A música é algo que muda muito com os anos, você provavelmente não gosta das mesmas músicas que seus avós gostavam, e nem vai na balada para dançar ao som das músicas que seus pais dançavam quando tinham a sua idade, e acredite e conforma-se, seus filhos provavelmente acharam as músicas que ouvimos hoje chata e velha. Mas aí que esta a graça disso, se as músicas fossem sempre iguais, em todas as épocas, seria muito chato, e é pensando nisso que apresentamos na nossa coluna de hoje, uma seleção de artistas para ficar de olho em 2016. Entre eles pode estar a nova “McFly”, ou a nova “Spice Girls”, mas calma, é claro que essas duas bandas são insubstituíveis, mas isso não impede que a nova geração da música atinja e até mesmo ultrapasse o sucesso que fizeram e fazem até hoje.
Fifth Harmony – A girlband foi formada na versão norte-americana do reality show musical “The X Factor”, e desde então vem conquistando cada vez mais espaço na indústria. Camila Cabello, Lauren Jauregui, Dinah Jane, Normani e Ally, formam o quinteto (daí o nome). As garotas infelizmente não venceram o reality em primeiro lugar, mas ficaram entre os finalistas, e logo após serem eliminadas, conseguiram um contrato com uma grande gravadora, onde em 2013 lançaram seu primeiro EP, intitulado de “Better Together”. Em 2015, elas mostraram ao que vieram, e finalmente lançaram seu primeiro álbum, “Reflection”, que vendeu 80 mil cópias só nos Estados Unidos. Foi o single “Worth It” que tornaram as meninas internacionalmente famosas, sendo baixado mais de 3 milhões de vezes no iTunes. A banda já passou pelo Brasil em 2014, e prestes a lançar o segundo álbum intitulado de “7/27”, os fãs torcem para que as meninas passem pelo país para divulgar o novo trabalho.
Shawn Mendes – O Canadense de 17 anos foi descoberto no “Vine”, uma rede social que propõe os usuários a lançarem vídeos de até 6 segundos. Parece um tempo muito curto né ? Mas foi o suficiente para mostrar o talento de Shawn, que não demorou muito para assinar um contrato com a gravadora Island Records, lançando assim seu primeiro single, “Life Of The Party”, que estreou em 24ª lugar na Billboard. Seu primeiro EP lançado em 2014 recebeu o título de “The Shawn Mendes EP”, mas foi com seu primeiro álbum lançado em abril de 2015 que o jovem cantor foi lançado ao estrelato.“Handwritten” vendeu mais de 100 mil cópias, e o single “Stitches” rendeu a Shawn 4 discos de platina nos Estados Unidos, além de ficar no top 10 da Billboard. Devido ao enorme sucesso, o cantor foi convidado para abrir diversos shows de Taylor Swift na “The 1989 World Tour”.
Tori Kelly – Após lançar seu primeiro EP de forma independente em 2012, Tori foi descoberta por Scooter Braun, mesmo empresário de Justin Bieber, sendo levada a Capitol Records, onde lançou o EP “Foreword”, que teve como carro chefe o single “Dear no One”, disponível para download gratuito pelo iTunes durante uma semana, deixando o álbum na 16ª posição da Billboard. Em 2015 ela lançou seu primeiro álbum de estúdio, intitulado de “Unbreakable Smile”, que chegou a vender 65 mil cópias nas primeiras semanas, e foi super elogiado pela crítica. O single carro chefe “Nobody Love” fez com que Tori se apresentasse em vários programas de TV e premiações, e rendeu a cantora dois discos de Ouro, um no Reino Unido e outro na Nova Zelândia.
The Vamps – A banda de pop/rock formada por Brad Simpson, James McVey, Connor Ball e Tristan Evans, surgiu no Reino Unido em meados de 2011, quando começaram a postar covers musicais no Youtube. Em novembro de 2012, eles assinaram com a Mercury Records, mas foi só em 2013 que eles lançaram o primeiro single oficial da banda, “Can we dance”, que estreou em segundo lugar no UK Singles Chart. O álbum de estreia “Meet The Vamps” foi lançado em 2014, tendo o single “Wild Heart” como carro chefe. Em parceria com a Universal Music, em 2015 a banda fundou a própria gravadora, a Steady Records, que no mesmo ano lançou o segundo álbum dos garotos, intitulado de “Wake Up”, que teve como single de estreia a música de mesmo nome. A banda também anunciou que entraria em turnê mundial, a “Wake Up World Tour” passará por mais de 18 países, incluindo o Brasil. A cidade de São Paulo receberá um único show da banda, que acontecerá no dia 21 de Maio, na casa de shows Tom Brasil.
Troye Sivan – O cantor Sul-Africano, naturalizado Australiano começou a carreira fazendo vídeos no Youtube, onde ele tinha um canal variado no qual postava vlogs e covers de outros artistas. Troye chegou a tentar a carreira de ator, e em 2009 fez o papel de Wolwerine em sua fase jovem no filme “X-Men Origens: Wolverine”, mas foi na música que o jovem de 20 anos se encontrou. Já com 4 EPs lançados, em 2015 o cantor que tinha se assumido homossexual, lançou seu primeiro álbum, que levou o nome de “Blue Neighbourhood”, tendo “Wild” como primeiro single. O recente álbum que está em seu 3º single, “Youth”, segue em fase de divulgação, mas já vendeu mais de 65 mil cópias nos Estados Unidos, e foi bastante elogiado pela crítica e por personalidades famosas, como Taylor Swift e Lorde.
