Categorias

Filmes

morar sozinho em outra cidade
Colunas, Estreias

Como é morar sozinho em outra cidade?

Morar sozinho, por si só, já um tremendo desafio. Adicione o fato de morar sozinho em outra cidade, longe de (quase) todos que você conhece e poderiam te ajudar em uma dor de barriga.

Com 21 anos, no último ano da faculdade, me mudei de São José dos Campos para Taubaté, onde eu fazia faculdade e trabalhava, para facilitar as coisas e morar com o meu namorado. Você pode falar, ah Gabu, mas são só 40 minutos de distância entre uma cidade e outra. Nem é tanto assim! Mas posso te garantir: faz toda a diferença.

Em Taubaté, além do Patrik, meu namorado, eu só tinha alguns poucos amigos da faculdade. Poucos, porque a maioria deles era de outra cidade e ia até Taubaté só de noite para estudar. Para resumo, umas duas ou três pessoas.

A mudança foi tranquila. A gente comprou os móveis principais (fogão, geladeira e afins – mas isso é assunto para outro post), outros nós já tínhamos e alguns nós improvisamos, tipo um sofá de pallets, colchão e almofada. O primeiro apartamento tinha poucos metros quadrados. Não dava para mais de duas pessoas morarem nele, mas ainda sim adotamos um coelho, o Gabrik.

Em um primeiro momento, você pode pensar que nada acontece assim, de tão extraordinário que precise de um help imediato de alguém da sua família ou conhecido. E mesmo hoje, dois anos depois, em outro apartamento e outra realidade, as coisas não mudaram muito.

A primeira vez aconteceu quando um cano estourou na cozinha. O azulejo ficou alagado por dentro. O que fazer? Encontrar o registro e desligar. Entrar em contato com um encanador. Mas onde fica o registro? Qual é o registro? Onde encontrar um encanador de confiança? O quanto é o valor do serviço e o quanto são pessoas querendo passar a perna por perceberem que são pessoas que não conhecem nada?

E lá se vai a gente ligar desesperado para os nossos pais. Você nunca sabe quando um cano vai estourar. Nem o que fazer com isso.

Outro dia, cozinhando, o Patrik, sem querer, derrubou uma panela de água quente no pé. Ok, chamo uma ambulância? Como chegamos ao hospital sem ter um carro? Ele não conseguia andar e estava morrendo de dor. Será que o Uber chega a tempo às 3h da manhã?

As coisas que você menos imagina acontecem quando você vai morar sozinho e, quando você está longe da sua rede de apoio, tudo fica ainda mais complicado. A gente sabe muito da teoria ensinada nas escolas, mas nada da prática.

Eu aprendi até a montar um armário de cozinha. Pela intuição. Peguei as tábuas, martelei aqui e ali e o armário estava montado. Ficou meio bambo? Ficou, mas isso não importa agora.

Hoje em dia, algumas coisas parecem que entraram em mim por osmose ou pura intuição. Eu sei como separar as roupas do cesto sem pegar pelo em nenhuma delas. Sei tirar manchas de vela, como clarear os azulejos e desentupir pias. Como lidar com síndicos e vizinhos sem noção e como me impor. Mas alguém precisa te falar: não é fácil, de verdade! Estando longe de todo mundo, é normal que bata aquela insegurança. Sendo jovem, as pessoas vão te olhar como se você fosse besta, impotente ou como se não levasse as coisas a sério. Ô se vão!

Recentemente, nosso coelho, o Gabrik, morreu. Eu estava cozinhando e senti que ele não estava normal. No mesmo instante, já liguei pro veterinário de plantão especializado, chamei um Uber e chegamos em menos de 30 minutos. Infelizmente, ele veio a falecer. Ok, eu sabia o que fazer até aquele momento. Mas e o corpinho? Não é justo deixar lá para descarte. Onde vamos enterrar? Moramos em um apartamento, que é grande, mas não tem um canteiro e é alugado!

