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The Epic Battle: Um continente chamado Brasil

Não é saudosismo não. Acompanha isso comigo, Beatriz Sarlo, escritora Argentina, estava na Festa Literária Internacional de Paraty e deu esta declaração: “Todos rezam para que seja um país bem-sucedido, porque todos serão bem-sucedidos  junto com ele.” Beatriz declarou isso e devemos tomar esta frase e muitas outras com diversos olhares. O olhar político, literário, musical, social. Olhar de brasileiro, não de pessimista. Olhar realista, não de remorso.

Livros, vamos falar de livro. Existe uma nascente, inegável, sim, inegável, que vomita a todo instante escritores e mais escritores em nosso país. Não falo que todos tem o mesmo proposito ou ideal, longe disso. É um turbilhão de motivos e propostas, é uma multidão de mãos levantadas, as desocupadas, pois as que escrevem entram em ritmo frenético, em um transe psicodélico, onde obras e mais obras são produzidas. Acreditem, quando se deseja ver, se vê. Por anos fechei os olhos para a literatura nacional, descartei as diversas manifestações de Amados e Machados, mas tudo tem sua hora e aqui estou, para protestar contra você que motiva-se ao gritar: Nem Machados nem Amados mais existem. Ah, meu amigo, como eles existem. É um jovem ali, enfurnado na livraria, procurando um resquício de silêncio para a construção de um mundo lotado de vozes. É uma mulher que alterna os horários, aproveita o momento em que os filhos dormem para embarcar em uma batalha cruel entre cansaço e obrigação. Obrigação com si e com seu ideal. É pau, é pedra, é o fim do caminho. É um autor ali e aqui procurando espaços que não são ofertados por editoras. Editoras que valorizam o internacional. O badalado. Que antiquado falar badalado, não? Mais antiquado é idolatrar Europas, e matar, mas matar impiedosamente o Brasil. Ah, o Brazil tá matando o Brasil. Já falamos em diversos momentos aqui, equilibremos essa paixão desenfreada por tudo que vem e não pelo que vai, saibamos observar os diversos horizontes. Porque não? Clássico, novo, ruim, bom, tudo isso existe em qualquer que seja o país.  Foco, continuemos no foco. Este paragrafo está ficando imenso, se minha antiga professora de redação mirasse isso eu já estaria morto. Mas prossigamos. O que Beatriz falou não foge da realidade, temos o peso de uma América, irei repetir: Não é saudosismo. O furor que um dia pode embalar Argentina, Chile, Uruguai, surge aqui, no centro de uma tabuleiro gigantesco. Beatriz também falara em outros momentos do evento que os críticos literários não serviam para nada. Nem os amadores, mas veja só. Aqui estamos, Beatriz, errando e acertando como você.

Não, não é saudosismo. Eu falo de Maria Bethânia, Chico Buarque, Gal, Gil, Gonzaga, filho e pai, Elis, Zé, o Tom e o Ramalho, Novos e velhos Baianos, Fafá, Rei Reginaldo, Cartola, ah, o sol nascerá, Renato, mais brasileiro que nunca, Ney, Rico e Milionário, Elba, Fagner, Alceu, tu vens, tu vens, com Cícero, Vanguart, a mais bela e mais bonita Banda de toda a cidade, Noite Ilustrada, Benito, Bendito, salve Marisa, Jovelina, mas me dá meu boné, porque Clementina tem hora, Nara tem hora, Zeca tem hora, Caetano, esse tem mais que isso, tem Tom, tem Vinicius, é um canto de Ossanha intimidador, como os olhos de Maysa, como a bruta e gigantesca música brasileira. Me diga, você que ama projetar o Brasil como o orifício do mundo, tem certeza que não estamos mais acima? Tem total certeza que seus xingamentos não passam de desejo de saber ser o Brasil? O Brasil que não consegue ser alcançado pela corrupção, pelos erros, pelos desleixos? O Brasil que representa a felicidade e a fome, a esperança e o medo, a guerra e a paz, o passado e o presente, tem certeza que você não deseja ser isso? Eu vejo, meus amigos, uma tremenda falta de ótica,  um temor pelo próximo, que não morde ao ser tocado.

Não, não é saudosismo.

É fato.

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The Epic Battle: Sobre a escrita. E sobre a música. E sobre esta coluna.

Já estamos aqui faz meses. Em meu mapa mental começamos com um debate sobre feminismo, partimos para direitos humanos e aqui estamos, relacionando ficção com realidade semana após semana. Mas desejo dar uma roupagem nova para a “The Epic Battle”, preservar é claro todo esse sistema de redes mas colocar algo a mais (Se tiver dicas, comente, por Merlin, comente), mas isso está errado, eu deveria está falando da escrita, ou da música. Enfim, vamos ao início.

