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Especial Fernanda Montenegro 90 anos

Em comemoração aos 90 anos de uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, o Beco traz um especial sobre Fernanda Montenegro. Nascida em 16 de outubro de 1929, Arlette Pinheiro Esteves Torres completa 90 anos nesta semana e carrega uma carreira admirável. Fernanda Montenegro iniciou sua carreira no teatro em 1950, sendo a primeira atriz contratada pela TV Tupi em 1951. Foi protagonista na primeira novela da emissora, A Muralha, e estrelou inúmeras peças no teleteatro da TV Tupi em São Paulo, que eram apresentadas no Grande Teatro Tupi.

Fernanda Montenegro trabalhou na TV Tupi, Record, Bandeirantes e na extinta TV Excelsior, chegando à Rede Globo em 1965 para uma série de teleteatros, porém sua consolidação na emissora foi ocorrer somente em 1981 na novela Baila Comigo, de Manoel Carlos. Sua estreia em cinema se deu na produção de 1964 para a tragédia de Nelson Rodrigues, A Falecida, sob direção de Leon Hirszman.

Em 1999, por sua atuação no filme Central do Brasil, de Walter Salles, Fernanda Montenegro foi a primeira artista brasileira a ser indicada para o Oscar de melhor atriz. Um ano antes, ainda por sua atuação nesse filme, recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim. Foi convidada para ocupar o Ministério da Cultura no governo dos presidentes José Sarney e Itamar Franco, porém, apesar do grande apoio da classe artística e intelectual, recusou ambas as ofertas. Em 1985, ao recusar o convite de Sarney, afirmou em carta ao então representante do governo que não estava preparada para abandonar a carreira artística, não por medo ao desafio que lhe era oferecido, mas sim, por entender que seria muito melhor no palco do que no Ministério.

Recebeu em 1999, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Ordem Nacional do Mérito Grã-Cruz “pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras”. Na época, uma exposição realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro comemorou os 50 anos de carreira da atriz. Em 2004, Fernanda Montenegro foi escolhida como melhor atriz da terceira edição do Festival de TriBeCa. Ela foi premiada por sua atuação em O Outro Lado da Rua, único filme da América Latina a participar da competição de longas de ficção. Em 2009, recebeu a Ordem do Ipiranga, no grau de cavaleiro, do Governo do Estado de São Paulo, e, em 2012, o Emmy internacional de melhor atriz por sua personagem no especial de Natal Doce de Mãe.

Na televisão, Fernanda Montenegro coleciona 52 trabalhos, entre teleteatros, novelas e minisséries, sendo que, nos teleteatros, contam-se dois programas, Retrospectiva do Teatro Universal e Retrospectiva do Teatro Brasileiro, porém são inúmeras peças e inúmeros personagens. Já no cinema, temos os impressionantes 42 filmes. Fernanda Montenegro também coleciona os invejáveis 35 prêmios nacionais e internacionais de melhor atriz no cinema, 18 prêmios por seus trabalhos na televisão e 28 no teatro. Já de comendas temos nove, inclusive uma da França e uma de Portugal. Pisa menos, Fernanda!

Não dá para negar que Fernanda Montenegro é mesmo a primeira dama do teatro, televisão e cinema brasileiro, e o Beco deseja um feliz aniversário para essa rainha da dramaturgia. Rumo aos próximos 90!

 

Autorais

Autoria: a gente acostuma, mas não deveria, por Gabu Camacho

não leia sem ouvir: cue the rain, lea michele

a gente acostuma.

acostuma a achar que é um fardo. 

sabe, a gente perdoa. mas certas coisas não saem da cabeça.

certa vez, alguém da minha família me disse que eu era um fardo. que era difícil me aguentar. ela se arrependeu. foram dois anos de terapia. na ocasião, ela me disse, desenha uma árvore.

desenhei. 

sua árvore está sozinha. é assim que você se vê?

não. eu tinha só doze anos. mas ali tinha aprendido a maior das lições que as pessoas levam anos pra aprender. por você, só você. aprenda a se amar. você não é um fardo pra ninguém. ninguém precisa te aguentar. você não é difícil de ser amado.

esse foi meu mantra muitos anos. li no livro da demi lovato que precisamos de um mantra todos os dias de manhã quando acordamos. e depois de anos, interiorizei. interiorizei que eu era bonito. que eu era maravilhoso. que eu valia a pena. que eu era fácil de ser amado.

e eu ainda acho isso. e acho que essa é a lição mais valiosa que a gente deve aprender.

a gente acostuma a achar coisas ruins, por que não a achar coisas boas?

uma vez fui no médico com crise de sinusite. desvio de septocomo você respira com um só lado do nariz?, ele perguntou.

já acostumei.

duro se acostumar com coisa ruim, hein?

