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Os sete maridos de Evelyn Hugo
Livros, Resenhas

Resenha: Os sete maridos de Evelyn Hugo, Taylor Jenkins Reid

A minha resenha de Os sete maridos de Evelyn Hugo talvez não seja exatamente uma resenha imparcial. Talvez, esteja mais pra um ensaio e talvez eu coloque mais sentimento nela do que deveria, buscando a imparcialidade. Ah, pode ser que eu deixe escapar spoilers também, mas nada muito grande porque não gosto de atrapalhar a experiência de leitura. Tá ciente? Então, ok.

Sinopse: Com todo o esplendor que só a Hollywood do século passado pode oferecer, esta é uma narrativa inesquecível sobre os sacrifícios que fazemos por amor, o perigo dos segredos e o preço da fama.

Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes ― seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido… pela sétima vez. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história ― ou sua “verdadeira história” ―, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso ― e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

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Os sete maridos de Evelyn Hugo é um livro que eu via muita gente falando, bem e mal, mas nunca tinha dado atenção ou parado para ler. Não sou do tipo que gosta de pegar as coisas no hype, ou pego antes, ou espero passar. E se arrependimento matasse por ter demorado tanto, agora eu estaria mortinho. A escrita é fluida, a história é capaz de mudar sua vida e esse livro me levou de volta diretamente para a minha adolescência quando eu começava a ler um livro de noite e virava a madrugada lendo. Sim, Evelyn Hugo me segurou do começo ao fim, sem quase nenhuma pausa. Comecei a ler umas 23h de domingo e só larguei as 4 da manhã, no fim.

Uma vez li que o carisma é o “charme que inspira devoção”.

O livro começa com a história de Monique Grant, uma jornalista de 35 anos, que agora trabalha na revista Vivant. Seu marido acabou de deixar sua casa, querendo o divórcio e ela acredita que sua vida está em um impasse, apesar de seus sonhos enormes. Em dúvida, ela se questiona onde foi que errou e o que deveria ter feito de diferente. Em meio aos seus monólogos e devaneios, ela é chamada pela sua chefe Frankie, que lhe dá uma notícia um tanto quanto esquisita: a estrela de Hollywood Evelyn Hugo, há muito templo reclusa, queria dar uma entrevista para a revista, mas ela deveria ser a entrevistadora. Monique se questiona, assim como Frankie, afinal, quantos outros jornalistas mais experientes que ela existem na redação? Por que Monique foi justamente a escolhida por Evelyn Hugo, que tem segredos enormes de sete casamentos polêmicos do passado, jamais revelados, quer contar tudo a ela?

Não me arrependo das mentiras quer contei, ou de ter magoado as pessoas. Aceito o fato de que às vezes fazer a coisa certa obriga a gente a pegar pesado. E tenho compaixão por mim mesma. E acredito em mim. Por exemplo, quando te repreendi lá no apartamento, por causa dessa coisa de confessar pecados. Não foi a atitude mais gentil a tomar, e não sei nem se você mereceu. Mas não me arrependo. Porque sei que tenho meus motivos, e fiz meu melhor para lidar com os pensamentos e sentimentos que me trouxeram até onde estou.

Sem entender muito bem, Monique aceita a missão e vai se encontrar com a lendária Evelyn Hugo. Evelyn é uma personagem que me causou identificação mas não se pode dizer que ela é uma pessoa boa, tampouco, uma pessoa ruim, como descobrimos no decorrer do livro. Ela é alguém que lutou pelos seus sonhos e fez tudo aquilo que foi preciso para chegar onde chegou. Um tanto quanto manipuladora e faminta pela fama, ela deixou o pai tóxico em Hell’s Kitchen para tentar o sonho de ser atriz em Hollywood. Para isso, ela se casa pela primeira vez e mantém os holofotes como meta principal da sua vida.

Não se preocupe tanto em fazer a coisa certa quando a escolha mais inteligente se mostra de uma forma tão óbvia.

