Lhe escrevi da última vez no ápice da minha angústia. Desabafando sobre uma perda que eu não sabia se aconteceria. Pois é, não aconteceu. Mas, eu estava sendo forte por fachada porque simplesmente eu precisava. Aquela história de passar uma força que não temos. Agora, cada parte de mim sorri.
Mas hoje, lhe escrevo de uma maneira totalmente oposta. Estou no ápice da minha felicidade. É impressionante como ele me faz feliz, sabe? Poucas vezes me senti assim na vida. Talvez nunca. É tão bom tê-lo comigo. Eu o amo tanto, sabe? Muito. Cada coisinha. Amo vê-lo concentrado, sorrindo… Ah, que sorriso. Seus olhos são algo em que me perco fácil. Meu coração falta capotar. Tê-lo abraçado a mim me faz sentir como a pessoa mais feliz do mundo. Mais forte, capaz de qualquer coisa. Eu estou convicto de que o amo mais que tudo mesmo. Sempre estive, presumo.
Ele é meu primeiro e último pensamento ao acordar e ao dormir. Ao tomar uma decisão. Ao fazer qualquer coisa. É bom ser feito feliz. Nunca tinha ficado nesse estado antes. Acostumado a ser fechado e triste, estou no meu ápice. Por favor, me deixe ficar assim pra sempre.
Porque não quero nada menos que isso com ele. Porque sempre tudo em mim sorri. Tudo. Cada célula deve sorrir, porque, mesmo que eu deva, não consigo ficar triste. Bate aquela saudade sempre, mas é impossível ficar mal tendo ele comigo. E sabe, eu o amo tanto… Daquela maneira que saem lágrimas dos meus olhos ao dizer. É grande, sim.
Parece que nunca terei perdas porque ele é suficiente para suprir qualquer coisa que eu precise. Dizem que existem dois tipos de amor: aquele capaz de incinerar o mundo e aquele capaz de erguê-lo em glória mesmo após a incineração. O meu, poderia ser erguido em glória mesmo após a incineração.
“Pode parecer que não, mas eu tô com saudade”, e eu também estava. E meu coração palpitava ao ler isso. Dava aquele famoso pulo e ameaçava sair pela boca. Mas não ia admitir, não podia, óbvio que não.
Mas então, te vi de longe e o sorriso apareceu sozinho, abriu, como o sol abre após a chuva. E minhas pernas aumentaram o ritmo, sem que eu pedisse. Simplesmente foram, e eu não tentei impedir. Fui, me deixei.
Te abracei, então. Seu braço ao redor da minha cintura naquele pufe dentro da biblioteca antiga. Sua letra parecida com a minha na ficha branca. “Deita aqui”, era a deixa que eu precisava e hoje penso que eu parecia um cachorro. Deitei apoiando no seu braço e de repente eu estava de novo no país das maravilhas, me perdendo mais uma vez. Me perdendo e perdendo… E você sabia.
E o beijo logo depois, com seu gosto, aquele gosto que eu era incapaz de esquecer ou encontrar em qualquer outra boca. Porque era único, exclusivo. Tudo único. E então, você me puxa pela mão por entre as árvores com poucas folhas por conta do inverno. Eu parecia um boneco nos seus braços. O chão também estava cheio delas, secas pelo frio. Os coelhos brancos e pretos saltitavam ao redor. Os patos, observavam como os cúmplices que jamais me fariam esquecer de que aquilo havia sido real, apesar de eu preferir que tivesse sido apenas um devaneio erótico e doido da minha mente.
Eu havia finalmente chegado ao país das maravilhas, estava perdido nele, fingindo que seria eterno, ou eternamente numerado, limitado. Sabendo que, apesar de perdido ali, era só um escape da minha realidade inútil. Do real nojento.
Os coelhos dali observavam ainda, cúmplices de que aquilo era real e não algo da minha cabeça. Mais provas de que nunca me deixariam esquecer por mais que eu quisesse. Cúmplices de que eu estava, mais uma vez, me deixando perder nas suas linhas tão cuidadosamente escritas do país das maravilhas.
Embaixo daquela árvore, nada mais importava, de qualquer jeito. Nada. Só o que eu estava concluindo, como um fotógrafo de retratos.
Sempre disse que amava fotos porque elas eram a prova de que tudo era perfeito, mesmo que por um milésimo de segundo. Mas, além delas, as nossas lembranças provam isso. Ou tentam. A lembrança primitiva é da sensação boa, que aos poucos é envenenada pela sua presença nojenta. Meus olhos estavam fechados, não tenho lembranças visuais. Todos os sons do mundo sumiram. Não tenho lembranças auditivas. Mas há a lembrança do toque sutil seguido dos apertos montanhosos nos meus braços. Quase agressivos.
