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Resenha: Traços, Eduardo Cilto

Foi durante a 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que tive a oportunidade de conhecer Eduardo Cilto, autor de Traços – seu romance de estréia. Eu tinha acabado de comprar meu exemplar, e é claro que não perderia a chance de pedir um autógrafo. Enquanto ele autografava, eu mal podia imaginar que a história escrita por Edu se assimilaria muito com a minha própria história. Aquela que tracei e ainda traço para mim mesmo.

“Ninguém precisa tentar entender ou julgar o que acontece do lado esquerdo do peito de cada um. No fim, nada mais importa se o sentimento é verdadeiro, certo?!” – Eduardo Cilto (Traços)

Sabe aquela amizade da qual você tem certeza de que irá durar para sempre? Simplesmente porque você não se vê sem a outra pessoa. Mal consegue se lembrar de como era sua vida antes disso. Essa é a amizade que Matheus, ou simplesmente Math, cultivava com Beatriz.

Math é aquele cara legal, porém nada popular. Seu fanatismo por quadrinhos e séries americanas, fazem dele um habitante de seu próprio mundo, no qual vive são e salvo de qualquer loucura, comum entre os adolescentes. Bebidas alcoólicas? Nada disso. Sair de casa sem dar satisfação aos pais? Nem pensar. Sair no meio da noite para encontrar uma garota? Isso é loucura!

Já Beatriz, é completamente o oposto do melhor amigo geek. Sem medo de se arriscar, ela simplesmente vai atrás das coisas que quer. E não precisa da aprovação de ninguém para isso. As vezes o excesso de opinião própria e persistência em suas idéias, fazem a garota agir de modo grosseiro em determinadas situações em que é contrariada ou tem seus sentimentos mais profundos postos a prova.

Foi numa festa junina do colégio, que Math e Beatriz viriam suas vidas começarem a mudar radicalmente. Ao começar pela garrafa de bebida que pela primeira vez, havia sido esvaziada por ele e não por ela. Durante toda aquela euforia, os dois foram convencidos por Fernanda, que se dizia bruxa, a irem para sua casa, onde ela poderia provar seus poderes num ritual mistico. E assim, mais uma vez, Math se viu envolvido em uma das loucuras de Beatriz. A garota queria a todo custo ouvir o que a tal bruxa tinha a dizer sobre seu futuro.

A noite se mostrou mais longa do que deveria, e após uma pitada de drama, Beatriz saiu daquele ritual (de origem duvidosa) decidida a encontrar seu destino, que estava a milhares de quilômetros dali. Em São Paulo. E é claro, que mesmo não topando inicialmente, Math não foi capaz de deixar sua melhor amiga partir rumo a maior cidade do Brasil sozinha. Os dois embarcaram nessa viagem juntos!

A viagem para São Paulo durou apenas alguns dias, mas foram tantos os acontecimentos, que esses dias pareceram durar longas e intermináveis semanas. Repleto de drama e reviravoltas, Traços acaba de uma forma inesperada e surpreendente. O destino nem sempre é aquele que nós esperamos que seja. Cada um é responsável por traçar o seu, mas os resultados não dependem simplesmente de nossas vontades.

Repleto de referencias a séries como American Horror Story e filmes como Harry Potter, a leitura de Traços é gostosa e reconfortante. O protagonista não é alguém dotado de qualidades magnificas e está longe de ser super fodão. Math é completamente comum, assim como a maioria de nós, e é isso que o torna tão apaixonante e nos faz identificar-se de alma e coração com ele.

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Resenha: Sombrio, Luke Delaney

“Quando um corpo é encontrado na floresta com sinais de tortura e sadismo, o detetive Sean Corrigan entra na investigação. Ele sabe que está atrás de alguém que tem o estranho prazer de sequestrar as mulheres e as manter em cativeiro, antes de matá-las.
O assassino, um homem obcecado, busca em cada mulher que sequestra ao menos uma sombra da ‘garota de seus sonhos’. Mas parece que nenhuma delas chega aos pés da mulher perfeita que ele almeja. No dia que ele a encontrar, será para sempre. Mesmo que ela não queira.”

Nunca senti tanto medo e fiquei tão angustiada ao ler um livro, como fiquei com Sombrio. Embora o título em português ter sido traduzido de modo diferente (em inglês se chama “The Keeper”), o nome é perfeito para representar o tom pesado do livro. Sombrio é o segundo livro da série do Detetive- Inspetor Sean Corrigan, devo confessar que não li o primeiro, Brutal, mas agora estou super curiosa para conhecer um pouco mais das histórias do escritor Luke Delaney.

Sean Corrigan trabalha no departamento de investigação de homicídios em Londres, mesmo não sendo de sua responsabilidade, ele e sua equipe são designados a investigar um misterioso caso de desaparecimento.

A desaparecida é Louise Russel, uma jovem de 30 anos, sequestrada em sua própria casa, lá há vestígios de clorofórmio no chão, seu carro foi deixado numa floresta e as pistas que levam ao culpado são escassas, mas as investigações se iniciam e eles correm contra o tempo, antes que o desaparecimento se torne um caso de homicídio.

O sequestrador, Thomas Keller, viveu uma infância muito difícil e traumática, na sua infância se apaixonou por uma colega de escola, chamada Sam, porém não teve seu amor correspondido, por esse motivo começa a procurar uma substituta para ela, que vai amá-lo do jeito que ele sempre sonhou.

Ele procura mulheres – todas jovens, altas, de cabelos castanhos e curtos e olhos verdes, parecidas com Sam – que irão satisfazer suas fantasias. É movido pela sua obsessão, portanto não tem o menor cuidado em não deixar vestígios de seus crimes, que acontecem em ciclos planejados ou não.

Primeiro, descobre tudo que puder sobre sua futura Sam, usando de um artifício ( que não posso contar, porque é spoiler), entra na casa da vítima, sequestra, leva até o porão de sua casa e a mantém por alguns dias trancada em uma gaiola. No começo a trata muito bem, porque não tem a menor dúvida que a mulher realmente é sua amada, mas logo sua fantasia não é o bastante, ele precisa de outra substituta. Então vem o terror, os estupros, a violência, os abusos físicos e psicológicos, ele mata a vítima e vai atrás de outra.

