Após rejeitar um caso promissor, Cormoran atira às cegas e acerta bem no meio do alvo. O segundo romance da série “Cormoran Strike” elimina todos os concorrentes do gênero, traz à tona o bom e velho gênero policial. Em Londres, hoje, pouco se fala de Sherlock e Watson, outra dupla figura nos jornais e na televisão.
Resenhar um livro de J.K. Rowling sem ser tendencioso é algo impossível quando o escritor é um bruxo. É isso que todo e qualquer fã fala antes de escrever algo do gênero, e, por mais que tente, não posso fugir do clichê. “Morte Súbita” demonstrou que Joanne sobreviveria em qualquer meio literário, já o “O Chamado do Cuco” surgiu para reafirmar: “J.K. Rowling consegue ser J.K. Rowling até quando não é J.K. Rowling.” O segundo volume da série devasta qualquer leitor. Com um início parecido com o de “Cuco”, cheio de dúvidas sobre assassinato ou desaparecimento, o leitor logo descobre que Owen Quinne está muito mais que morto.
Algo que melhora entre “Cuco” e “Seda” é a relação entre Cormoran e Robin. No segundo livro podemos notar um maior envolvimento dos dois, e é de conhecimento geral que a maioria dos fãs “shippa” o casal, mesmo que Matthew, o noivo da secretária, marque presença na maioria das páginas destinadas à personagem. O ponto forte de “O Bicho-da-Seda” é o fato de falar sobre o mercado literário. Digamos que J.K. Rowling fez questão de demonstrar como é suja a seleção de originais, a publicação de renomes e como se sente um escritor em crise. A própria sofrera em seu início de carreira, quando teve seu “Harry Potter e a Pedra Filosofal” rejeitado por doze editoras no Reino Unido. O simbolismo usado em “O Bicho-da-Seda” é algo secular. O uso de obras clássicas em meio aos capítulos só deixa tudo mais sofisticado e com a real feição Londrina.
A conclusão do romance deixa todo leitor boquiaberto. A teia construída por Joanne resulta em um menestrel literário. Não foi só um assassinato. A morte, juntamente com o desfecho, vira um afresco que deve ser admirado por séculos. O discurso existencialista abordado nas quatrocentas e poucas páginas é feito lentamente, mas com uma eficácia tremenda. Cormoran é a fantasia real que faz falta em meio a distopias e livros juvenis com pouco conteúdo.
O plano de fundo usado por Rowling, desde Londres a estradas pintadas por nevascas, foi altamente elaborado. Sente-se o cheiro da fumaça londrina, da espessura dos prédios seculares, é o estopim da Literatura Policial. Muitos julgaram “Seda” um livro enfadonho, sem atrativos. O segundo volume da História de Strike, para mim, é eletrizante, não se desgruda, não se esquece das frases lidas. Um realismo fortíssimo foi empregado em cada parágrafo, desde as partidas do Arsenal assistidas por Cormoran até as discussões de Robin com seu noivo. Joanne só precisou de um assassinato para provocar a crítica mundial. Um assassinato para desbancar o mercado das letras, ao qual faz uma crítica ferrenha. Rowling obriga o leitor a desvendar o mistério. Ou descobre ou descobre, não existe outra opção. Como dissera Strike em uma conversa com sua secretária sobre o assassino: “Eu sinto o cheiro, Robin”. Se pudesse, o completaria, e afirmaria “O Bicho-da-Seda tem o cheiro do melhor livro do ano. Cheiro de obra que não se desfaz através dos anos”.
Seremos presenteados com a adaptação das aventuras (ou desventuras) de Strike para a televisão, a BBC já anunciara. Será uma grande estreia do mundo das séries, assim como foi no âmbito literário.