Há a lembrança do seu cheiro de amaciante nas roupas. O mesmo cheiro daquela primeira vez. Há a lembrança do sabor, aquele que só você tinha. Não, não me refiro à menta de cereja, que era de morango. Me refiro ao seu sabor mesmo, aquele que é só seu. Aquele, mesmo, que conheço tão bem e que hora e outra volta à minha boca e me deixa desperto. “É o sabor dele”, o cérebro diz para o coração em uma descarga de adrenalina contínua. Hoje sei que isso é um alerta.
Não sei se isso tem explicação científica além de síndrome de Estocolmo. Sinceramente, como seu gosto volta à minha boca, assim, do nada? Cérebro, o senhor está cúmplice do coração? Até você?
O sol baixava conforme o céu se alaranjava. Ainda entre as árvores do país das maravilhas, você disse “Pula”. Pausa. “Não confia em mim?” Pulei, de olhos fechados, como havia pulado desse penhasco de sensatez em direção a maré dos meus sentimentos. Pulei, sem pensar. Pulei.
Você me segurou. Literalmente, e mais uma vez, como todas as outras. Você me prendeu. Fisicamente. Metaforicamente. Você me segurou. Será que eu estava seguro com você?
E então, veio o beijo lento, devagar, lento, lento… Explorador. Cuidadoso, como jamais havia sido. Calmo, sem aquela pressa ou urgência. O tempo no país das maravilhas passava mais devagar. Era um efeito contrário à você, afinal, você o fazia correr.
E o que fiz de novo era sorrir. Porque eu soube que não importava quantas vezes perdêssemos o caminho para o país das maravilhas, sempre o encontraríamos, de uma forma ou de outra.
Hoje, me pergunto: quero mesmo encontrar? Aquilo (não) foi real?
Aviso de gatilho: Pensamentos suicidas, codependência
Querido diário,
Não sei o que te escrever hoje. Acho que só busco um refúgio, uma válvula de escape que não me seja prejudicial como as outras eram. Te escrevo aqui, desesperadamente, de caneta azul, fugindo dos meus padrões, ao som de Troye Sivan porque dói. Aquela dor que te reduz ao tamanho de um grão, que você se encolhe tentando reprimir. Será que não existe felicidade abundante? Não, não existe. Ainda mais pra mim. Porra, o que eu estava pensando? Que eu seria aquele sorteado que se fodeu a vida toda só para se dar bem no final? Ha-ha. Jamais, né.
Tô preso. Desesperado. Ávido por uma resposta. Meu infinito tem numeração e Deus, como eu queria mais números. É doloroso porque posso tê-los. Mas estou preso e impedido de pega-los. Porque eu não merecia isso?
É muito para o meu final feliz. Sempre soube. Estou fadado à amargura. Ao fim solitário. E eu sou só mais um nesse turbilhão de sentimentos. Não sou o primeiro, nem o último. Quedas doem muito. Muito mais do que eu gostaria. Mas eu não sei viver fora dos excessos. Não sei não sofrer por antecipação. Não sei.
Eu só queria poder pegar mais números para o meu infinito. Mas estou preso. Cansado. Cansado da dor. E o meu medo só aumenta. Sim, medo de mim mesmo. Do que posso me tornar sem você. Medo do que posso voltar a ser. Os fantasmas assombram crianças fracas e amedrontadas. E eu temo ser uma delas. Porque eu sei quem eu sou com meu travesseiro.
Só ele sabe os pensamentos suicidas que me visitam todas as noites. Só ele, além de você, consegue acalmar minhas madrugadas de tormenta. Mas ele não pode ser você. Já você, pode muito bem ser ele. Dormir com a sua respiração talvez seja a melhor coisa do mundo.
E temo estar perdendo, junto com a minha sanidade que se esvai a cada lágrima caída.
“Ele vai estar na faculdade, desencana”. Você se lembra de quando a sua melhor amiga de infância me disse depois que você comemorou que ia estudar em outro estado? Foram exatamente essas palavras. Eu estava feliz por você, mas não sabia que era isso que estávamos comemorando. Eu sabia que era fruto do seu esforço e que você merecia isso.
O problema é que eu gostava mesmo de você. Pra valer. Você me acordava com um sol no rosto todas as manhãs e eu queria isso pra sempre. Eu estava caindo rápido por você, como naquela música da Avril Lavigne.
Em um mês, você era meu porto seguro. Eu sentia que você sempre estaria lá por mim. E agora você está indo embora. Não é pra sempre, não é por algo ruim. Você não morreu e essa é a coisa certa a ser feita. Lembra que você viu que eu estava triste, estragando a sua despedida e você então, me chamou num canto e perguntou, como você me vê?
Eu não soube responder. Minha vontade de chorar estava insana. Como eu te via? Como alguém que eu estava perdidamente apaixonado. Condenado, como você me disse uma vez no parque, que sem você saber, agora considero como nosso.
