Rita Hayworth poderia ser apenas um pôster daqueles popularizados nos anos 1940 e que se espalharam em oficinas, borracharias ou celas de presídios, reduzindo a inacessibilidade das mulheres maravilhosas das telas de cinema a uma possibilidade de contato mais próximo. Marcos Alexandre Faber é poeta, ficcionista, músico, ensaísta e escritor. Rita está no livro Rita Hayworth and Shawshank Redemption, de Stephen king (1982), e no filme Um sonho de Liberdade, de Frank Darabont (1994), como uma imagem na parede de uma cela e cúmplice da trajetória de um prisioneiro. Marcos tornou-a mulher na legítima essência feminina neste seu novo romance livremente inspirado em ambas as obras anteriores.
No livro de Faber, Rita narra os acontecimentos das quase duas décadas de encarceramento do banqueiro Dufresne, inocente condenado por assassinar a esposa com o amante. Considerada a maior garota pin-up da época, ela protagoniza esta novela desfazendo-se do glamour conquistado em seis dezenas de filmes para tornar-se quase humana, como se voltasse à Margarita Carmen Cansino, filha de ciganos, como ela nasceu, e mostrando, então, a força e a beleza da alma feminina, muitas vezes tratada como frágil, ao desvendar-se.
“Geralmente escrevo porque preciso dizer alguma coisa. Muitas coisas no livro, eu disse naturalmente, com muito coração, queria dizer, queria que alguém escutasse”, revela Faber. Talvez pela veia poética do autor, o livro é leve e profundo ao mesmo tempo, a narrativa enquanto Rita parece fluir naturalmente num diálogo franco com a mulher contemporânea que também se encontra envolta em rótulos, mas prefere ver reconhecidas e respeitadas suas perspectivas de vida.
Não é a primeira personagem feminina que Faber apresenta. Essa facilidade em assumir o discurso de Rita não deixa de despertar certa curiosidade sobre como Marcos Alexandre fala com tanta naturalidade na voz da estrela despida do glamour dos holofotes. “Quando você encontra a voz na personagem, ela fala. E pela voz feminina, tenho mais facilidade e me sinto confortável em tecer o discurso. É como se a mulher tivesse uma licença para falar”, explica o autor.
A Rita Hayworth no romance se apresenta atemporal e maior do que a mulher glamourosa das telas, descrita pela imprensa no auge da sua carreira como a “Deusa do Amor”, para então observar e ter direito de ler o mundo conforme suas convicções e desejos.
Sobre o autor:
Marcos Alexandre Faber inventou-se poeta no Recife. Aprendeu poesia pelo olhar, pelo cinema da palavra. Precisava da música ao redor e escreveu canções com os amigos. Teorizou a poesia com um doutorado na Cidade do Porto. Virou professor na universidade e em dois estudos pós-doutorais vem esquadrinhando as relações da literatura com o cinema e com a música. Trocou o litoral pelo Sertão. Mudou de nome. Pôs o poema deitado na folha e se botou a narrar histórias. Dependente de café, prefere ler e ouvir canções em suportes como o livro e o disco de vinil. Faz do voto um ato de esperança contra o medo. Ambiciona deixar para os filhos um mundo mais justo e criativo.
Algumas obras:
Ficção: A leitora de poesia (Reformatório, 2021); O lampejo do vaga-lume (EDUFPE, 2018).
Poesia: Recife Porto (EDUFPE, 2004); Da destruição do poema (EDUFPE, 2007).
Crítica literária: A geração dos discos (EDUFPE, 2012); A poesia da Geração 65 (CEPE, 2019).
Música: A lenda da doce nuvem, 1996; O Engenho de Orpheu, 2013.