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Autoria: tempo, por Gustavo Machado
Autoria: tempo, por Gustavo Machado
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Autoria: tempo


Leia Ouvindo: Young Blood, Noah Kahan

Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: As vezes apenas um segundo.

Lewis Carroll –  Alice no País das Maravilhas, 1865

mestiço criado a solta e arredio que não padece em ser contido, preso. o eterno vir-a-ser arisco que, ás vezes passa despercebido, mas sempre está presente.

seu grande coração flamejante ilumina parte, bombeia impulsos, clareia caminhos, dá oportunidades para serem colocados em prática todos os planos, sonhos, desejos; sua alva consciência, selênica, cobre outra, aconselha mentes mal dormidas, acompanha amores não correspondidos, silencia pensamentos barulhentos, organiza listas de desejos, cria planos, abraça ismálias assoladas. sempre o tempo, sempre há tempo, sempre foi o tempo que se passou… e não tratou de voltar mais.

tudo tão azul.

tem-se vários caminhos a frente durante a caminhada da vida, alguns largos e outros bem estreitos, mas nenhum desses caminhos nos leva ao trajeto do tempo que foi perdido ou não vivido. o não vivido parece ser mais dolorido.

negar a vontade de te encontrar é uma angustia marcante, acontece que sempre temos o tempo para nos dizer que ainda não é o tempo certo. estamos um olhando ao outro, agora, neste exato momento. marcados pelo desejo do encontro. tempo.

o tempo que me diz, o tempo que gastei longe, o tempo que fiquei sem falar. o tempo que decidi me afastar, o tempo que decidi me silenciar, o tempo que decidi me encontrar. o tempo que ajudei a construir, o tempo que ajudei a destruir, o tempo que olhei a todos passar.

tempo sempre companheiro, quem me dera deixar marcas nesse aguaceiro…

de lágrimas lacrimejadas com sabor de amargura, de lágrimas pranteadas pela abertura de uma bela gargalhada. lágrimas de felicidade, um dos paradoxos mais desprecavidos de reparo, reparo não meu caro, atenção mesmo. tempo.

tique, taque. tique, taque. tique, taque. minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. tique, taque. tique, taque. tique, taque.

sete dias por semana, trinta dias por mês, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. o tempo não para, o tempo não brinca, o tempo apenas se dissipa em sua própria existência.

esvair, escorrer por entre os dedos, voar para longe, bem longe.

o tempo vive, assim como nós, o tempo nasce, o tempo cresce e o tempo morre. sim, ele acaba.

estou usando meu tempo para me reconstruir e te esperar. como você está usando o seu tempo?

Autoria: Aconteceu de novo
Autoria: Aconteceu de novo
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Autoria: Aconteceu de novo

Leia ouvindo: Call it what you want, Taylor Swift

Querido diário,

O quão clichê é manter um diário? Não sei. Foi a terapeuta da Sara, que recomendou para ela, e eu senti como se fosse para mim também. Gosto de divagar, e contar essa história do meio. Você não sabe o que veio antes dela, nem tampouco saberá o que virá depois. Mas aconteceu de novo.

Sabe quando acontece aquilo que você diz, jura de pés juntos, promete a si mesmo, que nunca mais vai deixar acontecer? Então. Mas eu deixei, e eu nem sei o porquê. É como diz Taylor Swift, talvez eu estivesse apenas dançando nesse jogo inebriante com as mãos amarradas. Não li a última página, nem tampouco lerei ou farei questão de escrevê-la.

A gente se agarra a algo só pelas memórias, mas não deveríamos então nos agarrar às memórias e não aos algos? As memórias se agarram na gente, os algos vão embora para sempre.

De vez em quando paro e vejo minha parede de polaroids. Quantas memórias de algos que já se foram, talvez eu mesmo tenha sido um algo partido para alguém. Mas aconteceu de novo.

Não sei se o problema sou eu. O clichê do problema sou eu. Acho que não, sou legal demais para isso e minha fase de me culpar por tudo o que acontece no mundo já passou. Sou prepotente, talvez. Mas acredito no meu potencial e sei que eu sei me reinventar. Será que apenas sei que sei ou sei saber? Mas é, a vida é um ciclo vicioso. A gente acha que as coisas vão mudar, teme as mudanças e elas mudam para ser o que eram antes.

