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Entrevista exclusiva com Mats Strandberg e Sara B. Elfgren, autores da série Engelsfors

No início do mês de Outubro, o Beco Literário teve o prazer de entrevistar dois dos mais novos (e mais promissores, diga-se de passagem), autores de fantasia jovem-adulta. Mats Strandberg e Sara B. Elfgren, que juntos, definiram um novo conceito para a literatura fantástica com mitologias próprias e histórias cativantes, na série Engelsfors, que se inicia por Círculo, único livro publicado até o momento no Brasil, pela Editora Intrínseca, e que nós já temos resenha (clique aqui para ler).

A entrevista foi realizada por e-mail, e ambos foram extremamente atenciosos e cuidadosos ao responder cada uma das perguntas enviadas por vocês, e outras formuladas por nós, e chegaram até mesmo, a nos designar embaixadores da série Engelsfors no Brasil! O quão legal é isso? Sem mais delongas, vejam a tradução abaixo, que possui SPOILERS EXCLUSIVOS sobre os próximos livros e adaptação deles para o cinema!

Beco Literário: Existe alguma razão para as heroínas do livro serem somente mulheres? Quer dizer, os homens foram apresentados como “fracos/inclinados para o mal”. Isso possuí algum significado específico?

Mats e Sara: Assim que começamos a discutir sobre os personagens, ficou claro que nós – como escritores e como leitores – ansiávamos por heroínas. Nós estávamos cansados de toda a ideia de “gangues de super-heróis” formadas por homens, e com eventualmente UMA mulher. Essa foi uma grande oportunidade de ter todo um grupo diversificado e de garotas bem “normais”, que deveriam se superar e se tornarem heroínas para salvar o mundo. Nós não entendemos o que você quis dizer com “homens foram apresentados como fracos/inclinados para o mal” no livro. Existem várias personagens do sexo feminino que praticam bullying, são egocêntricas, etc. E vários personagens masculinos positivos, jovens e velhos. 🙂

Beco Literário: Como vocês tiveram a ideia de escrever a série Engelsfors? De onde veio todas as ideias?

Mats e Sara: Nós queríamos escrever sobre uma pequena cidade, parecida com a que Mats cresceu, uma cidade que fica em volta de uma fábrica que foi fechada, resultando em desemprego, prédios vazios e uma carência de esperança. Aquele tipo de cidade onde todo mundo conhece todo mundo – ou ao menos, pensam que conhecem. Nós também gostaríamos de escrever sobre um grupo de garotas de diferentes cenários e tipos, que pertencem a diferentes panelinhas, e elas então veriam o que aconteceria quando fossem forçadas a trabalhar juntamente com alguém que praticou bullying com elas a vida toda, por exemplo.

Beco Literário: Vocês sempre planejaram a série para esse público jovem ou jovem-adulto?

Mats e Sara: Nós quisemos escrever para os jovens-adultos porque dessa maneira, a série poderia ser lida por jovens e por adultos da mesma maneira. E nós temos vários leitores adultos, ao menos aqui na Suécia.

Beco Literário: Círculo tem um enredo obscuro, vocês pesquisaram bastante antes de escrever?

Mats e Sara: Quando nós precisávamos descobrir algumas coisas, nós falávamos com amigos e conhecidos que poderiam nos ajudar. Por exemplo, nós falamos bastante com um amigo de Sara, que é um Assistente Social, para descobrir detalhes sobre a vida de Linnéa.

Beco Literário: Vocês trataram de vários tabus na história. O quão difícil é lidar com esses assuntos delicados?

Mats e Sara: É uma responsabilidade. Por um lado você tem que tentar lidar com assuntos difíceis de uma maneira respeitosa. Existe um lado obscuro na vida e nós não queríamos evitá-lo, mas ao mesmo tempo nós não queríamos usar, por exemplo, a morte como uma reviravolta na história sem cuidado algum. As coisas horríveis que acontecem tem um impacto real e profundamente emocional nos nossos personagens. Não é como se alguém morresse e no próximo capítulo todos já se esqueceram disso.

Beco Literário: Nos próximos livros, há algum relacionamento homossexual?

Mats e Sara: Nós queremos diversidade nos nossos livros. Isso é tudo o que podemos dizer sem dar muitos spoilers.

Beco Literário: Como foi a experiência de dar vida a tantos personagens intensos?

Mats e Sara: Foi bem difícil, mas também muito divertido. Nós realmente amamos nossos personagens principais – e nós amamos escrever seus inimigos, também. Nós tentamos ao máximo dar aos nossos personagens várias camadas, e ninguém é 100% “bom” ou “ruim”.

Beco Literário: Como vocês reagiram às notícias de que a série seria adaptada para os cinemas?

Mats e Sara: Foi como um sonho se tornando realidade. Benny Anderson (ex-integrante do grupo ABBA) e seu filho Ludvid Anderson abriram uma empresa de produção de filmes, e Círculo é seu primeiro projeto. Eles já são criativos por natureza, e então entenderam sobre o que os livros são, de verdade, os temas importantes e os personagens. Foi realmente uma experiência maravilhosa trabalhar com eles.

Beco Literário: Nós sabemos que Sara ajudou com o roteiro do filme, então podemos esperar grandes coisas? Como por exemplo, o filme ser bastante “fiel” ao livro?

Mats e Sara: Sara escreveu o roteiro juntamente com Levan Akin, o diretor. É claro, nem todas as cenas do livro estão no filme, e algumas coisas são diferentes, com certeza. Mas o filme é bastante fiel ao que é mais importante; os personagens e seus relacionamentos, e os temas da importância da cooperação e compaixão. É a mesma história, mas contada de uma maneira diferente.

Beco Literário: Depois de terminar a série Engelsfors, vocês possuem novos projetos em mente? Outros livros, ou algo assim.

Mats e Sara: Sara está trabalhando nos roteiros de Fire (segundo livro da série), e The Key (terceiro livro). Nós não sabemos se eles acontecerão ou não, tudo dependerá do sucesso do primeiro filme na Suécia. Ela também está escrevendo uma nova série, uma graphic novel e alguns outros projetos secretos. Mats está escrevendo uma história de horror e fantasia obscura. Não é jovem-adulto, mas esperançosamente, os leitores de Engelsfors gostarão bastante também. E alguns outros, projetos secretos.

