Era 23 de novembro de 1963. Os Estados Unidos viviam um dos momentos mais importantes da história política do país. Após o assassinato em público do até então presidente John F. Kennedy, acontecimentos estranhos marcam a vida de pessoas por toda parte no estado do Texas.
Em Dallas, rostos de pessoas mortas há tempos aparecem em marcas de café, janelas molhadas pela chuva e até manchas de lama pelo chão. As Mortalhas, alienígenas que invadem a Terra e se alimentam da tristeza e sofrimento das pessoas, ganham vida, gritam e assustam a todos.
É nesse contexto que o Décimo Primeiro Doutor, ao lado de sua parceira Clara Oswald, precisam dar um jeito na ameaça vinda do espaço e trazer de volta a paz ao país que já lamenta a perda de um grande líder.
Tommy Donbavand, que além de autor, ator, dramaturgo e palhaço, é um grande fã de Doctor Who, conseguiu sintetizar todos os recursos exibidos pela série da BBC. Sua escrita, leve e precisa, dá espaço para aquilo que todo fã do Doutor – qualquer um deles – gosta mais: o humor. Não há maneira de falar do livro sem mencionar o humor característico e o sarcasmo nada sutil presente em praticamente todas as passagens do livro.
Para quem não está acostumado com esse tipo de linguagem, talvez, pareça estranho e até mesmo um pouco maçante toda essa “graça” presente no texto. Em diversos momentos relativamente tensos o perigo é quebrado com alguma piada pronta que o Doutor faz questão de soltar no momento menos oportuno. Sua parceira, Clara, segue a mesma linha e atua como um complemento ao que o Décimo Primeiro Doutor representa no livro.
O enredo é bem concentrado, partindo da descoberta de um problema até sua solução. Alienígenas, assim como na série televisiva, fazem parte de toda a história, que oscila entre ideias mirabolantes e personagens pouco complicados de serem entendidos – exceto o Doutor.
Um aspecto interessante a ser pontuado é a forma como o contexto histórico é apresentado ao leitor. Aqui no Brasil as pessoas costumam saber muito pouco da história política do país, imagine então da política americana… Sendo assim, o autor fez um bom trabalho em apresentar o contexto envolvendo um dos principais acontecimentos políticos da história dos Estados Unidos e criar um elo de ligação entre o fato e todos os personagens – tanto principais quanto secundários.
Sobre a edição, que foi trazida para o Brasil sob o selo da Suma de Letras, não há muitos detalhes a serem pontuados. As pouco mais de 170 páginas são bem diagramadas, não cansam o leitor e tornam a experiência de “ler Doctor Who” tão boa quanto a de assisti-lo. A capa, indo no mesmo ritmo da história, possui elementos visuais diversos e bem representativos, porém, pode não agradar aqueles que gostam de ter uma edição diferente na estante para chamar atenção. Nada inovadora.
“Doctor Who: Mortalha da Lamentação” é um livro simples, leve, que tem o tato de divertir a qualquer um, seja fã ou não da série da BBC. Não é necessário conhecer precisamente a história do Décimo Primeiro Doutor, ou de qualquer outro para dar boas risadas página após página. Uma boa ideia para quem não tem o hábito de ler, mas que está à procura de uma leitura mais dinâmica e menos trabalhosa para entrar no universo da literatura
Imagem: Doctor Who Brasil