Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: Insurgente (2015)

Existem duas vias quando se tenta avaliar um filme como Insurgente. A primeira e mais comumente usada: comparar o livro com o filme, assassinando assim a adaptação e, caso o leitor tenha visto a película primeiro, mata-se o livro, pois não será garantido um resumo cinematográfico fielmente feito ao reflexo da obra literária. O segundo caminho na escrita de uma crítica sobre filmes inspirados em histórias já existentes no mercado das letras é usufruir do primeiro e tentar burlar o saudosismo ou seu antônimo. No texto a seguir discutiremos sobre duas visões: a do fã Divergente e a do telespectador de primeira viagem. Comecemos com a segunda.

Insurgente é velocista. O filme começa bem, com a apresentação da sede da Amizade, o clima de conflito é bem diferente de “Divergente”, quando só tivemos um avanço na questão “ação” a partir da metade da produção. O segundo episódio da história de Tris e suas diversas facções é pulsante do início ao fim. Shailene Woodley vem em seu melhor trabalho, a interpretação da “nova Tris” barra qualquer Hazel. A atriz chega ao extremo de suas diversas faces em uma das cenas mais agonizantes, quando a personagem é torturada na sede da Erudição em meio a simulações.

Focando na temporalidade, ainda, a saída do trio: Tris, Caleb e Tobias da Amizade é drástica como deveria ser, o cenário, enquanto estamos na Amizade, deixou a desejar. Por ser um aglomerado de pessoas, com um só objetivo, regrados e representarem o que representam, foi mal elaborado. Minúsculo quando deveria ser grandioso e impressionar os pagantes. Assim também aconteceu com a sede da Franqueza e da Erudição, confunde-se facilmente os prédios, em sua parte interior, é claro. O exterior mostra a grandeza da facção comandada por Jeanine Matthews, já a de Jack Kang tornou-se, assim como a Amizade, uma mera figurante. O prédio da Franqueza pareceu, até para o menos atento observador, um trabalho preguiçoso da equipe visual.

Mas não podemos castigar de modo veemente Insurgente em seus aspectos visuais, pois existiram mais acertos que castigos à produção. A Abnegação destruída, os trechos reservados para as simulações e as cenas que finalizaram o filme, por apresentarem aglomerados de pessoas, acrescentaram um clima “pós-guerra” e um atual estado da mesma. Mais acertos, como falei. Algo que incomodou bastante foi o primeiro propósito da produção, apresentar Beatrice Prior como uma assassina sem escrúpulos, suas primeiras falas são: “matar Jeanine”. Isso contradiz o primeiro filme, quando Tris, se quisesse assassinar a líder da Erudição, teria feito, pois ficou com ela sob sua mira.

No mais, o filme “Insurgente” cumpre o que prometeu, tensão do começo ao fim, dividido da melhor forma e provocativo. Com toda certeza quem assistiu ou ainda irá assistir ficará com uma pulga atrás da orelha e comprará o primeiro ingresso para Convergente. Agora vamos à análise à luz do livro. Srta. Roth, antes de qualquer coisa, como permitistes que fizessem isso?

Se olharmos Insurgente como a adaptação que deveria ser, choraremos por horas. Castigaram o livro, em todos os sentidos. Se modificassem um ponto ali, outro acolá, estaria ótimo. O problema é que assassinaram a trama se compararmos com o livro. Irei realçar o que falei no começo: Analisaremos Insurgente por duas vias, a primeira só resguardara a visão da sétima arte, a segunda que será usada agora faz um comparativo entre livro e filme. Original e releitura para as telas. Essa tal releitura não saiu como esperávamos.

A obra literária de Veronica Roth criou uma teia alucinante: os planos, os mistérios, os cenários. O melhor livro da trilogia tornou-se um filme razoável. Foram descartados trechos importantes, a maioria deles não caberiam no filme pois em “Divergente” seus provedores foram abandonados quando adaptou-se o primeiro volume. Cortaram mais de trezentas páginas, muito disso se deve ao fato da curta duração do filme. Insurgente, em seus domínios, é mais que complexo. Isso não aconteceu na película. Inventaram uma linda caixa, instrumentos que mais aparentam ter vindo de Star Trek e ocultaram personagens essenciais. O curioso é que não foi explicado o significado de Insurgente, é claro que no livro quem introduz a epistemologia do título é um personagem que surge em uma página e morre cinco depois, mas isso não vem ao caso, oferecessem essa tarefa para uma Christina, ou até mesmo para Tobias, e detalhe: seria feito em outra cena, pois todo o clímax do livro ficara de fora. O ápice de Insurgente foi ignorado quando levado às telas.

Depende de onde olhamos e para onde olhamos, pois como filme e apenas isso, o desafiante “Insurgente” merece aplausos e reverências, em meio a erros consegue ressaltar seus pontos positivos e criar uma ponte explícita para seu sucessor. Como adaptação é um tiro errático, rompe seu alicerce com a trama original e evidencia que Convergente será bem menos fiel do que foram Divergente e Insurgente. Compreendamos que se deve separar o julgamento, avaliar da forma correta. O filme grita por um Oscar, figurino e efeitos com toda certeza não levam, mas o risco de sua atriz principal ou seu ator coadjuvante conseguirem indicações da Academia é quase iminente. Desafiador de facções, assim deveria ser definido o novo capítulo sobre Tris, a descendente de convergentes.

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