Beco Literário: Vocês se tornaram bastante famosos no mundo todo. Como é a experiência? Como vocês se sentem quando alguém vem e diz que seus livros mudaram vidas?

Mats e Sara: Nós sentimos que nossos livros são famosos, mas nós não. Nós não temos muito glamour… Ter pessoas que nos dizem que nossos livros fizeram uma diferença em suas vidas é, com certeza, maravilhoso e humilde. E também um lembrete do quão importante é dar o nosso melhor ao escrever um livro.

Beco Literário: O que vocês diriam a alguém que quer ser um escritor? Algum conselho?

Mats e Sara: Escrever é uma experiência pessoal que é difícil aconselhar de maneira geral. Não tenha medo de não ser um escritor que não seja bom o bastante, só continue escrevendo. Os primeiros rascunhos são, quase sempre, bem ruins. É quando você começa a editar que a real mágica acontece, então você pode se preocupar com tudo isso mais tarde. Leia muitos livros e escreva histórias que você gostaria de ler. Aqui tem algumas dicas.

Beco Literário: Tem alguma coisa que você pode nos contar sobre Fire, o segundo livro? Algum trecho ou informação?

Mats e Sara: As Escolhidas possuem novos inimigos, os riscos são mais altos e elas são forçadas a se aproximarem mais. Também, nós vamos mais fundo na mitologia por trás do Escolhido e sobre o que o Conselho é, na verdade.

Beco Literário: Como é o seu processo de escrita? Vocês escrevem tudo juntos ou cada um escreve uma parte? Vocês escrevem em um computador ou à mão?

Mats e Sara: Nós escrevemos em um computador, mas as vezes nós usamos papel e caneta para planejar as coisas. Nós planejamos tudo juntos, e então nós editamos os textos um do outro, e aconteceu de, várias vezes, no final, nós nem mesmo lembrarmos quem escreveu aquilo primeiro. Nós tivemos discussões sem fim sobre tudo o que acontecia em Engelsfors; que tipo de música os personagens gostariam, o que eles pensavam dos seus pais, como a mágica funcionaria, como o universo surgiu. Nós discutimos cada palavra dos livros – e são muitas palavras. Aqui tem um post do blog que nós escrevemos especificamente sobre escrever juntos.

E para finalizar a entrevista, mostramos à eles um cosplay que o nosso escritor Arthur fez do personagem Elias, mas a pedido dos próprios autores, não postaremos a foto. Os interessados em vê-lo, podem entrar em contato conosco, mas só se não forem sensíveis!

E essas perguntas só nos deixaram mais ansiosos para a continuação da série, Fire, que deverá ser publicada no Brasil pela Editora Intrínseca, ainda sem previsões concretas. Gostaram da nossa entrevista e da proposta dos autores? Deixem um comentário e compartilhem-na em suas redes sociais!

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Resenha: Artesão das Palavras, Luiz Valério de Paula Trindade

No atual contexto de vida moderna em que estamos inseridos, não é incomum ouvirmos as pessoas clamarem por mais qualidade de vida e formas de atenuar a tão propalada “correria” do dia a dia e todo o stress dela advinda.

Pois então, por que não se permitir a embarcar em uma agradável viagem literária para lhe propiciar alguns bons momentos de leveza, de enlevo e de descobertas?

O Artesão das Palavras se propõe justamente a oferecer-lhe isso: ou seja, um escape consciente desta condição desgastante e, acima de tudo, um resgate de valores e princípios que valorizam a natureza humana e nos edificam, os nossos sentimentos mais profundos e o respeito pelo próximo.

Artesão das Palavras: um livro escrito para o leitor e pelo leitor
Por Jana Lauxen

Já li muitos livros de crônicas, dos mais diferentes escritores, das mais distintas nacionalidades. E algo que percebi, em grande parte deles, foi a forma impositiva e até agressiva de alguns autores ao apresentar suas ideias e opiniões. Como se, quem pensasse diferente, não fosse digno sequer da honra de lê-los; que dirá de ter do escritor respeito e consideração.

Este detalhe sempre me incomodou em obras que compilam crônicas. Pois acredito que o papel do escritor é levantar temas importantes, sim, e dar sua opinião também, é claro; mas nunca impor suas ideias e percepções ao leitor de maneira impetuosa e quase violenta, coagindo-o a engolir seus pensamentos, mesmo que na marra. Sob o meu ponto de vista, a intransigência em suas opiniões apenas afasta o escritor de seu principal objetivo: tocar quem se dispõe a ler sua obra, e fazer de fato diferença em sua vida.

Por isso, foi com certa ressalva que iniciei a leitura da obra Artesão das Palavras, do escritor paulista Luiz Valério de Paula Trindade (www.luizvalerio.com.br), que reúne crônicas versando sobre os mais variados temas cotidianos, como felicidade, escolhas, inspiração, lágrimas, beleza, vida digital, envelhecimento.

No entanto, o que encontrei nas 122 páginas que integram sua obra foi um escritor que soube, como poucos, desenvolver empatia pelas pessoas, pelos leitores, e pelos problemas e questões que os afligem. E foi por conta desta empatia e desta sensibilidade que a obra Artesão das Palavras me conquistou já nas suas primeiras páginas: ela nada impõe; apenas apresenta, e assim alcança a façanha de estabelecer com o leitor um diálogo consistente e interessante.

Luiz Valério de Paula Trindade não escreve para si mesmo, com o único objetivo de convencer-se do que diz, ou de reafirmar suas convicções. Muito menos tenta persuadir o leitor, impondo contundentemente o que acredita e o que deixa de acreditar. Pelo contrário. Fica claro que seus textos foram construídos para o leitor, mas, principalmente, pelo leitor. E talvez venha daí a impressão de que, ao invés de apenas engolir as opiniões do autor, conversamos com ele.

Há, ainda, uma certa humildade e benevolência na forma como Luiz Valério apresenta suas opiniões, sempre deixando um espaço para contestações e novos pontos de vista, o que demonstra uma personalidade literária alicerçada pela percepção e compreensão das aflições humanas, que fazem parte de todos nós.