Acabou de ser disponibilizada a nova edição de Conexão Literatura, nº 08, com artigo e entrevista especial com Eduardo Spohr, autor do best-seller “A Batalha do Apocalipse”. Os leitores também poderão conferir uma crônica super bacana da Misa Ferreira de Rezende, entrevistas com João Paulo Balbino, Maya Blannco, Gustavo Magnani, Anderson Borges Costa, Fernando Lima e Kell Teixeira, além de ótimos contos elaborados pelos autores Ademir Pascale, Palmira Heine, Neyd Montingellii, Dione Souto Rosa e Ricardo de Lohem.
Quem nunca conheceu um ator ou atriz por um filme de saga, e virou fã depois, não sabe o que é orgulho. Orgulho de dizer: “Eu conheci Ansel Elgort por Divergente, antes de ser fã dele virar modinha”, por exemplo. Também dá muita satisfação o contrário, ou seja, conhecer uma saga por causa do ator. Melhor ainda é quando o seu ídolo, que traz um personagem de livro (ou mais) à vida, é premiado por isso. Pensando nisso, nós do Beco quisemos fazer uma lista especial pra vocês. O post, na verdade, ia ser sobre atores ou atrizes de sagas que já ganharam oscar mas, a fim de mostrar o poder de atuação de grandes mulheres, resolvemos fazer apenas das girls. Veja aqui as 7 atrizes de sagas famosas que já ganharam o Oscar, e divirta-se!
1- Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen, Jogos Vorazes)
Pode parecer clichê, mas tínhamos que começar com nossa diva, JLaw. Além de vários outros prêmios por vários outros filmes, a nossa querida Katniss ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2013 por “O lado bom da vida”. Super merecido, pela cena da lanchonete e várias outras…
2- Octavia Spencer (Martha, Percy Jackson e Johanna Reyes, Divergente)
Apesar de não muito valorizado, o mérito de Octavia Spencer em “The Help” foi legítimo, na opinião de muitos. Em 2012, a atriz levou a estatueta de melhor atriz coadjuvante, assim como levou o Globo de Ouro.
3- Maggie Smith (Minerva Mcgonnagall, Harry Potter)
Essa é clássica, hein? Bem antes da J.K. Rowling PENSAR em começar a escrever “Harry Potter”, sua futura professora de transfiguração já tinha ganho DOIS Oscars, como Melhor Atriz em “Primavera de uma solteirona”, em 1970, e como Melhor Atriz Coadjuvante em “California Suite”, em 1979. Como não admirar essa mulher?
4- Emma Thompson (Sibila Trelawney, Harry Potter)
Sim, é ela, nossa amada professora de Adivinhação! Emma Thompson, além de ter levado o Oscar de Melhor Atriz em “Howards End”, em 1993, também ganhou como melhor roteirista por “Sense and Sensibility”, em 1996! Por essa você não esperava, não?
5- Kate Winslet (Jeanine Matthews, Divergente)
Nossa diva/vilã de Divergente também tem Oscar, pessoal! Quando se fala nela, todo mundo pensa em Titanic, mas será que alguém conhece “O leitor”, o filme que ela fez com Ralph Fiennes (Voldemort)? Se não conhece, deve conhecer, pois foi graças ao longa que essa linda ganhou como Melhor Atriz, em 2009.
6- Julianne Moore (Alma Coin, Jogos Vorazes)
Essa é recente. Como muitos sabem, nossa Coin, que em Jogos Vorazes fica “competindo” com a Jen, pra ver quem rouba mais a cena, ganhou como Melhor Atriz no ano passado (2015), por “Para Sempre Alice”. Mais do que merecido, não?
7- Meryl Streep (Anciã-chefe, O Doador de Memórias)
E adivinha quem não pode ficar de fora quando o assunto é Oscar???? Isso mesmo, a rainha, a musa a deusa do cinema, Meryl Streep!!!!!! Por motivos de conveniência, nem vou citar todos os prêmios que essa diva já ganhou, até porque todo mundo já deve saber. Apesar de não ser uma saga muito famosa entre o público adolescente, “O doador de memórias” ganhou destaque não apenas por ser uma adaptação de um livro super famoso, mas também pelo elenco DESTRUIDOR!
Então foi isso, pessoal, essas foram as 7 divas das sagas e do Oscar que conseguimos lembrar. Obrigada a todos pela paciência com os surtos de fã ao longo do texto e tenham uma ótima premiação!
MONTGOMERY, AL – MARCH 25: Dr. Martin Luther King, Jr. speaking before crowd of 25,000 Selma To Montgomery, Alabama civil rights marchers, in front of Montgomery, Alabama state capital building. On March 25, 1965 in Montgomery, Alabama. (Photo by Stephen F. Somerstein/Getty Images)
porque gado a gente marca Tange, ferra, engorda e mata,
mas com gente é diferente
DISPARADA – Geraldo Vandré e Théo de Barros
Vou lhe contar o que está ocorrendo com esta “sociedade cheia de mimimi”. Até algum tempo, sim, não percebíamos, mas ocorrera, há alguns meses tudo parecia normal. Ser revolto era de uma normalidade que espantava, era só mais um no meio de tantos, mas hoje as coisas mudaram, não foi? Pararam de te chamar de comunistazinho, de “gente de esquerda”, esses são apelidos extintos, hoje a coisa vai além. Chegou o dia em que ser mais que desprezado é eufemismo, hoje gente que defende bicha, negro, traveco, mãe solteira, prostituta, macumbeiro, gente como nós, bem, é apedrejada ainda com mais força porque virou a era do “não se pode fazer uma piada que mil cairão a tua esquerda”. Ao inferno seus acostumados com não retaliação, que queimem todos esses que passaram anos praticando todas as barbaridades possíveis e impossíveis sem ter alguém para dizer: Ei, boy, tá errado. Não chegamos na época do mimimi, muito menos na da falta de humor, claro que não, perceba, agora mesmo estou rindo desses que se dizem defensores da democracia enquanto desejam estabelecer uma vontade própria para todo um país, estou gargalhando daqueles que chamam candomblé de seita e não aceitam ocupar o mesmo espaço de um negro. Morro de rir e de ira, e minha raiva e minha felicidade se transformam em palavras e tome cuidado seu mísero autoritário, dono da verdade, tome bastante cuidado pois minhas palavras, a voz de meu povo, o clamor que surge entre os milhões de oprimidos, bem, ele é maior que a discórdia que você deseja causar. Já dizia a música: “Avante, xavante, cante”, e cantamos a mais bela música. Música de quem vai para guerra e sabe que não se aceita derrota.
