A representatividade na música brasileira de artistas LGBT* vem crescendo cada vez mais. Ainda que, muitas vezes, essa parcela de músicos não atinjam a mídia tradicional, plataformas como Spotify e Youtube facilitam o compartilhamento e distribuição dos lançamentos.
Outra mudança importante também tem acontecido. Artistas gays e lésbicas existem há muito tempo na nossa música (vide Ana Carolina, Cássia Eller, Renato Russo, Cazuza e tantos outros), a questão agora é que além de artistas trans e travestis terem ganhado nossos corações visibilidade, há uma discussão muito maior com relação a questões de gênero pelos próprios músicos. Liniker e Rico Dalasam são ótimos exemplos aqui.
Pensando em todas essas questões, resolvi trazer algumas artistas trans, travestis e drags que não só produzem boa música, mas também suscitam um debate interessantíssimo sobre tais questões. Elas têm conseguido cada vez mais patrocínio para a produção de seus hits, cantando e mostrando a cultura LGBT* para a sociedade.
Quando vejo essas artistas, penso em todas as outras que existem e lutam todo dia para fazer sua música e vencer o preconceito. Imagino o quão importante é para elas poderem se reconhecer e ouvir, lá no fundo de cada clipe e música, a gente existe.
1. Candy Mel
Talvez a mais conhecida de todas, Mel Gonçalves lançou-se nacionalmente à frente da Banda Uó, grupo musical com referências indie, brega e eletrônica. Mel foi a primeira mulher trans a estrelar a campanha #EuSouAssim, da Avon, para o Outubro Rosa. Também se destaca como uma das apresentadoras do programa “Estação Plural”, na TV Brasil. Em entrevista ao site O Globo, Candy Mel diz
Só o fato de estar ali é importante. Representatividade é uma grande valia. Principalmente quando podemos nos ver em um meio de comunicação. Muitas vezes somos silenciados pela vida. É importante sair do armário e ter nossa voz ouvida.
2. Gloria Groove
Gloria é uma drag queen do rap e hip hop. Ganhou destaque no cenário nacional em 2016 com o clipe da música Dona, mas muito antes já participava do mundo musical. Em 2002 fez parte do grupo Balão Mágico e também já participou do “Programa Raul Gil”, da Band. Já abriu shows para drags conhecidas internacionalmente como Sharon Needles e Adore Delano. Em fevereiro de 2017 lançou seu primeiro álbum, O Proceder, com hits como Dona, Império, Gloriosa e O Proceder.
Na letra de Dona, pode-se ler:
Ai meu Jesus, que negócio é esse daí? / É mulher? Que bicho que é? / Prazer, eu sou arte, meu querido, então pode me aplaudir de pé / Represento esforço, tipo de talento, cultivo respeito / Cultura drag é missão, um salve a todas as montadas da nossa nação.
3. Lia Clark
No gênero pop/funk temos Lia Clark. A cantora ficou conhecida em 2016 com o hit Trava, Trava e recentemente lançou parcerias com Mulher Pepita e Pabllo Vittar. Em setembro do mesmo ano lançou seu primeiro EP, Clark Boom. A cantora já abriu show para a Banda Uó e foi listada recentemente pela MTV como uma das 10 revelações da música nacional.
Em janeiro de 2017, firmou parceria com a marca Avon para o lançamento do “Baile da Boneca”, um bloco de carnaval inspirado no clipe de Chifrudo, sua parceria com Mulher Pepita.
4. Mc Linn da Quebrada
No site da artista, lê-se a biografia: Bixa, trans, preta e periférica. Cantora, bailarina e performer, Linn encontrou na música – em específico, o funk – uma poderosa arma na luta pela quebra de paradigmas sexuais, de gênero e corpo. Em 2016, a artista lançou os singles “Talento” e “Enviadescer” e neste ano ela abre as atividades com a música “Bixa Preta”.
Nascida no interior do estado de São Paulo, Linn cresceu em uma família religiosa, fato que exerce influência em várias de suas músicas/clipes quando a opressão da igreja é contestada. Em entrevista ao portal G1, a cantora relata:
Eu venho de uma criação religiosa muito rígida, eu era testemunha de Jeová, então tive o corpo muito disciplinado, domesticado pela Igreja e pela doutrinação, que me privava dos meus desejos. Era como se ele não me pertencesse. Até eu tomar o bastião de liberdade há alguns anos e me assumir
5. Mc Xuxú
Carol Vieira, a Mc Xuxú, começou a carreira cantando rap em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ao se mudar para Jacarepaguá, zona oeste do Rio, a cantora recebeu influência do funk. Com letras que falam sobre a comunidade LGBT e preconceito ficou mais conhecida em 2013 com o clipe da música Um Beijo. Em fevereiro de 2017 lançou o clipe de O Clã o qual é baseado no famoso refrão cantado em manifestações da comunidade LGBT
As gays, as bi, as trans e as sapatão / E os que pregam ódio por aqui não passarão
6. Mulher Pepita
Priscilla Nogueira, a Mulher Pepita, é conhecida por ser uma das primeiras trans no funk brasileiro. Pepita começou seu trabalho na carreira musical como dançarina e logo lançou-se como cantora. Em 2015 lançou o single Tô à procura de um homem; em 2016 a música Chifrudo (parceria com Lia Clark); e em 2017 Uma vez piranha.
7. Pabllo Vittar
Cantora, compositora e dançarina, Pabllo Vittar ganhou reconhecimento nacional em 2015 ao lançar o clipa da música Open bar, uma paródia da música Lean On de Major Lazer.
Em 2016, Vittar estreou na TV como vocalista da banda do programa Amor e Sexo, da Rede Globo. No mesmo ano, foi anunciada como a garota propaganda da mais nova campanha Louca Por Cores, da Avon.
Em 2017 lançou Vai passar mal, seu primeiro álbum de estúdio, co-produzido pelo norte-americano Diplo. O videoclipe do single Todo Dia alcançou 18 milhões de visualizações, tornando-se o clipe original de uma drag queen mais visto no mundo, ultrapassando o clipe de Sissy tht walk, da drag americana RuPaul. A música também alcançou o 3º lugar na lista Viral 50 Global do Spotify.
https://youtu.be/HT1LTv5FHTY
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