Estou melhor que nunca estive, sei que me basto, sei que aquele garotinho que dizia que seu mundo caiu por conta dos egoísmos alheios morreu. Aquele menino, de cabelos castanhos e que usava coroa na rua, e chapéu em casa morreu. Assassinado.

Não precisa chamar a polícia. Ele simplesmente morreu, pisou na coroa e a quebrou em zilhões de pedaços. Pisou assim como todos que o pisaram. Talvez tenha crescido, talvez não. Mas aconteceu de novo.

Aconteceu de novo toda a sua história antes da coroa, mesmo depois de usá-la com orgulho. Então, de que adianta mantê-la? Nada. De nada adianta manter um cadáver. Hora ou outra ele começa a feder.

Adeus, Garoto da Coroa. Descanse em paz.

Sempre, Gustav Albuquerque.

Autoria: segue o baile
Autoria: segue o baile
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Autoria: segue o baile

Leia ouvindo: These memories – Hollow Coves

por que eu ficaria?

o violão apoiado no colo, dedilhei a única música que conhecia, apenas quatro notas. pensei muito antes de enviar aquela mensagem, dizer adeus nunca é fácil. corra o quanto puder, o destino sempre estará dois passos a sua frente, que ironia! olho para a parede, meu olhar percorre toda a sala. esqueci de tirar a poeira dos meus livros.  a sabedoria chinesa diz que encontramos nosso destino no caminho que tomamos para evitá-lo. estamos fadados, pre-destinados, arruinados em nossas histórias pré-fabricadas. não te culpo, já estava programada para me culpar, não te anulo, já estava destinada para me ensinar, não te afasto, já estava prometida para construir as barreiras entre qualquer pessoa e meus sentimentos, você me levou cativo. você arrastou em terra firme, cascalhos e ossos ralados o pingo de dignidade que me restava . afugentou todo meu eu dentro do esverdeado do teu olhar. você era demais para mim, só eu que não enxerguei. eu já estava prometido para me entregar, eu já estava marcado para me reconstruir, eu já estava anunciado para me tornar o que sou hoje. era o esperado para nós, sem estardalhaço, sem cara de surpresa. cumprimos bem nosso papel. por isso, carrego em meu coração a certeza de que tomei a decisão certa. sua voz ainda ecoa minha mente ao falar que estava infeliz, não quero passar por isso novamente. apesar das várias desculpas, inúmeras intrigas, um montante de mal-entendidos, ainda pensava que podíamos sobreviver. na verdade, não podíamos, você não podia. você não queria. todos temos nossas lutas, somos guerreiros de nossas próprias histórias. não suportei a ideia de te prender a mim, não sou calabouço, não sou cárcere, não sou gaiola, não sou trancas de ferro; sou  brecha de calmaria em um mundo acabado em dores e desilusão, sou paz em guerra e luz numa madrugada solitária, aconchego. sou pena e asas, sou aroma de casa após uma longa viagem, sou eu, eu sou eu, com erros, defeitos, mas amor, mesmo que na calada e talvez sem muita expressão, mas em essência, pura fragrância de ternura e afeição.  sou um mistério que eu pensava que era capaz de decifrar [pelo menos, me garantiu em suas palavras um amor eterno, juras! apenas um assoalho de mentiras]. mas tudo bem, sério. como diz aquele ditado, cada um oferece aquilo que tem, e o que eu tenho para lhe oferecer é felicidades! felicidades sempre! vejo como eu era antes de você e vejo também, como você era antes de mim, e olha, estou contente com o seu crescimento, afeito com o que me tornei.  não sei para onde a vida irá nos levar, entre encontros e desencontros, mudanças e permanências, seu lar sempre será o que eu fiz para você e de você, tem detalhes meus espalhados em sua existência, sem pormenores, tem um grande reflexo meu no seu amadurecimento. não vai ser eu aquele que ira aproveitar dos frutos da bela árvore que plantei em seu coração, mas seu coração sempre lembrará daquele que preparou a terra e aguou a pequena semente. viva, frutifique, aproveite o que você tem de melhor. Só isso, espera, um grande abraço e, não se esqueça: FELICIDADES SEMPRE!

Autoria: HomemLiteratus - a arte de criar
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Autoria: HomemLiteratus – a arte de criar

A liberdade é seu jardim secreto. Sua pequena conivência para consigo mesmo. Um sujeito preguiçoso e frio, algo quimérico, razoável no fundo, que malandramente construiu para si próprio uma felicidade medíocre e sólida, feita de inércia, e que ele justifica de quando em vez mediante reflexões elevadas. Não é isso que sou?