E é por isso que seus textos não terminam após o ponto final. Eles continuam a crescer e florescer na cabeça do leitor, permitindo que estes cheguem a novas conclusões, acrescentando e enriquecendo o texto original.

Ademais, existe um otimismo perseverante que permeia toda a obra. Todavia, não se trata de um otimismo fantasioso, irreal e oco, mas um otimismo que nasce da observação do próximo, e da maneira como interpretamos e digerimos a vida que complica-se e descomplica-se para todos nós, dia após dia.

No entanto, não se engane! Nada de confundir a obra Artesão das Palavras com um livro inocente e ingênuo, beirando a autoajuda. Nada disso! Luiz Valério não foge de temas mais complexos e indigestos, como as relações virtuais que estabelecemos, e que parecem sobrepor-se aos nossos relacionamentos reais e cotidianos; o materialismo; a busca frenética, dolorosa e irracional pela perfeição; e até a maneira cruel como, muitas vezes, julgamos a vida e os outros pela embalagem. O autor ainda realiza uma crítica social sobre os nossos comportamentos e atitudes enquanto cidadãos, e parece não temer quem discorda ou pensa diferente. Ao contrário: chama-os para a conversação.

É, aliás, impressionante como o autor conseguiu reunir em sua obra temas de cunho tão diferentes, capazes de tocar e interagir com pessoas de personalidades distintas e até opostas.

Luiz Valério, sem dúvidas, é alguém capaz de analisar e interpretar a vida de maneira singular e generosa, e – mais do que isso – de transpor estas ideias para o papel de forma clara, objetiva e criativa, permitindo alcançar leitores tão diferentes quanto os temas que abordou em seu livro de estreia.

É visível e perceptível o esmero e o cuidado do autor ao escrever cada texto. E talvez seja justamente por isso que seu livro chama-se Artesão das Palavras. A ideia de artesanato contrapõe o conceito de produção em série, irracional e automatizada, acelerada e superficial que, infelizmente, percebe-se em muitas das obras literárias que vemos atualmente. Como se não houvesse tempo para refletir, apenas para escrever. Por conta disso, todos os dias temos acesso a textos que, claramente, não passaram por qualquer avaliação crítica do próprio autor, e onde as palavras parecem apenas despejadas no papel, sem nenhum aprimoramento.

Artesão das Palavras não se trata de um livro bruto. É, sim, um livro profundo, cuidadosamente trabalhado, lapidado e refinado. Uma obra que conversa com o leitor, e cria com ele uma conexão imediata. Como quando conhecemos um novo amigo, e de cara sentimos aquela empatia intensa e concreta.

Empatia esta que só nutrimos por alguém capaz de nos entender, de nos compreender, e de fazer crescer e desenvolver o melhor da nossa personalidade.

Resenha escrita por Jana Lauxen e recebida via e-mail

Jana Lauxen tem 29 anos e é escritora, autora dos livros Uma Carta por Benjamin (2009)e O Túmulo do Ladrão (2013).
Página na internet: www.janalauxen.com

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Resenha: Jogo da Mentira, Sara Shepard

A órfã Emma, às vésperas de fazer 18 anos, descobre que tem uma irmã gêmea. Mas, quando as duas estão prestes a se encontrar, Sutton morre num acidente. Agora Emma quer descobrir quem e por que a irmã foi assassinada. Quem a ajuda nesta tarefa é a própria Sutton… Uma garota popular com mais dinheiro do que bom senso e a irmã que nunca encontrou seu lugar levam o leitor a viver grandes emoções numa montanha-russa de romance e suspense. Primeiro livro da nova série de Sara Shepard, autora da série bestseller Pretty Little Liars.

Jogo da Mentira é o primeiro volume da série The Lying Game, escrita por Sara Shepard.

Emma, uma pobre órfã, nunca deu sorte, até que um dia descobriu ter uma irmã gêmea. Depois de sair da casa de sua mãe adotiva, a garota começa a ir atrás de sua irmã e acaba descobrindo o paradeiro de Sutton, sua gêmea. Após uma mensagem, as duas decidem se encontrar, porém, esse encontro acaba virando a vida de Emma de cabeça para baixo… Mas o pior ainda está por vir. Logo depois do encontro, a jovem descobre que Sutton está morta e ela terá de descobrir o que realmente aconteceu com a sua irmã.

Antes de tudo, gostaria de dizer que sou um fã nato de Sara Shepard. Não importa quantos livros ela escreva, vou querer ler todos! Mesmo antes de me aventurar no mundo de The Lying Game, eu já sabia que iria gostar. E ao ler, percebi que a série tomou um rumo totalmente diferente do que eu imaginava.

A trama principal é totalmente focada no que aconteceu com Sutton e é com um clima de suspense que começamos o livro. Engana-se quem pensa que a história é um romance. Quem já gosta de filmes de suspense do final da década de 90, irá se deliciar com Jogo da Mentira, pois no momento em que Emma começa a entrar na vida de sua irmã gêmea, as coisas ficam bem, mas bem, tensas. Com direito a ameaças e ataques misteriosos, só que neste primeiro volume as coisas ainda são “leves”.

Como de praxe, Shepard brinca e embaralha totalmente a cabeça do leitor, fazendo com que ele fique louco para saber o que realmente aconteceu. Esse é um dos principais fatores que fazem a pessoa ficar absorta naquilo tudo. Pistas são dadas, porém, como Sara é a rainha das situações improváveis, tudo o que ela deu nesse tomo da história pode ser uma grande mentira. A teia de mistérios e segredos vai só crescendo, fazendo que o final do volume tenha um gancho enorme para a continuação.

Os personagens têm suas características próprias, mas só que como ainda estamos no primeiro volume, não sabemos quem é bom e quem é ruim, fazendo com que quem está lendo fique mais curioso ainda. Realmente espero que a roda de pessoas que circundam Sutton me surpreenda tanto quanto as pessoas que circundavam a vida de Alison Di Laurentis.

