha, abri um caderno, escrevi o título em que jamais pensara, Pauliceia desvairada.”

Para a Casa 1, este projeto foi criado para celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna e marcar a presença de artistas LGBT+ na história da arte brasileira. Isso porque, mesmo que não se fale muito sobre o assunto, existem indícios de que Mário de Andrade era uma pessoa LGBT+. Em sua correspondência e na memória de amigos próximos, está claro que o intelectual se interessava por outros homens. Esta discussão, inclusive, pode ainda gerar novas interpretações e produções culturais, já que ainda pouco se fala sobre o assunto. Por se tratar de uma instituição que também busca preservar e revisitar a memória de pessoas LGBT+, a Casa 1 encara este projeto não como uma “saída de armário” póstuma para Mário de Andrade, mas sim uma maneira de redescobrir a obra do autor enquanto pessoa LGBT+.

Tommy Love, DJ consagrado na cena nacional, lança álbum "Reload" com maiores sucessos da carreira
Atualizações, Música, Séries

Tommy Love, DJ consagrado na cena nacional, lança álbum “Reload” com maiores sucessos da carreira

O DJ e produtor musical Tommy Love lança nesta sexta-feira (11) o álbum “Reload”. Com uma roupagem nova e mais moderna, o trabalho contará com regravações de seus maiores sucessos musicais, incluindo colaborações com Wanessa Camargo, Alinne Rosa e Adryana Ribeiro. O lançamento acompanha a comemoração dos 18 anos de carreira do artista, que se consolidou entre o público LGBTQI+ sendo, atualmente, um dos nomes mais influentes e respeitados na cena eletrônica nacional.

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O novo trabalho está composto por hits como “Beast” (com Wanessa Camargo), Let’s Go People (com Adryana Ribeiro), “Bate Leque” (com Lorena Simpson), “Shake It Out” (com Alinne Rosa), além de Buddha, Libra, Pisces e Conga, grandes sucessos da noite LGBT nos últimos anos.

Confira:

“São tantos anos fazendo música, que senti que era hora de recarregar meu trabalho, me reconectar com estas faixas que me deram tantas alegrias, e entregar pro público essa sensação de boas lembranças, mas criando novas memórias”, conta Tommy.

O primeiro single de Tommy foi lançado em 2007, a faixa “Confusion”, que foi hit nos principais clubs da capital paulista. O sucesso de Confusion fez com que o DJ fosse considerado a maior revelação da cena em 2008. O talento como produtor rendeu a Tommy Love trabalhos importantes. Um de seus melhores momentos veio em 2012, ao ser convidado pelo DJ Hector Fonseca, de Nova Iorque, para assinar um remix oficial para a cantora Rihanna, o hit “Where Have You Been”. Além do trabalho com Rihanna, Tommy já produziu remixes oficiais para Sia, Jessica Sutta, ex integrante do grupo americano “Pussycat Dolls”.

Ao vivo, Tommy Love executa uma performance explosiva que não deixa ninguém parado: além de sua técnica com mixagens perfeitas, ele remixa e faz intervenções com acapellas e samples exclusivos. No novo álbum, as faixas com uma nova roupagem, prometem causar resultados ainda mais alucinantes e ousados, capazes de provocar sensações inesquecíveis na pista.

Documentário "Transversais" tem estreia marcada para o dia 24 de fevereiro
Filmes, Séries

Documentário “Transversais” tem estreia marcada para o dia 24 de fevereiro

Primeiro longa do jornalista e cineasta Émerson Maranhão, TRANSVERSAIS ganhou nova data de estreia nos cinemas: dia 24 de fevereiro. O longa fez parte da seção Programa Queer.doc do 29o Festival Mix Brasil, e também esteve em outros Festivais brasileiros como a 45a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e o Cine Ceará.

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Produzido por Allan Deberton (“Pacarrete”), o documentário apresenta os depoimentos de quatro pessoas trans que resgatam suas histórias, seus processos de autodescoberta e de trânsitos e jornadas, além de também de uma mulher cisgênero, mãe de uma adolescente trans. Mesmo sofrendo censura do governo federal, que publicamente anunciou que “não tinha cabimento fazer um filme com este tema” e declarou que ele seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, o filme está circulando em festivais antes de fazer sua estreia em circuito comercial.