E lá se foi o Patrik ligando para os pais dele, que chegaram em casa algumas horas depois para levar o corpinho para ser enterrado na chácara. E se eles não pudessem vir? A resposta era pegar um Uber até a cidade vizinha, que provavelmente seria mais de cem reais.

O fato é: morar sozinho é caro. Morar sozinho é complicado. Morar sozinho, em outra cidade, longe daquela rede de apoio que você se acostuma é complicado e, muitas vezes, para solucionar seus problemas, você vai precisar de mais dinheiro ainda.

E quem disse que jovens tem dinheiro assim? O jeito é dar o famoso jeitinho aqui e ali porque, apesar da dificuldade, eu faria tudo de novo. Sair da casa da minha mãe me proporcionou um autoconhecimento e um conhecimento de mundo incrível. Eu tive essa oportunidade, parte por necessidade, mas consegui. E, se você tem essa oportunidade também, vai fundo. Não se acomoda.

Eu sei, é mais quentinho ali no conforto da casa da sua família, com tudo na sua mão. Mas, a partir do momento que é você por você, ou no máximo, você e seu namorado contra o mundo, a figura muda um pouco. Saiba que os momentos difíceis vão aparecer de onde você menos imagina. Mas a solução também vai sair de uma perspectiva que você jamais imaginou antes.

Vikings
Filmes, Séries

Vikings: mistério e continuação

Sem sombra de dúvidas, Vikings é uma das séries de maiores sucessos dos últimos tempos e após sua estreia em 2013, muito se especula sobre o seu final que chegará no inicio de 2021 nas telinhas brasileiras.

Claro que podemos esperar por um final surpreendente do produtor e roteirista inglês, Michael Hirst, responsável pela série. A narrativa, inicialmente criada para o History Channel como drama histórico para contar a trajetória dos guerreiros nórdicos, rendeu tanta audiência que obviamente contou com uma boa dose de liberdade criativa para continuar por quase uma década no ar.

Com o sucesso de personagens e tramas, Vikings trouxe o universo nórdico de volta para o futuro. Trocadilhos à parte, agora chegou o momento dos fãs realmente se despedirem dos filhos de Ragnar. Os primeiros dez episódios deste grande finale já foi ao ar em dezembro de 2019 e agora o restante da sexta temporada, que apresentará mesmo o desfecho final de todas as histórias dos filhos de Ragnar Lothbrok, será exibido final deste ano. E para provar que as batalhas não ocorrem apenas nos campos, as plataformas de streaming também entraram na disputa pela data de estreia, então se você estiver no Reino Unido ou nos Estados Unidos poderá assistir no dia 30 de dezembro pela Amazon Prime, caso esteja por aqui a estreia acontece dia 31 no Netflix.

Mas assim como não se subestima um viking, o mesmo não dá para fazer com um streaming. A Netflix já está preparando para os fãs um derivado da série chamado Vikings: Valhalla, com roteiro e produção de Jeb Stuart que esteve por trás da franquia Duro de Matar. A ideia é que Valhalla traga novos personagens e tramas para a era final dos vikings, que se passa 100 anos após os eventos apresentados por Michael Hirst.

A verdade é que Vikings atingirá seu auge com muita desordem. Bjorn Ironside, Ubbe, Hvitserk ou a grande invasão dos Rus, comandados pelo príncipe Oleg e apoiados por Ivar, The Boneless, quem sairá vencedor?

Existem diversas teorias espalhadas pela internet sobre o final da série. Teremos o retorno de Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel) ou de Lagertha (Katheryn Winnick)? Saudades desses personagens. A serpente gritante Jörmungandr voltará a atacar? Muita especulação e muito mistério!

A pergunta final que fica é: era de ouro dos Vikings realmente se foi? Valhalla aguarda.

manu gavassi
Filmes, Séries

Filme independente com elenco de amigos conta com Manu Gavassi como produtora associada

Manu Gavassi já mostrou algumas vezes que é uma artista multifacetada que cria, roteiriza, produz, dirige, canta e atua.  Sua nova empreitada é como produtora associada (cargo bastante comum no mercado norte americano quando um artista de grande visibilidade “apadrinha” um projeto independente, seguindo os passos de estrelas internacionais como Selena Gomez e Zendaya) onde emprestou sua visibilidade para um projeto independente cheio de sensibilidade, representatividade e união entre amigos.