Nossa parceira “Suma de Letras” trouxe as livrarias nacionais no início desse mês mais um sucesso de Stephen King. “Sobre a escrita” é um relato aprofundado do maior autor de suspense da atualidade. Temos uma resenha aqui no Beco, para ler o que nossa escritora Thaís Pizzinatto achou, clique aqui. Não vamos nos aprofundar no conteúdo do livro, na verdade só precisaremos discutir sobre sua proposta. Você, o leitor, pode ter duas interpretações sobre esse tema. Sobre a escrita, sobre a produção literária que a tantos afeta. Se ti for aquele leitor que vive para conhecer e construir histórias, sua visão será mais ampla, lotada de experiências e pensamento. Se você for apenas e não menos importante, um leitor e só, verá a escrita como algo distante mas ao mesmo tempo próximo demais. Quem nunca leu um parágrafo tão bem escrito que chegou a pensar: “Puta que pariu, como um ser humano consegue produzir isso, como consegue ligar uma palavra a outra sem indícios de soltura?” Ou foi surpreendido por um livro que nem merecia ser publicado e disparou: “Essa pessoa deveria ter morrido antes de escrever isso.” As críticas e mais críticas que elaboramos mentalmente se destinam na maioria das vezes para a bendita ou maldita escrita.

King sempre defendeu que o escritor deve ficar longe de distrações no momento de escrever, mas vejamos, essa é a opinião de Stephen, que mesmo sendo um dos mais premiados escritores deste planeta, pode não surtir efeito em diversos autores por ai. Vejamos J.K. Rowling, escrevia em um café, com todo o barulho do mundo sobre suas folhas amontoadas de palavras que um dia formariam um império literário. O processo da escrita varia muito de pessoa, ou seja, se você for um escritor assíduo ou daqueles (como eu) que escreve uma página por semana, deixe um relato abaixo, se desejar é claro. Vou passar minha experiência, espero que não lhe pareça enfadonha. Todo um enredo se forma em minha mente no momento da escrita, necessito alternar eventos quando caio sobre o papel. Primeiro, o torrent está lá, são e salvo baixando um episódio, um filme, o que seja, pois tempo é sagrado quando se precisa maratonar séries. Nesse intervalo de um episódio baixado, lá vamos nós para a produção. Isso, com toda certeza não ocorre com King, ou com você que entra em estado de pânico ao ouvir se quer um ruído no momento de escrever.

Entre tantos, um problema incomoda qualquer escritor. Sobre o que escrever? Isso ocorreu quase agora, no momento que pensava sobre o tema que teríamos para debater hoje (Nesse debate que na verdade é um monólogo, mas deveria ser uma discussão, porque não é? Não me pergunte.) e “Sobre a Escrita” me espancava da prateleira, gritando o tema, sendo o tema. No mais, aqui está um breve relato da escrita no Beco, caso você também tenha um, compartilhe conosco. Vamos para a música.

Sinceramente? Não sei porque a música está ali, mas convenhamos, o que seria do escritor sem a boa música como fundo. O que faríamos quando a inspiração não vem sem um Chico Buarque ou uma Maria Bethânia? Pois bem, a música é essencial no processo de escrita, a música, assim como a literatura, é matéria necessária em todas as ocasiões. Ocupa um lugar vago nessa coluna, mas prometo, voltaremos à ela em outra semana, ou outro mês, mas voltaremos, não podemos ficar sem falar sobre quem quer que seja, cantor, estilo ou movimento.

A coluna. Encerraremos com a coluna, que estava ali, no começo, mas não deveria. A “The Epic Battle” surgiu com esse nome por conta da Batalha de Hogwarts, um nome que abrange tantas e tantas outras guerras literárias, mas também por conta da página “The Epic Battle”, essa mesma está em parceria com o Beco nesse mês que bate na porta. Julho reserva uma data especial para os fãs de Harry Potter, há quatro anos o último filme do trio bruxo chegava aos cinemas, mais precisamente em 15 de Julho. Em comemoração à esta data, a The Epic Battle e o Beco Literário em parceria com a Editora Rocco, sortearão a Série “Cormoran Strike”. Os dois livros: “O Chamado do Cuco” e “O Bicho-da-Seda”. Para participar, acesse uma das páginas a partir do dia 1 e conheça o regulamento (Ou fiquem atentos ao site, postaremos todos os detalhes).

Chegamos ao fim de mais uma The Epic Battle e farei um pedido desta vez. Apareçam! Estamos aceitando sugestões de temas para a coluna de semana que vem, sendo assim, opine, estamos aqui para falar o que der e vier. E ainda sobre aquela comum situação de turbilhão de ideais, fiquemos com esse quote de Victor Hugo em “Os Miseráveis”.

“Há um grande tumulto; tudo fala em nós , exceto nossa boca. As realidades da alma não deixam de ser realidades por não serem visíveis e palpáveis.” 

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The Epic Battle: Joga pedra na Geni!

Não sei o que está ocorrendo, não sei mesmo. Acho que as pessoas se sentiam assim quando algo grande estava acontecendo. Por exemplo, a prisão de Bastilha caiu, contou a vizinha do meu primo, que na verdade é primo da minha tia, mulher do meu tio que é irmão da minha mãe por parte de pai. E lá estava a pessoa, sem saber o que comentar, sem ter opinião formada: Eu apoio a Revolução ou não? Vejamos, sou pobre, como um pão hoje e amanhã não, mas os Nobres tomam banho com leite de vaca, a minha vaca, que eu alimento, gasto todo tempo do mundo, passeio por ai com ela, tudo isso para uma linda senhora lavar suas partes íntimas com o leite de Arlinda. Ou, quer dizer que tem um cara dizendo ser filho de Deus? Me contaram, foi a Ruth, um homem, magro, porque prefere que seus irmãos comam antes dele, que incomoda pra caramba porque veio com essas ideias mirabolantes, querendo ser a verdade, o caminho e a vida. Quem ele pensa que é? Eu estou todo dia no Templo, pago o que devo pagar, dai vem um Nazareno, metido a Messias dizer que isso está errado, aquilo está certo, mas faça-me o favor. E mais, Raquel, a irmã da Ruth me contou também que ele saiu quebrando tudo no Templo, gritando que a casa de seu pai não era lugar para isso. Não, não admito, estávamos todos bem, agora um monte de gente segue esse louco, alguém crucifica esse homem, pelo menos nos poupa de mais furdunço. 