As quatro pessoas que participam do filme são: Samilla Marques, uma funcionária pública;  Érikah Alcântara, uma professora; Caio José, um enfermeiro; e o acadêmico Kaio Lemos. Eles e elas passaram por um delicado processo de auto-aceitação até compreenderem a sua subjetividade.  Hoje vivenciam tecnologias de gênero, como hormônios e cirurgias, que lhe asseguram uma aparência condizente com a maneira como se veem, mas ainda sofrem com a incompreensão, o estranhamento e o preconceito.

Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente transgênero. Hoje, é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade no Ceará.

TRANSVERSAIS é um o documentário é de extrema importância tanto pelo momento político atual quanto pela visibilidade que dá à causa da transgeneridade. “Eu gostaria muito que esse documentário pudesse contribuir para mudar esse cenário tão pavoroso em que vivemos hoje no País. Acho difícil, mas não impossível. É um trabalho de formiguinha. No entanto, se cada espectador que assistir ao filme despir seu olhar dos preconceitos costumeiros para se permitir conhecer esses personagens tão especiais, sentir suas dores e alegrias, e deixar que essas trajetórias tão bonitas e únicas toquem seu corações e mentes, acho que teremos um excelente começo”, comenta o diretor.

O longa, que parte de dois projetos anteriores do diretor, uma websérie e um curta, foi muito bem recebido em sua estreia na 45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  O crítico Chico Fireman recomendou o longa e escreveu que “[o] radicalismo de TRANSVERSAIS está em como seu tom é de entendimento numa época de intolerância. [E o filme] deveria ser matéria obrigatória em qualquer escola.” Matheus Mans, do site Esquina da Cultura, publicou que “[o] filme, afinal, é uma amostra de como a resistência funciona. Bolsonaro reclamou, o filme existe. Histórias como a da mãe que ficou ao lado da filha quando essa se entendeu e se assumiu como transgênero é um Brasil avesso ao de Bolsonaro e que Émerson Maranhão tão bem consegue colocar na tela. Sentimos a esperança, o alívio e a emoção versus a barbárie.”

Denis Le Senechal Klimiuc, do Cinema com Rapadura, deu a nota máxima ao documentário, e declarou que “muito mais do que colher depoimentos e apresentá-los em uma montagem fluida e leve, Maranhão é hábil ao criar um aspecto enorme para o seu trabalho. O filme inteiro é pautado na vida daquelas pessoas e, portanto, na luz que emanam porque enxergam a metade cheia do copo.”

Entrevista: "Somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos", diz escritor LGBT
Histórias, Livros, Talks

Entrevista: “Somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos”, diz escritor LGBT

“Reconhecer-se com as dores e sonhos do Bernardo e do Enrico não transforma o leitor em LGBT, apenas mostra que, no final de tudo, somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos, em busca da felicidade”. É assim que o escritor e roteirista premiado Saulo Sisnando define sua obra. O autor de Terra das Paixões, livro de estreia da série Infinita Coleção, defende que o amor é único e universal.

Embora a literatura LGBT tenha destaque nos últimos anos, o autor acredita que o protagonismo gay pode e deve estar à frente de mais gêneros literários. “Uma parte de mim gosta de ser classificado como “escritor queer”, mas protagonistas LGBT podem estar à frente de fantasias, histórias de terror, dramas, fanfics, romances. Quando escrevo, por exemplo, “Terra de Paixões” sigo os moldes de qualquer romance romântico, mas, por acaso, o amor é entre dois homens”, finaliza.

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Por que você decidiu entre tantos gêneros escrever literatura queer?

O primeiro leitor de um livro é o próprio autor. Não sou um escritor que escreve para agradar os outros ou para ganhar prêmios. Sempre escrevo o livro que eu gostaria de ler e torço para que, como eu, existam outros leitores compartilhando o mesmo desejo de leitura. Sendo assim, como homem gay, é natural escrever algo que me represente, que reflita a minha verdade, as minhas vivências, os meus sonhos. Cresci sonhando em ler histórias de amor entre homens, romances intensos, com fortes protagonistas. Então, após mais de 20 anos escrevendo para teatro e, naquela mídia, também discutindo o amor entre homens, me senti pronto para publicar meu primeiro romance.

Teve algum escritor ou escritora como inspiração?