Jogo da Mentira começou bem. Cheio de suspense e segredos, o livro agrada tanto os leitores de Pretty Little Liars como os amantes de um bom mistério. Fiquem atentos e não deixem de se enrolar na teia de mentiras. O jogo está apenas começando.

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Resenha: Para Onde Ela Foi, Gayle Forman

Já se passaram três anos desde que Mia saiu da vida de Adam. E três anos ele passou se perguntando por que. Quando seus caminhos se cruzam novamente em Nova York, Adam e Mia são trazidos de volta para uma noite que poderá mudar suas vidas. Adam finalmente tem a oportunidade de fazer a Mia as perguntas que assombraram ele. Mas será que algumas horas nesta cidade mágica serão o suficiente para colocar o passado para trás? – Você pode realmente ter uma segunda chance no primeiro amor?

Atenção: Essa resenha contém spoilers do livro #1, “Se eu ficar”.

Quando comecei “Para onde ela foi” tive muito medo. E não é aquele medo comum que você tem ao ler a continuação de uma história muito boa: aquele medo de que ela não vai ser boa o suficiente para segurar o enredo, ou que o fim não fará jus a toda a trama. Foi um medo maior… “Se eu ficar” (confira a resenha clicando aqui) foi um livro muito forte pra mim, em todos os sentidos. Ele abordou temas que mexeram com o fundo do meu coração, me fizeram repensar toda a minha existência e o valor que eu atribuo às coisas que tenho, mas acima de tudo, para mim ele foi um livro real.

No primeiro livro não tivemos historinhas fofas, Gayle Forman não pegou leve com os leitores e eu adorava isso. Essa sensação de que, mesmo abordando temas polêmicos como vida após a morte, Gayle conseguia me prender na veracidade dos fatos e não em uma realidade paralela/história espírita/faz de conta. Meu maior medo era esse: “Tá, então se Mia voltar vai ser tudo lindo, ela vai voltar feliz e tocando violoncelo, casar com Adam e ter 3 filhos”. Mas onde estaria a realidade nisso? Onde estarão as pesadas sessões de fisioterapia para recuperar seus movimentos, o choque ao descobrir que perdeu toda sua família, o desespero de se sentir sem rumo e a depressão ao tentar lidar com a morte? Aí pensei: “Tá, mas se tiver tudo isso o livro vai ser uma merda e vou precisar de acompanhamento psicológico depois de ler”. Então decidi parar de criar possíveis continuações e me abrir ao que Gayle Forman tinha preparado pra mim: uma obra-prima!

Para os leitores, terminar “Se eu ficar” foi um verdadeiro desespero: o livro acaba do nada, com Mia abrindo os olhos e nós, ansiosos pelo próximo capitulo, passamos a página para descobrir… os agradecimentos!

E só depois de muita espera, começamos a continuação da nossa história com muitas surpresas. O livro dessa vez é narrado por Adam, e temos um salto no tempo de 3 anos após o acidente com a família de Mia. Adam é um músico famoso e sua banda – Shooting Star, está no topo do iTunes, enquanto Mia é uma violoncelista de sucesso que acaba de entrar em turnê. Eles não estão mais juntos.

Perdida nesse mundo novo, fiquei super tensa e revoltada porque a história começou assim. Eu queria saber os pormenores da recuperação de Mia, o passo a passo de Adam virar uma estrela do rock e uma pessoa depressiva e revoltada e comecei a me irritar com o livro! Mas como é mais fácil eu virar uma girafa do que Gayle Forman me decepcionar, lá está seu brilhantismo de novo: ela vai nos contando aos poucos, pela narração de Adam, como Mia deixou a música trazer sua vida de volta, como ele foi abandonado por Mia, como ele sofreu, como ele canalizou toda sua raiva e decepção em músicas, como sua banda estourou, tudo em flashback com a realidade temporal.

“Meu primeiro impulso não é agarrá-la nem beijá-la. Eu só quero tocar sua bochecha, ainda corada pela apresentação desta noite. Eu quero atravessar o espaço que nos separa, medido em passos – não em milhas, não em continentes, não em anos –, e acariciar seu rosto com um dedo calejado. Mas eu não posso tocá-la. Esse é um privilégio que me foi tirado.”

Confesso que senti muita raiva de Mia por ter deixado Adam, mas quando eles se reencontram no concerto de Mia (e aqui meu coração parte um pouquinho) e ela explica tudo o que passou, tudo que ela lembrava, ouvi-la falar sobre sua família, como ela ainda sente um pouquinho deles dentro dela e sobre os motivos que a fizeram se afastar (aí meu coração quebra mais um tiquinho) eu compreendi todas as ações de Mia. E depois desse “fechamento”, Adam – que tanto lutou para ajudar Mia, que acompanhou toda a sua melhora e que pediu para que ela ficasse –  consegue finalmente ter um pouco de paz.

“Fiz a coisa certa. Sei disso agora. Sempre soube, mas parece tão difícil enxergar atrás da minha raiva. E tudo bem se ela tiver raiva. Tudo bem, até, se ela me odeia. E foi egoísta o que eu pedi que ela fizesse, mesmo que terminasse sendo a coisa menos egoísta que eu já fiz. A coisa menos egoísta que eu tenho de continuar fazendo. Mas eu faria de novo. Faria aquela promessa milhares de vezes e a perderia milhares de vezes para tê-la ouvido tocar a noite passada ou vê-la esta manhã à luz do sol. Ou mesmo sem isso. Só para saber que ela estava em algum lugar aí fora. Viva.”

(Aí meu coração, já dilacerado, vira pó). Mas que bom que consegui me recuperar a tempo de ler o final. Aaaaah o final! Eu nunca imaginaria, com toda a minha fértil imaginação, algo tão puro, tão simples e tão a cara deles. Gayle nos deu de novo mais uma lição sobre amor e sobre recomeços da forma mais singela e real que eu poderia imaginar. Só posso dizer que “Para Onde Ela Foi” conseguiu se equiparar a “Se eu ficar” e isso pra mim não é pouco elogio.