Evelyn Hugo percorre suas metas como ninguém. Ela mudou seu nome, a cor dos seus cabelos, sua imagem, estudou e foi atrás do que ela queria. Determinação deveria ser seu nome do meio e, ver sua história, é como se fosse uma injeção de ânimo para nós, leitores, que temos sonhos grandes. Ela não desistiu até conseguir e fez o que foi preciso para chegar lá. Não preciso dizer que ela chegou exatamente onde queria, mas nem sempre, fez as coisas certas. Isso não significa que ela se arrepende dos seus atos, pera lá.

Quando surge uma oportunidade para mudar sua vida, esteja pronta para fazer o que for preciso. O mundo não dá nada de graça para ninguém, só tira de você.

Afinal, quem são os sete maridos de Evelyn Hugo?

No decorrer do livro, conhecemos cada um dos seus sete maridos. O primeiro, porque ela precisava sair de casa e ir para Hollywood. O segundo, ela se apaixonou de verdade e ele era um grande astros dos cinemas. A imagem de casal era perfeita para a mídia, mas ele era um agressor. O terceiro, um grande astro da música que ela se casou para proteger seu relacionamento com Celia St. James, sua amante, da mídia. O quarto, outro ator de Hollywood, em um casamento fictício para divulgar seus filmes e refazer sua imagem após o divórcio do segundo. O quinto, seu melhor amigo gay, com quem teve uma filha, e quem impulsionou sua imagem nos cinemas. Nesse ponto, ela viveu um relacionamento quádruplo: enquanto ela ficava com Celia, seu “marido” ficava com o marido de Celia. O maior casamento de fachada que Hollywood já conheceu. O sexto, um diretor amigo de longa data que estava apaixonado pela imagem de Evelyn Hugo e não pela pessoa que ela era. O sétimo e último, era o irmão de Celia, com quem se casou para poder se casar com ela, já muito doente e cuidar do seu espólio ao fim da vida.

Eu gostava de escrever sobre pessoas de verdade. Gostava de encontrar diferentes maneiras de interpretar o mundo real. Gostava da ideia de me conectar com as pessoas contando as histórias delas.

Fiquei surpreso positivamente no decorrer do livro ao descobrir que Evelyn Hugo era bissexual e completamente apaixonada pela amiga Celia, com quem teve um romance tórrido e intenso. Ela teve sete maridos, mas nenhum chegou aos pés da sua única esposa, com quem esteve até o fim da vida.

Evelyn Hugo, como conhecemos, é uma mulher que teve muitas perdas. Todos ao seu redor já morreram quando ela começa a contar essa história. Quem não morreu, ela abriu mão para sua carreira. Ela deixa claro que nem sempre foi certo, mas que faria tudo de novo. E ah, ela nunca quis dar uma entrevista para a revista Vivant. Ela queria que Monique escrevesse uma biografia autorizada sua, avaliada em milhões de dólares, a ser publicada depois da sua morte, intitulada de: Os sete maridos de Evelyn Hugo.

Primeira: você precisa aprender a se impor e a não se sentir mal com isso. Ninguém vai te dar nada de graça se você não pedir. Você tentou. E levou um não. Supere isso. (…) Quando for usar alguém, use direito.

O motivo? Entre muitos outros, porque Monique é uma pessoa que já escreveu sobre suicídio assistido e tem uma mente aberta o suficiente para o assunto. E claro, alguns outros mais que não vou contar nessa resenha para não estragar o final.

O mundo prefere respeitar as pessoas que querem dominá-lo.

Só posso dizer que Os sete maridos de Evelyn Hugo me surpreendeu positivamente. É um livro que tem representatividade racial, sexual e nos mostra, no decorrer dos anos, o quanto cada uma dessas lutas teve que avançar para chegar no que é hoje. E, além disso, nos mostra o valor da perseverança e os custos da fama. Sim, admiro Evelyn Hugo e depois dessa leitura, sinto que sou um pouquinho mais confiante com relação aos meus sonhos. Dou todo o céu de estrelas.

Atualizações, Livros

Conheça: Editora Hoo, livros com representatividade LGBTQ+

Você é o tipo de leitor que busca histórias com mais representatividade? Ou, apenas, gostaria de ver mais personagens LGBTQ+ em livros jovens? Então, você já conhece a editora Hoo! Não? Bom, fica tranquilo que a gente te apresenta!