Eu cresci lendo escritores best-sellers como Sidney Sheldon, Janet Dailey, Danielle Steel, Barbara Cartland. Com o passar dos anos fui me aproximando de outros autores considerados mais eruditos, autores que temos mais “orgulho” de citar. Porém, durante tessitura de todos os meus textos ao longo de mais de 20 anos, tenho percebido a influência muito maior dos autores que me fizeram amar a literatura: os grandes autores de best-sellers. Além destes, talvez o maior produto artístico brasileiro sejam as telenovelas. O folhetim faz parte da essência do nosso povo, portanto é natural que, em meus romances românticos, eu encontre referências nos folhetins televisivos, e em seus maiores autores, Janet Clair, Gilberto Braga e Gloria Perez.

Você é um premiado roteirista de teatro, a transição para escrever livros foi uma consequência?

A principal diferença entre a dramaturgia e a literatura é o fato de o romance conseguir se encerrar em si mesmo. Embora seja inteiramente possível ler uma peça de teatro, seu auge é ser apresentado em um palco, movimentando uma longa rede de profissionais, em especial, os atores. No romance, por outro lado, a ação transcorre totalmente na imaginação do leitor. Ao acompanhar a história de um romance, o leitor sempre terá os melhores atores em cada papel, os melhores cenários. Em um romance não há limitações de qualquer tipo, o leitor sempre lê o livro como se fosse o maior e mais caro espetáculo da Broadway.

Como surgiu a inspiração para criar a Infinita Coleção?

É uma homenagem a uma das mais emblemáticas autoras românticas do século XX: Barbara Cartland. Ao longo de sua prolífica carreira, a escritora inglesa escreveu mais de 700 livros e todos fazem parte de uma coleção romântica chamada “Eterna Coleção”. Durante os anos 80 e 90, os romances históricos da Eterna Coleção de Barbara Cartland eram vendidos em bancas de revista com grande sucesso. A minha “Infinita Coleção”, nesse viés, pretende revisitar grandes temas românticos, dentre eles as tramas de Natal, os romances históricos, mas desta vez com total protagonismo LGBT.

Já está escrevendo o próximo livro da série?

Sim, em 2022 sairão dois novos volumes da Infinita Coleção, são eles, “Baile de Máscaras”, um romance com irmãos gêmeos e troca de identidade e, “O tempo de Amar”, que transitará pelo universo das comédias românticas natalinas.

Será uma continuação ou outras histórias com outros personagens?

Não descarto totalmente a ideia de escrever continuações ou spin-offs, porém a ideia da Infinita Coleção é entregar ao público 10 romances LGBT inspirados no universo dos livros de Banca, como Sabrina, Bianca, Julia.

Você escreveu essa obra pensando em um público mais maduro e que não se via representado em romances de bancas LGBT?

Atualmente a literatura brasileira e mundial está se permitindo protagonistas LGBT e isso é uma conquista fabulosa. No entanto, eu sempre me deparava com romances adolescentes ou voltados para os jovens adultos e romances mais quentes e sensuais. Eu sentia falta de um grande romance como Pássaros Feridos, Casablanca, As Pontes de Madison, Lendas da Paixão, etc., que não são sobre a descoberta e o despertar da sexualidade, não são sobre primeiros amores, mas histórias sobre pessoas formadas, adultas. Tramas nas quais o sexo não é o objetivo, mas uma etapa da felicidade. Por isso tive a ideia de tentar fechar essa lacuna e dar histórias açucaradas e muito românticas para um público mais maduro.

Quais são os desafios de ser escritor LBGT no Brasil?

Meu maior desafio é fazer o leitor entender e sentir que o amor entre dois homens não é “amor-gay”, mas apenas “amor”. O mercado editorial desde sempre gosta de rotular as obras e definir os possíveis leitores: esse livro é para mulheres, esse outro é para homens. Pouquíssimas vezes nós tivemos livros destinados aos LGBT, sempre tentávamos encontrar em histórias heteronormativas, camadas que falassem conosco. Hoje nós temos livros LGBT, escritos por escritores LGBT, para o público LGBT e é bom demais ter essa representatividade. Porém eu sonho ainda com o tempo em que heterossexuais consigam transpor a orientação sexual dos protagonistas e entendam que são histórias de pessoas fortes, às vezes felizes, às vezes tristes, que trabalham, pagam as contas, entram no tinder, assistem netflix, saem para conversar com amigos. Terra de Paixões é uma história romântica sobre uma paixão avassaladora que, por acaso, possui dois homens como protagonistas. Reconhecer-se com as dores e sonhos do Bernardo e do Enrico não transforma o leitor em LGBT, apenas mostra que, no final de tudo, somos todos seres humanos incompletos e imperfeitos, em busca da felicidade.