“O proletariado atravessa diversos estágios em seu desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência.” – Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engles, página 118.
Senhoras divulgando suas histórias, vi nesta madrugada em um dos filmes que estava em minha lista de “Preciso ver antes de morrer para ter opinião sobre”. Histórias Cruzadas é o título do longa, premiado em diversos festivais há alguns anos e com um elenco incrível. Provedor desta coluna (a última desse autor por essas terras) e inspirador para outros momentos. Fiquei atônito com algumas situações, pois já presenciei diversas daquelas (Não em outras vidas, não sei, vai saber…), mas nesta inútil existência e não me orgulho em nada. Presenciei e fiquei calado, não sei se por conta da idade (sete, oito na época) ou porque nasci para ser silenciado, mas lembro-me bem, vi senhoras de cor preta, com voz negra e orgulho contido, sendo humilhadas por puro luxo e prazer de suas patroas. Em pleno século XXI a história de Mississippi (Goddam) se repete e o tema é recorrente no cinema, tendo representando maior o longa “Que horas ela volta?” em território nosso. Obra incrível com Mardila e Casé, o filme é um aviso urgente aos brasileiros e para os de fora apenas mais um filme de comédia extravagante. Interessante não é, o tal ponto de vista? Como as coisas podem mudar de acordo com localidade, língua, ou cor. Hoje o seu ponto de vista é negro, pobre e escanteado. Hoje você é o X, e não, não morrerá por hora. Por hora.
“Se os tubarões fossem homens… Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos…” – Se os tubarões fossem Homens, Bertold Brecht.
Será fragmentado todo esse texto, tendo como valiosos faróis dizeres de mestres, ícones, senhores do conhecimento, homens e mulheres que garantiram sua parcela de bandeira na lua de nós todos, é necessário, por ser o encerramento de uma ciclo, ter tantos em um só lugar. Ainda sobre nossa condição, cá estamos em nosso bairro pobre, que tem como ponto de encontro uma igreja sem luxos e uma praça marcada por sangue de jovens assassinados em brigas de gangues. Isso não tem nada de cenário hollywoodiano, é imagem que se repete nas periferias de todo o país. Hoje é o grande dia, você sairá de sua casa com toda a ansiedade do mundo, suas inseguranças palpitando, sendo expostas ao mundo por conta de uma cor, elemento que lhe persegue desde o primeiro grito dado. Sua primeira entrevista de emprego, que chega a ser o ápice do estresse em qualquer adolescente ou adulto quando se apresenta como primeira experiência, independente de cor ou moradia, mas existem divisões, não existem? Claro que sim, é óbvio que entre um negro e um branco o dirigente de tal empresa, em sua grande maioria, vai optar por contratar aquele branco de “boa feição, de boa família, de boa persona”. Um muro mental corta seu cérebro, divide as pessoas. Se você vê um negro vindo em sua direção a noite, já começa a imaginar mil e uma coisas, se um garoto negro vai atravessar a rua bem em frente ao seu carro (que está parado na faixa) você já pensa que ele vai pedir esmola. Vamos fazer um jogo, coisa rápida. Eu falo uma profissão e você imagina o perfil do profissional, okay? Okay. É só imaginar de uma vez, sem pensar muito, começando: Um engenheiro. Um CEO de multinacional. Um escritor. Um jornalista. Um designer. Okay, pensou em todos? Quais eram negros? Precisa nem responder nos comentários pois eu sei que se você for sincero vai confirmar tudo falado até agora, infelizmente. É algo que está impregnado em qualquer um, negro, branco ou índio.
E existe um povo que a bandeira empresta P’ra cobrir tanta infâmia e covardia!… E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!… Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia?!…
Navio Negreiro – Castro Alves
Por isso meu amigo: cota sim. Cota sim porque não se trata apenas de questão histórica, sim, é por conta desta que estamos assim hoje, com alerta para negro, para pobre, para gente diferente, mas só existe essa história engraçada de cota porque vocês que tanto ousam reclamar, tanto defendem a “não existência de um preconceito”, são os mesmos que negam educação a uma criança por ter determinada cor, que se recusam a empregar um homem ou uma mulher por não estarem tão bem vestidos. São vocês, percussores de preconceitos que são obrigados a aturar cotas, pois até que essa sociedade ofereça uma educação igualitária, elas existirão. Mas quero enviar uma mensagem direta não para preconceituosos ou racistas, quero falar com você, que aguenta toda essa pressão diariamente, que olha nos olhos do ofensor e sorri, que oferece educação e recebe maldade, é com você que desejo conversar. A cada ofensa, devolva com orgulho e luta, encorpore o sangue daqueles que morreram por serem iguais a você, aproveite os momentos preciosos de sua vida para fazer a mudança, para não ouvir e ficar calado, mas sim receber o que é seu por direito. Não existe ira maior do que a do oprimido, e que ela exista, que exploda, que leve consigo os preceitos, que mostre quem somos e para que viemos. Vai ter escritor negro e pobre, vai ter ator com cara de escravo, vai ter dono de empresa da cor de carvão, vai ter presidente escurinho, vai ter gente com dread sim. Se vai ter neguinho batendo tambor, louvando à Oxum e Iansã? Ah, meu bem, em todo lugar vai ter. Se negro vai entrar na igreja para rezar para Nossa Senhora e beijar os pés do menino Jesus? Vai sim. Vai ter negro de toda religiosidade, ou negro com religiosidade nenhuma. O que vai ter mesmo é negro participando de todos os lugares, exigindo seu espaço, mostrando que é dono de seu corpo e espírito. E no fim disso tudo, se alguém perguntar por mim, bem, “diz que fui por ai”.