Autorais

Autoria: poema da dor, por Gabu Camacho

leia ouvindo: madrugada, samira close

é o poema da dor. alguém me disse certa vez que sem dor, não havia poema. depois descobri que havia, sim. os mais lindos e mais floridos. aqueles que só o amor desperta. aliás, aquele amor capaz de florescer nas partes mais escuras da nossa mente. floresceu, sim. e eu tentei regar todos os dias, mas parecia murchar.

murchou lentamente, como se a qualquer momento fosse florescer de novo. veio a crise. fácil é amar quando tudo está bem. na crise, é que colocamos isso tudo a prova e vemos que nem sempre é o que parece. na crise, sempre é mais fácil virar as costas e dormir. fingir que nada aconteceu. não é comigo, afinal. uma hora tudo vai se ajeitar. o sol vai surgir, né? às vezes não.

não sei descrever o sentido desse poema, não sei em que ele vai resultar depois. mas é o poema da dor. é o poema do coração partido, é o poema do fim. não é fácil lidar, não é fácil enfrentar nem nossos fantasmas, quem dirá dos outros. mas não tem problema. nunca tem.

que atire a primeira pedra quem nunca errou. que atire a segunda, quem assumiu e foi atrás do erro. e atire o resto, quem deu as costas (cuidado com o apedrejamento). ele vem. a pior dor da perda, é aquela imprevisível. a morte, sim. mas a partida. eu ouço sua voz pedindo pra ficar, mas o som tá muito alto, eu não consigo te escutar. quantas vezes eu tentei, quantas vezes eu me esforcei, mas agora longe está e sinto que não vai voltar. as lembranças vão surgindo, seu sorriso eu consigo ver. mas não sei se é real.

ou só vontade de te ter. vontade de ter de novo aquilo que tínhamos. quando foi que tudo deu errado? ah. sei. lembrei. mas a diferença é que continuamos vivos. eu não queria continuar, juro. vale a pena morrer por um amor de verdade. o que não vale a pena é viver em um mundo sem amor.

quatorze vezes ou quatorze mil vezes, não importa. eu estarei por aí. a um estalar de dedos. você estará?

Talks

“Ninguém segura”: entrevista com Dolly Piercing

O viés artístico do universo drag queen ganhou mais evidência na última década e essa devida exposição está certamente atribuída à visibilidade que alguns programas de TV trouxeram. No entanto, não é de agora que essa discussão existe. Algumas artistas já têm essa luta há tempos. Natural de Belo Horizonte, Dolly Piercing possui mais de duas décadas de atuação. Seu talento extrapola a trajetória como drag e inclui uma banda de rock e um passado como estilista. No próximo sábado, 24 de novembro, ela é uma das headliners do “Les Girls”, realizado no Itália Mia (Rua Rui Barbosa, 354, Bela Vista), a partir das 21h30.

No palco, dez drags vão executar clássicos de nomes atemporais como Cher, Adele, Marilyn Monroe, Sarah Brightman, Lady Gaga, entre outras. Dolly impersonificará Madonna, uma de suas referências, e cantará um hit ao vivo (isso mesmo, nada de dublagem). À frente de sua banda – Dolly & Piercings –, ela costuma incluir no repertório versões pouco convencionais de artistas como Ney Matogrosso, Tetê Espíndola, Madonna e Katy Perry. Os shows em si costumam ser mais do que musicais e trazem boas doses de referências estéticas, tendo como destaque o figurino da vocalista. Em São Paulo, será uma apresentação solo.

O apelo estético não é coincidência. Formada em Moda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dolly tem um passado como estilista da marca mineira Vide Bula. Além disso, ela é responsável pela maior parte das roupas usadas em palco. Recentemente, a artista lançou uma faixa em parceria com sua amiga paulista, Paulette Pink, batizada como “Ninguém segura”.

A obra foi feita a quatro mãos pelas duas drags e ganhou um clipe assinado por Rafael Sandim e produção musical de Ricardo Brilhante. “A ideia inicial era compor uma marchinha de Carnaval. Então, busquei inspiração em Dorival Caymmi, naquela coisa mágica do tabuleiro da baiana”, diz Dolly. “Mas acabamos indo para o universo clubber”, emenda Pink.

Batemos um papo com Dolly sobre sua carreira. Leia a seguir.

De onde veio a ideia de fazer um projeto musical de rock?

Sou drag desde 1995. Como a maioria, eu dublava. Paralelamente ao trabalho de transformista, fazia teatro. Foi quando a vocação para cantar se manifestou. Com muita exigência de amigos, comecei a cantar quando me apresentava em boates gays. Depois disso, conheci meu namorado, roqueiro e baixista, que sempre apoiou meu trabalho. Em 2008, participei de uma Virada Cultural em um show solo com bases instrumentais pré-gravadas. Foi um grande experimento para o que viria mais tarde.  Em 2011, junto de meu namorado, uma guitarrista trans (Nikky Rose) e um baterista trans (Caio Bisquila), fizemos a primeira formação da banda.

Quais são os próximos projetos da banda e da drag Dolly?