Jean-Paul Sartre

O Sol está lá fora,

Manhã de sexta-feira. É verão e o sol está brilhando no céu dos homens. Os pássaros regorjeiam nas copas das árvores, libélulas sobrevoam a superfícies de pequenos lagos e um jovem tenta escrever o que se pode escrever de algo que é escrito por pessoas que gostam de escrever. Tudo está conforme a atuação da lei natural, segundo a Equação Geral do Universo Filosófica: “enquanto alguns vivem, outros refletem sobre a justificativa do por que viver”.

Pensar em arte é pensar na capacidade que o homem tem de expressar simbolicamente o abstrato, metafísico. E se há relação entre o sentimento e a obra, pode-se apreender de uma relação existente entre a realidade da obra literária, e a realidade do autor – aquela em que nós chamamos ser a nossa realidade, marcada pelo tempo – sol, lua, números representando horas e minutos; pelo convívio social.

O homem é explicado/construído/elucidado sócio- histórico e antropologicamente, noções essas que podemos acentuar como desinências de realidade.

Sistematizar esse primeiro conceito que foi tematizado, é mister entender que essa questão entre criador e criatura não se separa, porque o criador é envolvido por uma certa fenomenologia para que a inspiração opere para ser formada a criatura.

Mesmo sendo eu autor, mas evocado por um pseudônimo, não nega essa afirmação. Pois, o narrador é constituído como uma entidade ontológica psicológica e não física.

Todavia, esta análise propõe com o objetivo de especificar, como por exemplo, o arquétipo dado nesta introdução “expressão fraternal existente entre criador e criatura”, para explicitar com mais acessibilidade um dos focos de discussão deste ensaio, que é a mimésis, a imitação.

Nós leitores, passamos a compreender que a realidade de uma obra literária é ficcional, mas essa ficção, de certa forma, é oriunda de uma realidade, a de quem escreve.

PS: Tratemo-nos em começar a segunda parte da discussão relendo a crônica: “Homem” que serve para ilustrar a dimensão homem e as suas complexidades

Assim como Ralph Linton (1965) argumenta em seu arquétipo ‘antropo-sociológico’ O Homem: Uma Introdução à Antropologia – metamorfoseando tal pensamento em uma linguagem mais poética – a não ser que a ciência se enquadra em um sistema de teorizações equivocadas, a espécie humana, o homem, não se caracteriza como anjos caídos, mas como animais aperfeiçoados.

Seres constituídos biologicamente de células – corpúsculos bioquimicamente preparados para perfazerem sistemas de vivência e sobrevivência através de minúsculos compartimentos denominados organelas celulares que, possuem individualmente, no interior da célula, alguma atividade em particular – ao se agruparem, dão existência a tecidos que, por sua vez, formam órgãos que constituem sistemas e, por final, resulta em um organismo vivo.

Por conseguinte, coloquemos as ironias a parte desta discussão, e questionemos o retrato realizado pelo texto literário ao descrever uma tripartição no homem: corpo, consciência e o livre – arbítrio. Dissecar o corpo e discutir sobre sua função, composição, nutrição é por demasiado menos complicado. Não é presunção de minha parte não reconhecer a luta incansável do homem em buscar conhecer a ciência e colocá-la como sua fiel escudeira na formação de idéias e opiniões, desfazendo de sua importância e descaracterizando o seu lugar no ranking de necessidades da comunidade homem. Mas a discussão desse ensaio não é essa. O objetivo é traçar uma opinião, um perfil de atividade psicológica e não orgânica.

Afinal, conhecemos a sociologia, filosofia, antropologia, cosmologia contemporânea, filologia e outras logias que o ser humano tratou de separar corpus de pesquisas e atribuir-lhes nomenclaturas, significações e lugares na rede da ciência, como descreve Rubem Alves ao discutir o que é científico e não científico.

Autoria: Versos de uma doce Alvorada
Autoria: Versos de uma doce Alvorada
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Autoria: Versos de uma doce Alvorada

– O Leão andava de um lado para o outro na terra nua, cantando a nova canção. Era mais suave e ritmada do que a canção com a qual convocara as estrelas e o sol; uma canção doce, sussurrante. À medida que caminhava e cantava, o vale ia ficando verde de capim. O capim se espalhava desde onde estava o Leão, como uma força, e subia pelas encostas dos pequenos montes como uma onda. Em poucos minutos deslizava pelas vertentes mais baixas das montanhas distantes, suavizando cada vez mais aquele mundo novo. Podia-se ouvir a brisa encrespando a relva.