Quando o corpo de Karen Green é achado completamente machucado e violado, com as marcas do DNA do sequestrador de Louise, Sean entra na mente de Thomas e percebe o ciclo de suas fantasias, ele sabe que Louise tem pouco tempo e que outra garota será sequestrada. A partir de então, começa uma corrida contra o tempo para encontrar Louise e, impedir que ela seja a próxima a ser assassinada cruelmente.

Sombrio prende o leitor do começo ao fim, a narrativa em 3ª pessoa, varia entre o ponto de vista dos principais personagens, é possível saber o que ele estão sentindo e pensando, algumas vezes isso é um pouco perturbador

Eu nunca senti tanto ódio a um personagem quanto senti por Thomas Keller (até mais do que meu ódio por Dolores Umbridge, de Harry Potter, o que eu achava impossível). Quando a narrativa focava nele, eu me sentia mal. Sua mente é doentia, obsessiva, seus pensamentos e suas ações são sujas e você acaba se sentindo suja também. Traumas e sofrimentos moldaram sua personalidade, desde a infância ele é desprezado e humilhado pelos outros. Mas isso não é justificativa, ele é um ser humano que dá nojo.

Quando Keller estupra as vítimas (o que é descrito de maneira bastante explícita), ele coloca toda sua frustação e ódio nas mulheres. Mantê-las submissas e indefesas lhe traz satisfação. Como todo estuprador, submeter sua vítima a esse tipo de humilhação e violência é uma demonstração de poder e superioridade, que ele não encontra em outro lugar. É muito difícil ler essa parte da história, fiquei revoltada com o que ele fazia, minha vontade era de entrar no livro e tirar as mulheres daquela situação. O pior é pensar que isso realmente acontece com milhares de meninas e mulheres no mundo todo.

Sean Corrigan é um personagem singular. É muito dedicado a seu trabalho, vive e respira o trabalho 24h por dia. Sean tem um dom muito especial que o ajuda a solucionar os crimes, combinado com situações traumáticas de seu passado e uma imaginação fértil, ele consegue recriar os crimes em sua mente, entrar na cabeça do criminoso e ver com muita nitidez como os casos ocorreram, de forma quase mediúnica (o livro deixa claro que ele não é médium, mas eu ainda acho ele é sim!). Acho até um pouco exagerado, pequenas pistas já fazem com que ele descubra muito mais do que elas mostram, em muitos momentos achei seus dons um tanto forçados, a não ser que ele seja médium mesmo, só assim faz sentido.

Enfim, Sombrio é um livro que eu indico para todos aqueles que gostam de mistério e investigação policial. Mostra bem o cotidiano dos detetives e policiais, é muito interessante conhecer como os crimes são investigados. Mas já te aviso, você vai ficar angustiado. Toda vez em que ouvir os passos de Keller descendo as escadas que levam ao porão, seu coração vai disparar, sua respiração vai ficar acelerada, vai ter medo pelas mulheres aprisionadas, vai chorar quando forem violentadas e vai desejar mais que tudo que Sean encontre esse maluco.

Ps. Te odeio Thomas Keller!!! Se eu te encontrar um dia, não respondo pelos meus atos.

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Resenha: À Flor da Pele, Helena Hunting

Tudo na tímida Tenley Page intriga o tatuador Hayden Stryker de um modo que ninguém jamais conseguiu: do cabelo longo e esvoaçante com aroma de baunilha até a curva suave do quadril… E o interesse dele só aumenta quando ela pede que ele tatue um desenho incomum em suas costas.
Com seu jeito durão, Hayden é tudo que Tenley nunca se atreveu a desejar. A química entre os dois é instantânea e desperta nela o desejo de explorar o corpo escultural que há por baixo de tantas tatuagens. Traumatizada por um passado trágico, Tenley vê em Hayden a chance de um recomeço. No entanto, o que ela não sabe é que ele também tem segredos que o impedem de manter um relacionamento por muito tempo.
Quando os dois mergulham em uma relação excitante e enfim passam a confiar um no outro, lembranças e problemas batem à porta — e talvez nem mesmo a paixão entre eles seja capaz de fazê-los superar seus traumas.

Quando recebi “À Flor da Pele” em casa, logo me apaixonei. Não foi pela sinopse (na verdade, eu nunca nem tinha ouvido falar dessa série) mas sim pela capa maravilhosa (me atrevo a dizer que é uma das mais bonitas que já vi). Mas como aprendi a nunca julgar um livro pela capa (valeu pela lição, Easy!) fui interessada procurar saber mais. E confesso, me assustei demais com a notícia: são cinco livros!!!!!!!

Já comecei desconfiada porque achei um exagero! Conheço poucas outras séries que publicaram tantas sequências e o resultado disso pode ser ou maravilhoso (Harry Potter, Maze Runner) ou desastroso (A maldição do Tigre). Para sustentar cinco livros, a história tem que ser uma combinação de empolgante e misteriosa. Por exemplo: A Maldição do Tigre é uma história sensacional, e o primeiro livro da série é um dos meus favoritos da vida, mas ao esticar a história por muito mais livros que o necessário, eu senti que a história perdeu o fôlego e começou a embolar um pouco no meio de campo. Então pensei comigo como um livro new adult e sobre romance se estenderia tanto? Resposta: sendo maravilhoso.

Em A Flor da Pele, conhecemos Tenly, uma jovem que chega na cidade de Chicago para recomeçar. Após perder seu noivo e toda a sua família e amigos em um acidente, Tenly, se sentindo culpada e solitária se muda para um apartamento próximo ao seu novo emprego de meio período para se dedicar ao seu mestrado e esquecer de toda a solidão que carrega consigo. Determinada a afastar qualquer vínculo emocional e social com as pessoas (para não perdê-las de novo), ela vê seu plano ir por água a baixo quando conhece Hayden.

Hayden é completamente oposto ao seu ex noivo: um tatuador que não liga para regras ou em como se apresentar a sociedade. E é justamente isso que a atraí: a possibilidade de ser totalmente diferente, de se reconstruir. Ao se conhecerem, Tenley logo mostra a tatuagem que ela deseja fazer e essa aproximação é só um gostinho do quanto a sua vida vai mudar ao lado dele.