Hoje, somos um trio: Leonidas Ribeiro continua no baixo e Luã Linhares no teclado majoritariamente, no teclado e na sequência pré-gravada de harmonia e ritmo. Tenho um show em homenagem ao Ney Matogrosso intitulado “Um Grito de Estrelas”. Vamos fazer um repertório tipo banda de baile focado em hits.

Como você vê a cena musical nacional em relação à diversidade LGBT? Ainda há muito conservadorismo?  

Não basta não ser careta, tem que haver verdade e honestidade. Músicas descartáveis, letras redundantemente inúteis e arte que pretende simplesmente entreter refletem valores que por um lado parecem libertadores, mas por outro não geram crítica e reflexão. Sinto, no meu ponto de vista, uma visibilidade irresponsável. Mas há aqueles que dirão que têm seu mérito. Por enquanto, vejo artistas que se enriquecem e jogam como o jogo manda, bem como em um roteiro falso de egos e manipulação.

O que o público paulista pode esperar da sua performance no dia 24/11?

O show “Les Girls” foi uma iniciativa da famosa drag queen, artista plástica, figurinista e maquiadora Paulette Pink. Ele reuniu artistas talentosas de sua convivência. Todas nós cantaremos no show. Além de ser um fragmento de performance para entreter, é uma postura política no âmbito abrangente. Um resgate de autoestima e dignidade. O despertar de “uma diva dentro de si” [tema da festa]. Serei Madonna, mas teremos Cher, Katy Perry, Adele, Carmen Miranda, dentre outras fabulosas. Será muito legal ver tanta gente boa reunida.

Como foi esse projeto com a Paulette Pink?

Paula Sabbatine é uma guerreira – e talvez injustiçada. Por isso, ela busca de forma admirável combater o mal com o bem. Ela não lembrava de mim, da época quando nos conhecemos há anos em uma festa que fizemos juntas no interior de Minas. Mas nos reencontramos no Facebook e desde então ficamos muito ligadas. A parceria se deu mesmo neste ano. A pedido dela, fiz uma música e ela contribuiu com algumas mudanças na letra também composta por mim. Em seguida, fizemos o clipe “Ninguém Segura” dirigido por Rafael Sandim. Paulette é uma dessas pessoas que nos agregam de graça e do nada. Um exemplo que todas nós drags deveríamos nos inspirar a exercer umas com as outras.

Serviço:

LES GIRLS – UMA DIVA DENTRO DE VOCÊ

Data: 24/11/2018

Horário: abertura às 20h; shows a partir das 21h30

Valor: R$ 50 (R$ 30 consumíveis)

Local: Itália Mia – Rua Rui Barbosa, 354, Bela Vista, São Paulo (SP)

Vendas e informações: (11) 98111-5239

Colunas, Livros

Chimamanda Adichie e seu discurso feminista

“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos.”

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Ela é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que estão atraindo uma nova geração de leitores de literatura africana. Seu primeiro livro, Hibisco Roxo, foi publicado em 2003 e, desde então, sua popularidade não para de crescer. Mas, o que destaca a Chimamanda e fez eu querer escrever este artigo hoje é o seu discurso feminista.

Em 2012, Chimamanda Adichie deu uma palestra no TEDxEuston, uma conferência anual com foco na África, falando sobre o feminismo, mais especificamente sobre sua experiência em ser uma feminista africana. Várias partes desta palestra foram usadas na música Flawless, da Beyoncé, e, posteriormente, virou um livro. Sejamos todos feministas foi lançado no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras.

″Eu estou com raiva. A construção de gênero do modo como funciona atualmente é uma grave injustiça. Todos nós deveríamos estar com raiva. Esse sentimento, a raiva, é importante historicamente para as transformações sociais positivas, mas, além de estar com raiva, eu também estou esperançosa porque eu acredito profundamente na habilidade dos humanos de se reinventarem e se tornarem melhores”.

O livro é cheio de citações e frases de empoderamento feminino, além de explicar o que é o feminismo, por que precisamos do feminismo e por que ser chamada de feminista, ás vezes, soa tão ruim. Caracterizada como uma mulher raivosa e de gênio difícil, Chimamanda nos mostra o machismo nesses adjetivos que são atribuídos a ela só por ser uma mulher falando. Um homem que defendesse firmemente seus ideais e falasse de forma assertiva seria taxado como alguém raivoso e de gênio difícil? Quando o problema não está na característica, mas no fato de ser uma mulher portando ela, isso é machismo. E é por isso que o feminismo é tão necessário.

Em 2017, a Companhia das Letras nos traz Para educar crianças feministas: um manifesto. O pequeno livrinho de capa verde nada mais é do que uma carta que Chimamanda escreveu para sua amiga em resposta a uma pergunta: Como criar minha filha como uma feminista?