Nós não temos certeza de como agiríamos em determinadas situações. Jogaríamos lança em Cabral quando ele chegou na costa?  Defenderíamos o golpe militar ou correríamos para a esquerda assim que o primeiro dia de Abril finda-se? Situações, diversas situações. Hoje deixamos ser levados por uma enxurrada de comentários iguais aos do paragrafo anterior, muitos causam repulsa, outros aceitação, e ficamos nessa, sobre o muro sem saber para onde ir. Até que o cérebro entra em ação e acabamos caindo em um dos lados, defendemos tal opinião, mas nessa defesa acusamos veemente aquele outro lado, como se aquele fosse todo o absurdo do mundo. Nós estamos. Isso já foi comprovado, o ser humano é apresenta uma constante de mudanças que surpreende o mais abobado extraterrestre. Os donos da verdade xingam os relativistas, os relativistas tentam compreender as pessoas de mentes fechadas e vivemos nesse ciclo, onde certo ou errado depende do ponto de vista. Mas graças à mulheres e homens uma coisa foi criada, algo que rege todas as sociedades que podemos imaginar, ela pode ser escrita ou não. Mas lá está, o bendito e entrelaçador espírito da lei. Nada se faz sem ser visto pela cegueira da justiça.

Parada gay, 2015, uma mulher (Sim, ela escolheu ser e será, independente do que pensam ou dizem) transformou em protesto tudo aquilo que ela sofre diariamente, tudo aquilo que a comunidade LGBT passa dia após dia, isso seja por questões religiosas, políticas, independente do âmbito o preconceito vive como uma erva daninha, quanto mais se tenta combate-ló, ele enraíza-se nas mentes adeptas da ideologia do ódio, da repulsa. O protesto que tomou conta do país esta semana já fora usado em diversos momentos, mas não falemos deles, foquemos apenas nesta situação, onde diversos REPRESENTANTES de religiões se posicionaram contra. Ser contra ou a favor é uma escolha a se fazer, isso é o princípio de uma democracia, mas ocorreu algo que não condiz com práticas democráticas. Esses representantes perseguiram, sim, como a igreja católica fizera com “as bruxas”. Caçaram a mulher com toda ira que uma pessoa poderia ter. É válido destacar que essas são ações de HOMENS, a religião, em seu berço não resguarda nenhum tipo de ódio, nenhum tipo de segregação, longe disso. Prega-se o amor, a caridade, a aceitação. Isso está nas escrituras, independente em ser do Oriente ou Ocidente. O epicentro de toda essa confusão se deu porque, os homens e mulheres que já falamos acima, usaram de suas posições para declarar que um protesto artístico nada mais era que uma afronta às religiões cristãs. Cristofobia, foi esse o nome que deram. Assim sendo, meus amigos parlamentares que no dia de hoje, em sessão plenária, quando deveriam está trabalhando, rezaram o pai nosso, vos digo: Existe em suas ações uma Alafobia, uma Krishnofobia, pois já vimos aos montes templos protestantes, católicos, espíritas, falsos templos, castigarem outras religiões. É um sistema hipócrita, egocêntrico onde se recebem os tributos, mas não os paga.

A mulher na parada gay, sim, pode se manifestar daquele modo, pois não infringiu nenhuma lei, não difamou religião ou cidadão algum. Apenas usou de uma história milenar para transpassar seus sentimentos. Imagine você, amigo leitor, se fossemos censurar todas as analogias que são feitas no mundo literário ao crucificamento? Ou a tortura que sofrera Jesus? Varreríamos séculos, rasgaríamos páginas preciosíssimas, destruiríamos a arte. É uma pena que muitos não consigam enxergar o propósito, o real valor de uma pintura, escultura, música, ou de uma simples protesto. Certas coisas transformam panoramas, assim como uma bandeira erguida e gritos de “Vive la France”, ou um clérigo se desligando de sua santa igreja para formar outra, reeditada e nova em folha. Não percebemos, mas eis aqui, agora, mudanças acontecendo aos montes. Ser agente histórico ou não, isso cabe a cada consciência. Mas que uma coisa fique emoldurada: A escrita,  vai e vem de corpos, a ânsia por mudanças, isso nos leva a estradas diversas, o conformismo, tal não interfere em nada e de nada é lembrado.

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The Epic Battle: Pernambuco falando para o mundo

O novo, somente o novo atrai os olhos da população, que vidrada, abobada com as construções faraônicas se deixa levar por falácias, mitos do capital. Quando não já se foi desprezado de nossa história para que se ergue-se a modernidade? Quantos prédios não foram jogados ao chão por simples fetiches de homens de pensamentos unilaterais? Não só no que se fala de espaço material, mas também em toda nossa cultura imaterial muito já foi desprezado. Hoje pouco se escuta o som do pifano, do ganzá, do acordeon, outros tempos, outras mentes, preconceitos idênticos. O Rio de Janeiro transformou-se em Paris no século passado, São Paulo verticalizou-se de uma hora para outra, eis que chegou a hora de Recife, que sem voz, vai aos poucos ganhando forma de uma Dubai em pleno nordeste. Mas não é tão fácil assim, não se mexe com quem está ileso, sem ofender, sem querer brigar. Ao encostarem no Estelita, incomodaram os jovens que se esforçam para preservar seus traços culturais, afetaram os professores que diariamente transmitem o amor pela história, por seu povo, atingiram até os cantores, escritores, atores que por ai vagam. Atingiram o povo e isso meus amigos, isso não se faz.