Fui ensinado de que existem três coisas que devem e merecem permanecer intocáveis: Política, futebol e religião. Você com toda certeza já recebeu esse conselho, não? Não mexe ai, isso é assunto seleto. Pois bem, eis aquele momento em que cai por terra todos esses costumes e bloqueios e você nota que política é assunto primordial para a vida de qualquer ser humano, futebol é facultativo e religião, bem, religião está por toda parte e a pessoa que se preze deve construir nem que seja um fragmento de opinião sobre isso. Já falamos por meses e meses sobre política aqui, debatemos sobre manobras, modos de se fazer política e sobre tudo o jeito como este país está sendo governado. Hoje não fugiremos da política, infelizmente (ou felizmente?), pois existem aqueles que desejam se apropriar da religião para se alavancar no meio citado. Hoje iremos nos aprofundar nos erros grotescos que ocorrem nas mais variadas religiões, falaremos sobre atos que nunca deveriam ter acontecido, e sobre os que acontecem e continuam por ser varridos para debaixo do tapete. Nossa inspiração? O longa “Spotlight”, indicado pela Academia em 6 categorias no Oscar 2016. Nosso embasamento? A falta de fé e palavra de alguns líderes.
O filme “Spotlight” trás para as telas uma investigação realizada por determinada equipe de uma jornal norte-americano sobre crimes sexuais cometidos por membros do clero da igreja católica de Boston. A partir de poucos casos descobertos de estupros e assédios cometidos por sacerdotes, os repórteres se aprofundam no caso, revelando um escândalo gigantesco, onde mais de cem vítimas foram totalizadas, isso repercutiu mundo a fora e todos nós sabemos a profundidade dos casos, até onde chegaram, como tais atos desumanos invadiram as paredes sagradas da cidade farol do catolicismo, como padres, bispos, cardeais estupraram crianças e passaram despercebidos, foram encobertos pela Igreja. Hoje temos em mente que a praça de São Pedro não só foi lavada por sangue das guerras santas, mas por lágrimas de crianças mundo a fora. O filme é de uma realidade que aterroriza, mas iremos nos conter por hora pois neste sábado uma crítica sobre o longa irá ao ar com detalhes cruciais do filme. Indicamos um outro filme com esta temática, e de certa forma avassalador assim como “Spotlight”. “O Clube” é o título do longa lançado também ano passado que conta como se dá “a punição” destes padres estupradores e criminosos perante a Igreja. Você confere o trailer abaixo:
Antes de nos aprofundarmos neste tema, é preciso dar destaque a algo: A religião é falha. Isto é fato. Não digo que suas escrituras são falhas, que pecam em cada frase, longe disso, ainda iremos falar sobre os livros sagrados pois é necessário de toda forma, mas o que desejamos passar é que a religião, por ser administrada por homens consequentemente encontra um caminho falho, já que homem nenhum é perfeito. No fim das contas, a religião é o reflexo de seus seguidores, e acima de tudo, daqueles que se dizem “Líderes” e comandantes de tal legião. Sobre os abusos sexuais até hoje são contabilizados mais e mais casos semelhantes aos descobertos em Boston, mas o ápice ocorrera durante o papado de Bento XVI. Fora lá que o mundo conseguiu encarar a face manipuladora da Igreja, novamente. O Papa sobre tal situação primeiramente proferiu declarações duvidosas, parecidíssimas com o que tanto fora repetido décadas após décadas sobre os crimes abafados. Após receber acusações de que estava por acobertar ainda mais os criminosos, o Papa remodelou seu discurso, o deixou apresentável ao público: Resumindo, falou o que os fieis e os não-fiéis desejavam ouvir, mas as ações que realmente deveriam ser tomadas só vieram emergir no papado seguinte, com o atual pontífice, Francisco, que por meio de mudanças drásticas na cúpula da religião está encaminhando uma onda de modificações no modo como a igreja reage frente a assuntos como esse. Que fique claro também outro quesito: Não se fala aqui da fé ou dos dogmas da religião, mas sim de seus representantes. Não é intensão nossa reivindicar mudanças nos dogmas religiosos, pois caso isso ocorresse deixariam de ser dogmas. Isto é assunto da Igreja para a Igreja, de determinada religião para esta e só, não cabe as pessoas que estão fora de tal âmbito querer interferir na fé alheia. Mas quando o assunto extrapola e atinge as áreas judiciais e cidadãs, bem, é dever de qualquer um, ateu, espírita, católico ou protestante, agir. Estupros que ocorrem sob o teto sacro não ficam apenas neste, eles em algum momento surgem para aqueles que procuram saber sobre e nenhuma proteção, nenhum abrigo deve ser dado para pessoas que cometem tão horrenda ação. Justiça, é a palavra-chave neste caso e nenhuma batina tem como serventia defender estrupidadores nos tribunais, pelo menos assim deveria ser.