Sobre o autor: escritor premiado de diversas peças de teatro, Saulo Sisnando constrói histórias engraçadas e românticas com total protagonismo gay. Atualmente, mora em Belém do Pará com seus milhares de cachorros. Fã de livros de banca, Terra de Paixões é o seu primeiro romance para a Infinita Coleção.

Livros, Resenhas

Resenha: Procura-se um namorado, Alexis Hall

Quando recebi o livro “Procura-se um namorado” do pessoal da Companhia das Letras, logo me apaixonei pela capa e pela sinopse da contracapa. Me lembrou muito meu queridinho “Vermelho, branco e sangue azul“, então, já tratei de logo passar na frente de todas as leituras. Eu sou cadelinha de qualquer enemies-to-lovers ainda mais se for YA, ainda mais se for LGBTQIAP+.

Luc O’Donnell, infelizmente, é um cara famoso. Quer dizer, mais ou menos. Sendo filho de duas estrelas do rock, ele é uma das subcelebridades preferidas dos tabloides. E agora que seu pai está voltando aos holofotes, ele se tornou o centro das atenções, o que significa que uma foto comprometedora pode – e vai – estragar tudo.

Mas Luc tem um plano: para limpar sua imagem, ele só precisa de um namorado normal e bonzinho, e Oliver Blackwood é as duas coisas, além de advogado, vegetariano e basicamente alérgico a qualquer tipo de escândalo. O único problema é que, tirando o fato de ambos serem gays e solteiros e precisarem de acompanhantes para um evento, Luc e Oliver não têm nada em comum.

É por isso que eles estabelecem um namoro falso, até quando for necessário. Mas o perigo de namorar de mentira é que se parece muito com namorar de verdade. E, quando sentimentos verdadeiros começam a surgir, eles precisam descobrir como fazer dar certo – não para as câmeras, mas para si mesmos.

Em “Procura-se um namorado” conhecemos Luc O’Donnell, um cara de 28 anos, que é filho de famosos. Sim, ele é a subcelebridade preferida dos tabloides britânicos, quase como que se sentissem um prazer em cima de sua desgraça. As coisas só pioram quando seu pai está de volta aos holofotes, mais polêmico que nunca e seu ex-namorado vendeu todas as suas histórias traumáticas para a imprensa. Em outras palavras, Luc não tem ninguém e não faz questão de ter.

+ Livros para orgulhar-se de ser LGBTQIAP+

No entanto, ele trabalha em uma instituição social que protege os escaravelhos, chamada de CACA. E, apesar de não ligar para (quase) nada, ele é o responsável por arrecadar doações para que a empresa funcione e com sua má reputação na mídia, as pessoas estão culpando-o por pararem de doar. É então que ele arruma um plano: vai arrumar um namorado falso para limpar sua imagem, afinal, ninguém gosta de gays promíscuos, mas todo mundo ama um gay heteronormativo, né?

É nesse enrosco que ele chega em Oliver Blackwood, advogado criminalista, com quem já teve um “caso” no passado. A diferença é que eles não tem nada em comum, exceto pelo fato de serem gays, mas ambos precisam de uma forcinha no âmbito ter e manter um relacionamento, nenhum deles é bom nisso. Foi nesse ponto que meu sofrimento começou.

No início, achei a leitura arrastada, até um pouquinho chata, demorando para se desenvolver. No entanto, depois percebi que essa é uma estratégia perversa da autora que nos dá todo o romance que a gente quer, mas em doses homeopáticas. Luc e Oliver começam a se envolver cada vez mais no “namoro de mentira”, até que nada mais é de mentira, só que Luc não confia em mais ninguém e Oliver acha que tem muitos problemas. Em bom português, eles só conseguem estragar tudo página após página e a gente fica ali, nervoso, querendo ler só mais um capítulo.

Posso dizer com toda certeza do mundo que “Procura-se um namorado”, minha última leitura de 2021, me deixou bitolado. Eu não fiz nada até terminar o livro. Eu fui para a academia lendo, eu parei de viver para viver a história de Luc e Oliver, porque, apesar do início cansativo, o livro se desenvolve maravilhosamente bem. Então, se você começar e sentir que está chato, persevere mais um pouquinho. Vai valer a pena.