C.S. Lewis, As Crônicas de Nárnia

Aprecio o azul do céu, tão límpido, distante, embaçado com algumas pinceladas de branco neve, esfumaçadas por toda a dimensão de tom cárdeo celeste… Sim, estou falando das nuvens, seres mágicos do ar perdidos pelo paraíso azulado. Safira para quem quer sair um pouco da terra, voar e não andar, extasiar do ar mais puro e não simplesmente respirar.

Sonho. Realidade. Viver…

É arrebatador ficar observando como muda a tonalidade do céu ao amanhecer, os raios solares ao incidirem sobre o firmamento anuviado e sereno, se transforma do azul anil para uma coloração mais avermelhada, e então passam a surgir tons alaranjados e por um pouco mais afastado, longínquo até, bem perto do sol, riscas de amarelo canário.

Foi um dia difícil, tirei minhas sandálias e fui caminhar pela areia. Um lugar paradisíaco, isolado, fúnebre de tanta perfeição. As gaivotas assoviam enquanto sobrevoam as águas e a maré que, vagarosamente aumenta, banha os meus pés me convidando para entrar e estar com ela.

Em um pequeno rochedo, camuflado por algas e pequenos crustáceos e cascos velhos dos pequenos animais encouraçados, leves e singelos reflexos de um pote de vidro incide sobre meus olhos. O limpo e então percebo que estou segurando uma garrafa de vidro que se mostra exausta de tanto perambular pelo mar aberto com uma pequena rachadura no envolto de seu casco.

Cristalizo minha atenção naquela garrafa e encontro um pequeno papel envolto de uma fita dourada acompanhada por um lindo laço carmesim que tinha como função fixar o formato cilíndrico do papel que de grossa espessura, logo se mostrava amarelado devido a pequenas gotas de água salgada ter conseguido penetrar no vidro pela fenda na garrafa.

No papel estava escrito um poema. Para quem, não sei responder, por qual motivo… Essa eu respondo, e digo que, com toda certeza, era o amor.

Sinto-te mesmo sem te tocar
Estou contigo mesmo sabendo da sua… Distância

Conheço-te sem te conhecer
Entendo-te sem te entender
Penso em você imaginando tudo ou nada

Conheço tua voz sem nunca tê-la escutado
Reconheço teus olhos sem nunca tê-los visto
Lembro-me do teu sorriso mesmo nunca estado ao teu lado quando se alegrou

Sinto junto a ti a lágrima que escorre em tua face,
Meras presunções
Plausível veracidade

Sinto-te
Por mais que precises, te espero
Por mais que chores, te consolo
Por mais que desejes, te amo
O tempo não é o inimigo do amor

Crônica: Amanhã não é o ontem
Crônica: Amanhã não é o ontem
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Crônica: Amanhã não é o ontem

Leia ouvindo: Darlin’, Avril Lavigne

Antes de começar, saiba que eu sei. Eu sei de tudo. Não vou mentir dizendo que não foi minha intenção, porque eu fiz exatamente o que eu queria fazer. Sabe, as pessoas sempre falam que você deve pensar primeiro em si mesmo e eu, no auge dos meus 16, com aquela estima tão baixa que um termômetro do polo norte teria inveja, resolvi testar como é ser frio. E eu fui, mesmo.

Criança, pré-adolescente, você nunca pensa direito nas consequências de um ato seu. Não há respeito e você jamais imagina que um fantasma pode voltar e te assombrar aos 25, nove anos depois. Mas pode. Não só pode, como vai.

Naquela tarde de sol, quando encontrei Brendan pela primeira vez em uma praça próxima a escola, fugindo dos compromissos que a vida cismava em me pregar, apenas conversamos. Por duas horas. Eu tinha trinta minutos a princípio, mas se tem uma coisa que a gente aprende, é dar valor aos momentos singulares da vida, mesmo que ainda novinho.

Conversamos sobre a vida. Sobre dinheiro. Trabalho. Amigos. Inimigos. Escorpiano tem é inimigo, mesmo sem intenção. Dar mergulhos profundos em águas rasas é com a gente mesmo, e ele sabia. Fui embora.