Qualquer tipo de alteração, seja para modificar as características físicas, como a cirurgia plástica, ou para decorar, como piercings e tatuagem, causa algum tipo de desconforto. Mas essa é a intenção, não é? É catártico porque é a promessa de mudança, de um jeito ou de outro.”

A Flor da Pele se desenvolve muito bem por diversos fatores. Entre eles, a narração compartilhada (um capítulo de Tenley e outro de Hayden) faz o leitor se solidarizar com todos os personagens e entender cada pensamento por trás das atitudes deles. Os personagens secundários também funcionam muito bem, sendo todos interessantes e participantes ativos da história do casal principal. A escrita é fluída (com algumas cenas bem 50 tons, vale ressaltar) e fácil. A edição está impecável com a capa mais linda do ano e a boa e velha folha amarelada.

Todo mundo tem cicatrizes,Tenley.Com sorte, elas permanecem só do lado de fora.

Ainda não sei se A Flor da Pele tem fôlego suficiente para se manter firme e nesse nível ótimo em mais quatro livros, mas após essa leitura sensacional, eu não duvido nem um pouco! Já estou ansiosa pelo próximo livro “Marcados para sempre“. Para quem se interessou ou quem já leu este título, a série conta com um ebook disponível na Amazon sobre os dois antes de se conhecerem “Doce tatuagem“. Leitura recomendada!

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Resenha: O Bicho-da-Seda, Robert Galbraith (J.K. Rowling)

O detetive Cormoran Strike, protagonista de O chamado do Cuco, está de volta, ao lado de sua fiel assistente Robin Ellacott, no segundo livro de Robert Galbraith, pseudônimo de J.K. Rowling. Dessa vez, o veterano de guerra terá que solucionar o brutal assassinato de um escritor. Quando o romancista Owen Quine desaparece, sua esposa procura o detetive particular Cormoran Strike. Incialmente, ela pensa apenas que o marido se afastou por alguns dias como fez antes e quer que Strike o encontre e o leve para casa. Mas, à medida que investiga, fica claro para Strike que há mais no sumiço de Quine do que percebe a esposa. O escrito acabara de concluir um livro retratando maldosamente quase todos que conhece. Se o romance fosse publicado, a vida deles estaria arruinada – assim, muita gente pode querer silenciá-lo. E quanto Quine é encontrado brutalmente assassinado em circunstâncias estranhas, torna-se uma corrida contra o tempo entender a motivação de um assassino impiedoso, diferente de qualquer outro que Strike tenha encontrado na vida.

Após rejeitar um caso promissor, Cormoran atira às cegas e acerta bem no meio do alvo. O segundo romance da série “Cormoran Strike” elimina todos os concorrentes do gênero, traz à tona o bom e velho gênero policial. Em Londres, hoje, pouco se fala de Sherlock e Watson, outra dupla figura nos jornais e na televisão.

Resenhar um livro de J.K. Rowling sem ser tendencioso é algo impossível quando o escritor é um bruxo. É isso que todo e qualquer fã fala antes de escrever algo do gênero, e, por mais que tente, não posso fugir do clichê. “Morte Súbita” demonstrou que Joanne sobreviveria em qualquer meio literário, já o “O Chamado do Cuco” surgiu para reafirmar: “J.K. Rowling consegue ser J.K. Rowling até quando não é J.K. Rowling.” O segundo volume da série devasta qualquer leitor. Com um início parecido com o de “Cuco”, cheio de dúvidas sobre assassinato ou desaparecimento, o leitor logo descobre que Owen Quinne está muito mais que morto.

Algo que melhora entre “Cuco” e “Seda” é a relação entre Cormoran e Robin. No segundo livro podemos notar um maior envolvimento dos dois, e é de conhecimento geral que a maioria dos fãs “shippa” o casal, mesmo que Matthew, o noivo da secretária, marque presença na maioria das páginas destinadas à personagem. O ponto forte de “O Bicho-da-Seda” é o fato de falar sobre o mercado literário. Digamos que J.K. Rowling fez questão de demonstrar como é suja a seleção de originais, a publicação de renomes e como se sente um escritor em crise. A própria sofrera em seu início de carreira, quando teve seu “Harry Potter e a Pedra Filosofal” rejeitado por doze editoras no Reino Unido. O simbolismo usado em “O Bicho-da-Seda” é algo secular. O uso de obras clássicas em meio aos capítulos só deixa tudo mais sofisticado e com a real feição Londrina.

A conclusão do romance deixa todo leitor boquiaberto. A teia construída por Joanne resulta em um menestrel literário. Não foi só um assassinato. A morte, juntamente com o desfecho, vira um afresco que deve ser admirado por séculos. O discurso existencialista abordado nas quatrocentas e poucas páginas é feito lentamente, mas com uma eficácia tremenda. Cormoran é a fantasia real que faz falta em meio a distopias e livros juvenis com pouco conteúdo.

O plano de fundo usado por Rowling, desde Londres a estradas pintadas por nevascas, foi altamente elaborado. Sente-se o cheiro da fumaça londrina, da espessura dos prédios seculares, é o estopim da Literatura Policial. Muitos julgaram “Seda” um livro enfadonho, sem atrativos. O segundo volume da História de Strike, para mim, é eletrizante, não se desgruda, não se esquece das frases lidas. Um realismo fortíssimo foi empregado em cada parágrafo, desde as partidas do Arsenal assistidas por Cormoran até as discussões de Robin com seu noivo. Joanne só precisou de um assassinato para provocar a crítica mundial. Um assassinato para desbancar o mercado das letras, ao qual faz uma crítica ferrenha. Rowling obriga o leitor a desvendar o mistério. Ou descobre ou descobre, não existe outra opção. Como dissera Strike em uma conversa com sua secretária sobre o assassino: “Eu sinto o cheiro, Robin”. Se pudesse, o completaria, e afirmaria “O Bicho-da-Seda tem o cheiro do melhor livro do ano. Cheiro de obra que não se desfaz através dos anos”.

Seremos presenteados com a adaptação das aventuras (ou desventuras) de Strike para a televisão, a BBC já anunciara. Será uma grande estreia do mundo das séries, assim como foi no âmbito literário.