Na literatura essa constante de querer mudar por mudar acontece séculos pós séculos, mas existe uma diferença entre a escrita e os interesses econômicos. Machado colocou um basta entre eras, fez da antiga literatura a nova e remodelada arte, isso causou impacto em diversos contextos, assim como na música podemos ver uma transição brusca dos estilos. Saímos da bossa nova, corremos para os festivais, instituímos uma MPB formada por diversos ângulos e hoje vemos emergir movimentos como o funk carioca e o sertanejo universitário. Já cantara Elis: “O novo sempre vem.” O problema é quando esse novo afeta diretamente as estruturas sociais, políticas e econômicas. Brasileiro tem a mania de se comparar com europeu. Vamos brincar com isso também. Nos comparemos à França. O país famoso por suas belas artes não mede esforços para valorizar uma faísca de história. Eles tem o Louvre, tem o rastro de revoluções que só deixam ainda mais fixo na mente do povo o quanto é necessário preservar enquanto se pode. Resguardar o patrimônio, é a sua identidade, fala de onde viestes e pra onde vai. Senta brasileiro e pensa: Porque se comparas tanto ao homem europeu e não ages como ele? Nem que seja no sentido cultural? Porque não se deixa levar por tuas raízes, pelos ensinamentos passados de geração por geração? Porque tens medo de tocar no que te pertence e levantar bandeira? Porque ao se comparar com o Francês desejas antes de mais nada esquecer que um dia foi brasileiro?

Diariamente as tribos indígenas são pressionadas a abandonar suas crenças, suas moradias e são cada vez mais empurradas para o interior da floresta Amazônica. A exploração sem poréns, sem contenções é causada diariamente graças à um legislativo lotado de interesses, uma cúpula egocêntrica, eleita pelo povo e que nunca servira o mesmo. Isso ocorreu no Recife. O projeto “Novo Recife” fora aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito da capital, Geraldo Júlio (PSB). O chamado líder Socialista tomou medidas neoliberais, isso nos leva a uma discussão que vem batendo sempre na mesma tecla, existe ainda uma esquerda e uma direita no Brasil? Ou são os políticos, de direita e de esquerda quando lhes convém? Ergue-se-á treze torres onde hoje está o Cais Estelita. Se depender da prefeitura, que mesmo contra o ministério público aprovou o início das obras, cairá por terra uma área que há muito já deveria ter sido tombada como Patrimônio Histórico e se erguerá uma construção nascida da ganância, da cede das construtoras por espaço, por dinheiro. Mas o povo não para, o povo não se cansa e assim como eles sonham com o levantamento de suas torres, nós, os estudantes, os professores, os civis inofensivos, saltamos sem receios, sem temor do que está por vir e deixamos claro que a cidade tem dono. O estado tem dono. O país pertence ao seus integrantes e nada mais

Já cantara Antônio Nóbrega: “É Pernambuco falando para o mundo!” Fala e como fala, grita que devemos nos mobilizar e parafraseando o próprio Nóbrega novamente: “Vinde, vinde, moços e velhos!”. Venham para as ruas, caminhem, onde quer que seja, por seus direitos, por oportunidades de se expressar. Cantemos, gritemos o máximo que pudermos para que os patrimônios sejam tombados, para que os escritores possam escrever, para que os professores possam ensinar, para que um dia, esse país, por mais utópico que seja, se valorize. Que prédios não bloqueiem nossa visão, nosso anseio por mudanças eficazes, que a democracia mostre sua existência, que em meio a tentativas de nos transformarem em surdos, possamos ouvir, o ecoar das palavras planejadamente colocadas nos livros, nos versos, estampadas nos grafites. Ainda na companhia de interpretes, lembremos de Elis, que cantando “Redescobrir”, dera voz à seguinte frase: “Não tenha medo, meu menino povo” e todos, em um de seus últimos shows, completaram: “Memória!”.  O que nos falta. Memória.

Resiste Estelita.

 

Atualizações, Autorais

Autorias: Noventa dias, por Rafaela Donadone

Oi Pai, Tudo bom?

Você sabe que nossas cartas sempre foram uma coisa nossa. Ninguém mais sabia. A partir do momento que eu mostrei (e postei) a primeira delas, algumas pessoas  vieram me perguntar como eu estou. Não foi uma pergunta simples “como você está?”. Era mais como uma desconfiança, como se eu escrever sobre minha saudade pra você fosse um um pedido de ajuda oculto, como se eu não estivesse bem, sabe pai? Se você estivesse vivo, será que eu ia ser julgada por escrever pra você?

“Já se passou tanto tempo…”. Quem padronizou o tempo do luto? Quem criou essa linha arbitrária de até quantos dias meu luto é normal? Alguém mensurou a intensidade da minha dor ao longo dos anos? Não, ninguém fez isso, pai. Pesquisando um pouco sobre o luto me deparei com a informação que após noventa dias eu já teria uma vida normal. Sairia do “luto”.