Os dias se passaram de maneira calma, e sempre conseguíamos conversar por mensagens de texto entre o intervalo de uma aula e outra, nos encontrávamos no horário do almoço e lanche, trocávamos aquelas polaroids repetidas que eu insistia em dizer não. Atravessávamos correndo de mãos dadas na faixa de pedestre, seu rosto batia no meu pescoço quando me abraçava com os braços quase dando duas voltas na minha cintura. É, as coisas evoluem rápido nos mergulhos profundos em águas profundas.

Brendan era o tipo de pessoa oposta, mas complementar. Leve, mas profunda. Inteligente, mas fingindo não ser. Eu,  já havia bebido de tudo, beijado todos, experimentado o excesso de estar jogado numa sarjeta depois da balada. Ele, nunca sequer havia ido a uma festa, senão infantil. E fomos, de identidade falsa e cara lavada.

Na verdade, eu fui. Ele chegou depois.

Por mim.

Rodeado das pessoas que eu era incapaz de fugir, fingi que era apenas um conhecido. Olá, tudo bem? Quanto tempo, amigo. Rodeado das pessoas que nos apoiavam, Brendan fugiu. Fugiu para a vida, para as experiências que nunca tivera, e jamais se apaixonou outra vez, ou deixou alguém penetrar em suas águas profundas. Tornara-se raso, mas não da maneira com a qual um rio seca, mas da forma com a qual um oceano congela, e ainda permanece profundo por baixo da grossa camada de gelo.

Eu fiz o que queria fazer e Brendan pagou o preço. Preço de uma dívida que não era dele.

Dias depois, seu rosto sumiu das minhas redes sociais, e sua respiração no meu pescoço sumiu dos meus dias de sol, que agora eram dias cinzas, como se o mundo chorasse por mim. E esse é o preço que pago, em cima do preço pago por Brendan, até hoje.

Sinto muito.

Autoria: O voo de uma mariposa, de Gustavo Machado - Beco Literário
Autoria: O voo de uma mariposa, de Gustavo Machado – Beco Literário
Autorais, Livros

Autoria: O voo de uma mariposa

De qualquer forma, eu gostaria de saber se alguma vez aparecemos em histórias e canções. Estamos numa, é claro, mas quero dizer: ser posto em palavras, sabe, contadas ao pé da lareira ou lidas de um grande livro grosso com letras vermelhas e pretas, anos e anos depois. E as pessoas dirão: “Vamos ouvir a história de Frodo e do anel!”. E Elas dirão: “Essa é uma das minhas histórias preferidas”. – J. R. R. Tolkien, O senhor dos anéis

Livro. Página. Letra, capa. Parágrafo, linha, travessão. Inspiração, ou pior, a falta dela. Com a ajuda de uma bela xícara de café, escrevo. Perfaço, prosaicamente, uma escrita sem nenhum sentido, ou será que a falta de sentido produz a existência de um? Não pensar em nada é pensar em alguma coisa? O ser – humano é ser capaz de pensar em nada? Pauso a reflexão.

Começo o segundo parágrafo, meus pensamentos estão em como iniciar o terceiro. Gastei minha tarde, e só consegui escrever isso. Preciso pensar. Levanto-me, batendo o lápis contra a minha testa. Tive uma idéia, vou falar do nada, pois nada é alguma coisa, eu acho. Pensar em como o pobre e pequeno pássaro bate em minha janela, já não é mais tão interessante quanto escrever a respeito do nada. “Tum Tum, Tum Tum”, só se ouve seu bico batendo indo de encontro à janela. As patas roçam, arranhando assim o vidro.

O bichano demora um pouco para desistir, insiste um pouco mais… Pronto, já se foi.

Voltemos ao nada. O sol já não estava alto para que eu pudesse desfrutar um pouco mais da tarde que parecia estar perfeita, e a noite já perdurava. Uma mariposa sobrevoa sobre a minha cabeça, posso ouvir o tilintar do seu bater de asas amedrontando o meu raciocínio. E eu aqui, no nada.

Nada deve significar alguma coisa, crises de quem quer escrever. Já pensei em sair, tomar alguma coisa, refrescar minhas idéias, e então me lembrei:

– Como vou refrescar algo que eu, ainda, não tenho?

Por conseguinte, volto para o meu cantinho. Aquele ali, seguindo o corredor principal o último quarto da casa. Cômodo até que espaçoso, menos mal.

Decidi tirar um cochilo, mas não durou mais do que vinte minutos. Debruçado sobre minha cama, olhando para livros, folhas e lápis, levantei. Caminhar pela avenida me faria bem.