 (plus: )

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Resenha: O Desafio de Ferro (Magisterium #1), Holly Black e Cassandra Clare

AMIGOS E INIMIGOS. PERIGO E MAGIA. MORTE E VIDA. A maioria dos garotos faria qualquer coisa para passar no Desafio de Ferro. Callum Hunt não é um deles. Ele quer falhar. Se for aprovado no Desafio de Ferro e admitido no Magisterium, ele tem certeza de que isso só irá lhe trazer coisas ruins. Assim, ele se esforça ao máximo para fazer o seu pior… mas falha em seu plano de falhar. Agora, o Magisterium espera por ele, um lugar ao mesmo tempo incrível e sinistro, com laços sombrios que unem o passado de Call e um caminho tortuoso até o seu futuro. Magisterium – O Desafio de Ferro nasceu da extraordinária imaginação das autoras best-seller Holly Black e Cassandra Clare. Um mergulho alucinante em um universo mágico e inexplorado.

Desde que foi anunciado uma série escrita pela Cassandra Clare e pela Holly Black juntas, fiquei animado para ler. Duas das melhores escritoras fantásticas, juntas para escrever uma história do mesmo gênero. Não poderia esperar nada menos que maestria, certo? Certo.

O Desafio de Ferro, conta a história de um garoto chamado Callum Hunt, que não é um garoto popular, ou bem visto na escola ou na vizinhança. Todos o tacham como o louco, o esquisito. Mas tudo muda quando ele é obrigado a participar do Desafio de Ferro, uma espécie de teste para a escola de magia Magisterium, que não aceita todos aqueles que possuem poderes mágicos – os magos -, somente os melhores entre os melhores. Mas Call não quer entrar na escola. Ele sente repulsa pela magia, assim como seu pai.

Com um prólogo misterioso, a história se ambienta de maneira gradual, contando com detalhes o exterior e a visão introspectiva de um garoto que possui alguns traumas passados, que são alimentados por um pai, que por mais que ame seu filho, é distante.

Seguindo os conselhos de seu pai, Callum faz de tudo para falhar no Desafio de Ferro. Uma série de testes mágicos, que envolve desde textos teóricos sobre magia, até levitações de folhas de papel. Mas o garoto não precisa se esforçar muito para falhar. O desastre é iminente em todas as provas às quais ele é submetido, chegando, inclusive, a perder pontos na grade final, quando os mestres – os magos “professores” – avaliam os aplicantes para a Magisterium, pela primeira vez na história da escola. Nunca ninguém havia perdido pontos antes.

O Fogo quer queimar;
A Água quer fluir;
O Ar quer se erguer;
A Terra quer unir;
O Caos quer devorar.

A sensação de falhar não é boa, mas Call está consciente de que seguiu tudo o que seu pai disse, e nem precisou se esforçar para isso. Com certeza, não seria chamado para o colégio, depois de estragar tudo, várias vezes. Ele até fica despreocupado, quando o primeiro mestre começa a escolher seus aprendizes, somente os melhores… e Callum está entre eles.

É então que começa o frenesi de Alastair Hunt, pai do garoto, que inicia uma resistência e é retirado a força do hangar onde ocorreram os desafios. Mais uma vez, a fama de louco volta a rondar sua existência.

Nesses momentos, vemos que Callum é apenas mais uma criança, insegura, que necessita de bases sólidas para se desenvolver. Percebemos suas dúvidas e medos, que não éramos acostumados a ver nas narrativas de Cassandra Clare, já que a maioria de seus personagens são adolescentes ou adultos, mas que com certeza, já vimos com perfeição em alguns dos livros de Holly Black.

Depois do Desafio de Ferro, Call então se torna um aluno regular da Magisterium e é nesta parte que se inicia o clímax contínuo que a narrativa apresenta. As lutas internas para conseguir fazer amizades e mantê-las por perto, não desapontar aqueles que, pela primeira vez, ficaram interessados por ele… Nada é tão fácil como aparenta. Mas também, nada é tão medonho quanto o modo como o pai de Call falava. Será que tudo seria uma mentira, um egoísmo de Alastair para não viver sozinho?

Um de vocês irá falhar. Um morrerá. E o outro já está morto.

As aventuras são cativantes, o medo é paralisante e a amizade é a chave de tudo do que acontece e o que aguarda. Vemos todo um processo evolutivo, entre Call, Tamara e Aaron, os aprendizes do melhor mestre da escola, que se tornam cada vez mais próximos. Como dizia J.K. Rowling, em algum trecho de Harry Potter, “existem coisas que não é possível fazer sem as pessoas gostarem umas das outras”.

A narrativa de Black e Clare é leve, mas apresenta profundidade de maneira incomparável. Com semelhanças notáveis a Harry Potter, as autoras criaram uma mitologia própria em cima de coisas simples, como a natureza e seus elementos. É como se fosse real, algo escondido dos olhos humanos não mágicos.

Com um final digno de aplausos, totalmente surpreendente, deixo aqui minha indicação para todos os amantes dessa ramificação da literatura fantástica, sei que vocês não se arrependerão da leitura. E, aos Potterheads, peço que deem uma chance ao livro antes de comentarem qualquer coisa sobre as semelhanças. A maioria das publicações atuais são produzidas pela geração fruto da J.K. Rowling, grande precursora de todas as grandes árvores que estão crescendo agora – e gerando tais frutos.

Magisterium é uma obra real, que consegue te passar todas as angústias de um garoto que evolui de criança sem alicerces para um adolescente que um dia virá a ser uma grande fortaleza – desde que continue fiel aos seus próprios ideais.

Não se apega, não, Isabela Freitas - Sol em Escorpião
Livros, Resenhas

Resenha: Não se apega, não, Isabela Freitas

Desapegar: remover da sua vida tudo que torne o seu coração mais pesado. Loucos são os que mantêm relacionamentos ruins por medo da solidão. Qual é o problema de ficar sozinha? Que me desculpe o criador da frase “você deve encontrar a metade da sua laranja”. Calma lá, amigo. Eu nem gosto de laranja. O amor vem pros distraídos.Tudo começa com um ponto final: a decisão de terminar um namoro de dois anos com Gustavo, o namorado dos sonhos de toda garota. As amigas acharam que Isabela tinha enlouquecido, porque, afinal de contas, eles formavam um casal PER-FEI-TO! Mas por trás das aparências existia uma menina infeliz, disposta a assumir as consequências pela decisão de ficar sozinha. Estava na hora de resgatar o amor próprio, a autoconfiança e entrar em contato com seus próprios desejos.Parece fácil, mas atrapalhada do jeito que é, Isabela precisa primeiro lidar com o assédio de um primo gostosão, das tentações da balada e, principalmente, entender que o príncipe encantado é artigo em falta no mercado.