Como mãe de uma menina, esse livro abriu meus olhos para muitas coisas que, até então, eu não achava serem tão importantes. O estigma das princesas é uma delas. Ensinar minha filha que ela não é uma donzela indefesa, que o príncipe perfeito não existe e que ela não precisa de um casamento para ter um final feliz se mostrou mais difícil do que eu esperava. Por sorte, as animações da Disney têm evoluído junto com os movimentos feministas, e princesas modernas que salvam o dia e buscam o seu próprio felizes para sempre têm surgido para nos socorrer.

A importância do exemplo nas minhas atitudes e o perigo do tal feminismo leve também me fez pensar. O feminismo leve traz a ideia de uma igualdade feminina condicional. “O homem é o cabeça, mas a mulher é o pescoço” e “meu marido me ajuda em casa” são frases muito comuns usadas por feministas leves. Basicamente, usa-se o conceito do “deixar”. Deixar que a mulher estude, deixar que a mulher trabalhe. A mulher pode fazer o que quiser, desde que o marido deixe. Eca.

Porém, acredito que, para mim, a parte mais importante desses dois livros foi entender que ser feminista não é deixar de ser feminina e, muito menos, é declarar guerra contra os homens. Ser feminista é querer direitos e deveres iguais para todos, sem distinção de gênero. Um mundo igualitário, sem discursos de ódio, opressão e preconceito. Eu consegui entender que ser chamada de feminista não é algo ruim e que eu não preciso deixar de usar maquiagem ou depilar minhas pernas, nem marchar seminua em praça pública para defender meus direitos.

Mas, mais do que isso, ser feminista é ser a favor da humanidade. Homens e mulheres vivendo em igualdade, respeitando suas diferenças e contribuindo de forma igual para a sociedade. Respeito, essa é a palavra chave. Seja para homens, mulheres, gays, pessoas trans, negros, índios, refugiados, para todos.

Paulo Freire já dizia que o sonho do oprimido é virar o opressor, porém o feminismo não defende que os homens devam ser exterminados ou virar escravos das mulheres em uma revolução apocalíptica distópica. O feminismo defende um mundo igualitário e, em um mundo igualitário, nenhum dos lados pode ser oprimido.

Atualizações, Autorais

BEM MARCADO – texto autoral

http://https://youtu.be/bNgUyJTuA0E

trilha sonora indicada para leitura deste texto: the night we met – lord huron

secretaria eletrônica: oi! aqui é a ana, estou estudando agora e não posso te atender… desculpa! mas deixe seu recado que entro em contato depois! beijos! – BEEP
– oi ana, sou eu [risos]. queria te perguntar se está tudo bem… como foi a sua avaliação? qualquer coisa estou aqui, está bem?! um beijo e bons estudos!

cheguei um pouco tarde e muito cansado, nem tirei a roupa, ainda com tênis deitado na minha cama. passo a mão no rosto. tenho uma cicatriz no meu dedo. meu celular vibra, uma notificação

@artur respondeu a sua história: mas quem não é estranho? – dou um sorriso de canto sincero.

ao ler, volto para o meu dedo e penso: cresci vendo aquela marca bem no alto do meu polegar, na primeira falange coladinho da unha. sempre a vi traçar a minha pele e eu nunca descobri como ela foi parar ali. não me lembro de nenhum machucado, nenhuma dor, nenhum sangramento. não tenho nenhuma história para contar de como fui presenteado com aquela marca no meu dedo, ela sempre esteve ali, comigo. por incrível que pareça, li sobre uma história que explica como essas marcas surgem e o porquê. segundo a lenda, um casal fora impedido de ficarem juntos. distanciados, afastados, com ritmos de vida totalmente diferentes, mas nunca longe um do outro, sempre arrumavam um jeito para encontros e eternizarem num só momento o amor. tiraram a visão dela, pois achavam que assim nunca mais poderiam se ver. ele tinha medo de se perderem na multidão. durante a última noite de invernia, ela decidiu marca-lo, uma cicatriz em sua mão. a dor do corte para lembrar a luta que tinham que conviver, o sangue do pacto e a cicatriz, a marca que a presença e ausência causa um no outro. estão ligados. com tal característica, não importa o tempo ao passar, ou o lugar ao caminhar, mesmo sem a visão ao cumprimenta-lo, ela sempre saberia que aquela marca em seu dedo seria a oportunidade de encontrá-lo na liberdade. a lenda diz que a cicatriz no dedo é a marca de um amor que está a sua procura. você está marcado e tem alguém te procurando.

meu celular vibra novamente

mas como assim? existe uma pessoa te procurando? existe toda essa onda de “pessoa certa” para você? artur diz que não, ana diz que sim. artur diz que existem pessoas certas para momentos certos, é assim que ele lida com os seus relacionamentos; ana me diz que existe uma pessoa certa para uma vida inteira, depois disso ela me convidou para ser padrinho de seu casamento, fiquei muito feliz com o convite [por sinal]. minha cicatriz me diz que tem alguém que me marcou e está a minha procura nesse exato momento, minhas experiências me dizem o contrário, não sou de ninguém, na há ninguém disposto a encarar minha realidade, pelo contrário, preciso me conquistar e tentar me aceitar, talvez nem eu queira ficar comigo mesmo, um eu fora de si.