O filme “Me Sinto Bem Com Você”, que foi gravado em apenas um mês durante a pandemia cumprindo todos os protocolos de segurança em razão do Covid-19, foi idealizado, escrito e dirigido por seu amigo Matheus Souza.

“É um projeto despretensioso feito por amigos e para exercitar nossa saúde mental durante a pandemia. Tem um texto atual, sensível e que acredito. Matheus é um grande amigo e quando ele me mandou o filme eu tive vontade de participar.” – declara Manu.

Matheus criou o projeto a partir de conversas que teve com a mãe durante a pandemia e diz ser uma carta de amor pra quem nos fez companhia em um momento tão difícil. Aqueles que nos fizeram sentir bem em meio ao caos.

“Acredito que manter contato com aqueles que amamos, por vídeo ou telefone, foi fundamental para tornar tudo que passamos um pouco mais leve. As conversas que tive com os meus amigos e minha mãe aliviaram o baque do isolamento na minha saúde mental. Falei pra ela que ia escrever um filme sobre nossas conversas para distrair minha cabeça. Eu nem poderia imaginar que ele seria filmado tão rápido e com esse elenco maravilhoso.” analisa Matheus.

Além de Manu Gavassi, o elenco conta com Victor Lamoglia, Thati Lopes, Richard Abelha, Amanda Benevides, Thuany Parente, Bel Moreira, Clarissa Muller, Gabz, Walkiria Ribeiro, Flavia Barros, Aya Matsuaki, Giulia Song , Priscilla Rozenbaum.

“Ainda não sabemos o que vai ser desse projeto, geralmente eu não faço isso de dividir algo sem planos mirabolantes na cabeça mas quando vimos o teaser pronto deu uma vontade de dividir e de trazer um pouco de alegria e esperança para as pessoas esse final de ano. Talvez seja um resumo de um período que vivemos, a gente não sabe como o mundo vai caminhar nos próximos meses mas a gente sabe o que nos fez sobreviver mentalmente a isso, e são as relações com as pessoas que amamos.” – conta Manu

“Me Sinto Bem Com Você” ainda não tem data de lançamento confirmada.

Confira o trailer:

Filmes, Séries

Premiado “Inabitável”, protagonizado por Luciana Souza, é selecionado para o Festival de Sundance

O premiado curta-metragem “Inabitável, dirigido por Matheus Farias & Enock Carvalho, foi selecionado para a Mostra Competitiva do Festival de Sundance, que acontece de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 2021, em formato presencial e onlineTrata-se do único curta-metragem representando o Brasil em Sundance. Exibido em 18 festivais no segundo semestre de 2020, incluindo o 48º Festival Gramado – onde conquistou os troféus de Melhor Filme pelo Júri da Crítica, Roteiro, Atriz e Prêmio Canal Brasil de Curtas, – Inabitável foi o curta-metragem brasileiro mais premiado do ano, com 10 prêmios.

curta pernambucano é protagonizado pela baiana Luciana Souza (“Bacurau”, “Ó Paí Ó”, “Flores Raras”), que além de Gramadofoi premiada no Festival Mix Brasil. O elenco conta também com as atrizes pernambucanas Sophia William, Erlene Melo, Laís Vieira, Eduarda Lemos; e os atores Val Júnior e Carlos Eduardo Ferraz. O filme narra a história de Marilene (Luciana), que procura por sua filha desaparecida depois de não retornar de uma festaPor meio de uma narrativa fantástica, linguagem bem conhecida pelos diretores de “Caranguejo Rei”, Enock e Matheus retratam de forma poética a violência rotineira do país que mais mata a população LGBTQIA+. 