Isabela Freitas, em seu primeiro livro, Não se apega, não, narra os percalços vividos por sua personagem para encarar a vida e não se apegar ao que não presta, ainda assim, preservando seu lado romântico.

Confesso que tinha preconceito com “Não se apega, não”. Achava que era mais um livro de autoajuda do que qualquer outra coisa. Até agora, muito tempo depois de ter terminado a leitura, ainda não sei classificar o livro. Não é autoajuda, nem um romance, nem ficção, semibaseado na realidade… E olha, rotular pra quê? Acho que é justamente o fato de o livro ser uma mistura que o torna especial.

Conhecemos a história de Isabela, uma garota que, aos 22 anos, termina um namoro de 2 anos com o cara que todas as suas amigas achavam ser “o príncipe”, mas que passava longe de ser um bom namorado. Depois de passar pelo julgamento de todas as pessoas que conhecia, que achavam que ela tinha terminado um relacionamento perfeito, Isabela começa a questionar os motivos de ter insistido tanto tempo e de como um casal que – para os outros eram maravilhosos – pode ser por dentro algo tão infeliz.

É engraçado como isso acontece tantas vezes! Vejo muitos casais que parecem ser perfeitos, almas gêmeas, que posam fotos felizes, declarações de amor e que me dão a impressão que foram feitos um pro outro. No outro dia, o namoro termina. A que ponto as relações chegaram? Até que ponto precisamos de uma pessoa para nos sentirmos felizes? E até que pontos estamos dispostos a aceitar qualquer um só para ter uma “pessoa” mas não ter “amor”?

Foram muitos questionamentos ao longo da leitura, todos me levaram a reflexão. Enquanto acompanhamos a personagem passar por todas as fases pós-término: tristeza, solidão, a vontade de sair pra ficar com qualquer um, e finalmente, aquele momento que você sente o peso sair das suas costas e começa a se sentir feliz outra vez.

“A vida é uma eterna roda gigante. Ora estamos em cima, ora estamos embaixo.Tudo na vida é mutável, tudo mesmo, inclusive nós. Por isso precisamos aprender a “deixar ir”. Nada é para sempre, por mais que queiramos que seja.”

Todos esses momentos são narrados pela personagem com muito humor. Todas as situações – engraçadas ou trágicas – em que Isabela se mete são muito bem escritas, e a leitura flui muito fácil. Apesar de abordar temas pesados como solidão e términos, o livro consegue ser extremamente leve. E é aqui que preciso parabenizar a autora, que em seu primeiro livro consegue um enorme sucesso no cenário nacional, e já nos faz aguardar por sequências! Resumindo minha opinião em uma palavra: Leia!

Outra observação é sobre a publicação: o livro é lindo e super caprichado nos detalhes! Desde a capa até o começo de cada capítulo, com frases reflexivas e engraçadas. A Intrínseca está de parabéns!

E quanto às coisas que mais ouço quando falo de “Não se apega, não”:
1) A história da personagem Isabela e da autora Isabela: não sei até que ponto ela é real. Temos sim o mesmo nome, a mesma cidade, o mesmo melhor amigo, a mesma faculdade, mas a autora diz que seu livro não é uma “biografia”. Acho ótimo não saber se tudo que li realmente aconteceu, caso contrário eu – e umas milhares de pessoas – conhecemos muito da vida e da intimidade da autora, e não acho que seja legal tamanha exposição.

2)Não, o livro da Isabela não dá dicas de relacionamentos, nem a fórmula mágica para superar um término. Ele vai nos passando, a cada capítulo, a cada história vivida pela personagem, algum aprendizado. Lemos sobre amor, recomeços, desilusões, amadurecimento, mas acima de tudo, aprendemos muito sobre o amor próprio.

“Desapego não é desamor”

Resenhas

Resenha: O Filho de Netuno, Rick Riordan

Esta sequência da série Os heróis do Olimpo apresenta novos semideuses e criaturas incríveis, além de trazer de volta alguns monstros bastante conhecidos.
A vida de Percy Jackson é assim mesmo: uma grande bagunça de deuses e monstros que, na maioria das vezes, acaba em problemas. Filho de Poseidon, o deus do mar, um belo dia Percy desperta sem memória e acaba em um acampamento de heróis que não reconhece.
Agarrado à lembrança de uma garota, só tem uma certeza: os dias de jornadas e batalhas não terminaram. Percy e seus novos colegas semideuses vão enfrentar os misteriosos desígnios da Profecia dos Sete. Se falharem, as consequências, é claro, serão desastrosas.

O Filho de Netuno é o segundo volume da série spin-off de “Percy Jackson & Os Olimpianos”, “Os Heróis do Olimpo”.

Depois de muito ler a respeito do Acampamento Meio Sangue e criar fantasias sobre como meu sátiro se apresentaria a mim (dizendo que eu era um semideus e que estava na hora de me juntar aos outros), esse livro me fez ter uma nova perspectiva, pois um novo acampamento me foi apresentado, o Acampamento Júpiter, onde semideuses, não gregos, mas romanos, vivem com uma cultura totalmente diferente. Riordan está de parabéns em mostrar com clareza e desenvoltura essa “nova sociedade.”

Percy perdeu a memória e os monstros não parecem se importar com isso, vindo cada vez mais criaturas querendo matá-lo, mas as lutas não são justas, pois, ao serem golpeados por sua espada, eles não passam mais que alguns segundos em pó dourado antes de se reconstituírem e voltarem ao ataque. Contanto, Lupa, a loba que cuidou dos gêmeos do mito de fundação de Roma, Rômulo e Remo, lhe prometeu segurança caso conseguisse chegar ao Acampamento Júpiter.