não consigo pensar sobre isso, me enovelo em ideias e inúmeras variáveis. isso tudo está fora de mim. ”pessoa certa”, que ironia! com o tempo, passei a pensar nos relacionamentos e como eles são. alguns de nós estão predestinados a se amarem, outros, por sua vez, são na verdade, viajantes solitários da vida. estranhos e complexos demais para serem entendidos.

se existir a pessoa certa e ela morrer num acidente? fico sem ninguém? e se alguém estiver comigo e eu achar que sou a sua pessoa certa e ela está comigo por comodidade ou por falta de outras oportunidades? e se eu estiver com alguém no supermercado e encontrar a minha pessoa na fila de queijos, enquanto tem alguém me esperando com o carrinho segurando um pote de café? e se me apaixono pela pessoa certa de outro? onde estão as regras da vida? pelos céus!

fecho e abro minha mão algumas vezes, qual o motivo de ter uma cicatriz aqui? neste lugar? um sábio disse que você pode estar cercado por pessoas e se afogar em solidão, você pode ter alguém e estar só. não sei se existe uma pessoa certa, também não sei se há probabilidade de existir, muito menos de não existir. o “amor” é um jogo de poker, todos estão blefando e todos estão dizendo a verdade, depende do ponto de vista, depende daquilo que quer acreditar. não é possível saber o que se passa dentro do coração das pessoas, amar alguém é uma insegurança constante, nada no outro está ao seu domínio, muito menos reconhecimento. afinal, não sabemos de nada.

e voce? acredita que existe uma pessoa certa para você?

Autorais

Como se livrar das lembranças e medos de um relacionamento depois do término? #BAD

Como se livrar das lembranças e medos de um relacionamento depois do término? #BAD

Ao ler o livro da Colleen Hoover: Talvez um dia [Maybe Someday], vale lembrar que tem resenha dele aqui no site do Beco, comecei a refletir sobre términos de relacionamento.

Relacionamento é uma baita discussão, é possível unir várias vozes com inúmeras experiências e “ene” motivos para você pensar em namorar, casar ou criar/cultivar qualquer tipo de relacionamento com um alguém [ou “alguéns” caso seja adepto ao método de relacionamento aberto]. como acabei de escrever, seja um relacionamento aberto ou não, assumido ou não, com nome: namoro, noivado ou só ‘peguete’, é inerente ao ser humano a necessidade de ter um alguém e tocar esse alguém.

e o produto, ou seja, o que resulta de todo esse desejo, necessidade carnal correspondida a todos esses tipos de relacionamentos citados acima é a #BAD que sobra ao terminar. a pior parte.

nada na vida é eterno, tudo possui um início e um fim, tudo em sua vida tem um objetivo, não se engane. até um término catastrófico ou bem humorado, as lembranças e medos também, ouso escrever, sempre nos amedrontam.

e se o seu relacionamento acabar? como se livrar das lembranças e do incômodo da falta do mesmo?

primeiramente você precisa entender que você nunca vai conseguir ESQUECER qualquer relacionamento que você teve. todos estarão marcados no seu crescimento enquanto sujeito, enquanto pessoa. todo indivíduo depende DO OUTRO para crescer/ amadurecer e o principal: se conhecer – seja com a sua presença ou ausência e não estou generalizando e/ou radicalizando, estou sendo bem sincero.

é preciso entender que o que passou, passou. ponto final. a vida é construída de momentos bons e ruins e a sua essência é destilada através das respostas que você dá a esses acontecimentos. a vida sempre vai te exigir uma resposta, como você vai responder à adversidade?

IMPORTANTE: nunca, eu escrevi NUNCA, use outra pessoa para “esquecer” alguém com quem já se relacionou. sentimentos é a artéria aorta da alma, se você corta-la, automaticamente estará matando a alma de alguém e a destruindo emocionalmente. saiba lidar com as suas lutas, chore o que tem que chorar, grite o que tem que gritar e expresse tudo que está sentindo, jogue para fora tudo que está guardado dentro de si. o tempo da cicatrização deve ser respeitado e vivido.

outro passo importante, tire um tempo para você mesmo. relacionamento quer dizer adaptar ao outro, depois de um término bom ou ruim, você precisa se reencontrar novamente, não engate em outro tipo de vínculo. gaste um tempo com você mesmo/mesma. se reconheça, se faça, se refaça.

já tentou fazer algo diferente? a vida a dois deve ser incrível, mas a vida que você pode ter contigo mesmo é inigualável. se respeite e pegue o tempo que precisar para se reconstruir.

portanto, o que aprendemos neste pequeno texto:

PASSO-A-PASSO PARA A VIDA:
1- se acostume com as suas memórias, o outro fez parte da sua vida. Você precisa respeitar o bem que ele te fez e aprender com o mal. é papel do outro te ajudar em seu crescimento e amadurecimento. faz parte da sua maturidade entender que não acontece uma limpeza na sua memória ao terminar um relacionamento. as lembranças continuarão para sempre;
2- se respeite, leve o tempo que precisar para se reconstruir;
3- não use pessoas para satisfazer um ego ferido, isso é maldade nível sociopata;
4- faça o que te faz feliz: ficar em casa e assistir Netflix com pipoca ou ir para balada, está tudo bem, encontre a sua melhor forma de se reencontrar;
5- você pode postar uma ou no máximo duas indiretas depois de algumas horas, isso massageará o seu ego por alguns instantes. está tudo bem também, depois que o outro te der view, deleta. vamos suavizar o impacto.
6- faça algo que sempre planejou fazer, mas nunca fez;

garanto que, depois de viver cada etapa bem vivida, você estará pronto/pronta para começar uma nova aventura nos braços de um outro alguém.

Colunas, Filmes

Discutindo o filme “Eu não sou um homem fácil”

Em minhas andanças pelo mundo da Netflix, me deparei com um filme francês que, pelo nome, já me chamou a atenção. Dei uma chance para o trailer e fui cativada de vez. Eu não sou um homem fácil não é o típico filme com que estamos acostumados. Ele choca, desconstrói, critica e liberta, e você vai entender por que.

De início, temos Damien, um homem que é o estereótipo do mundo machista. Assedia todas as mulheres, as diminui na empresa em que trabalha e só se preocupa em aumentar seus números de quantas mulheres conseguiu dormir no ano e o que fazer para superá-los no ano que vem. Até que, em um belo dia, ele bate a cabeça em uma barra de ferro que sustenta o nome de uma avenida, cai desmaiado na calçada e, quando acorda, todo o seu mundo está literalmente do avesso. Por que “literalmente”?

Bom, Damien acorda em um mundo onde as mulheres são o sexo forte. O matriarcado domina a sociedade, e os homens se tornaram o sexo frágil e sofrem tudo o que as mulheres do nosso mundo sofrem. Junto com seu melhor amigo, Damien passa pelo choque de se ver nesse mundo às avessas e nós rimos com a dificuldade que ele tem para se adaptar. Vemos também as críticas mascaradas de humor e nos chocamos com como as coisas realmente são difíceis para as mulheres.

Para mim, essa é a primeira questão do filme. As mulheres estão acostumadas com sua realidade. Estão acostumadas a andar com medo na rua à noite e a serem assediadas por estarem com determinada roupa ou por terem o azar de estar em pé em um transporte público no lugar errado. Estão acostumadas a terem que lutar por seus direitos todos os dias e já se armam todas as manhãs para enfrentar o machismo e preconceito que as aguardam quando saem de casa. Ou, muitas vezes, quando ainda nem saíram da cama. Porém, quando vemos essas mesmas situações acontecendo com homens, por algum motivo, isso nos choca mais, pois estamos tão acostumadas a vivenciar essas situações que deixamos de perceber como elas são cruéis e absurdas. Mas, quando assistimos, caímos na realidade.

A segunda questão é a necessidade de masculinizar a mulher sempre que ela é colocada em uma posição de domínio. Neste filme, acontece a mesma coisa. As mulheres andam sem camisa na rua, fazem xixi de pé, usam ternos e gravatas, cabelos curtos, etc. Já os homens fazem ioga, usam shorts curtos e echarpes, carregam bolsas e estão sempre chorando por tudo. Basicamente, Eu não sou um homem fácil, literalmente, trocou os homens e as mulheres de lugar. Para mim, em uma mensagem de que, para alcançar o respeito e a liderança, as mulheres devem ser como os homens, ou seja, só sendo como um homem para alcançar a igualdade que nós queremos.

Isso me incomodou profundamente porque uma mulher não precisa deixar de ser mulher para ser forte, capaz, líder e respeitável em sua casa, em seu trabalho e diante da sociedade. A mulher não deveria ser obrigada a se prender a nenhum tipo de estereótipo para aparentar ser mais inteligente. Não deveria ter que usar roupas masculinas para ser menos assediada. Ou ter que provar que é tão forte fisicamente quanto um homem para ser respeitada. Essa necessidade de diminuir e hostilizar o mundo feminino pode ser encarada como um tipo de dominação e chega a ser um tiro no pé porque, o que era para ser um filme de crítica contra o machismo, acabou sendo uma exaltação da cultura machista. Pois mostra que, para ser o sexo dominante, a mulher tem que se vestir e se portar como um homem, então, a cultura do homem em si não deixou de ser dominante. Só mudou o sexo que a difunde.

Porém, apesar disso, o filme vale a pena ser visto, ou melhor, deve ser visto. Deve gerar reflexão, discussão e seu choque deve circular pela sociedade, pois, enquanto estivermos discutindo sobre isso, estaremos nos armando de conhecimento e crítica contra a cultura machista, mas também, não contra a cultura feminina. Homens e mulheres são diferentes, porém precisam ser respeitados de forma igual, com os mesmos direitos e deveres diante da sociedade. Eu não sou um homem fácil traz o choque para iniciar essa reflexão e nos proporciona momentos de riso com a tão clichê dificuldade masculina de se adaptar ao mundo feminino, porém, não pode ser levado como uma cartilha, pois, em um mundo igualitário, nenhum dos lados deve ser oprimido.