Sabe pai, eu achei isso um insulto. Como em noventa dias, eu seria capaz de assimilar que nunca mais vou te ver? Como em noventa dias eu seria capaz de aceitar que nunca mais vou ouvir sua voz? Como em noventa dias eu seria capaz de me acostumar a não sentir seu cheiro? Já se passaram nove anos e eu ainda não consegui nada disso. E acredito que se passarão noventa anos e eu ainda vou ter você dentro de mim.

Noventa dias é o prazo. Ninguém criou esse prazo pra quem está sofrendo, porque na verdade, o luto de perder alguém que se ama nunca passa, ele apenas muda de forma. Meu luto era carregado de lágrimas diárias e desespero, passou por uma longa fase de lágrimas silenciosas e apáticas, hoje ele é um pouco mais saudoso, e amanhã quem sabe como ele vai ser? A única certeza que eu tenho é que ele continuará existindo. Acredito que as pessoas criaram esse tempo quantificável para que elas possam voltar ao normal. Para que depois de noventa dias eles possam falar sobre outros assuntos sem se sentirem culpadas. Três meses é o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que eu nunca esquecerei.

Ah, e sim, eu estou bem. Isto não é um pedido de ajuda velado. É só uma carta de uma filha saudosa  para um pai amado.

Saudades,

Sua filha.

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Armada de Potter: Alastor “Mad-Eye” Moody

Pouco se sabe sobre o personagem, mas permito-me dizer aqui que essa é a Armada de Potter de um dos personagens de melhor coração em toda a saga. Mais um personagem que morreu por Harry.

Alastor foi um auror aposentado do Ministério da Magia e integrante da Ordem da Fênix. Sua aparência não é nada agradável aos olhos: perna de pau (motivo pelo qual o personagem manca), rosto tomado por cicatrizes de batalhas e um olho mágico que gira dentro de sua órbita, podendo enxergar através das paredes, da sua própria nuca e de capas de invisibilidade também (eis o motivo de “mad-eye”).

Em Harry Potter e o Cálice de Fogo, foi professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, como um favor a Dumbledore. Pouco antes do início do ano letivo, Moody é atacado por Bartolomeu “Bartô” Crouch Jr. que utiliza a Poção Polissuco para assumir a aparência do auror aposentado e dar aulas em seu lugar.

https://www.youtube.com/watch?v=-ZoZxoHXTpQ

Crouch disfarçado de Moody dava aulas sobre temas de alto nível (Maldições Imperdoáveis).

Também ficou conhecido por punir Draco Malfoy, transformando-o em uma Doninha.

E foi também o mentor de Harry no torneio tribruxo, onde sua máscara caiu. Após Harry voltar vivo da batalha no cemitério, Crouch – ainda sob efeito da poção polissuco – o leva até seu escritório, fazendo várias perguntas sobre Voldemort e chega a se preparar para tentar matá-lo, porém Dumbledore, McGonagall e Snape chegam na hora. Crouch volta a sua aparência normal, e confessa tudo. Dumbledore resgata o verdadeiro Moody.

https://www.youtube.com/watch?v=9rOnI7dX-Gg

Em a Ordem da Fênix, o verdadeiro Moody lidera a Guarda Avançada que transfere Harry da Rua dos Alfeneiros 4 para o Largo Grimmauld 12, ele aparece no clímax do livro, chegando para a batalha do Departamento de Mistérios, após o aviso de Snape. Em o Enigma do Príncipe o personagem quase não aparece, sendo visto somente no funeral de Dumbledore. Em as Relíquias da Morte é morto por Lord Voldemort após ser abandonado por Mundungo Fletcher na Missão dos Sete Potters, o corpo não pode ser recuperado.

Moody pode ter sido um personagem que não chamou muita atenção, mas essa sempre foi a intenção. Ele apareceu na saga, cumpriu seu papel e então morreu, mas ficou eternizado no coração dos fãs.

Essa foi a Armada de Potter dessa semana, espero que vocês tenham gostado! Quer saber sobre algum outro personagem de Harry Potter? Conta pra gente! Você pode entrar em contato comigo por qualquer lugar, farei o possível para atender seu pedido!

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Armada de Potter: Fred e Jorge Weasley

Depois de um pequeno tempo sem aparecer por aqui, trouxe para vocês uma Armada de Potter muito especial e totalmente dedicada a nossa escritora aqui do Beco, Rafaela Donadone. A Rafa pediu esse tema e como já havia recebido alguns pedidos iguais ao dela, resolvi atender. Portanto, a Armada de Potter de hoje é todinha dos ruivos mais amados do mundo: Fred e Jorge Weasley!

