Resenhas

Resenha: A Comissão Chapeleira, Renata Ventura

Atormentados pelos crimes que cometeu em seu primeiro ano como bruxo, tudo que Hugo mais queria naquele início de 1998 era paz de espírito, para que pudesse ao menos tentar ser uma pessoa melhor. Porém, sua paz é interrompida quando uma comissão truculenta do governo invade o Rio de Janeiro, ameaçando uniformizar todo o comportamento, calar toda a dissensão, e Hugo não é o único com segredos a esconder. Para combater um inimigo inteligente e sedutor como o temido Alto Comissário, no entanto, será necessário muito mais do que apenas magia. Será preciso caráter. Mas o medo paralisa, o poder fascina, e entre lutar por seus amigos, ou lutar por si próprio, Hugo terá de enfrentar uma batalha muito maior do que imaginava. Uma batalha com sua própria consciência.

Aviso: Pode conter spoilers do volume anterior, A Arma Escarlate.
Leia nossa resenha aqui.

Sinceramente, não sei como iniciar ou escrever a resenha desta obra de arte magnânima, mas vou tentar, juro que vou. Mas tenham certeza que, posso escrever um livro enorme falando de A Comissão Chapeleira e ainda assim não conseguirei explicar o que realmente senti lendo este livro.

Depois do sufoco que Hugo Escarlate causou em sua escola de bruxaria do Rio de Janeiro, Nossa Senhora do Korkovado, no ano anterior, tudo o que o garoto queria, era paz. Paz para tentar ser uma nova pessoa, paz para se redimir de todos os seus erros, cujas consequências não só o atingiram, mas também, seus amigos e pessoas próximas.

O garoto agora ganha o próprio dinheiro como aprendiz de varinheiro, mora junto com a mãe e a família de Caimana Ipanema e parece que sua vida finalmente tomará o rumo certo, apesar de ainda estar pagando pelos erros do ano anterior, a começar, pelo roubo de sua varinha escarlate, que a primeira vista, não pareceu uma grande coisa.

O ano é de eleições, e assim como o mundo mequetrefe, o mundo bruxo fica rodeado de propagandas, com muitos candidatos corruptos e mentirosos, como não poderia ser diferente. Só um salva, Átila Antunes, aquele que Viny nutre o mais profundo respeito e admiração e que tem tudo para ganhar as eleições.

Após um prólogo assustador, a primeira parte do livro se baseia nessa introdução a nova vida do Hugo e como seus amigos se adaptaram a ela, mostrando também, seu retorno a escola e uma série de acontecimentos que desencadeiam o resto do enredo deste livro. Não dá para eu me estender muito falando sobre estas pequenas histórias sem contar um spoiler porém, devo confessar que um fato em particular deste início me surpreendeu bastante e me fez pensar, será a Renata uma vidente? Afinal, algo idêntico havia acabado de acontecer no mundo azêmola… E o livro já estava escrito faz um bom tempo. Bom, aqueles que leram, saberão do que estou falando e aqueles que não, corram para a livraria mais próxima ou, lidem com a curiosidade. Ela não vai te deixar dormir, não vai te deixar pensar…

Com o fim das eleições inicia-se uma reforma no mundo bruxo, começando pela educação. Uma misteriosa comissão de controle chega à escola, liderada por um homem um tanto misterioso, que até então chamarei de Adriano para manter a devida identidade do ilustríssimo senhor preservada. Ele, extremamente misterioso, tira suspiros de qualquer pessoa por sua aura de extrema sofisticação, como se nada o abalasse. Ironicamente, Viny apelida este grupo de homens vestidos de preto e chapéu coco de A Comissão Chapeleira, sem saber então, do duro futuro que os aguardaria a partir de então.

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Agora tem outro livro fotogênico para acompanhar o primeiro! Coloquei até uma baianinha ali, para ilustrar a Cidade Média, terra dos Caramurus, escola de magia da Bahia que nos é apresentada nesse segundo volume.

