Sinopse: Uma tragédia afastou para sempre Bruno de seu irmão Mateus. Sem seu melhor amigo e confidente, ele se prende a lembranças e tenta superar o luto.
Entre angústias e o crescimento pessoal, ele precisará definir do que é possível abrir mão em nome da felicidade, mesmo que isso represente viver de um modo que seus pais podem não aceitar.
Enquanto define o que deseja de seu futuro, Bruno irá descobrir que nossas existências são feitas de momentos e que cada um deles é um aprendizado nesse caminho longo chamado de vida.
Quando recebi o primeiro texto sobre “Caminho Longo”, algo já despertou em mim aquele comichão pra ler, ainda mais que sou apaixonado por romances e dramas, com a qualificação de que era LGBT. Me ganhou pela temática. Recebi o livro do autor um pouco tempo depois e comecei a ler no dia em que terminei meu TCC, querendo esfriar a cabeça e passar um tempo livre. Eu tinha uma hora de leitura antes da faculdade e pensei, bom, vou começar o livro e depois termino. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.
Caminho Longo conta a história de Bruno, um garoto gay que ainda está se descobrindo como tal. Ele sabe que é diferente dos outros de sua idade e sabe que há uma remota possibilidade de gostar de garotos. A trama tem um prólogo que me deixou ansioso e um desenvolvimento rápido, que mostra Bruno criança e logo depois, já no ensino médio, quando conhece Luiz, sua primeira paixão avassaladora.
O romance com Luiz logo se desenvolve em proporções inimagináveis. Eles ficam juntos no colégio, saem pra tomar café e ir no cinema depois dele, viajam pela primeira vez juntos e tem outras primeiras vezes que acontecem de forma tão sutil no livro que chega a ser bem fofo. Isso é algo que vale destaque, porque poucas pessoas conseguem dosar a sutileza de uma cena de sexo a ponto de saber que ela está ali, mas não a ponto de chegar no erótico-sensual-maior-de-idade.
Ao longo desse caminho, Bruno ainda não se assumiu para sua família, mas sempre teve o apoio do irmão mais velho, Mateus, que é precocemente e brutalmente morto em um assalto logo nas páginas iniciais. Sim, você chora já de início e foi isso que me fez não largar o livro depois da minha primeira hora de leitura e ir pra faculdade lendo depois. Terminei logo em seguida, incapaz de deixar pra trás sem saber o que aconteceria dali em diante.
O livro tem elipses temporais que vão e voltam, até que chega no ponto presente em que a história se desenvolve com uma certa linearidade. Não é confuso de entender, muito pelo contrário, o autor deixa bem claro quando se trata de uma lembrança e quando se trata de presente, o que também torna a leitura mais agradável.
Na época da morte de Mateus, descobrimos então, que Bruno não está mais com Luiz, seu primeiro amor, mesmo achando que eles ficariam juntos para sempre. Luiz passou em uma faculdade em outra cidade e o relacionamento não sobreviveu à distância. Cada vez mais longe, Luiz deu o gostinho doloroso e ácido de sua ausência para Bruno, seguido da pancada de uma traição na festa universitária. Essa parte do livro dói como um tiro, e se você já foi traído alguma vez na sua vida, vai te fazer rememorar da mesma forma e sofrer na pele de Bruno. A escrita bela de Vinícius Fernandes é ao mesmo tempo, brutal para o nosso coração fraco de leitor.
Bruno segue em frente com amores rasos, cada vez mais se decepcionando com as pessoas. Sonhando em ser escritor, lança o primeiro livro que é sucesso de vendas e conhece Diego, um fã que acaba por ser o grande amor de sua vida. Não é o primeiro, não é o segundo e tudo nos leva a crer que é o verdadeiro. E somos enganados mais uma vez. Depois de se assumir para os seus pais, se mudar para a casa de Diego e depois para o Canadá (!!!), Bruno e Diego começam a esfriar o relacionamento, como quem se perdeu e não sabe como se encontrar. Até tentam chamar uma terceira pessoa, Sam, por quem nutro ódio mortal para uma noite de aventuras, fato que aparece só afastar os dois ainda mais. Pausa para falar que uma parte sadomasoquista de mim gostou do relacionamento ter ido para a ruína depois de chamarem Sam para um sexo a três. Sempre tive a opinião de que isso mais atrapalha que ajuda e vê-la confirmada, mesmo que na ficção me traz uma pontada de paz interior.
Bruno até tenta salvar o relacionamento, mas Diego fica imaginando outra pessoa ao seu lado. Nada vai pra frente dessa forma, infelizmente e o livro se encerra com mais acontecimentos brutais na vida de Bruno que o levam para caminhos cada vez mais diferentes pelos quais nunca imaginou passar. “Caminho Longo” é uma leitura leve, daquelas que você consegue e precisa terminar em uma única leitura, mas espinhenta com muitas adagas enfiadas no seu coração. Mas o que mais eu poderia esperar de um drama, certo? Leitura obrigatória para quem é LGBT e já sofreu com decepções amorosas, o autor parece acessar a mente do leitor de alguma forma assustadora mas que traz aquela sensação de cura e calmaria. Recomendo muito (não só porque meu lado sádico gostou de sofrer com Bruno, mas também porque é realmente um bom livro).
Comentários do Facebook
Sem comentários