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Resenha: Morte Súbita, J.K. Rowling

Quando Barry FairBrother morre inesperadamente aos quarenta e poucos anos, a pequena cidade de Pagford fica em estado de choque. A aparência idílica do vilarejo, com uma praça de paralelepípedos e uma antiga abadia, esconde uma guerra. Ricos em guerra com os pobres, adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos. Pagford não é o que parece ser à primeira vista. A vaga deixada por Barry no conselho da paróquia logo se torna o catalisador para a maior guerra já vivida pelo vilarejo. Quem triunfará em uma eleição repleta de paixão, ambivalência e revelações inesperadas? Com muito humor negro, instigante e constantemente surpreendente, Morte Súbita é o primeiro livro para adultos de J.K. Rowling, autora de mais de 450 milhões de exemplares vendidos.

Desde que o livro saiu, acompanho a repercussão dele na mídia, mas demorei um certo tempo até ter a oportunidade de lê-lo, então, quando finalmente o peguei em mãos, já havia sido bombardeado com todo o tipo de spoiler possível e com todo o tipo de opinião negativa que se possa imaginar. O livro é ruimO livro é uma bostaNem parece que foi a JK quem escreveu, e por aí vai. Antes de iniciar minha resenha portanto, quero deixar claro que, apesar de ser suspeito para falar da Rowling, esta resenha não é nem de longe, igual a todas que você provavelmente leu sobre a obra de arte que a autora conseguiu criar.

Morte Súbita é um livro comum. É um livro sem começo ou fim, apenas existe o meio. Deixe-me explicar de uma maneira simples: você sabe, por exemplo, quando sua vida começou, e saberá quando sua vida terminar. Nesse meio tempo entre seu nascimento e morte, você conheceu inúmeras pessoas diferentes, e na maioria dos casos, você não soube do começo da vida da pessoa, e não saberá do fim. Você apenas esteve presente num certo “meio” da existência, e vice-versa. É isso portanto, que o livro mostra. Um meio da existência, desencadeado por um fato em que todos parecem sair de um eixo vitalício. A morte súbita de Barry Fairbrother.

Não é spoiler eu dizer que o Barry morre, já que isso é o fato já apresentado na sinopse e contracapa do livro. Logo no prólogo, vemos de maneira extremamente detalhada, seus últimos momentos em vida, e sua consequente passada para o mundo de lá. A partir disso, vemos toda a cidade de Pagford recebendo a notícia de seu falecimento, e consequentemente, continuando normalmente com suas vidas. Porque é isso o que acontece após uma morte: nós seguimos em frente.

Não é o tipo de livro que apresenta aventuras fantásticas ou artifícios mágicos, mas nada disso foi necessário para me deixar boquiaberto e ansioso por cada nova página que eu começava a ler. Talvez tenha sido isso a decepção em massa da maioria dos fãs da autora, que apesar de cientes de não ser um novo Harry Potter, esperavam ao menos uma fagulha de referência àquela obra que a deixou bilionária.

Da obra escorre normalidade, mostrando, no mesmo plano, diferentes camadas sociais convivendo entre si, e pessoas aprendendo a lidar umas com as outras, além de entenderem a elas mesmas e deixarem os seus próprios fantasmas e o que há de mais primitivo dentro deles aflorar em diversos acontecimentos cotidianos que deixam o leitor espantado, ansioso e, até mesmo, enojado diante de situações e atitudes ordinárias.

A identificação dos personagens com características íntimas é algo presente em toda a obra, portanto, não se assuste ao ler, por exemplo, que determinada personagem tentou suicídio após sofrer bullying na escola, ou outro que publicou todos os podres do pai agressor na internet, escondido por um perfil fake. Porque é isso que todos possuem dentro de si, humanidade e nada além de características comuns . E, ao contrário de Harry Potter, Rowling mostra exatamente isso em The Casual Vacancy.

Outra coisa presente em peso na obra são as críticas sociais fortíssimas, direcionadas às mais diversas partes do mundo. Vemos a miséria e a fome conjugadas com o mundo fantasmagórico do mercado negro e do tráfico de drogas, prostituição e pessoas tentando dar bons rumos a suas vidas, mesmo presentes dentro dessa realidade catastrófica em que vivem.

Não fui com muita sede ao pote, afinal, muitos de vocês já haviam feito a caveira do livro pra mim. Comecei sem esperanças, não esperando um segundo Harry Potter, e digo que fui facilmente atraído para dentro da história e concluí que não sei se muitos possuem maturidade suficiente para tal leitura. Entendi perfeitamente muitos dos meus amigos que leram e não gostaram, afinal, não é o gênero preferido de todo mundo, e todos têm o direito de não gostar. Mas a diferença é que muitos deles tiveram argumentos plausíveis para desgostar da leitura, enquanto outros julgaram o livro como “mal escrito” sem possuir nem mesmo um conhecimento cultural compatível com aquele que essa leitura exige.

As mensagens filosóficas são outro tema recorrente na obra de Rowling, trazidas para a realidade em um simples pensamento íntimo de um adolescente de quinze anos ou em uma discussão entre pai e filha. Confesso que fiquei surpreso e ao mesmo tempo admirado ao ler, entre outras, a obra filosófica de Nietzsche trazida para a realidade da maneira crua e verdadeira com a qual foi escrita e pensada.

Não é uma leitura recomendada para todas as pessoas, e aqui, parafraseio Clarice Lispector ao dizer que este livro só deve ser lido por pessoas que já possuem uma alma formada. Os ensinamentos que ele nos traz, assim como a apresentação de uma realidade primitiva e crua, são como um balde de água fria que você não está esperando receber, mas que vem tão sorrateiramente que você precisa de um tempo para digerir o que acabou de ler. Não é uma leitura rápida, porque apesar da sua ansiedade, você precisará de um tempo sozinho com os seus pensamentos para refletir. Mas apesar de tudo, acredito que todos deveriam tomar esse choque de realidade em algum momento da vida, seja este com doze ou sessenta anos. Nunca é tarde para a reflexão que Joanne Rowling nos trouxe de maneira tão épica neste romance misterioso e intrigante que te prenderá da capa à contracapa.