Senatus Populusque Romanus

Ao chegar no acampamento, Percy se depara com uma sociedade organizada e bem estruturada, um local chamado Nova Roma. Lá ele faz amizade com Frank, filho de Marte, e Hazel, filha de Plutão, e se depara com um garoto que se apresenta como Embaixador de Plutão, Nico di Angelo. Percy pode jurar que o conhece de algum lugar, mas o menino nega tal afirmação.

Uma história repleta de aventuras e com personagens pelos quais você logo se apega! Devido às circunstâncias de alguns deles, você acaba na maioria das vezes temendo pelo pior, mas não se deixe enganar com a ingenuidade que alguns apresentam logo de cara, com o tempo você verá que eles pode ser tão fortes quanto um dragão.

Pois bem, após conhecer melhor Nova Roma, Percy parte em uma missão com seus novos amigos, Frank e Hazel, em rumo ao Alasca onde Tânatos, o deus da morte, foi acorrentado, explicando o motivo dos monstros voltarem a vida pouco depois de serem mortos. Mas é claro que essa não seria uma missão fácil com Gaia à espreita tentando fazer o possível para impedi-los de chegarem a seu destino.

Depois de acostumado com as profecias de Percy Jackson e os Olimpianos, é um pouco decepcionante não encontrar nesse livro aqueles versos que atribuem suspense a trama, mas não deixe que isso lhe desanime, pois são muitos os contrapesos que fazem essa leitura valer a pena.

 

Leia aqui a resenha de “O Herói Perdido”, o primeiro volume da série “Os Heróis do Olimpo”.

Resenhas

Resenha: It – A Coisa, Stephen King

Durante as férias escolares de 1958, em Derry, pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança e… do medo. O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry.
Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike Hanlon, o único que permanece em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry. O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa. Em It : A Coisa, clássico de Stephen King em nova edição, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites.

A cada vinte e sete anos, desaparecimentos e mortes misteriosas ocorrem em Derry, no Maine. Uma força sobrenatural reside na cidade se alimentando de seus piores medos e angustias, enfrentá-la pode ser a única maneira de se ver livre dela pra sempre, mas isso já foi feito uma vez e quando o ciclo recomeçou ela parecia mais faminta do que nunca.

Stephen King conseguiu me prender a sua narrativa de uma forma que poucos autores conseguiram, pois apesar de ser um livro relativamente grande ele não se torna cansativo, fazendo você perder o sono e não largá-lo até o seu desfecho, que por sinal foge do clichê substituindo os arrepios por lágrimas.

Seus esforços serão falhos caso tente não se apegar aos personagens, pois cada um deles possui personalidades fortes e características únicas, tornando o suspense ainda mais apavorante quando o seu personagem favorito está a um passo de ser devorado, mas enquanto a isso você terá de se acostumar pois brutalidades é o que não faltam no decorrer da trama.

Em 1958 um grupo de amigos enfrentaram a Coisa, pode parecer injusto que crianças na faixa de 12 anos tenham tido tal responsabilidade mas isso só fez mostrar o quão forte era sua amizade, depois de derrotá-la achavam que a tinham matado, mas a duvida insistia em permanecer, então os sete fizeram um pacto de sangue prometendo voltar a cidade e acabar de uma vez por toda com o mal que ali habitava.

A Coisa na maioria das vezes assume a forma de um palhaço, aliás qual a melhor forma de atrair uma criança? Elas são suas vitimas favoritas, possuem a mente criativa e cheia de medos a serem explorados e logo após de a terem cativadas a Coisa se transforma no seu pior pesadelo, devorando-a em parte e deixando o resto jogado a esmo até que um pobre coitado encontre o que sobrou de seu jantar.

Richie, Ben, Beverly, Eddie, Bill e Stan já não moram mais em Derry, cada um tinha seguido sua vida que não incluía uns aos outros e obtido um sucesso profissional cobiçado por muitos. Em uma noite recebem uma ligação, trinta anos após o juramento que fizeram, um ligação capaz de aterrorizá-los tanto quanto quando estavam naquela maldita cidade, era Mike, o único que tinha permanecido em Derry e reuniu provas de que a Coisa voltou, e agora eles estão acorrentados a uma promessa que fizeram no passado tendo de voltar onde tudo começou e junto com Mike derrotar a Coisa, mas primeiro será preciso lembrar de como aconteceu, muitos anos se passaram e poucas foram as memórias que restaram.

Um suspense repleto de flashbacks que vai fazer qualquer leitor querer mais, não importa o quanto o presente seja esclarecedor e superficialmente suficiente, King sempre nos joga no passado mostrando ainda mais detalhes para provar que sempre a algo mais a ser explorado.

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Resenha: Garota, Interrompida, Susanna Kaysen

1967. O ano seguinte seria marcado como o ano da revolução, aquele ano que nunca terminou. Susanna Kaysen tinha 18 anos e todas as incertezas que um adolescente em transição para a vida adulta traz consigo: Vou para a faculdade? E depois, o que acontece? É isso que eu realmente quero para mim? Suas indagações e percepções do mundo a sua volta não eram suportáveis para seus pais, amigos e professores. Estaria louca?

O livro autobiográfico da autora americana já traz no título o que podemos esperar de sua história: uma vírgula. Aliás, muitas vírgulas. Composto por capítulos curtos, “Garota, Interrompida” é escrito de forma não linear, o que pode atrapalhar um pouco a compreensão da história. Mas será que Susanna não faz isso propositalmente? Afinal, estamos lendo a história de mulheres que estão internadas em um hospício. Ali nada é fácil de ser compreendido. Ideias e pensamentos sobre passado, presente e futuro se misturam entre sessões de terapia e rondas de enfermeiras (que podiam acontecer de meia em meia hora ou, pasmem, de cinco em cinco minutos).

“[As cicatrizes] são uma espécie de fronha, que protege e esconde o que houver por baixo. Por isso as criamos. Porque temos algo a esconder.”