Estava às portas das horas altas da noite, e eu caminhando pela Avenida Coelho no centro da cidade. Estava frio, calmo, desértico. Meus cabelos acompanhavam o balançar das folhagens das palmeiras, e com todo tipo de sentimento fraternal já conhecido, fazia o papel de unir meus pensamentos com o vento, que iam e viam sobrevoando longas distâncias e por alguns momentos não conseguia distingui-los.

Acomodei-me logo num banco, em uma praça ali perto, tirei um livro do bolso para ler. Começava a entender o porquê das crises dos escritores. Tantas idéias, inúmeros pensamentos que, ficavam às vezes distantes, outrora tão pertos que solidificam travados quando ouso passar para o papel.

Fiquei precavido naquela situação, sozinho, em uma praça que ligava a avenida, ruas e ruelas que, por sorte estava bem iluminada.

Já sentado, folheando algumas páginas do meu livro, escutei:

– Poeta, não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.

Respirei fundo, e vagarosamente olhei para minha direita e vi uma senhora sentada. Num pulo, caí do banco e sai aterrorizado catando mamona, goiaba, pequi e tudo mais que eu via pela frente. Estava desconcertado, não tinha visto chegar, não ouvi seus passos, muito menos quando se sentou, não fizera um barulho. Tratei em me desculpar, foi um pouco embaraçoso.

– Perdoe-me, senhora … Eu, eu … Não a vi sentando ao meu lado.

Limpando as frestas de areia que se alojaram em minha roupa, olhei delicadamente ao rosto da pobre senhora que me assombrou, de cabelos bem brancos, o nariz um pouco avantajado, um chale feito à mão em volta dos ombros e que descia para os braços até chegar às mãos, aparentemente frágeis, mas que lhe renderam forças para escrever tudo aquilo que lhe rodeava, um terninho azul escuro com bolinhas brancas com uma saia bem longa e sapatinhos pretos. Olhando com mais calma, não parecia uma personagem assustadora, mas serena, com olhos atentos a sua volta.

Quando dei por mim, de quem estava sentado ali no banco ao meu lado, decidi voltar para o chão onde tinha acabado de levantar. Por algum tempo, fechei os olhos, e quando os abri, ela continuava lá.

– Boa noite, tudo bem? , indaguei atrevido e atemorizado.

– Consegue aprender tudo o que precisa esta noite começando a conversa assim? , respondeu diretamente.

– Aprender? , respondi bruscamente.

Olhei para aquele céu negro, com nuvens ligeiramente azuladas, que de um tom tão marinho que poderia difundir-se facilmente com a escuridão da noite, a não ser pelos clarões e lampejos irradiados pela lua, um branco tão vivo quanto de uma pérola.

Começamos a conversar, em poucos minutos ali sentados, eu já me acostumara. Não sei como, mas já estava tão perturbado tentando encontrar algo – que nem mesmo o quê eu sabia, que conversar face a face com Cora Coralina, já não era impossível.

Cora me disse que, não sabia se a vida era curta ou longa para nós, mas siaab que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.

E ainda completou, dizendo:

– Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Abri os olhos com o tilintar do bater de asas de uma mariposa sobrevoando a minha cabeça, perturbando o meu raciocínio. Debruçado sobre minha cama, olhando para livros, folhas e lápis, levantei. Encontrei o que não estava perdido.

Não me encontrei com Cora, mas com a literatura.

Como ela mesmo diz, o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Letras, frase, parágrafo e livro. Gastei toda a minha madrugada, e até agora, só consegui escrever até aqui.

Homem
Homem
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Crônica: Homem

Você não pode mudar o passado. O que quer que tenha acontecido em sua vida até agora – coisas boas ou más – não pode ser alterado, e todas as decisões e acontecimentos que o tornaram o que você é hoje estão indelevelmente inscritos na história da sua vida.
Billy Graham, A Jornada

Dia de chuva, é hoje… a água está limpando a terra e lavrando as serragens, umedecendo as folhagens secas e o caule retorcido das árvores depois de um longo tempo seco. Hoje não é um dia bom para levantar da cama cedo. O Homem se arruma para poder apreciar o seu café com leite e pão de ontem.

– Sempre encontro contigo logo cedo Livre – arbítrio. Seu primeiro comentário pela manhã.
– Até parece que não dormimos juntos desde a sua puberdade Homem, quando nos conhecemos. Livre – arbítrio respondeu diretamente ao Homem pegando uma xícara de café com leite.