Fred e George são gêmeos de sangue puro, filhos de Molly e Arthur Weasley e irmãos de Gina, Rony, Percy, Carlinhos e Guilhermeeita família grande heim? Parece que alguém não tinha televisão, se é que me entendem. Entraram em Hogwarts em 1989 e foram selecionados para a Grifinória. Conhecidos pelo senso de humor impagável e por serem batedores do time de Quadribol da Grifinória, os gêmeos eram bem populares na Escola de Bruxaria e Magia. Em seu sétimo ano na escola, juntaram-se à Armada de Dumbledore. Mas os gêmeos não concluíram os estudos em Hogwarts, saíram pouco antes da formatura para abrir a loja de brincadeiras Gemialidades Weasley (Beco Diagonal, número 93). A loja foi financiada por Harry, com o prêmio do Torneio Tribruxo. Os gêmeos nasceram no dia primeiro de abril (irônico isso) de 1978. Juntos, protagonizaram momentos que jamais esqueceremos, como a fuga de Hogwarts. Sem sombra alguma de dúvida, eles são os personagens mais alegres de toda a série!

https://www.youtube.com/watch?v=NjjaHPIMLgk

Mas nada disso é novidade para vocês, não é mesmo?

Talvez esse seja um novo rumo para a Armada de Potter. A decisão de falar sobre Fred e Jorge veio junto com uma vontade louca de falar do amor e do carinho que os irmãos nutriam um pelo outro. De certa forma, esse amor existe em todos os irmãos, mesmo que às vezes fique perdido em meio a discussões, brigas, intrigas. Talvez Fred e Jorge fossem um exemplo a ser seguido. É. Esse carinho e essa conexão que eles têm um com o outro são retratados de forma muito forte, tanto nos livros quanto nos filmes, e por isso se distanciam um pouco da nossa realidade. Vindos de uma família relativamente pobre, entenderam desde cedo que juntos iriam mais longe, e realmente foram e serão lembrados eternamente por isso.

Muitas pessoas podem não entender onde quero chegar com isso, por isso vou explicar: tenho um irmão e nem sempre todos os momentos com ele são bons. Vivemos um bom tempo “em guerra” até crescermos e entendermos que juntos podemos fazer coisas incríveis. Pois é, nós chegamos nesse ponto. Porém muitas pessoas passam a vida toda em constante guerra com seus irmãos, com sua família, e nem sequer dão a chance de uma aproximação. Para essas pessoas, só tenho uma coisa a dizer: se nessa história precisa ter um perdedor, existe uma grande possibilidade de que você seja ele.

Em relação a isso, talvez toda a família Weasley seja um exemplo. De todas as famílias envolvidas na história de Harry Potter, eles são os mais unidos. Mostram que, não importa o quão pobre eles sejam, sempre vai ter lugar para mais um (Harry que o diga), mostram que não importa a dificuldade do momento que estão passando, eles vão se reerguer. Juntos.

Fred morreu na batalha de Hogwarts, em uma explosão causada provavelmente pelo Comensal da Morte Augusto Rookwood. Essa foi uma das cenas mais tristes de todos os livros e filmes. Foram poucas as pessoas que não choraram nas salas de cinema ou sentadas na cama enquanto liam. Realmente: é uma cena difícil de esquecer. Foi como a quebra de um elo que mantinha os dois irmãos totalmente ligados um ao outro. Mas essa quebra só aconteceu fisicamente, pois espiritualmente os dois irmão sempre continuam juntos.

https://www.youtube.com/watch?v=42t8PbqfCJs

E aí, vai esperar até ter um replay dessa cena em sua vida?

Passamos grande parte da nossa vida nutrindo um orgulho besta em não ir atrás, em não pedir perdão, como se isso fosse afetar na nossa personalidade de forma negativa, quando na verdade são atitudes que nos fazem crescer. Talvez esse seja o momento de sermos mais Fred e Jorge do que nós mesmos.

Essa foi a Armada de Potter dessa semana e eu espero que vocês tenham gostado. Peço desculpas pelas sextas-feiras que vocês ficaram sem a coluna, tive alguns probleminhas técnicos, mas agora está quase tudo resolvido então I’M BACK! A Armada de Potter da próxima semana também vai ser muito especial, espero vocês aqui!

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The Epic Battle: Preconceito Literário. E agora, José?

Ninguém gosta de falar sobre isso, nem sei porque estou falando sobre isso. Se quiser, pare por agora, o que vem depois disso vai te causar uma confusão tremenda, afinal é a “The Epic Battle” da semana, seria até sem graça se não existisse uma contradição de um parágrafo para outro, mas esse tema é bem arriscado, e hipócrita até. Quem nunca xingou um livro que atire seu desktop (Ou celular, não sei onde você está lendo, enfim…) pela janela. Não tem janela? Joga no chão que está resolvido, só não minta, nós temos fiscalizadores em todos os lugares, aí, do seu lado, prontos para indicar se você nunca castigou um tal de “Crepúsculo” ou até mesmo um autor consagrado por pura inveja. Eu já, você não?

O preconceito literário pode surgir de duas formas, ou você segue a linha de raciocínio de seu grupo de convivência e escolhe não “gostar” daquela obra ou por meio de sua tremenda criticidade e carga literária, despeja todo seu desprezo por tais livros. Vamos ao que importa: toda forma de literatura é aceitável. Falei isso em alguma coluna aqui e repetirei, seja qual for a categoria, o estilo ou o seu escritor. Ninguém é obrigado a gostar de romances românticos absurdamente previsíveis, eu mesmo os odeio, nunca consegui ler duas páginas de um Sparks ou qualquer amigo seu deste ramo, são tediosos, isso é certo, mas existem pessoas que adoram este estilo, escrevem resenhas apaixonadas, acontece aqui no Beco, acontece em qualquer outro site, sabe o porquê? Porque a literatura é universal, ela abraça homens e mulheres nas histórias de terror, nas aventuras inesperadas, nos dramas familiares, e no fim de tudo não deveria existir uma rixa que transforma fãs em gladiadores, que só divide ainda mais quando o objeto fundamental da escrita é, na verdade, unir pessoas.