Eu amo ser exagerado, mas não é exagero quando digo que realmente gosto muito de você. E acho que é muito para o meu final feliz. Eu não valho tudo isso, você diz e eu sempre discordo na mesma hora. Hoje em dia, eu sei que você não vale a roupa que veste. Mas eu sempre te enxerguei mais do que você era.
Houve uma época em que eu sempre discordaria disso, porque você está marcado em mim. Sei que você vai ler tudo isso, apesar de não dever. Só sei que me sinto dentro de um livro daqueles que chorei muito ao ler. E Deus sabe o quanto eu desejava estar dentro de um deles, mas precisava ser tão ao pé da letra?
Hoje eu sei que devia ter deixado você ir embora. Na época, eu não sabia.
Eu seria hipócrita de dizer que não sentirei saudades dos nossos sábados em São Paulo, dos cafés na Starbucks, de dormir com você e de te beijar na praça de alimentação do shopping. Está tudo guardado dentro de mim.
Sei que esse parece um texto triste, mas não é. Estou orgulhoso de você. Mas hoje, não estou orgulhoso da pessoa que você se tornou como eu achei que estaria anos atrás.
Eu sempre achei que você era muito para o meu final feliz. Mas a verdade é que eu era muito. Muito pra você merecer. Eu é que era muito para o seu final feliz.
“Eu vou te ajudar com isso e você vai ganhar esse concurso”, e eu queria mesmo te ajudar naquele dia. Eu tinha prometido naquele dia que você me chamou pra ir na Starbucks. Cada centímetro meu estava implorando pela próxima vez que nos veríamos. Ok, implorando não. Eu só estava torcendo muito, e você sabia disso. E ela veio mais rápido que eu imaginei, porque você conhecia alguns lugares que poderíamos ir em segurança.
Você me disse que queria ir no cinema e eu topei, sem pensar duas vezes. Me atrasei, como sempre, mas cheguei no shopping com aquele sorriso no rosto que eu mantinha desde a última quarta-feira e que todo mundo tinha reparado, em todos os lugares.
Leia ouvindo: I know places, Taylor Swift
Cheguei e te abracei. Corri tanto pra pegar aquele ônibus. Poucas vezes eu corri assim por coisas que eu realmente queria. Ajudei você com o que você precisava para ganhar o tal concurso. Você me deu brownie na boca enquanto eu trabalhava. Você sabia que aquilo me deixava balançado.
Fomos para o cinema. Antes do filme começar, você me beijou ali na porta. Você me abraçou. Eu deitei no seu colo, você passou a mão no meu cabelo. Eu sequer me lembro do filme que estávamos assistindo, se não era sobre o nosso amor. Eu estava gostando mesmo de você. E você sabia.
Eu achava tão fofa a maneira com a qual você me tratava. Você me beijava, não só na boca. O filme ficou em segundo plano e eu não sabia que estava no cinema. Eu só queria guardar aquelas memórias o máximo possível porque meu inconsciente devia saber que nós tínhamos um prazo de validade. Eu disse que você era alguém saído de um livro da Jane Austen.
Aquele lugar era tranquilo, com você. Era um refúgio, de tudo o que o mundo podia fazer. Aquele abraço que você fechou com os nossos rostos enquanto segurava a minha mão e eu cantarolava Taylor Swift. Just grab my hand and don’t ever drop it… DON’T EVER DROP IT. Talvez tenha sido uma das melhores noites da minha vida. E você sabia disso.
Eu poderia ficar aqui, escrevendo páginas e páginas sobre como me senti, como me descobri ou ainda poderia escrever a próxima continuação de Cinquenta Tons de Cinza. Eu poderia descrever em detalhes quando o filme estava próximo de acabar e você me puxou pela mão e me beijou com gosto de cereja na porta de saída do cinema, no escuro. Quantas reticências.
O meu sorriso estava dez vezes mais forte que qualquer outra vez na minha vida e era interminável. Nada conseguia tirar o meu bom humor naquele momento, porque eu sou assim quando estou gostando pra valer de alguém. Parece que tenho poderes mágicos. Crio histórias, danço no ritmo da música, tudo ganha um significado especial em forma de palavras. E droga, você sabia disso.
O meu rosto se ergue feito botox, a pele melhora, o sono some ou vem avassalador com os sonhos do futuro perfeito. Nós éramos infinitos aquela noite, aceitando o amor que achamos que merecemos, nem parecia que a página seguinte do meu capítulo estaria manchada de lágrimas.
Eu te acho perverso. Como alguém que me beijou com gosto de cereja na porta do cinema e me deu brownie na boca poderia ser tão… frio? Você fez tudo isso comigo e com mais outras cinco pessoas nos outros dias da semana. Você sabia que eu estava me apaixonando. Você sabia que me tinha na mão, que eu era seu, que eu sempre fui. Até hoje eu não sei o porquê.
Porque você sabia. E isso te dava mais vantagem nesse jogo que eu não queria ser o ganhador.