Eu chorei, eu ri, eu torci… Eu queria viver em uma espécie de Big Brother em que eu pudesse acompanhar Oliver e Luc o dia todo. Os personagens são reais e isso transparece nas páginas, tirando o fato de que, os dois precisavam muito de uma terapia mas o amor maravilhosamente curou tudo (e a gente sabe que não é bem assim na vida real, mas a licença poética está de bom tamanho para mim aqui).

No final, conhecemos um lado mais humano de Luc e Oliver que me fez enxergar os dois na minha frente, quase como se saltassem da página do livro, ao mesmo tempo em que me senti Luc, que me senti Oliver… Indescritível. Apesar de todos os pesares, ganhou cinco estrelinhas e um lugar mais que especial no meu coração.

E ah, antes que eu me esqueça: em Agosto sai a continuação de “Procura-se um namorado”, ao que tudo indica, vai chamar “Procura-se um marido”. Só digo que se vier casamento, podem preparar minha lápide porque aqui jaz uma cadelinha de Oliver e Luc.

Bienal do Livro Rio
Atualizações, Livros

Vozes LGBTQIAP+ representadas na Bienal do Livro Rio

As vozes LGBTQIAP+ ganham espaço em mais uma edição do maior festival literário do país, a Bienal do Livro Rio, que acontece de 03 a 12 de dezembro, no Riocentro, Barra da Tijuca. Com uma programação plural criada por um coletivo curador, duas mesas na Bienal vão abordar especificamente os rumos da literatura abordando diversidade sexual e identidade de gênero. Os ingressos já estão à venda no site – e os papos também poderão ser acompanhados em tempo real por lá.

“A expectativa para todas as mesas é muito especial, é a volta de grandes encontros presenciais. Será muito simbólico voltar num evento a favor da literatura, do encontro, da troca, da diversidade, da democracia, da cultura, da educação”, afirma Felipe Cabral, curador do evento.

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A mesa “Os Novos Rumos da Literatura LGBTQIAP+ Young Adult” será no dia 9 de dezembro, às 19h. Para debater como obras de YA com representatividade LGBTQIAP+ estão formando uma nova geração de leitores, são convidados: a escritora Clara Alves, autora do best-seller Conectadas (Seguinte,2019); a escritora Elayne Baeta, com o recém lançado, Oxe, Baby (Galera Record, 2021); Juan Jullian, autor do romance Querido ex (Galera Record, 2020); o escritor Pedro Rhuas, autor do best-seller Enquanto eu não te encontro (Seguinte, 2021); e o escritor Deko Lipe, amante da literatura infantil, infanto-juvenil LGBTQ+, e idealizador do projeto literário Primeira Orelha.

“É muito legal poder juntar numa mesa autores jovens que têm um forte trabalho com grande alcance e expressivo número de vendas – com protagonistas jovens LGBTQIA+, incluindo adolescentes. Isso mostra como os tempos mudaram. Se há 20 anos essa literatura não existia nas grandes editoras, com viés pop/comercial, hoje ela já existe. A ideia é pensar como a formação desses novos leitores contribui para uma sociedade mais justa, com menos preconceito, desde cedo aprendendo a lidar com a diversidade”, defende Felipe.

Já a mesa que encerra o evento, no dia 12 de dezembro, às 19h, é intitulada “Vozes LGBTQIAP+: O que vem pela frente?”. Os autores convidados irão conversar sobre como a instabilidade política do país se refletiu na literatura e como suas obras ajudam a pensar o momento presente e a construir um futuro melhor.

Estarão presentes no papo: o sociólogo intersexo e transmasculino, Amiel Vieira; o professor de Direito da Unifesp Renan Quinalha, autor do livro Contra a moral e os bons costumes: A ditadura e a repressão à comunidade LGBT (Cia das Letras, 2021); a professora da área de Gênero e Educação Letícia Nascimento, que vai discutir a questão do Transfeminismo (Feminismos Plurais, 2021); o escritor e palestrante Samuel Gomes, eleito Top Voices 2019 pelo LinkedIn e dono do canal no YouTube Guardei no armário; e a escritora Natalia Borges Polesso, autora do recém lançado A extinção das abelhas (Cia das Letras, 2021).

“É uma honra encerrar a programação na Bienal pela segunda vez, com autores LGBTQIAP+ mesclando livros de ficção e não ficção, que resgatam a história da comunidade no Brasil. É um debate maduro, atual e que vai ter muito a contribuir para o que a gente vai precisar falar no período pós-pandemia”, finaliza Felipe, que lança durante o festival seu primeiro romance, O Primeiro Beijo de Romeu (Galera Record, 2021). O livro traz na capa a ilustração de um beijo entre dois homens – uma resposta à tentativa de censura na Bienal de 2019, reafirmando que “os nossos afetos e os nossos beijos não vão voltar para o armário”.

