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The Epic Battle: Weasley, Éponine, Mulan e quem quiser

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem. Somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” Simone de Beauvoir

“Não devo nada ao movimento de libertação das mulheres. As feministas odeiam-me, não é? Não as posso culpar uma vez que odeio o feminismo. É puro veneno.” Margaret Thatcher.

Anos e anos de luta constante. O movimento feminista carrega milhões desde meados do século XIX. A ONU, no segundo semestre de 2014 lançara a campanha “He for She”, usando como porta-voz e embaixadora a atriz Emma Watson, que nas telas já fora bruxa, ladra, adolescente em crise e até personagem de épico bíblico. Fora dos cinemas, Watson defende ideais fortes com palavras simples. A jogada da Organização das Nações Unidas foi essencial para o sucesso do evento. Usar a atriz mais falada do século XXI como “garota propaganda” caiu como uma luva nas mãos do feminismo. Os jovens, que por mais de uma década colecionaram imagens de Emma, decoraram suas falas, o nome de seus parentes, seu nome do meio e até mesmo o seu endereço, hoje levantam o punho e gritam: “Women Unite”. Como dissera Victor Hugo: “Existe uma coisa mais poderosa do que todos os exércitos do mundo, e esta coisa é uma ideia cujo tempo chegou.” A era Feminista é a nossa; a literatura, o cinema e a música mostram isso.

A “The Epic Battle” desta semana colocará frente a frente personagens de ramos diferentes, de épocas diferentes, mas em sua maioria com pensamentos iguais. Conhecido mundialmente, o romance de Victor Hugo, o mesmo da frase citada acima, “Os Miseráveis” (1862), apresenta uma das melhores tramas da literatura francesa, e uma das melhores personagens também. A jovem Éponine, ao ver o povo cantado em plena Noite da Insurreição, ao ver as barricadas sendo formadas em uma França que almejava por sangue, transformara seu rosto. Éponine rasgara as roupas convencionais de uma mulher, derrubando as regras de uma sociedade que mesmo com seu ar revolucionário ainda persistia com ideais machistas, a adolescente vestiu-se como um homem e foi à luta. Éponine morrerá sobre os braços de Marius. Séculos após podemos fitar uma cena parecida. No filme da Disney, Mulan provoca tal impacto. Destinada ao público infanto-juvenil, a animação carrega consigo mensagens de puro feminismo de “Segunda Onda”. Nos livros, outra mulher também usa trajes masculinos, mais precisamente em “O Senhor dos Anéis”. Éowyn, sobrinha do Rei Théoden de Rohan, nascida na 3º Era do Sol, vai à luta mesmo contra as ordens e regras de seu reino. Um fato interessante é que na trama de Tolkien, Éowyn (disfarçada de homem) enfrenta o Rei Bruxo de Angmar, sobre ele uma profecia pairava, uma profecia de mil anos, a qual dizia que tal rei não cairia pela mão de um homem. Quando o Senhor dos Nazgûl introduz seu histórico em plena guerra, Éowyn retira o elmo e fala: “…Mas não sou nenhum homem mortal! Você está olhando para uma mulher! Sou Éowyn, filha de Éomund…”. É o estopim feminista em plena década de 50.

No especial “As Mulheres de Harry Potter”, afirmara Joanne Rowling: “Uma mulher pode lutar tanto quanto um homem. Pode fazer uma magia tão poderosa quanto a de um homem”. Em “Harry Potter” (1997-2007) as suas mulheres traduzem a ideologia do movimento Feminista. Molly Weasley, que criara seus sete filhos com toda paciência do mundo (ou não), revelou-se no último livro. Minerva, sem demonstrar sentimento algum, comandara um exército. Hermione Granger é a personificação da inteligência e ousadia. Tonks concilia o nascimento do filho com uma iminente guerra. As mulheres de Harry Potter representam a política igualitária, a política da libertação de dogmas. Voltando para o universo das animações, temos as garotas do “Let it go”. Frozen comanda a remessa de filmes da “nova Disney”, lado a lado com Elsa vem “Brave”. Está em alta construir princesas independentes, com rostos muitas vezes maquiavélicos, as produções se adaptam para vender.

Em poucos dias o filme “Cinquenta Tons de Cinza” chega aos cinemas, mesmo não aprovando a escrita e o enredo, defendo que E. L. James deixa clara a mensagem feminista também presente na história de Anastasia. Muitos discordarão mas em “Cinquenta Tons de Cinza” não é a subjugação que fica em destaque, mas sim o poder que a mulher apresenta sobre seu corpo,  é o território onde tal pode atuar ou deixar que outra pessoa atue. A vez dos mocinhos se perdera no tempo, a bola está com elas, independente do gênero. Arya Stark e sua Agulha provam isso, juntamente com a garota Targaryen e a rainha em decadência, Cersei. O combustível que move as engrenagens das artes de nosso século é feminista. Mas existe o outro lado, o machismo que persiste, por mais que escritores, produtores e tantos outros profissionais desejem retirá-lo de cena. Diferentemente de Katniss ou Tris, podemos observar no mundo das séries personagens dependentes, extasiadas frente aos acontecimentos, um exemplo vem de “Reign”. É típico das séries da CW inserir, nem que seja no meio da história, um triângulo amoroso. A adaptação da história de Mary Stuart, Rainha da Escócia, é um ultraje à memória da mulher que um dia comandara nações. Assim como acontece na série do mesmo canal, “The 100” nos apresenta outra personagem sem atrativos, que vez ou outra tem traços de independência, mas só em raros momentos. Clarke representa o antigo modelo de mulher, a que aguarda o avanço para poder pegar carona neste.

Na literatura o exemplo mais comum de anti-feminismo são as histórias de Meyer. Bella mais se identifica com uma dona de casa do século XX do que uma senhora de seu destino. Ela é espectadora, quando deveria ser protagonista. Sempre existirão os defensores e os reacionários, ideologias nascem para isso. Cabe ao bom senso levantar a bandeira que bem lhe couber.

Igualdade busca o feminismo que brotara há décadas, igualdade procura Emma com seus discursos. Não é sobrepor a mulher frente ao homem, é colocá-los em patamares idênticos. Presenciamos uma quarta onda, uma avalanche de informações que devem ser captadas e bem analisadas por nós, leitores assíduos. Feminismo não é utopia. Feminismo é presente, e já cantara Elis Regina, “O novo sempre vem”, mesmo que não seja novo, façamos atualidade as velhas ideias. Ideias de um movimento que ainda apresenta tanto a oferecer.

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