Ao ler os comentários da contracapa do livro, já aguardava por uma história um tanto sofrida, fato que se comprovou durante a segunda parte do livro, que me prendeu de maneira sobrenatural e me arrancou as mais variadas emoções. Como leitor, me senti dentro da história, um pixie que estava ao meio de toda a truculência que o enredo me apresentou. Não existiam palavras na minha frente e sim, os cenários mágicos que a autora descreveu de maneira tão majestosa. O jeito que a Renata descreve, conjugado com o fato da história se passar em território brasileiro, te faz entrar nas páginas do livro de uma maneira inexplicável, e conhecer seus personagens como se eles fossem seus melhores amigos, como se você fosse a pessoa que os criou. É um laço forte que conquistamos com eles, que os torna reais. Tão reais como você, lendo esta resenha e eu, tentando colocar em palavras o que senti ao ler esta história fantástica.

Mas as surpresas não param por aí. A Comissão Chapeleira, não é um simples órgão do governo, que propõe uma simples ordem no país. É uma organização corrupta e doentia, que traz para dentro do mundo bruxo, a realidade mequetrefe dos anos ditatoriais, mesclado com o advento mágico, o que torna aquilo que já conhecemos um tanto pior de ser lido, e vivenciado. Eu, como grande curioso, conheço bastante (através de pesquisas e histórias) a subjugação do Brasil aos anos ditatoriais, que até então pareciam algo bem distante, alheio a realidade, fato que mudou durante a leitura da obra de Renata Ventura, que fez uma mistura espetacular com toda a criatividade possível, e trouxe até mim, aquilo que antes estava distante, e isso é incrível. A capacidade da autora de produzir magia com palavras combinadas. Uma aura mágica emana de A Comissão Chapeleira.

Bom, finalmente chegamos a terceira e última parte do livro, que me fez parar de lê-lo inúmeras vezes, sem forças para continuar e acreditar naquilo que estava se desdobrando a minha frente. Devo ter lido cada frase no mínimo umas duas vezes, meu cérebro não processava, é inacreditável… Muitos livros são capazes de despertar emoções nos leitores, e sabemos que existem aqueles mais propensos a elas, e os menos propensos. Claro que a maioria dos livros me faz rir, me deixa angustiado mas A Comissão Chapeleira me fez chegar ao extremo. Fechei o livro inúmeras vezes, só para retomá-lo no segundo seguinte. Nunca fiquei tão aflito, com o rumo que meus personagens preferidos tomaram, em especial o Capí, que me deixou mais angustiado que qualquer coisa nesse mundo.

Quanto mais me aproximava do fim, mais minha aflição para saber mais aumentava, assim como o meu medo. O livro dá medo. Não tenho palavras suficientes para comentar sobre esta terceira parte em especial. Enquanto eu lia, ficava aflito para comentar com alguém o que eu tinha acabado de presenciar, para tornar aquilo real, mas não havia ninguém por perto! Mandei mensagens para vários amigos, comentando sobre o livro, mas ninguém entendia o porquê da minha aflição e como eu poderia ficar daquele jeito por um simples livro. Mas garanto uma coisa para você que leu até aqui: A Comissão Chapeleira não é um simples livro. É um portal para uma realidade alternativa, um livro transformador. Você pode achar exagero meus elogios a ele nesta resenha mas, antes de julgar, peço que o leia e volte para discuti-lo. Não se arrependerá, tenho certeza.

E eu, que havia sofrido com o conflito na Lapa durante A Arma Escarlate, mal sabia que o que me esperava nessa sequência seria mais arrasador em proporções inimagináveis. Dito isso, só me resta confirmar o que já é alertado na contracapa: encomende um coração a mais, ou até dois, e ainda não serão suficientes. Se ainda não era minha série preferida, acabou de se tornar e, ainda estamos no segundo livro. O que será que nos aguarda nos próximos volumes? Mal posso esperar para saber, porém, preciso de um tempo para me recuperar dessa surra literária que a narrativa inigualável de Renata Ventura me deu.

Quantas estrelinhas eu dou para o livro? Acho melhor você clicar aqui.

Aviso: Dei um aviso parecido ao final da minha resenha de “A Arma Escarlate”, dizendo que este causa dependência mas, este segundo livro causa ainda mais! A escrita da autora evoluiu em escalas gigantescas, o que nos fez amadurecer junto com os personagens. Antes de finalizar porém, quero reforçar que este livro é extremamente raro. Não me lembro da última vez que me senti tão ativo dentro de uma história, como me senti nesta.
PS: Shippo Nádia e Índio <3

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Renata Ventura assinando meu livro na Bienal de São Paulo <3

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