Estamos muito felizes com o fato de o filme estar na seleção oficial do Festival de Sundance porque isso significa que muitas pessoas descobrirão ‘Inabitável’ a partir de agora. Isso gera uma nova onda de pensamentos em torno do filme, novos debates e críticas. Sundance é uma maravilhosa vitrine para o cinema mundial e o filme toca em questões sobre o Brasil que são muito importantes “, afirma Enock Carvalho, roteirista e diretor do filme.

“A exibição do filme em festivais online permite que mais pessoas, inclusive as que não frequentam habitualmente os festivais de cinema, consigam assisti-loDesde a estreia em agosto, Inabitável tem participado de vários festivais brasileiros e internacionais e já soma 10 prêmios. Estamos muito felizes com essa trajetória e é muito importante pra gente que ele continue circulando, sendo assistido e discutido. Diante de tudo o que vem acontecendo no Brasil nos últimos tempos é incrível perceber como ele reverbera de forma única através de cada exibição“, completa Matheus, que além de roteirizar e dirigir o filme, também montou o curta ao longo de quatro meses.

A estreia mundial de “Inabitável” aconteceu na Mostra Competitiva do 31º Festival de Curtas-metragens de São Paulo. Em setembro, foi exibido na competição de Curtas-Metragens Brasileiros do 48º Festival de Cinema de Gramado e, em outubro, na Mostra Olhares Brasil do 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba.  Também foi selecionado para a competição do 30º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema e do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiroambos em dezembro.

Inabitávelteve a participação de aproximadamente 40 pessoas na equipe, entre profissionais pernambucanos e de outros estados. O filme tem produção executiva de Vanessa Barbosa, direção de produção de Amanda Guimarães, figurino e caracterização de Libra, direção de fotografia de Gustavo Pessoa, produção de elenco de Felipe André Silva e trilha sonora de Nicolau Domingues. O curta foi filmado em dezembro de 2019 e finalizado ao longo do primeiro semestre de 2020. É incentivado pelo Funcultura Audiovisual, através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), e do Governo do Estado de Pernambuco.

Há três anos, os diretores Matheus Farias e Enock Carvalho desenvolvem o roteiro do primeiro longa-metragem assinado por eles. O projeto já participou do Laboratório Novas Histórias, iniciativa do Sesc e Senac São Paulo voltada para o desenvolvimento de roteiros e o aperfeiçoamento do ofício de roteirista no cinema nacional. O filme flerta com o cinema de gênero e se aprofunda na crise que o Brasil vive hoje, costurando passado, presente e futuro.  

Atualizações, Filmes

“O terceiro travesseiro” poderá ganhar adaptação audiovisual!

O terceiro travesseiro, romance de Nelson Luiz de Carvalho, poderá ganhar uma adaptação audiovisual nos próximos anos! A notícia foi dada diretamente pelo autor, por meio do seu perfil do Facebook e ainda não há previsões para lançamento, apesar de ainda ter grandes nomes envolvidos na produção.

A obra é uma ficção baseada em relatos reais e teve seu primeiro lançamento em 1998, se tornando um grande marco na literatura LGBTQIAP+ brasileira, com 5 milhões de cópias vendidas apenas em 2005. No enredo, dois adolescentes, Marcus e Renato, passam a compartilhar suas fantasias amorosas e a descobrirem juntos a sua sexualidade. Com uma grande carga de erotismo, descoberta e autoconhecimento com uma linguagem crua e sem muitos rodeios, o livro logo se tornou um best-seller.

Com um final trágico, mas do jeito que a gente gosta, O terceiro travesseiro já foi adaptado para os teatros em 2005, lotando o Teatro Augusta durante seus cinco meses em cartaz. Segundo o autor, a adaptação audiovisual terá elementos tanto do livro, quanto do teatro, que tinha um tom de comédia que não estava alinhado com o livro mas acabou por agradar o público. Além disso, o caminho que deve ser seguido é de uma série, e não de um filme. Veja:

O terceiro travesseiro

Além da possível adaptação audiovisual, “O terceiro travesseiro” deve ganhar uma segunda parte, que contará como foram os anos seguintes ao término do livro. Ainda não há previsão de lançamento.