A partir de agora colocaremos o assunto acima, que serviu como guia para onde acabamos de chegar, de lado. Spotlight é uma obra prima e nos apareceu como a ponta do iceberg. Se mergulharmos bem mais fundo veremos uma montanha grotesca de hipocrisias e atos que vão de contra ao que as seguintes religiões pregam. Sem querer, pois estava ouvindo música no youtube, deparei-me com um vídeo interessante e que me causou vergonha alheia de principio, mas após alguns segundos pude observar a gravidade de tudo aquilo. Lá está no vídeo o pastor Marco Feliciano, presidente da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, pregando em mais um dos rotineiros cultos da Igreja. Até ai, tudo bem, nada mais normal que isso, não? Um pastor pregando? Mas o tema até que é engraçado, aos poucos o pastor vai introduzindo uma narrativa cheia de entremeios, com algumas (várias) mentiras nas suas frases, até chegar no cantor e compositor Caetano Veloso. O pastor simplesmente acusa Caetano Veloso de ter recebido auxílio de satanás, o próprio, para a venda de um disco seu que continha a música “Sozinho” (as vezes no silêncio da noite... você conhece). Feliciano neste vídeo que é antigo (2013) mas que comprova a pessoa do pastor, usa dados que para ele e seus fiéis são verídicos para destinar todo o sucesso de Caetano a pactos realizados em terreiros de candomblé. Em uma das partes do vídeo ele faz uma interpretação digna de Oscar para revelar o segredo de Caetano Veloso ter conseguido vender um milhão de cópias, e por fim fala que a força do cantor vem de uma mãe de santo, nomeada Mãe Menininha do Patuá. É ai meus amigos que a coisa começa a virar uma piada completa (já era). Quem conhece o candomblé, ou ao menos um pouco sobre a religião, sabe que um dos expoentes da mesmo é Mãe Menininha do Gantois (que na pronúncia fica Gantuá), veja, Marco Feliciano só precisaria fazer uma simples pesquisa para deixar sua fantasia ainda mais convincente, mas não, é muito trabalho para enganar milhares de fiéis. Esse discurso de Feliciano, ao colocar a Iyálorixá como servidora do demônio, e transformar os Orixás em o próprio satanás adentra na mente das pessoas, chega no ouvido de crianças, pais e mães e as deixa completamente desnorteadas. Em uma sociedade onde o negro é associado a escravidão, e religião negra é associada ao submundo por questões históricas que se transvestem nos dias de hoje para reproduzir o maior nível de preconceito possível, tais palavras vindas de um líder só pode repercutir em algo maior. E infelizmente aconteceu isso. Além do preconceito habitual gerado pelas diversas religiões em relação as de matrizes africanas (que não deve existir), um caso chocou o país há algum tempo. Uma garota, vinda do culto de candomblé, foi apedrejada. Os presentes relataram que os agressores portavam bíblias. Perceba, todo o discurso de ódio reproduzido por Felicianos nas mais diversas igrejas, independente da religião, resultam em atos fanáticos que tiram vidas ou deixam pessoas gravemente feridas. É certo que, como falei, não devemos agir no que condiz a ações internas das religiões, mas é um erro grotesco ficar parado ao ver que os atos de tais religiões em seus templos resultam em uma guerra constante nutrida de palavras de ódio e violência. O amor ao próximo, o respeito, a fraternidade ensinada por Jesus transformou-se em “desrespeitai, odiai e matarás” o teu próximo. Atingimos um estágio de alienação popular que deixa qualquer um bestializado. Voltamos a época em que negros não podem cruzar pontes, em que qualquer cidade do interior ou da capital transformou-se na nova Selma. Sobre esse processo de uso da oratória para enganar milhares com tão pouco, indicamos o filme “A Onda”, que para muitos já é clichê, mas pode servir como um “alerta” sobre determinadas coisas. Confira o trailer abaixo:
Realizando uma quebra no assunto “Intolerância religiosa”, vamos para um tópico que se enquadra muito bem nesta questão de se contradizer. Em Uberaba, centro do Espiritismo no Brasil, ano passado, presenciei uma cena que deixaria qualquer um entendedor da Doutrina revoltado. Nos foi informado que nenhuma loja da cidade estava autorizada a vender material que estivesse estampado com qualquer que fosse a figura relacionada a Chico Xavier (Grande nome da religião não só no país, mas em todo o planeta), até ai tudo bem, os responsáveis estariam preservando a imagem do médium, mas o que ocorreu, neste mesmo dia fomos até o museu destinado a Francisco Cândido Xavier e encontramos de tudo. Bolsa, chaveiro, camisa, caneca, copo, tudo que um bom capitalista iria adorar ver se encontrava no local estampados com o rosto sorridente e sereno de Chico Xavier. O que aconteceu em Uberaba (e ainda deve está acontecendo, não sei, quem for de Uberaba ou passara por lá há pouco, conte-nos nos comentários, estamos curiosos) fora nada menos que um monopólio comercial; realizado por REPRESENTANTES, eu disse, do legado do médium. Homem que pregara o desprendimento das coisas materiais. Trabalhadores de uma religião que tem como eixo principal a caridade e valorização dos bons atos, doutrina que nada necessita materialmente, mas oferece espiritual e fisicamente. Também em Uberaba, nos foi informado que em alguns centro espíritas (entre os mais de sessenta da cidade) falsos médiuns fingiam incorporar o espírito de Chico Xavier, trazendo mensagens descaradamente comerciais, e os homens e mulheres, nauseados por uma fé cega, acreditavam e atendiam as exigências demandadas pelos charlatões. No distrito central da religião no país, atos como esses se repetem e nos perguntamos: O que a religião faz sobre isso? Vou melhor formular minha pergunta: O que os representantes da religião fazem sobre isso?