Confira a crítica do filme feito pela Júlia do BecoLab AQUI

Autorais

uma carta para uma ex

http://https://youtu.be/tJWdlHP0M00

✔️trilha sonora indicada para leitura deste texto

 

 

do meu universo particular,

já ouviu um ditado que diz: você aprenderá chorando e no final rirás ganhando? pois então, eu aprendi e foi com muito choro, sem hipérbole ou eufemismo. demorei um longo ano para me reconstruir e tive que fazer isso sozinho, eu comigo mesmo pegando cada pedaço meu no final da nossa última briga. longos dias, duros meses. perdi algumas partes da minha integridade, mais da metade do meu amor próprio tinha caído em algum lugar que cheio de amargura, infelizmente, não consegui achar. no momento que decidiu voltar, fiquei assustado, juro que fiquei. empaquei em várias madrugadas pensando no que eu fiz de errado naquele tempo, foram horas pensando o que eu poderia ter feito de diferente, busquei reviver cada momento de nossa história na minha mente tentado encontrar algum significado ou até mesmo ressignificar qualquer de nossas ações. mas não deu. eu não agiria diferente, não mesmo. mais uma vez eu não te deixei ir. sim, você escolheu ir mais uma vez [cansativo, não?]. você decidiu por si mesma a explodir como uma granada e atingir principalmente a mim, com a sua inquietude e arrogância. gosta tanto de borboletas e se esqueceu de aprender com elas, cada fase possui o seu tempo, não dá para nascer com belas asas sem primeiro passar pelo casulo. o pior de tudo, é que quando decidiu ir, tentou levar mais uma vez as minhas expectativas contigo, inocente, já aprendi que quando “alguém” ousar me derrubar, eu caio em pé, se for para cair que seja para cima. para provar que não mudou, voce continua com a mesma tática de sempre, tentar levar minha integridade e me deixar em pedaços ao chão. só que não foi dessa vez, desculpa aí meu anjão. pela primeira vez na vida, com muito orgulho, posso afirmar que me amei tanto que você não teve a chance de tirar a minha paz. nada me impediu de te dar o adeus merecido, o adeus verdadeiro. na total e singela sinceridade, não me arrependo de ter te presenteado com uma segunda chance, você é imatura demais para entender agora no que perdeu, você é instável demais para saber que palavras são tão marcantes quanto ações. da última vez eu demorei um ano para me entender, hoje eu percebo que você nunca se entendeu em uma vida inteira. indeciso, inseguro, imaturo, medroso talvez um pouquinho. posso listar aqui inúmeros dos meus defeitos, eu sei e reconheço todos, mas o problema é que sempre foi você, você não sabe entender que o outro possui vontades e pensamentos. depois de tudo que aprendi sobre você e sobre mim, eu te perdoo por sufocar. você me deu o espelho daquilo que eu nunca quero parecer. quem tem que te agradecer, sou eu! muito obrigado por tudo!

e como eu sempre termino minhas cartas [nao podemos sair do costume, não é mesmo?] – FELICIDADES sempre!

Autorais

Autoria: dependência em vão

parte três – incodependência

leia ouvindo: seu costume, bruno gadiol

nada acontece como se espera. as coisas vem quando não se precisa mais pra te voltar a órbita. já nasci fora dela, meu bem. nada pode me colocar de volta.

não sou planeta anão, sou supernova, gigante vermelha. anã branca não mais. estar só não é viver em vão e isso me fez sentido só agora, no terceiro de sua sequência. o mundo não possui solução. tanta gente aí sem amor pra dar, tanta gente aí sem brilho nos olhos. hoje é minha independência, e calhou de ser xará de data com os estados unidos. meu lugar nunca foi aqui mesmo.

você chegou atrasado. chegou antes quando o tempo não era seu, atrasado quando era. na verdade, acho que nunca foi. eu me sentia a hannah, eu me sentia o charlie. eu me sentia especial. especialidades mudam, assim como os gostos. você me fazia sentir especial, agora qualquer um faz. eu entendi quem eu sou. entendi como devo ser.

vim escrever imediatamente depois do calote. fiz o mesmo caminho de três atrás e cai em mim. engraçado porque faço esse caminho todos os dias. não ouço mais taylor swift nele, talvez por isso tenha parecido tão diferente hoje quando percebi que era o mesmo. quando percebi que eu era o mesmo.

e eu percebi que te amava porque me amava. sim. eu te amava tanto que via meu amor em você, quando você não tinha um pingo de amor próprio no meio dos seus pensamentos autodestrutivos. eu sempre me amei. sempre amei o amor. mas ele estava refletido em você, ora. é mais fácil olhar para os outros que para o próprio umbigo, não é? então. esse foi o caso.