Susanna passou um ano e meio internada no Hospital Psiquiátrico McLean, fundado em 1811 no Massachusetts, EUA. O diagnóstico acusava transtorno de personalidade limítrofe, uma doença mental com características que podem ser confundidas com transtorno bipolar ou depressão. “Padrão invasivo de instabilidade da autoimagem, das relações interpessoais e do estado de espírito” que se manifesta no início da idade adulta, sendo diagnosticada na maioria das vezes em mulheres. Ela tinha em si mesma o limite entre a realidade e um universo paralelo. Vivia nesse limite.

“Contudo, a maioria das pessoas chega aqui aos poucos, abrindo de furo em furo a membrana que separa o aqui do lá fora, até aparecer uma brecha. E quem resiste a uma brecha?”

Susanna expõe o cotidiano do hospital – o que inclui gritos, fugas e episódios engraçados -, as amizades que fez ali dentro, seus medos e períodos de instabilidade. Os capítulos são como contos que, ao final, comporão uma mesma história.

“Garota, Interrompida” não é um livro sobre gente maluca. Não é um livro que retrata a vida de Susanna Kaysen. É um livro que faz refletir sobre todas as interrupções que acontecem em nossa vida. Sobre todos os momentos em que tivemos que tomar decisões, tanto pequenas quanto grandes. Mesmo com uma ficha de internação dizendo “Recuperada”, Susanna levou consigo esses dias que passou no McLean. Foi “um momento congelado no tempo mais importante que todos os outros momentos, quaisquer que fossem ou que viessem a ser. Quem pode se recuperar disso?”.

“As pessoas me perguntam: como você foi parar lá? O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: é fácil.”

Ao terminar a leitura jurei que estava louca.

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Resenha: Carta de Amor aos Mortos, Eva Dellaira

Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era — encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um — é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.

Ao receber uma tarefa de inglês – escrever uma carta para alguém que já morreu – Laurel não imagina que na verdade vai escrever umas mil. Desde que perdeu sua irmã mais velha, May, Laurel vê sua família ser destruída e sua vida se desestruturar. Enquanto tenta levar uma vida normal e lidar com a saudade de sua irmã (e melhor amiga), Laurel começa o ensino médio e tenta fazer novos amigos, mas na verdade, ela não conhece novas pessoas, ela conhece a si mesma.

É muito estranho lidar com a morte. Existem dois grupos de pessoas com diferentes reações: quem nunca perdeu alguém se encaixa na primeira categoria. Eu não digo alguém que conhecia, digo alguém “de verdade”, alguém que participava da sua vida, que sabia das suas manias, alguém cuja voz você consegue, mesmo depois de tanto tempo, ouvir quando fecha os olhos. Essa categoria acha que a melhor forma de lidar com a morte é não tocando no assunto. É esquecendo, perguntando sobre novas coisas pra pessoa superar. “Superar” também é uma palavra estranha. Não existe superar a morte. Você não supera uma pessoa que estava ali do seu lado e que de repente não está mais. Você não supera as lições que ela te ensinou. Você não supera todos os momentos e as risadas que passaram juntos. Não existe superar a morte.
Da mesma forma que não existe falar sobre outros assuntos e tentar distrair quem perdeu uma pessoa querida. Não há distração, porque na verdade, nós precisamos falar sobre a morte.  E essa é a segunda categoria de pessoas: As pessoas que falam sobre a perda. As que precisam saber que outros também sentem falta daquela pessoa que tanto amavam, precisam saber que ninguém vai esquecer ou substituir sua irmã, sua mãe ou seu pai.

“Carta de Amor aos Mortos” foi um livro difícil pra mim, porque me encaixo na segunda categoria de pessoas. Sempre que leio um livro ou vejo um filme que tenha a morte como tema, analiso de uma maneira totalmente diferente, e na maioria das vezes só vejo erros. Vejo como, no final, o protagonista precisa “superar” a perda, como as famílias se reintegram e como todos encontram um par no final, que ajudam a “distrair” a mente de quem está sofrendo. Como, no final, toca uma musiquinha feliz ou uma cena do sol se pondo e as mãos dos mocinhos entrelaçados – para nos dar a certeza de que está tudo bem, e que a morte veio, passou, deixou suas marcas e foi embora. Seria muito legal se fosse assim.

Em “Carta de Amor aos Mortos” eu só li verdades. Teve sim, suas doses de clichê, e de lições como “ame as pessoas enquanto elas estão por perto” que todo livro desse tema parece se sentir obrigado a abordar, mas eu senti que Laurel sentia a morte da irmã em todas as suas faces. Muitos pensam que quando alguém se vai, o maior sentimento que fica é o de saudade. A saudade fica, sim, e ela é enorme. Mas quase tão imensa quanto a saudade é o sentimento de raiva. Raiva de a pessoa ter ido embora, raiva de sentir a solidão, raiva de não ter podido fazer nada, raiva de relembrar os momentos que passaram juntos e a pior das raivas: aquela dos momentos que nunca irão chegar.

Ava Dellaira consegue passar tudo isso na sua escrita: por meio de cartas que Laurel escreve aos mortos que marcaram sua vida: Kurt Cobain, Janis Jopin, Amy Winehouse. É através delas que é narrado tudo que acontece na vida da garota desde que ela perdeu sua irmã, May. Conseguimos sentir, pelas cartas, a raiva, a saudade e a solidão que preenchem Laurel, e como a vida da gente pode mudar de uma hora pra outra. Eu tenho a sensação que a autora perdeu alguém muito especial, porque não imagino “inventar” tanta dor e tanto sofrimento.  Não se assustem,  “Cartas de Amor aos Mortos” não é um livro depressivo, ele é apenas real,  e mesmo lendo tantas coisas tristes, nos enchemos de amor e apreço pela vida. Após a leitura, fiquei bem uns 20 minutos olhando pro epílogo e lembrando de tudo que eu tinha acabado de ler, e sempre que eu precisar, vou pegar o livro na minha estante e ler de novo todas as palavras que me fizeram bem. Espero ansiosa por outros livros de Ava Dellaira, porque ela começou uma carreira melhor do que muita gente termina.

“Você acha que conhece alguém, mas essa pessoa sempre muda, e você também está em transformação. De repente entendi que estar vivo é isso. Nossas próprias placas invisíveis se movem em nosso corpo, e se alinham à pessoa que vamos nos tornar”