Recentemente presenciamos a festa de Iemanjá em Salvador e em outras cidades do país. Milhares de pessoas enviando suas oferendas à Dona Janaína. Junto a festa também surgiu um questionamento que há tempos se vem fazendo presente mas que desta vez ganhou maior evidência: Para onde vão esses barcos e oferendas maiores? Vão para o fundo do mar que acaba por ficar poluído com uma demanda gigantesca de material que não dissolve fácil, que vai passar anos vagando por ai ou regressar para a praia. O candomblé tem seu Deus maior, Olorum, criador de tudo e todos. Fora Olorum que criara os Orixás e esses se fazem presente como entidades ligadas à natureza, eles são a natureza. Sendo assim é necessário no candomblé todo um respeito imenso para com a natureza. “Kosi Ewé, Kosi Òrìsà”, em Iorubá significa “Sem folha não há Orixá”, ou seja, sem folha não há nada, sem natureza não existe candomblé, então porque, para o culto a determinado Orixá tanto dano se causa à natureza? Líderes da religião tentam ao passar dos anos transformar os rituais, adapta-lós para a atualidade. Um filme que pode ajudar a compreensão de tal tema é “Jardim das folhas sagradas”. Nele, além da questão já levantada anteriormente, vemos o debate religioso interno sobre o sacrifício de animais nos cultos, assunto esse que não adentraremos pois não nos cabe, como já deixamos claro diversas vezes nessa coluna, modificar dogmas que não afetam a sociedade como atos ilegais e/ou possam causar danos futuros por conta de discursos de ódio ou repressão. Para dar uma olhada rápida no trailer do filme citado acima, clique no vídeo:
Como foi demonstrado, a religião é falha, por ser guiada por homens que em sua plenitude não condizem com as escrituras que seguem, ou nem mesmo em poucas parcelas são o retrato daqueles ensinamentos. Não falamos da fé, pois isso é íntimo, mas é preciso que as pessoas “orem e vigiem”, notem o que está acontecendo de errado e falem, coloquem um basta em certas atitudes que só perpetuam o ódio e o preconceito. A constituição vigente permite o culto livre, então que se faça, sem precisar ser apedrejado por adorar seu Orixá, sem ser ridicularizado por acreditar em fenômenos mediúnicos ou ter como guia milagres relatados em escrituras que para aquela pessoa é sagrada. Não se pode julgar as pessoas por suas vestes ritualísticas ou por comemorarem natal ou Hanukkah. A fé, a crença ou a descrença são pertencentes aqueles que destinam suas energias para tais, não para pessoas que em nada pertencem aquilo, mas existe um limite que não deve nem ser extrapolado por quem está fora, nem por quem está agindo em determinada situação. Não podemos fechar os olhos para estupros só porque existe uma religião envolvida, é ai que todo cidadão deve reunir forças para combater atos criminosos. Ouvir discurso de ódio, na igreja ou fora dela e ficar calado é contribuir para a proliferação deste. Escutar pastor, sacerdote, palestrante ou rabino falar que gay, negro e mulher são seres inferiores e ficar calado é fazer parte do insulto, do preconceito e da monstruosidade nutrida por determinados representantes religiosos. O longa “Spotlight”, nosso amigo que nos fez chegar até aqui, também deixa explícito uma questão básica que muitos de nós temos em mente desde que eramos um feto, e é o seguinte: Não se aposta contra a Igreja. Essa frase é repetida mil vezes durante o filme. Não se aposta contra a Igreja. Não se aposta contra a religião. Bem, amigos, é onde chegamos e por aqui nos despedimos, mas quero dizer: Quando a religião, por meio de seus representantes se mostra errática, bem, se aposta contra sim. Quando se nota que em determinado momento estado e religião são a mesma coisa e que estamos em um labirinto que de “Laico” só tem a placa, é o momento de ir contra qualquer que seja o culpado por tal erro ocorrer.
Neste sábado (10/02) nossa crítica do filme “Spotlight” entrará no ar, enquanto isso você pode ver o trailer e dar aquela conferida no filme.
Por muito foi difundido que o escritor, o poeta, o produtor da arte era um ser iluminado, nutrido de boas intenções e energias pertencentes à seres avançados, de que o poeta consegue captar aquela parcela invisível do ser humano, parcela essa que se transforma em concreto aos olhos do bom e velho escritor. Existe verdade nisso tudo, mas pouca, um terço pequenino entre tantas mentiras espalhadas por charlatões e iludidos com a arte da escrita.
Vinícius de Moraes escrevera “Abre teus braços, meu irmão, deixar cair, pra que somar se a gente pode dividir”. Belo não? O mesmo Vinícius também colocara no papel a seguinte frase “Ai quem me dera ter-te, morar-te, até morrer-te”, sentiu a diferença de sintonia entre uma e outra? Não? Vou usar outra como exemplo prático: “Não há você sem mim, eu não existo sem você” também escrita por Vinícius, e seja sincero, é impossível não notar as ideias contrárias entre uma e outra. Moraes na primeira é o homem apto a semear, a espalhar bondade, a dividir amor, já na segunda deixa um plano de fundo dominador, de que este é necessário para outrem e que esta outra pessoa nada seria se não fosse ele. Egoísta e usurpador da liberdade alheia, enquanto em outro local, em outro universo poético, é o sinônimo de igualdade, fraternidade e liberdade. Pois bem, meu irmão, deixa cair, e note, o poeta é traiçoeiro, é bicho estranho para os olhos e ouvidos desavisados. Entendeu onde desejo chegar? Se não, vamos para outro exemplo.