Ele sorri discretamente passando manteiga no pão.

– Onde está consciência? Sabe onde ela está? Já estou saindo para trabalhar e ela ainda continua a enrolar todas as manhãs…

Livre – arbítrio optou pela sua liberdade em não responder, pois já estava cansado em conviver com estes pequenos entraves logo pela manhã. Consciência chega na cozinha, não come nada, não bebe nada, simplesmente se senta para conversar um pouco antes de ir trabalhar com Homem.

Foi um longo dia de trabalho, o tempo não para. A Consciência se atrasou para descer do ônibus e o Homem quase se estranha com o motorista, foi por pouco. Livre – arbítrio nada fez, na verdade, não podia fazer nada. A tarde passou como se fosse quarenta e oito horas a duração da exposição do sol e Consciência trabalhou bem, ela não se perdeu. O difícil quando essa mulher se perde é que tudo sai fora do controle, o emocional, o racional, o lógico e também o empírico.

Ao chegar em casa, um belo banho e a leitura de um bom livro resolveria tudo. Consciência escolhe o livro e questiona ao Livre – arbítrio se era uma boa escolha para o dia, ele responde propondo duas alternativas para Consciência: foi uma boa escolha e não foi uma boa escolha. Consciência se alegra e decide optar pela alternativa da boa escolha para a leitura daquela noite.

Amanheceu o dia com o sol, o despertador não tocou e então ele dormiu alguns minutos a mais. Consciência estava trancafiada em um sono pesadíssimo, quando ela decide se cobrir com o cobertor da inconsciência para se proteger do frio, o atraso e o sono pesado era certeiro. Por não haver questionamento a respeito do tempo, acordar ou não acordar, estar atrasado ou não, Livre – arbítrio ficou quieto.

O Homem acordou com a incidência dos raios do sol em seu rosto e viu que estava atrasado.

– Consciência, Livre – arbítrio!!! Gritou rispidamente. Estamos ATRASADOS!

O Homem se aprontou rapidamente, Livre – arbítrio o acompanhou. Consciência estava jogada na cama como um trapo em um dos cantos da casa. Homem não esperou ela se aprontar. – O que há de acontecer de errado, questionou. Livre – arbítrio não argumentou, simplesmente apresentou as alternativas de escolha. O Homem decidiu ir, sem Consciência.

Quando Consciência acordou, ela estava sendo requisitada em um banco de uma praça perto da empresa onde Homem trabalha. Ele perdeu o ônibus das 6:15, esperou impaciente aquele que estava para chegar às 7:00. O ônibus atrasou devido ao pneu furado. Brigou dentro do ônibus devido ao acento de gestante.

– Uma mulher grávida em pé e um malandro mal caráter sentado, esse é o fim da picada! Injuriou audivelmente.

Homem saiu do ônibus com os olhos inchados e a mão dolorida, – Ele saiu pior, argumentou ironicamente. Quando chegou na empresa, o patrão o recebeu na porta, o dispensou do dia de trabalho daquele dia (o patrão era gentil), na verdade já tinha perdido a manhã toda. Seu estado não era apreciável, roupas rasgadas, ensaguentadas e amassadas. O rosto inchado somado com a cara de ontem por dormir demais e também por estar atrasado.

– Consciência, onde está você agora? Questionou o Homem choramingando o dia perdido.

O melhor lugar agora era a sua casa, mas ir primeiramente ao hospital fazer um curativo era melhor. Livre – arbítrio olhava e Consciência o acalmava, tudo iria melhorar, agora ele estava consciente.

Asas no coração
Asas no coração
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Autoria: Asas do Coração

Com bico para fora da gaiola, admirava. Seus olhinhos arredondados acompanhavam as penas das araras em alto voo. Penas grandes, lustrosas com cores bem vivas e suntuosas. Avermelhadas, azuladas e amareladas. Essa era a visão do pequeno pardal sem asas.

O pequeno assistia o mundo das aves pelas grades de sua gaiola. Para estar na ala mais alta de sua morada precisaria das asas de outro pardal. Pegava carona para subir, pegava carona para descer. Um pássaro sem asas, ironia. Ainda no aconchego da casca de seu ovo em um ninho constantemente construído e almofadado pelas mais macias folhas, perenes em tom carmesim e arejado com gardênias e pequenos lírios do vale. Ali, alimentava seu sonho de voar. Não reconhecia a própria deficiência, não vivia a própria realidade.