Já briguei diversas e diversas vezes com amigos, não amigos, inimigos mortais, Hitlers e Mussolinis por conta de opções e gostos literários, um erro que cometemos diariamente mas que, se tentarmos, podemos evitar. É tão minimalista, tão errático ficar com raiva de uma pessoa  porque ela ama Beatrice Prior ou um menino bruxo, isso acontece do mesmo modo que faz calor no Brasil. Quem não lembra, ou ainda provoca, aquelas lendárias brigas nas redes sociais, tem dia que sobra até para a mãe da pessoa, surgem segredos que nunca deveriam ser revelados, tudo isso por conta do que se lê. Não padronizem, mas pluralizem as ideias, como já escrevi no parágrafo anterior, detesto certos ramos da literatura, mas só por ser literatura deve-se ter o merecido respeito.

Junto a todo esse preconceito surge outro problema. A padronização do ser “leitor”. Você só pode ser obcecado por literatura se andar por aí com tais roupas, falar de um modo digno para um leitor e acima de tudo ter todos os livros do mundo. Faça-me o favor, parece que as pessoas que andam falando isso não aprenderam nada com as centenas de livros que coleciona, muitas vezes nem os leram. Para ser leitor é necessário ter apenas uma qualidade: ser aberto para todas as coisas. Compreender que a ficção muitas vezes é mais verídica do que o que julgamos ser real. Ter em mente que a cada livro lido criamos uma carga que será levada e usada em diversas situações. Engana-se aquele que tem a biblioteca cheia e a mente vazia. Erra completamente quando julga ser o conhecedor da verdade sem nem ter lido um livro no ano. Fã de literatura é aquele que a vive, não aquele que demonstra por meio de conjunturas sociais, podemos, sim, usar acessórios referentes, carregar sempre um livro sob o braço, isso é saudável, te revigora, o que deve ser erradicado é a prática do julgamento, do impor por impor sem nenhuma justificativa.

Voltemos para o começo, ou para parte dele. Junto aos diversos julgamentos equivocados está o bendito “poser”. Este é o maior erro, não só meu, mas de todos os fãs mundo afora. Digamos que uma pessoa está superinteressada em conhecer Tolkien, não teve contato ainda com a trilogia do Anel e seus derivados, nem com qualquer obra do mestre, mas por se encontrar motivada assistiu todos os filmes da saga principal do autor, procurou na internet algo que falasse sobre e achou-se capaz de falar um pouco sobre as histórias do escritor, mas ela comete alguns erros, não sabe pronunciar alguns nomes por falta de prática ou até mesmo desliza em diversos tópicos da narrativa, aí “nós”, “leitores assíduos de Tolkien” arrumamos alguém para constranger. Gritar “poser” com toda força e deixar aquele princípio de fã com raiva da Literatura, não querer saber mais nem de uma página de “O Hobbit”. Não seria mais proveitoso se introduzíssemos essa pessoa à Terra-Média da melhor forma possível? Se com paciência corrigíssemos seus erros, como fomos corrigidos em nossas primeiras experiências com os livros, com os filmes, com as histórias que tanto nos encantaram? Parece que não entendemos nada, não compreendemos até hoje o porquê da existência de folhas e mais folhas escritas.

Obviamente, preconceitos não são abolidos de uma hora para outra, existe um longo período de aperfeiçoamento. Tentemos de todas as formas sempre garantir o direito de opções, não tornar nosso meio em uma ditadura constante, onde só se pode ler certo tipo de material. O autor chegou até ali, já tem todos os créditos possíveis, que interessa se eu leio “Cinquenta tons de cinza”? Que mal te faz se aquela pessoa lê “Harry Potter”? Isso ocorre na música, no cinema, mas tem que existir um basta e o primeiro lugar para acontecer tem que ser na literatura, primordialmente nela. Você é o que você lê, punir o livro que tal pessoa está lendo é punir o próprio leitor.

Autorais, Colunas

Autorias: Carta para um pai, por Rafaela Donadone

Oi, pai. Tudo bem?

Dizem que, quando algo nos incomoda ao ponto de doer, a solução é conversar e botar pra fora. Mas veja bem, pai, eu não quero falar com ninguém, só com você.

Sinto saudades. Esse motivo, dentre tantos outros, foi o principal que me levou a te procurar ultimamente. Andei pesquisando bastante sobre todas as formas possíveis de se comunicar com uma pessoa que já se foi. Entre sites estranhos cujo conteúdo me aconselhava matar animais, vestir roupas de uma cor específica ou ligar para mãe fulana de tal, no fim, percebi de verdade que não existe nenhuma maneira de você falar comigo, e essa parte doeu bastante. Mas então, resolvi falar com você, mesmo que sem resposta. E como essa é a maneira que melhor me comunico, vim escrever pra você.

Eu não sei ao certo onde você está agora, mas, de onde estiver,  gosto de pensar que você está me assistindo. Não sei se você vê as coisas na íntegra, ou só as partes compiladas, como num resumo das melhores partes do Big Brother (você sabe o que é Big Brother, pai?). Também não sei se você vai estar muito feliz comigo por aqui, mas só queria te dizer que eu estou fazendo o meu melhor.