Dessa vez senhor Caetano Veloso, mundialmente conhecido por suas poesias encharcadas de fé e tradição, nutridas de um simbolismo e misticismo fora do normal, não acredita em tudo que escreve. Não acredita porque não é preciso acreditar, mas sim produzir. Em “Iansã”, composição sua junto a Gilberto Gil ele cria uma hino à dona dos raios e ventos, faz uma evocação à Oyá, mas o próprio Caetano declarara que não acredita em Deus. Perceba, existe uma linha que divide o que o poeta é e o que o poeta produz, nem tudo que o escritor coloca no papel seria o próprio, mas tudo que está no papel é produto do escritor. O que o personagem fala, é o personagem que dita, não o escritor. O que está presente na poesia pode ou não ser a verdade daquele autor, PODE, eu disse, mas não é necessário que seja. É essa a diferença do poeta para o homem comum. O poeta é uma metamorfose constante, é animal que consegue se transformar mil e uma vezes se for preciso.
O que está presente no papel, acredite, na maioria das vezes não foi vivenciado pelo autor ou sentido por este. Escritor é falso, traiçoeiro, uma mistura de ódio aglomerado e felicidade crônica, diabo em pessoa quando questionado sobre sua obra e Deus do novo testamento se elogiado e colocado em pedestais. Não se engane, meu irmão, quando ouvir de um escritor ou escritora: É, o dia está lindo hoje. É mentira, é falsa modéstia, pois escritor sabe, que lá no fundo, poderia produzir um dia mil vezes mais belo que aquele. Sobre o papel o autor é Deus e não existe sensação mais confortante e satisfatória do que ser dono de seu destino, do que ser o homem que puxa as cordas das marionetes desenfreadas.
Tenho medo das palavras ditas por seres como esses. Homens e mulheres que convivem com demônios diariamente, sem proteção alguma, apenas sua força e talento transcendente. Consigo mentalizar a batalha que ocorre sobre as folhas e folhas de papeis usadas para produzir livros que por décadas ficarão cobertos de poeira e serão por sorte atravessados por traças desnorteadas. Na mão um lápis sujo, úmido por conta de pingos de café e com ponta grosseira, simbolizando trabalho duro que não passa de ma página por dia, caso seja este produtivo, na mesa um amontoado de vergonhas e solidões. No fim, após sofrimentos internos e palavras soltas na mente, o escritor se debruça no chão frio e espera. Aguarda o fim de sua vida inútil, baseada em mentiras e sobre tudo, guiada por um narcisismo disfarçado.
Um moço, muito amigo de um amigo meu, sempre contara que em seu tempo de pescador, ouvira, lá no mais escuro lugar do oceano, a voz de uma moça. “Se nem gaivota passava por riba de minha cabeça, aquilo só podia vir debaixo, lá do fundo, bem dentro do mar”, dizia o homem com medo e orgulho nos olhos. Orgulho por ter saído vivo de lá, medo por nunca ter voltado, ah, pensava muito em voltar o rapaz, mas junto a tantas declarações também dizia: “Quem me dera chegar lá de novo, mas não sei, José, não sei que lugar era aquele. Só lembro da voz de mulher, sabia mesmo que pela voz ela tinha pele escura, de carvão, sabia sim”. Esse homem morreu há alguns dias e fui ao seu enterro, junto ao amigo meu, centenas de pessoas, ele era popular, um nome conhecido na cidade. Todos ofereciam bom dia ao homem nas manhãs em que levantava teso ao sol para ir comprar pão, leite e cigarro. Tudo que poderia comprar na noite anterior, mas pela manhã é diferente, é a manhã. Nessas idas à mercearia, padaria e outros lugares, trombava com o ma chocando-se ao calçadão. Olhava para aquele amontoado de água e se perdia nos pensamentos. Sei de tudo isso por conta de meu amigo, que como disse, era muito amigo do falecido.
Hoje ele lamenta, em seu limitado caixão, em sua pouca morte, os tempos que não aproveitara, mas ainda diz, entre aqueles lábios frios e transformados em carniça por conta da doença que o levara, ainda fala com seu silêncio sobre a voz que ouvira. Fico surpreso como tudo isso me cerca em meio à tanta gente, olho para o morto, ele me olha com seus algodões e flores. As pessoas vão chegando e lotando o lugar, já não bastava o odor saindo do corpo, já não bastava essa morte inutilizada, enorme preguiça tenho para velórios, preguiça que chega a atingir ânsias de tão enfadonho que é essa coisa. Mais pessoas. Gente imprensando gente. A curiosidade só não mata ninguém hoje porque o cigarro já tomara conta do primeiro. Um senhor senta ao meu lado, ele e uma mulher. O homem do lado direito, a mulher ao meu lado esquerdo. Ela chega e já me pergunta o que está acontecendo. Como assim?
“Como assim o que está acontecendo?” Mas que mer…
“Ele morreu?” Continua com suas perguntas
“Não, não, está deitado, observando o teto. E essas pessoas aqui também vieram para admirar o teto, bonito não?”