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Resenha: O Desafio de Ferro (Magisterium #1), Holly Black e Cassandra Clare

AMIGOS E INIMIGOS. PERIGO E MAGIA. MORTE E VIDA. A maioria dos garotos faria qualquer coisa para passar no Desafio de Ferro. Callum Hunt não é um deles. Ele quer falhar. Se for aprovado no Desafio de Ferro e admitido no Magisterium, ele tem certeza de que isso só irá lhe trazer coisas ruins. Assim, ele se esforça ao máximo para fazer o seu pior… mas falha em seu plano de falhar. Agora, o Magisterium espera por ele, um lugar ao mesmo tempo incrível e sinistro, com laços sombrios que unem o passado de Call e um caminho tortuoso até o seu futuro. Magisterium – O Desafio de Ferro nasceu da extraordinária imaginação das autoras best-seller Holly Black e Cassandra Clare. Um mergulho alucinante em um universo mágico e inexplorado.

Desde que foi anunciado uma série escrita pela Cassandra Clare e pela Holly Black juntas, fiquei animado para ler. Duas das melhores escritoras fantásticas, juntas para escrever uma história do mesmo gênero. Não poderia esperar nada menos que maestria, certo? Certo.

O Desafio de Ferro, conta a história de um garoto chamado Callum Hunt, que não é um garoto popular, ou bem visto na escola ou na vizinhança. Todos o tacham como o louco, o esquisito. Mas tudo muda quando ele é obrigado a participar do Desafio de Ferro, uma espécie de teste para a escola de magia Magisterium, que não aceita todos aqueles que possuem poderes mágicos – os magos -, somente os melhores entre os melhores. Mas Call não quer entrar na escola. Ele sente repulsa pela magia, assim como seu pai.

Com um prólogo misterioso, a história se ambienta de maneira gradual, contando com detalhes o exterior e a visão introspectiva de um garoto que possui alguns traumas passados, que são alimentados por um pai, que por mais que ame seu filho, é distante.

Seguindo os conselhos de seu pai, Callum faz de tudo para falhar no Desafio de Ferro. Uma série de testes mágicos, que envolve desde textos teóricos sobre magia, até levitações de folhas de papel. Mas o garoto não precisa se esforçar muito para falhar. O desastre é iminente em todas as provas às quais ele é submetido, chegando, inclusive, a perder pontos na grade final, quando os mestres – os magos “professores” – avaliam os aplicantes para a Magisterium, pela primeira vez na história da escola. Nunca ninguém havia perdido pontos antes.

O Fogo quer queimar;
A Água quer fluir;
O Ar quer se erguer;
A Terra quer unir;
O Caos quer devorar.

A sensação de falhar não é boa, mas Call está consciente de que seguiu tudo o que seu pai disse, e nem precisou se esforçar para isso. Com certeza, não seria chamado para o colégio, depois de estragar tudo, várias vezes. Ele até fica despreocupado, quando o primeiro mestre começa a escolher seus aprendizes, somente os melhores… e Callum está entre eles.

É então que começa o frenesi de Alastair Hunt, pai do garoto, que inicia uma resistência e é retirado a força do hangar onde ocorreram os desafios. Mais uma vez, a fama de louco volta a rondar sua existência.

Nesses momentos, vemos que Callum é apenas mais uma criança, insegura, que necessita de bases sólidas para se desenvolver. Percebemos suas dúvidas e medos, que não éramos acostumados a ver nas narrativas de Cassandra Clare, já que a maioria de seus personagens são adolescentes ou adultos, mas que com certeza, já vimos com perfeição em alguns dos livros de Holly Black.

Depois do Desafio de Ferro, Call então se torna um aluno regular da Magisterium e é nesta parte que se inicia o clímax contínuo que a narrativa apresenta. As lutas internas para conseguir fazer amizades e mantê-las por perto, não desapontar aqueles que, pela primeira vez, ficaram interessados por ele… Nada é tão fácil como aparenta. Mas também, nada é tão medonho quanto o modo como o pai de Call falava. Será que tudo seria uma mentira, um egoísmo de Alastair para não viver sozinho?

Um de vocês irá falhar. Um morrerá. E o outro já está morto.

As aventuras são cativantes, o medo é paralisante e a amizade é a chave de tudo do que acontece e o que aguarda. Vemos todo um processo evolutivo, entre Call, Tamara e Aaron, os aprendizes do melhor mestre da escola, que se tornam cada vez mais próximos. Como dizia J.K. Rowling, em algum trecho de Harry Potter, “existem coisas que não é possível fazer sem as pessoas gostarem umas das outras”.

A narrativa de Black e Clare é leve, mas apresenta profundidade de maneira incomparável. Com semelhanças notáveis a Harry Potter, as autoras criaram uma mitologia própria em cima de coisas simples, como a natureza e seus elementos. É como se fosse real, algo escondido dos olhos humanos não mágicos.

Com um final digno de aplausos, totalmente surpreendente, deixo aqui minha indicação para todos os amantes dessa ramificação da literatura fantástica, sei que vocês não se arrependerão da leitura. E, aos Potterheads, peço que deem uma chance ao livro antes de comentarem qualquer coisa sobre as semelhanças. A maioria das publicações atuais são produzidas pela geração fruto da J.K. Rowling, grande precursora de todas as grandes árvores que estão crescendo agora – e gerando tais frutos.

Magisterium é uma obra real, que consegue te passar todas as angústias de um garoto que evolui de criança sem alicerces para um adolescente que um dia virá a ser uma grande fortaleza – desde que continue fiel aos seus próprios ideais.

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Resenha: Se eu ficar, Gayle Forman

Depois do acidente, ela ainda consegue ouvir a música. Ela vê o seu corpo sendo tirado dos destroços do carro de seus pais – mas não sente nada. Tudo o que ela pode fazer é assistir ao esforço dos médicos para salvar sua vida, enquanto seus amigos e parentes aguardam na sala de espera… e o seu amor luta para ficar perto dela. Pelas próximas 24 horas, Mia precisa compreender o que aconteceu antes do acidente – e também o que aconteceu depois. Ela sabe que precisa fazer a escolha mais difícil de todas.

A primeira coisa que vi sobre “Se eu ficar” foi o trailer do filme. Estava assistindo na maior tranquilidade quando me aparece a cena “Based on the acclaimed novel”. Dei pause na hora e fui procurar o livro pra comprar!