A editora Hoo surgiu em 2015 sendo composta 100% por autores nacionais. Hoje, a editora já traz algumas obras traduzidas, dando voz, principalmente, a personagens LGBTQ+. A Hoo busca promover uma representação LGBT em suas histórias, porque, afinal, eles também têm coisas muito importantes para nos contar e aventuras instigantes que podemos acompanhar!

divulgação Hoo facebook

A nova aposta da editora é o livro História é tudo que me deixou, do Adam Silvera, em que conhecemos um pouco a história de Griffin, um garoto que já está na faculdade, na Califórnia, quando seu ex-namorado, Théo, morre afogado. Griffin, embora já esteja namorando Jackson, terá que aprender a lidar com o luto, enfrentando o passado que viveu com Théo. O livro é emocionante e promete dar, além de boas lágrimas, uma grande reflexão sobre o luto, depressão e amor.

Acreditando no renascimento de boas histórias, em dar voz às pessoas sem limitá-las à orientação sexual, retratando a vida como ela é, sem preconceitos e nem vernizes sociais, a Hoo surge para preencher uma lacuna dentro da Universo dos Livros

A editora juntou-se à Universo dos Livros e é no site deles que você poderá encontrar todo o catálogo deles. O sucesso Minha versão de você, da Christina Lauren,foi trazido ao Brasil por eles e esteve em todos os últimos eventos literários como a Bienal de São Paulo e a Flipop.

A Hoo tem uma pegada mais jovem e engajada. Eles aproximam os leitores promovendo ações divertidas. Na Flipop, o festival literário dedicado à literatura jovem, eles distribuíram tatuagens temporárias e brindes de orgulho LGBT.

Então, se esse é seu tipo de leitura, ou se você está só buscando saber um pouquinho mais sobre esses personagens, vale a pena conferir o catálogo da editora e, ainda por cima, acaba dando uma força para a literatura nacional.

Romances dão protagonismo a pessoas trans e não-binárias
Divulgação
Música

Orgulho LGBT*: 7 artistas que representam o “T*” na música nacional

A representatividade na música brasileira de artistas LGBT* vem crescendo cada vez mais. Ainda que, muitas vezes, essa parcela de músicos não atinjam a mídia tradicional, plataformas como Spotify e Youtube facilitam o compartilhamento e distribuição dos lançamentos.

Outra mudança importante também tem acontecido. Artistas gays e lésbicas existem há muito tempo na nossa música (vide Ana Carolina, Cássia Eller, Renato Russo, Cazuza e tantos outros), a questão agora é que além de artistas trans e travestis terem ganhado nossos corações visibilidade, há uma discussão muito maior com relação a questões de gênero pelos próprios músicos. Liniker e Rico Dalasam são ótimos exemplos aqui.

Pensando em todas essas questões, resolvi trazer algumas artistas trans, travestis e drags que não só produzem boa música, mas também suscitam um debate interessantíssimo sobre tais questões. Elas têm conseguido cada vez mais patrocínio para a produção de seus hits, cantando e mostrando a cultura LGBT* para a sociedade.

Quando vejo essas artistas, penso em todas as outras que existem e lutam todo dia para fazer sua música e vencer o preconceito. Imagino o quão importante é para elas poderem se reconhecer e ouvir, lá no fundo de cada clipe e música, a gente existe.

1. Candy Mel

Talvez a mais conhecida de todas, Mel Gonçalves lançou-se nacionalmente à frente da Banda Uó, grupo musical com referências indie, brega e eletrônica. Mel foi a primeira mulher trans a estrelar a campanha #EuSouAssim, da Avon, para o Outubro Rosa. Também se destaca como uma das apresentadoras do programa “Estação Plural”, na TV Brasil. Em entrevista ao site O Globo, Candy Mel diz

Só o fato de estar ali é importante. Representatividade é uma grande valia. Principalmente quando podemos nos ver em um meio de comunicação. Muitas vezes somos silenciados pela vida. É importante sair do armário e ter nossa voz ouvida.