E aí, todo mundo ansioso ou só eu mesmo?

After We Collided
Atualizações, Filmes

“After We Collided” ganha trailer e data de estreia americana!

Os fãs de Tessa e Hardin já podem comemorar! Acabou de ser liberado o primeiro trailer de After We Collided, filme que dará sequência a série After, adaptada para os cinemas a partir do romance escrito por Anna Todd.

A sequência traz Hero Fiennes Tiffin e Josephine Langford como Hardin e Tessa e o casal precisa lidar com as consequências do seu término e se querem ou não continuarem juntos. E pode-se dizer que só vendo o trailer, está na cara que eles ainda se gostam e querem apenas dispersar um sentimento que não vai embora.

Sem mais delongas, veja o primeiro trailer de After We Collided:

O filme ganhou uma data de estreia prevista para 2 de outubro nos Estados Unidos e ainda segue sem previsão para lançamento no Brasil. Ainda não se sabe como será a estreia com os cinemas fechados por conta da pandemia pela COVID-19, então presume-se que será por plataformas de filmes sob demanda, como a Netflix.

A sequência ainda ganhou a participação do ator Dylan Sprouse, que causou uma pequena onda de alegria nos fãs da série. Se você quer saber mais sobre After, leia nossa resenha do primeiro livro clicando aqui e conheça outros livros do mesmo gênero, clicando aqui.

Filmes, Novidades, Reviews de Séries

LGBTQIA+: Do armário para a sala

Com a chegada das séries internacionais aos nossos computadores entre as décadas de 90 e 2000 e principalmente com o crescimento de streamings, como Netflix e Amazon, observamos também a evolução da temática LGBTQIA+ nas histórias, anos-luz à frente da realidade brasileira, ainda hoje repleta de estereótipos e superficialidades nas produções.

Quando a Netflix era só mato, a TV americana Showtime lançou Queer as Folk (2000-2005) e, anos depois, The L Word (2004-2009), duas séries que retratavam a cultura LGBTQIA+: não apenas personagens gays ou lésbicas dentro de um contexto heteronormativo, mas sim o universo LBGTQIA+ com seus protagonistas, cenários, enredos, dramas, romances, vidas sexuais e, claro, homofobia. Lembro de assistir e reconhecer o ambiente onde estava inserido e, pela primeira vez, perceber que a minha realidade e a dos meus amigos foi representada. Para o mercado, foi um chute na porta ao personificarem seres humanos e universos, até então, invisíveis.

A partir daí muitos roteiristas decidiram incluir personagens LGBTQIA+ em suas séries, a maioria consciente da necessidade de representatividade em suas histórias. Uma delas foi a americana How To Get Away With Murder (2014-2020, Netflix): Connor Walsh (Jack Falahee) é um jovem advogado, bonito, um tanto sem escrúpulos, que entra para a equipe criminalista liderada por Annalise Keating (Viola Davis). Connor é gay, mas a série retrata sua história pessoal como retrata a dos outros personagens, sem utilizar a orientação sexual dele para alívio cômico – tudo dentro do universo gay que Connor vive. Sem spoilers, mas temas tão presentes no mundo LGBTQIA+, como sexo descartável, HIV e casamento aberto, são abordados.

Com um terreno fértil sendo criado, a série Transparent (2014, Amazon) ousou ao contar a história de uma família que recebe a notícia de que o homem que eles conheciam como pai é uma mulher transgênero. E, recentemente, Pose (2018, Netflix) voltou à Nova York dos anos 80 e mostrou mulheres trans, expulsas de suas famílias, que criaram casas de acolhimento para pessoas na mesma situação de vulnerabilidade. A série é primorosa em retratar a dor, o preconceito (inclusive dentro da própria comunidade LGBTQIA+), a falta de oportunidades e as dificuldades da autoaceitação, tudo com um humor ácido e irresistível. No fim da temporada, você só quer dar um abraço na Blanca e (até) na Elektra, pois suas dores são diferentes, mas igualmente cruéis.