No livro conhecemos a história de Mia: uma adolescente nerd e super na dela, que tem como paixão da vida dela tocar violoncelo. Mia mora com seus pais, que são jovens e extremamente atuais e descolados. Eu preciso falar da família de Mia, porque cada parte dessa família ganhou um lugar no meu coração: seu pai tinha uma banda e largou tudo para se tornar professor quando a responsabilidade bateu à porta, mas permanece daquele jeito largado, cheio de estilo, e é o personagem mais engraçado e sarcástico do livro e possivelmente o pai literário mais perfeito que já tive a honra de ler. Sua mãe, de jovem rebelde se tornou uma “mãe ursa” – palavras de Mia – e faz de tudo pelos seus filhos, mas nunca deixa de largar palavrões pela casa e de dizer que a vida é uma merda. Ambos são engraçados e divertidos mas são acima de tudo, amorosos. Fazem questão que Mia e seu irmão sejam felizes, busquem seus próprios sonhos e tomem suas próprias decisões. O amor desse lar se completa com Teddy, o irmão menor de Mia. A relação deles não é de ciúmes, nem de irmãos que brigam (embora role aquela briga as vezes, cascudos etc): Teddy só dormia ouvindo Mia tocar quando era bebê, e era só Mia que lia pra ele toda noite um capítulo de Harry Potter. A ligação entre os dois é suave e linda, não tem como não se apaixonar. Essa foi a família que me conquistou no primeiro parágrafo, numa cena normal dentro de casa num café da manhã. E foi por essa família que eu chorei.

Mia se sente um pouco deslocada por gostar de música clássica enquanto sua família é punk, por ser introspectiva enquanto todos são engraçados e festeiros, mas nada disso diminui seu amor e sua vontade de estar entre eles. E é assim que ela passa o tempo: tocando, com sua família e com Adam. Mia ainda não entende porque Adam está com ela, como ele – lindo, engraçado, inteligente e integrante da banda Shooting Star, que está ficando cada vez mais popular em Portland – se interessou por ela, mas a questão é que ele é extremamente e intensamente apaixonado por Mia, e juntos eles são responsáveis pelos momentos doces e de romance do livro.

Já nos capítulos iniciais, temos o divisor de águas da vida de Mia: o acidente. Rápido e confuso, uma hora ela estava no carro com sua família indo visitar amigos, e na outra, ela estava parada no asfalto gelado da neve, olhando os corpos dos pais – e o dela própria – estirados no chão. Mia acompanha os paramédicos chegarem e fazerem de tudo para reanimá-la, acompanha a viagem até o hospital, a sua própria cirurgia: tudo como uma observadora externa, vendo a si mesma entubada e cheia de fios. Enquanto presenciamos a angustia de não poder falar, não poder ser vista, não saber como está o próprio irmão, Mia vê seus tios e primos chegarem, vê sua melhor amiga Kim na capela, rezando pela sua volta, vê seus avós desolados e vê Adam. Ela acompanha os Adams: o em estado de choque, o Adam revoltado que tenta invadir a UTI, o Adam em prantos e então, o Adam apaixonado.

 

“Eu ficava brava porque ele nunca escreveu uma música pra mim. Adam mesmo sendo músico alegava que não era muito bom com músicas bobinhas que falam de amor:

– Se quer que eu escreva uma música para você, vai ter que me trair ou alguma coisa desse tipo – dizia ele, já sabendo muito bem que isso não aconteceria.

E agora, fico me perguntando se conseguiria sentir o toque dele. Adam solta a minha mão – a minha mão do corpo desacordado – e dá um passo à frente para me olhar. Ele está tão pertinho de mim que quase consigo sentir seu cheiro (…) Adam começa a murmurar alguma coisa. Com a voz bem baixa. Ele não para de repetir: por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por fim, ele para e olha bem para o meu rosto:

– Por favor, Mia – implora. – Não me faça escrever uma música.”

Além de todos os personagens familiares, temos os personagens secundários que se destacam, e a enfermeira Ramirez é uma delas: a única funcionária do hospital que se preocupava com os detalhes de Mia: se preocupava se ela estava vestida, se seu cabelo estava limpo, e em lhe dar “bom dia”, em conversar com ela e lhe desejar melhoras. A enfermeira Ramirez é quem fala algo que muda toda a sua perspectiva: “Você acha que cabe aos médicos, aos medicamentos e as máquinas, mas se você fica ou se você vai, a decisão é sua.” É então que Mia tem que tomar a decisão mais difícil da sua vida: ela vai embora para um lugar sem dor, sem recuperação, sem choros e com sua amada família ou ela fica e enfrenta uma vida solitária, ser órfã e meses de recuperação? Em meio a tudo isso, temos vários momentos de flashbacks de Mia com sua família, seus amigos ou com Adam, e cada parte inocente ou engraçada que ela tem leva um pedacinho do nosso coração.

O livro nos leva a inúmeras reflexões, entre elas, a importância da nossa família e dos nossos amigos. A descoberta do amor de verdade, e a mais importante de todas: o valor que damos a nossa vida e o quão longe estaríamos dispostos a lutar por ela. Não sou eu quem vou contar o final – e a decisão de Mia – nessa resenha, por isso não vou poder comentar o final. Mas digo que esse livro foi emocionante, profundo e lindo! Espero ansiosa pelo filme – dia 22 de agosto nos cinemas!! – e pela continuação dessa história maravilhosa.

 

“Viva para amar”

Resenhas

Resenha: O Chamado do Cuco – Robert Gailbraith (J.K. Rowling)

Sinopse: Quando uma modelo problemática cai para a morte de uma varanda coberta de neve, presume-se que ela tenha cometido suicídio. No entanto, seu irmão tem suas dúvidas e decide chamar o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso. Strike é um veterano de guerra, ferido física e psicologicamente, e sua vida está em desordem. O caso lhe garante uma sobrevida financeira, mas tem um custo pessoal: quanto mais ele mergulha no mundo complexo da jovem modelo, mais sombrias ficam as coisas e mais perto do perigo ele chega. Um emocionante mistério mergulhado na atmosfera de Londres, das abafadas ruas de Mayfair e bares clandestinos do East End para a agitação do Soho. O chamado do Cuco é um livro maravilhoso. Apresentando Cormoran Strike, este é um romance policial clássico na tradição de P. D. James e Ruth Rendell, e marca o início de uma série única de mistérios.