Vim aqui hoje porque percebi que passei um dia inteiro sem lembrar de você. Eu sei, sou uma filha horrível! Logo que você se foi, todos os meus pensamentos eram seus, do momento que eu acordava até a hora de dormir, e então, nos meus sonhos, meus pensamentos eram seus também.

Com o passar do tempo, a maior parte do meu dia era pensando em você, e esses pensamentos foram ficando cada vez menores, até que de vez em quando, eu ouvia algo que faria você rir, ou via um filme que você iria gostar e todos os pensamentos voltavam com força. Hoje não lembrei de você. Não me entenda mal, pai! Eu ainda lembro do seu rosto, da sua risada, dos seus gostos e do seu cheiro. Mas aos poucos, vou me esquecendo do som da sua voz. Aos poucos, as roupas que peguei do seu guarda-roupa já tem mais o cheiro do amaciante do que o seu.  Aos poucos, já não me lembro bem de todas as sardinhas que você tinha na mão. E por isso, queria pedir desculpas. É errado se sentir culpada por perder esses detalhes quando tudo que tenho seu são nossas memórias?

 Existem tantos espaços da sua vida que eu queria, hoje, saber mais. Existem tantos espaços na minha vida que eu queria que, hoje, você preenchesse. Queria ter tirado mais fotos suas, queria ter gravado vídeos seus, queria ter colocado seu cheiro em um frasco, apesar de saber que nenhuma dessas coisas iria capturar a essência da sua risada, dos seus olhos nem do seu perfume.

Sei que esses anos de saudade não são nada perto dos anos de puro amor que você me deu. Aproveita que você tá aí perto e agradece a Deus por isso pra mim, tá? Eu te amo.

Saudades.

Sua filha.

Colunas

The Epic Battle: Não mexa com a idade, mexa com a educação

Vocês querem o resultado. Aí está o resultado. Em 1988 quando nossa vigente constituição nasceu, após um turbulento período chamado “Ditadura Militar” (que hoje parece ser adorado por muitos…), a idade penal era suficiente para satisfazer as massas. Mas o tempo passa e cá estamos nós, debatendo uma situação que já deveria ter sido excluída das pautas. Prender uma criança em qualquer masmorra não modificará nosso cenário. Enjaular um adolescente não surtirá os efeitos desejados por nossos protetores dos “bons costumes”. Da sociedade ideal.

“Bandido bom é bandido preso” (já ouvi morto também, mas não vem ao caso).  Bandido bom é aquele que após anos em confinamento compreende seu verdadeiro papel. Ser cidadão não é tratar o próximo como animal, é saber que, em devidas circunstâncias o homem transforma-se. É saber que o modo mais capacitado de causar mudanças só é tratado por apenas uma palavra, e nem de longe essa é “genocídio”. Gritem por “educação” e ela responderá alegremente.

Antes de modificarmos o código penal poderíamos repensar atitudes. Inúmeros são os professores que recebem sua licenciatura e desfilam por aí sem o conhecimento adequado, tratando seus alunos como “só mais um”. Digo com convicção, pois já fui vítima de desleixos educacionais. Eles te desmotivam, te obrigam a não oferecer a atenção devida ao âmbito escolar. Educação é chave, e, infelizmente, está sendo tratada como slogan. Paliativo para as pessoas de olhos vendados.

Junto a essa tão sonhada educação estaria o tema principal desta coluna: Literatura. As palavras influenciam, meus amigos parlamentares que votaram a favor desta redução, o castigo corporal e mental, não. Ele só piora o indivíduo. Seria bem mais fácil prevenir, tentar combater a violência bem antes de tal surgir. Uma garota, presa ao mundo literário tem bem menos chances de cometer crimes. Um jovem que coleciona edições variadas de uma mesma obra não perderá tempo com o que, depois de muitos livros, ele chamará de perda de páginas. Acredite, após de uma lavagem de letras as prioridades mudam. Tudo muda.

Um recado para os homens que nós, inocentes eleitores, elegemos. Desistam de querer agradar  uma parcela moralista de nossa população. Foquem, em nome de todos os deuses, em fortalecer as esferas educacionais. Investir na formação de profissionais capacitados, isso sim mudará os panoramas. Se tivéssemos mais Potter nas salas de aula ou até mesmo mais Bentinhos, aí, meu amigo, estaríamos mais aliviados quando o assunto é “Criminalidade Juvenil”. Focaríamos na grande parcela de pessoas que trabalham, vivem e respiram a arte e não nos assassinatos, assaltos e até mesmo suicídios.

A criação identitária ocorre nesta faixa etária, entre os rebuliços  habituais fica fixa no adolescente uma visão de mundo, diferente de todas as outras, pois não se trata de uma massa, trata-se de singularidades. Não será reduzindo a idade penal que puniremos os erros históricos e políticos de nossa sociedade, longe disso, só estaremos fortalecendo-os. Influenciemos, sim, na abertura educacional, onde autores atuais, junto às vanguardas, tenham vez. Onde se possa captar mensagens de honra, bravura, coragem e solidariedade. Tenhamos medo sim, de jogar ao léu crianças e após isso despejar toda culpa, exigir delas uma maturidade que não existe nem nos adultos que proferem tais palavras. Ousar educar antes de punir, deveria ser essa a missão de uma pátria educadora.