Ao olhar para si, via enormes asas com penas alvas e longas, asas capazes de subir tão alto que as nuvens tocariam suas patas. Encostava o bico nas grades e assim, varava o dia, perdia a noite em sonhar. Mas como? Como voar? Acontece que as asas do pequeno pardal estavam em seu coração. Essas eram as asas de verdade. Mesmo que nunca tenha sentido o vento sendo cortado pelas suas penas, ele sabia qual era a sensação. Mesmo nunca tenha precisado pousar depois de um longo voo, o pequeno pardal sabia qual era o frio na barriga que a gravidade lhe causaria ao fechar as asas e tocar o chão.

Amanhecia em imaginar e anoitecia em sonhar. Todas as noites se maravilhara com os vários voos, movimentos em pleno ar que imaginava e criava. Vivia, mas em sonhos.

Sentia, mas na imaginação. Voava, só que com o coração. O que me admira meu amigo, o que realmente me surpreende e fascina, não é um pardal sem asas sonhar em um dia voar, mas um pardal sem asas ter a certeza de que está voando sem nunca ter saído da gaiola.

Aplausos para imaginação.

Autorais

Semana do Meio Ambiente: Como podemos ajudar?

Nós, seres Humanos desse planeta Terra em transformação, estamos constantemente rodeados por informações sobre a importância da preservação ambiental. Escutamos sobre o assunto na escola, nas conversas familiares, rodas de amigos, e principalmente, através dos meios de comunicações ao anunciarem tragédias que afetam animais, florestas, clima, recursos básicos, e claro, a nós também.

E o problema tem uma dimensão tão grande, tão global, que se pensarmos friamente em nossas pequenas ações diárias, elas realmente não parecem capazes de mudar o mundo.

Mas quem disse que você precisaria salvá-lo, não é?

Essa responsabilidade soa muito inalcançável, então, podemos simplesmente fazer o melhor que conseguimos.

Isso. Esqueça aquela história de fazer o impossível, porque quando pensamos assim, nosso objetivo fica muito distante e acabamos sem fazer coisa alguma.

A maioria de nós não irá exterminar o desmatamento. Também não terá controle sobre industrias que exalam proporções gigantescas de gases tóxicos na atmosfera. E tão pouco evitará a extinção de animais.

Então, o que iremos fazer, afinal?

O primeiro passo é compreender a importância da palavra respeito. Quando falamos dela, geralmente associamos a alguma outra pessoa, mas a verdade é que respeito deve ser a base do nosso relacionamento com tudo (e não apenas “todos”). Quando compreendemos que não somos criaturas superiores às outras, isso começa a facilitar o processo.

Como havia sido dito anteriormente, talvez não sejamos capazes de evitar a extinção de animais, mas, você já parou pra pensar na quantidade de pequenos animais que já matou… só por matar? Naquela formiga que nem estava no seu caminho,e puff, morreu com uma chinelada? Isso acontece o tempo todo. A gente acha que destruir ou salvar a natureza é algo de feito grandioso, mas não é. Nós não precisamos morrer picados por insetos, mas podemos tomar a incrível decisão de olhar com mais respeito e discernimento para as diferentes criaturas.

Nós não iremos acabar com todas as grandes industrias que poluem o ar, porém, e quanto aos diversos papéis, latas, objetos que jogamos pelas ruas? Nos lugares indevidos? Aquele papelzinho minusculo de chiclete que a gente compara com as destruições causadas pelas industrias e parece menor? Se você poderia ter feito diferente, melhor, e não fez… Então isso é um problema seu também, em proporções iguais.

E quanto ao desmatamento? É. Realmente acho que não conseguimos correr até as florestas e gritar “chega!”, esperando que alguém tenha piedade. Tomara que alguém tenha! Enquanto isso, podemos continuar nos mobilizando nas redes sociais, ajudando ONG’s, procurando diferentes maneiras para ajudar… Uma delas, aliás, poderia ser plantando algumas mudas de árvores, já pensou? Porque não combater o mal, fazendo o bem? É possível ir na prefeitura de nossas cidades e facilmente conseguir autorização para o plantio. Podemos plantar em nossas calçadas, quintais, sítios, chácaras, e mesmo que pareçam só pequenas árvores perto da imensidão que o mundo perde diariamente, pense, essa é a sua parte!

Simplesmente não se conforme em fazer da sua parte algo irrelevante, porque nenhum de nós é.