Quando descobri que J.K. tinha lançado mais um livro (usando o pseudônimo Robert Gailbraith, não vou negar que fiquei tensa. Tensa porque não importa o que essa mulher lançar, eu sei que terei a obrigação de ler, seja bom ou ruim! Tensa porque ela sempre vai sofrer de uma enorme cobrança em seus trabalhos pós-era Harry Potter. E tensa porque me decepcionei com “Morte Súbita” e estava com medo de que não gostasse mais de nenhuma obra de J.K. Mas felizmente estava enganada!

O livro começa com a morte da supermodelo Lula Landry, que cai da varanda do seu prédio em uma rua em Londres, deixando uma multidão de fotógrafos, fans e curiosos na calçada, na expectativa de novas notícias. Após sua morte ser declarada como suicídio pela polícia, o irmão de Lula, John Bristow, não se conforma. Mesmo depois de 3 meses, ele não acredita que sua irmã tenha tirado a própria vida, ela procura o detetive particular, Cormoran Strike, para investigar o caso. Strike é um veterano de guerra que sobrevive de bicos investigativos. Ferido fisicamente e psicologicamente, abandonado pela sua mulher e vendo seus negócios se afundarem em dívidas, ele se contenta a trabalhar em um minusculo escritório, onde não ganha nem o suficiente para pagar o aluguel, e vê na proposta de John Bristow uma alternativa de ganhar dinheiro, mesmo sem muita perspectiva de encontrar um assassino, afinal a polícia já havia decretado o suicídio. Mas como negar um caso que vem com uma bolada de dinheiro, milhares de documentos obsessivamente arrumados, gravações de entrevistas e cópias de documentos (tudo investigação pessoal do irmão de Lula)?

Em meio a entrevistas de amigos, familiares, policiais, porteiros, seguranças e conhecidos da vida de Lula, Strike vai descobrindo que o irmão dela não poderia estar mais certo: há muito mais por trás da morte da modelo do que ele imaginava. Contando com a ajuda de uma super-eficiente secretária temporária (que se apaixona pelo trabalho e não consegue se imaginar sendo temporária por muito mais tempo) Robin, Strike mergulha cada vez mais fundo na vida de Lula, e descobre uma trama repleta de traições, armações e ilusões que acobertam a morte da modelo.

O chamado do cuco não decepciona em sua história policial, sendo um livro afiado com intrincadas tramas, personagens interessantes e um mistério que consome o leitor até o final da leitura.Em um ritmo rápido, nos vemos cercados pela investigativa e sempre ávidos a continuar a leitura em busca do assassino. A história de Cormoran Strike fez sucesso antes mesmo de ter sido divulgado seu verdadeiro autor, e com razão!

Não leia esse livro porque é mais um de J.K., leia este livro porque ele é realmente bom! Tão bom que afinal terá continuação: “The Silkworm”, previsto para lançamento no dia 24 de junho! Vamos aguardar!

Resenhas

Resenha: A Arma Escarlate, Renata Ventura

O ano é 1997. Em meio a um intenso tiroteio, durante uma das épocas mais sangrentas da favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, um menino de 13 anos descobre que é bruxo. Jurado de morte pelos chefes do tráfico, Hugo foge com apenas um objetivo em mente: aprender magia o suficiente para voltar e enfrentar o bandido que está ameaçando sua família. Neste processo de aprendizado, no entanto, ele pode acabar por descobrir o quanto de bandido há dentro dele mesmo.

Encantei-me com este livro desde a primeira vez em que o vi, em meu Facebook, e conheci sua sinopse. Eu, como grande fã de Harry Potter, me senti estranhamente atraído pela história, e comecei a ensaiar sua compra. Cheguei a colocá-lo no carrinho do Submarino inúmeras vezes, mas nunca finalizava. Até que vi a mensagem da Renata em um grupo, sobre a venda de exemplares autografados. Era minha deixa. Comprei, alimentando cada vez mais aquela expectativa que estava crescendo dentro de mim com relação a história. Cheguei até a sonhar com ela antes mesmo de ler! E além de fotogênico, o livro tem uma história impecável (Fotos da postagem tiradas por mim).

A Arma Escarlate, conta a história de Idá Aláàfin, um garoto de 13 anos, que mora com a mãe e a avó dentro de um contêiner na favela de Santa Marta (ou Dona Marta), localizada no Corcovado.

Idá, que a princípio, se desentende muito com a mãe, procura meios para se manter alheio a tudo de ruim que acontece no morro, no entanto, o desejo de conseguir uma vida melhor é tão grande, que acaba por aceitar um emprego como falcão, isto é, vigia para Vip, chefe do tráfico local.

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Em uma das noites em que estava de vigia, recebe um estranho pacote, com uma carta de admissão para um colégio de magia que não ficava muito longe dali. Idá, cujo apelido era Bruxo, entorpecido pelos papéis, deixa passar uma leva de policiais sem avisar o tráfico local, tinha sido um traidor, e só há um destino para esse tipo de gente: a morte.

Sem ter muita escolha, se despede da mãe e da avó, dizendo que foi admitido para um colégio interno, sem dar melhores informações, já que a mãe é evangélica, e não aceitaria de jeito algum, um bruxo na família. A fuga do garoto, neste primeiro momento, é uma cena particularmente emocionante, uma vez que, apesar de estar brava com o filho, a mãe despeja todas as economias para a compra de seus livros, acreditando que este encontrará uma vida melhor que a sua, transbordando orgulho.

Em meio a uma perfeita guerra, Idá parte em sua jornada para fora do morro, sendo roubado e agredido física e verbalmente por uma grande massa policial. É claro que isso não é novidade alguma em nossa realidade brasileira.

Em meio a alguns contratempos, o menino troca seu nome para Hugo Escarlate, já que não gostava do anterior e compra todos os materiais que precisa em uma espécie de brechó do mundo bruxo, lidando com mais uma grande dose de charlatões e ladrões disfarçados de comerciantes.