Ela ergue a cabeça para encarar o teto. Ela está encarando o teto, meu santo deus. E nessa de ficar observando teto e mulher, acabo por ficar preso na segunda. Seus olhos são negros, assim como sua pele, escura como a minha. Olho bem no desenho de seu pescoço, pintura perfeita. Seu rosto se admira com cada pedaço do teto, enfim, quando ela realmente sentiu que o tempo me foi dado, voltou a tona:
“O que está acontecendo?” Me pergunta novamente com uma gentileza que poucas possuem. Gentileza de mãe.
Olho para o teto e sei bem o que está acontecendo, mas não preciso responder. Levanto-me, dou uma última olhada no caixão e saio da casa esgueirando-me entre as pessoas. A mulher vem logo atrás. Ando, e ando, faço todo o percurso que o falecido fazia, passo pela padaria, mercearia e enfim me dou admirando o mar. As palmeiras entrecortando a imagem perfeita idealizada por uma artista imenso, maior que todos os outros. A água vai e vem como um prelúdio, a água carrega todas minhas mágoas e medos, não posso ficar apenas observando, vou ao seu encontro. O primeiro pé, o primeiro toque e sinto a necessidade de me ajoelhar. Peço licença para adentrar em templo tão grandioso e vou, navego entre a água gelada que em instantes fica morna e reconfortante. Sinto-me em casa.
Bem atrás de mim, a mulher, seu vestido azul não é atingido pela água, seu semblante inerente a qualquer diversidade. Ela olha para mim, olho para ela e me perco no tempo e espaço, quando percebo estou no mais afastado lugar do mar, no fundo e vazio mar. A mão da mulher comanda meu destino dentro daquela vastidão de mar e confirmo, por fim, que estou mais vivo que nunca. Estou de volta ao lugar que sempre sonhei, lugar meu para ela, dela para seus filhos. Inaê se despede dançando entre as ondas, desponta para o fundo do mar, provocando alvoroço nos quatro cantos, luz que brilha nas noites sombrias, dona de meu barco, voz que canta a mais bela canção, Senhora das águas, senhora de mim.
Me sumo, entre ciranda e areia. Volto para meu lugar de rebento, não, eu não sou daqui. Eu sou de lá.
Se você está no final da adolescência e, principalmente, se já terminou o Ensino Médio, encontra-se na mesma fase difícil em que eu estou. Não somos considerados adolescentes e nem adultos, estamos nesse meio termo chato, que pelo menos eu, não gosto nem um pouco.
Vou te explicar o porquê de eu estar falando isso. Esses dias, minha mãe estava conversando com uma conhecida dela sobre a família, filhos e tudo mais e falou que além da minha irmã, ela tinha uma “bebê” de quase 20 anos (que no caso sou eu). E na hora eu entrei em choque, parece que ouvir isso de outra pessoa faz parecer que sou muito mais velha do que me sinto ser.
Muitos não veem a hora de completar 18 anos, como se por magia, tudo ficasse melhor, finalmente a tão esperada liberdade, não é mesmo? Bom, eu não acho lá aquelas coisas, não sinto que tenho quase 20 anos de jeito nenhum e não estou pronta para ser adulta.
Há um tempo, ter 20 anos para mim era algo extremamente distante, imaginava-me madura, esperta, responsável por todos os aspectos da minha vida, mais sociável e até com mais dinheiro. E adivinha? Não sou nada disso. Por dentro continuo aquela menina que gostaria de entrar na sala do médico acompanhada pela minha mãe e que ela falasse todos os meus sintomas e não eu, sozinha, perdida.
Não tenho a mínima ideia de como faz para pagar contas, INSS, não me imagino em filas de banco, fazendo transferências, não sei que rumo quero dar na minha vida, nem como estarei daqui a 5 anos. Mercado de trabalho é uma palavra que me dá arrepios. “Já escolheu uma profissão?”, “Isso não dá dinheiro!”, “Você precisa ter estabilidade”, “Você pensa em casar?” “Pensa em fazer pós, mestrado?”, “Nossa, você não vai crescer, não?”. CALMA! Muitas perguntas para respostas que eu não posso e não sei te dar. Pode ser que daqui um tempo eu saiba o que responder, pode ser que não. Mas pensar um dia de cada vez já alivia bastante.
Às vezes gostaria de voltar no tempo. Minha única preocupação na vida era com a escola, uma apresentação que se aproximava e me deixava ansiosa, uma prova difícil que me exigiria mais estudo, ou seja, olhando para trás, eram problemas muito simples de serem resolvidos.
Sinto falta de chegar da escola e assistir “O Pequeno Urso”, “Castelo Rá-tim-bum”, tomar um achocolatado de tarde e uma pipoquinha que minha mãe fazia com o maior carinho. Pensar em quem eu iria chamar para brincar na minha casa e qual seria a brincadeira. Até as brigas eram mais fáceis, no dia seguinte já estavam todos “de bem” novamente. Comprar material escolar e decidir qual seria a capa dos cadernos que usaria naquele ano. Não se preocupar com as responsabilidades do amanhã, porque sabia que seria mais um dia normal na escola e meus pais dariam um “jeitinho” para tudo. Quer segurança maior que essa?
Pois é, mas esses anos maravilhosos passaram e as responsabilidades chegaram, quer estejamos preparados ou não. Por mais que nossos pais tenham nos preparado para a vida adulta, sempre será difícil se virar sozinho, porque só aprenderemos de verdade com a prática e com os erros, que serão muitos, pode ter certeza. Mas aos poucos vamos nos adaptando e aprendendo a resolver os problemas sozinhos. E como tudo tem uma lado positivo, gosto de pensar que não sou a única que está meio perdida e que meus quase 20 anos irão me trazer experiências e lembranças incríveis.
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”