Resenha: Boy Erased - Uma verdade anulada, Garrard Conley
Livros, Resenhas

Resenha: Boy Erased – Uma verdade anulada, Garrard Conley

Eu queria ler Boy Erased há muito tempo. Na época que lançou o filme, fiquei curioso por se tratar de um drama LGTQIAP+ e por ter o Troye Sivan no elenco, e também acompanhei toda a polêmica em cima da censura. Não sei porque demorei tanto para conhecer a história, até que ganhei o livro de presente de aniversário e resolvi embarcar na leitura. Fiquei surpreso, só não sei dizer se foi positiva ou negativamente, ainda.

Livro que deu origem a filme estrelado por Nicole Kidman, Russel Crowe e Lucas Hedges

Em seu elogiado livro de estreia, Garrard Conley revisita as memórias do doloroso período em que participou de um programa de conversão que prometia “curá-lo” da sua homossexualidade. Garrard — filho de um pastor da igreja Batista, criado em uma cidadezinha conservadora no sul dos Estados Unidos — foi convencido pelos próprios pais a apagar uma parte de si. Em uma tentativa desesperada de agradá-los e de não ser expulso do convívio da família, ele quase se destruiu por completo, mas encontrou forças para buscar sua identidade e hoje é ativista contra as terapias de conversão.

Tocante e inspiradora, a história de Garrard é um acerto de contas com o passado, um panorama complexo das relações do autor com a família, com a fé e com a comunidade. O livro é o testemunho dos traumas e das consequências de se tentar aniquilar parte essencial de um ser humano.

Boy Erased é um relato do próprio autor, que em sua adolescência, teve que passar por um programa de conversão sexual baseado no estudo religioso para se tornar heterossexual. A leitura é pesada, o tema é de extrema importância, mas tem alguma coisa na escrita de Conley que me incomodou bastante, deixando a leitura um pouco arrastada e monótona. Eu sofri para terminar de ler o livro, no entanto, não queria ter sofrido, já que o tema é de debate imprescindível. Por isso, não se deixe abalar por essa informação, porque nós precisamos urgentemente falar dessas terapias de conversão que acabam com a saúde mental de milhares de pessoas ao redor do mundo.

Deus, eu havia pedido em oração, deixando a sala de Smid e seguindo pelo corredor estreito até o salão principal, as luzes fluorescentes estalando em seus suportes de metal, não sei mais quem é o Senhor, mas, por favor, me dê sabedoria para sobreviver a tudo isso.

O livro é um relato quase psicanalítico do autor, que, ao contar sobre sua experiência na terapia de conversão sexual, volta para o passado fazendo intersecções com os motivos pelos quais o fizeram chegar ao ponto que chegou. E, para nós, de fora, é fácil julgar seus motivos e dizer era apenas sair correndo, mas quando o que está em jogo é sua integridade física, moral e além disso, o amor dos seus pais, a gente se vê em buracos cada vez mais profundos buscando uma salvação que está dentro de nós mesmos.

Boy Erased se desenvolve na forma de diário, e talvez seja por isso que sua leitura é de fato complicada. Mergulhamos na consciência e nos vislumbres de inconsciência do autor, que nos trazem informações pesadíssimas sobre sua adolescência. O livro tem gatilhos de estupro, abuso psicológico e físico, lavagem cerebral e muita, mas muita LGBTfobia.

Admiro a coragem de Garrard Conley em expor essa verdade ao mundo todo e agora entendo porque quiseram boicotar tanto o filme. Essa obra literalmente joga a merda no ventilador, doa a quem doer. O filme retrata de forma bastante fiel os relatos apresentados no livro e, acredito que todos que amam uma pessoa LGBTQIAP+ deveriam ler para amplificar ainda mais sua empatia.

A AEA me dizia diariamente que perder minha própria identidade significava ganhar virtude e que ganhar virtude significava me aproximar mais de Deus e, por consequência, de meu verdadeiro eu celestial. Mas os meios para aquele fim – o ódio de si, a ideação suicida, os anos de falsos começos – podiam fazer com que nos sentíssemos mais solitários e mais distantes de nós mesmos do que nunca.