Finalmente, o garoto chega na escola, que é localizada dentro do Corcovado! Nossa Senhora do Korkovado, é uma das cinco escolas de magia brasileira, e é de tirar o fôlego, não só suas construções, mas também a complexidade de cada um dos personagens, além dos ditados populares do mundo bruxo que devo dizer, são incríveis!

Meu autógrafo!!
A primeira parte do livro, trata apenas de Hugo conhecendo a si mesmo como bruxo, e aprendendo (ou não!) a lidar com o mundo mágico. O garoto entra nas mais absurdas confusões e conhece um curioso grupo que vai contra as ordens do conselho estudantil: Os Pixies.

Pode ir tirando o centaurinho da chuva…

Os Pixies são formados por três meninos (Índio, Viny e Capí), e uma menina (Caimana), e são eles que apresentam Hugo ao melhor do mundo da magia. Amigos extremamente fiéis, que são de dar inveja a qualquer um que lê, além é claro, da complexidade que cada um possui conforme o enredo vai avançando. Renata Ventura criou um trabalho espetacular e fez com que eu conseguisse enxergar tudo o que era descrito, assim como ouvir a voz de cada um deles. Fui submerso pela sua narrativa do início ao fim, e admito que estou tento certas dificuldades em ver cada um deles como meros personagens. Para mim eles estão dentro do Corcovado neste exato momento (apesar da história se passar em 1997).

Gostaria de destacar também, o melhor personagem já inventado: Ítalo Twice Xavier, mais conhecido como Capí. Figura extraordinariamente bondosa, que nos contagia com tudo o que faz. Não tenho palavras para descrevê-lo, porque Capí é único, é especial e nos faz acreditar na bondade do ser humano, na pureza. É quase um unicórnio humano, se isto é possível. A desenvoltura com que ele foi criado e descrito, me fez enxergá-lo no meu dia a dia, e querer ter um pouco dele dentro de mim. 

Já a segunda parte do livro, que devo confessar que não larguei até ler a última palavra, é a divisão mais brutal, que nos faz repensar tudo o que temos e não temos. Não vou me estender com comentários relacionados a ela, uma vez que a surpresa durante a leitura é um sentimento magnífico.

Vai ver se eu aparatei lá na esquina!

Por fim, se é que não elogiei a autora suficientemente, eu indico este livro para qualquer pessoa. É uma obra magnífica da literatura brasileira, e a primeira que eu leio que me fez realmente gostar do lugar onde vivo e ver que apesar de viver em um país com inúmeras falhas, eu posso ter sangue mágico nas veias. Todos podemos, graças a Renata, esta bruxinha boa (que descrevo propositalmente assim – vide dedicatória do livro), que foi a primeira autora a me fazer sentir tão apegado por um mundo criado e pelas suas personagens, que são indescritivelmente reais para mim. Meus mais sinceros agradecimentos e congratulações. Mal posso esperar para ler A Comissão Chapeleira já estou com saudade das aventuras de Hugo com os Pixies.

Aviso: “A Arma Escarlate” causa dependência! Não paro de sonhar com o mundo mágico e os personagens desde que iniciei a leitura! Uma dependência magicamente boa, que eu não quero me livrar nunca. Comprem o livro na livraria mais próxima e eu GARANTO que não se arrependerão. Superou minhas expectativas (que eram bem grandes)!

 

Resenhas

Resenha: A Estrela Que Nunca Vai Se Apagar, Esther Earl com Lori e Wayne Earl

A estrela que nunca vai se apagar é uma biografia única, que reúne trechos de diários, textos de ficção, cartas e desenhos de Esther. Fotografias e relatos da família e de amigos ajudam a contar a história dessa menina inteligente, astuta e encantadora cujo carisma e força inspiraram o aclamado autor John Green a dedicar a ela sua obra best-seller A culpa é das estrelas.

Apenas seja feliz, e, se você não conseguir ficar feliz, faça coisas que o deixem feliz. Ou fique sem fazer nada com as pessoas que o fazem feliz.
– Esther Earl.

“A Estrela Que Nunca Vai Se Apagar” é um livro de não ficção que conta a história de Esther Grace Earl, a menina que inspirou John Green a escrever “A Culpa É das Estrelas”. O livro alterna entre o diário de Esther, o seu blog, o blog de seus pais e os comentários de seus amigos.

Esther, mais conhecida como “Estee” sempre foi uma menina cheia de vida, leitora ávida e uma nerdfighter de carteirinha, além de uma enorme fã de Harry Potter. Só que aos 12 anos de idade, descobriu que possui câncer no pulmão, e partindo desse ponto somos levados a acompanhar a batalha dela sobre a doença.

A Estrela Que Nunca Vai Se Apagar é um livro difícil de resenhar, primeiro por ser uma biografia, segundo por ter relatos da própria Esther e terceiro por ter uma grande carga emocional. O livro é simplesmente emocionante e tocante do começo ao fim. Na introdução, temos as palavras de John Green, que já é de fazer as lágrimas rolarem. Dessa vez, o Green conseguiu arrancar minhas lágrimas.

O modo como Esther enfrentou a sua doença é incrível, são poucas as pessoas que tem a coragem dela. Cheia de vida, Estee nunca deixou se abater por sua doença por mais grave que fosse e em nenhum momento deixou que isso acabasse com sua vontade de viver. Sua história nos mostra o quão importante é o apoio da família e dos amigos nesse momento tão difícil. Ao fechar o livro, é impossível você não ficar renovado, e com o pensamento de que apesar de tudo, deve enfrentar o seu problema. Uma lição de vida.

“O amor é forte como a morte.” Ou talvez mais forte ainda.

O livro é repleto de fotos e desenhos de Esther, que nós fazem ver sua vida. Palmas para a Editora Intrínseca pelo belíssimo trabalho na edição do livro, as páginas decoradas e coloridas ficaram fantásticas. Particularmente, considero Esther uma inspiração, e seria seu amigo se tivesse tido a oportunidade. As estrelas nunca serão as mesmas quando eu for observa-las, porque eu sei que no meio daquele infinito, a de Esther sempre estará lá. Estrelas, inevitavelmente se apagarão um dia, mas a de Esther não, ela sempre há de brilhar. Termino esta resenha com lágrimas em meu rosto.

 e essa é especialmente para Esther :