engraçado porque eu te amei tanto, até nas vezes em que eu não deveria. até nas vezes em que eu não te amava mais. até nas vezes em que eu estava no escanteio quando não deveria estar. mas hoje fiz morada nele. na verdade, fiz morada nele e me mudei. deixei a casa mais bonita para o próximo inquilino. inquilino porque sou meteoro e você planeta. milhões de anos para tirar minha marca da sua superfície.

e me mudei.

me mudei como alguém que é assaltado na casa térrea e compra uma cobertura sem financiamento, mesmo pagando o financiamento da casa. me mudei pra uma cobertura com visão ampla. eu consigo ver o céu. eu consigo ouvir os pássaros.

eu estava lendo aquele livro, textos cruéis demais para serem lidos rapidamente e nele vi que quando um braço quebra, ele pode voltar a ser o mesmo. mas não aguenta tanto quanto aguentava antes. meu braço aguentou.

aliás, não só ele, mas o todo eu. todo eu quebrado que já foi remendado e segurou o peso de nós mais uma vez. segurou o peso da insistência.

estar só não é viver em vão.

parte dois da parte três – diga não aos canudos. por mim. pelas tartarugas.

leia ouvindo: aqui, jão

não dança pra mim não. você é bom demais se articulando na vida. já era. o meteoro já caiu, mas eu era o forte e você o frágil. claro que nunca fui forte, mas agora sou.

e quem a gente vai culpar se o erro não é claro?

insano. pra mim sempre foi claro. o erro foi meu, assumo. mas não assumo o que não fiz e você me acusou sem fundada suspeita. meu advogado disse que se um dia tomasse enquadro, era pra perguntar a fundada suspeita.

ele nunca me disse o que fazer se o enquadro fosse vindo de você. eu sabia lidar com policiais, mas não sabia lidar com você, justamente porque você sabia lidar comigo e não de um jeito bom. não de um jeito que a gente sabe lidar com alguém que pode explodir a qualquer momento ou é mentalmente frágil.

lidar como se o seu conselho fosse advindo do arcano da força invertido. lidar como se você tivesse domínio sobre mim. e de fato, você teve, mas tão fraco. bastava eu fazer uma força pra romper essas algemas feitas de bala fini. porque você não teve a decência de comprar uma de ouro.

eu nunca fugi, nunca.

e se eu tentar fugir de novo qual vai ser meu preço? de te entregar conforto e paz mas eu sem ser inteiro?

mas sempre tentei te entregar o conforto e paz. mesmo sem ser inteiro. jão, é possível. não sei como te ensinar agora, mas eu sei que consegui.

mas não consigo mais agora. eu me lembro da nossa listinha de datas.

eu me lembro dos capítulos da nossa história.

eu me lembro.

eu me lembro que eu quis te contar as fofocas absurdas do trabalho. tentei te escrever um email, mas você nunca respondeu. tentei te contar pessoalmente, mas dentro da sua carcaça não era mais você. não era mais a pessoa pela qual eu tinha me apaixonado como a bella se apaixonou pelo edward.

não era mais a pessoa pela qual as lágrimas da rua eram destinadas. nem a pessoa pela qual o meio fio ouviu minhas lamentações.

não era mais a pessoa que causou dó no taxista a ponto de ele dar desconto na minha corrida. não era mais. eu tentei te ligar, eu tentei te mandar uma mensagem. mas não era mais você.

possuído.

sabe quando a gente gosta tanto de alguém e sonha com o velório da pessoa? nunca aconteceu, mas te velo em pensamento todos os dias vendo memórias de quando você me achava ridículo.

me dei uma diária sozinho no hotel. me reconciliei com o meu passado. fui na balada sozinho. aprendi francês. misturei vodka com catuaba. vendi dois livros. fiz uma tatuagem. tirei o piercing. benzi minhas células. contei pra minha mãe. pro meu pai ainda não, ele ficaria feliz, eu acho. e eu quero tristeza.

apesar de que não estou triste. aquele lá morreu também. você levou junto.

eu te olhei com calma e compreensão. eu te entendi mesmo quando não me entendia. eu não passei como as línguas, eu fiquei. sem nada, mas fiquei.

eu também chorei.

mas você gostava do olho do furacão né? e eu era o próprio furacão. não somente o olho dele. você não pode segurar. ainda guardo os tickets do cinema no meu livro de roma.

ainda guardo o guia de viagens da disney de agosto.

tive medo de ir para a faculdade sozinho. tive medo da recusa, então busquei a reclusa. não me fale sobre entrega. eu te entreguei no dia que hoje faz aniversário.

mergulhei fundo.

você colocou um pé, com medo da água fria. eu era mais baixa que nitrogênio líquido.

e você disse que eu era baixa mesmo. uma pessoa baixa. não de estatura, de caráter. disso não posso debater, você tem sua opinião.

pelo menos

eu não uso canudo plástico.