2. Gloria Groove

Gloria é uma drag queen do rap hip hop. Ganhou destaque no cenário nacional em 2016 com o clipe da música Dona, mas muito antes já participava do mundo musical. Em 2002 fez parte do grupo Balão Mágico e também já participou do “Programa Raul Gil”, da Band. Já abriu shows para drags conhecidas internacionalmente como Sharon Needles e Adore Delano. Em fevereiro de 2017 lançou seu primeiro álbum, O Proceder, com hits como Dona, Império, Gloriosa O Proceder.

Na letra de Dona, pode-se ler:

Ai meu Jesus, que negócio é esse daí? / É mulher? Que bicho que é? / Prazer, eu sou arte, meu querido, então pode me aplaudir de pé / Represento esforço, tipo de talento, cultivo respeito / Cultura drag é missão, um salve a todas as montadas da nossa nação.

3. Lia Clark

No gênero pop/funk temos Lia Clark. A cantora ficou conhecida em 2016 com o hit Trava, Trava e recentemente lançou parcerias com Mulher Pepita e Pabllo Vittar. Em setembro do mesmo ano lançou seu primeiro EP, Clark Boom. A cantora já abriu show para a Banda Uó e foi listada recentemente pela MTV como uma das 10 revelações da música nacional.

Em janeiro de 2017, firmou parceria com a marca Avon para o lançamento do “Baile da Boneca”, um bloco de carnaval inspirado no clipe de Chifrudo, sua parceria com Mulher Pepita.

4. Mc Linn da Quebrada

No site da artista, lê-se a biografia: Bixa, trans, preta e periférica. Cantora, bailarina e performer, Linn encontrou na música – em específico, o funk – uma poderosa arma na luta pela quebra de paradigmas sexuais, de gênero e corpo. Em 2016, a artista lançou os singles “Talento” e “Enviadescer” e neste ano ela abre as atividades com a música “Bixa Preta”.
Nascida no interior do estado de São Paulo, Linn cresceu em uma família religiosa, fato que exerce influência em várias de suas músicas/clipes quando a opressão da igreja é contestada. Em entrevista ao portal G1, a cantora relata:

Eu venho de uma criação religiosa muito rígida, eu era testemunha de Jeová, então tive o corpo muito disciplinado, domesticado pela Igreja e pela doutrinação, que me privava dos meus desejos. Era como se ele não me pertencesse. Até eu tomar o bastião de liberdade há alguns anos e me assumir

5. Mc Xuxú

Carol Vieira, a Mc Xuxú, começou a carreira cantando rap em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ao se mudar para Jacarepaguá, zona oeste do Rio, a cantora recebeu influência do funk. Com letras que falam sobre a comunidade LGBT e preconceito ficou mais conhecida em 2013 com o clipe da música Um Beijo. Em fevereiro de 2017 lançou o clipe de O Clã o qual é baseado no famoso refrão cantado em manifestações da comunidade LGBT

As gays, as bi, as trans e as sapatão / E os que pregam ódio por aqui não passarão

6. Mulher Pepita

Priscilla Nogueira, a Mulher Pepita, é conhecida por ser uma das primeiras trans no funk brasileiro. Pepita começou seu trabalho na carreira musical como dançarina e logo lançou-se como cantora. Em 2015 lançou o single Tô à procura de um homem; em 2016 a música Chifrudo (parceria com Lia Clark); e em 2017 Uma vez piranha.

7. Pabllo Vittar

Cantora, compositora e dançarina, Pabllo Vittar ganhou reconhecimento nacional em 2015 ao lançar o clipa da música Open bar, uma paródia da música Lean On de Major Lazer.

Em 2016, Vittar estreou na TV como vocalista da banda do programa Amor e Sexo, da Rede Globo. No mesmo ano, foi anunciada como a garota propaganda da mais nova campanha Louca Por Cores, da Avon.

Em 2017 lançou Vai passar mal, seu primeiro álbum de estúdio, co-produzido pelo norte-americano Diplo. O videoclipe do single Todo Dia alcançou 18 milhões de visualizações, tornando-se o clipe original de uma drag queen mais visto no mundo, ultrapassando o clipe de Sissy tht walk, da drag americana RuPaul. A música também alcançou o 3º lugar na lista Viral 50 Global do Spotify.