Quer uma série mais leve, mas igualmente necessária? A britânica Sex Education (2019, Netflix) é uma comédia que retrata os conflitos de jovens descobrindo suas vidas sexuais. Um detalhe simples que resume o DNA da série é o fato de o melhor amigo do protagonista, branco e heterossexual, ser um jovem negro e gay, e nenhum desses dois assuntos sequer ser motivo de conversa entre eles. Mas, como a sociedade não entende com a mesma tranquilidade, os conflitos acontecem. É um banho de naturalidade como gostaria de ver nas novas gerações, seja no Reino Unido, seja no Brasil.

A arte é uma ponte necessária para o entendimento do universo LGBTQIA+, principalmente para a conscientização de uma sociedade alimentada há anos com estereótipos e preconceitos. E, quando essa ponte está na sala de casa, dentro de uma série, apresentar personagens verossímeis traz a esperança de aproximar os dramas da ficção às dores reais de uma comunidade ainda tão vítima de discriminação.

Atualizações, Filmes, Livros

Anne with an “E” continua em Anne de Avonlea

Com o cancelamento de Anne with an “E” na Netflix, o público se manifestou nas redes sociais  indicando ter muito conteúdo interessante a ser explorado na história, assim desejando uma nova temporada para a série. Em meio a tantos desejos, o Grupo Editorial Coerência anunciou o lançamento de “Anne de Avonlea”, o segundo livro sobre a Anne Shirley.

Produzida mediante uma parceria entre a CBC e a Netflix, Anne with an “E” tomou grandes proporções quando o contrato de renovação para sua quarta temporada não foi assinado. A série é uma adaptação de oito livros escritos por L. M. Montgomery, mas devido ao cancelamento não conseguiu abordar toda trajetória da garotinha ruiva.

Após diversas pessoas se mobilizarem em redes sociais demonstrando interesse e motivos para a história ganhar uma sequência pela plataforma de streaming, o Grupo Editorial Coerência se propôs lançar uma nova edição dos livros em território brasileiro. Publicado pela primeira vez em 1909, “Anne de Avonlea” é o mais recente lançamento da editora.

Na obra, Anne Shirley está com dezesseis anos e meio, e começa a lidar com as responsabilidades da vida adulta e continua conquistando todos ao seu redor com atitudes admiráveis. Os exemplares já estão sendo vendidos, e comprado no site da editora o leitor ganha brindes.

Sinopse
Anne Shirley agora tem “dezesseis anos e meio”. Após desistir de cursar a faculdade para ficar em Green Gables, está prestes a iniciar suas atividades como a professora da escola de Avonlea. Guiada por seus ideais românticos, planeja atuar com métodos de ensino inovadores, mas, com o tempo, acaba percebendo que muitas vezes a teoria é bem diferente da prática. Nada, porém, é capaz de desanimar Anne, que, com o apoio de Gilbert Blythe e de outros jovens de Avonlea, conquista a confiança da comunidade e efetua diversas melhorias no distrito. Embora cheia de responsabilidades, a jovem continua conquistando todos ao seu redor com seu espírito livre e cativante. Ao lado de sua fiel amiga, Diana Barry, encontra novos espíritos irmãos conforme vai se aproximando cada vez mais da vida adulta, sem deixar para trás suas manias imaginativas e sua facilidade para se envolver em confusões.

Em seu segundo romance, L. M. Montgomery continua conquistando seu público com palavras encantadoras e um enredo bem-humorado. Como não poderia ser diferente em uma história protagonizada por Anne Shirley, a autora segue conduzindo leitores de todas as idades a refletir acerca dos valores que regem nossa sociedade.

Sobre a autora
Lucy Maud Montgomery nasceu na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, em 1874. Criada pelos rigorosos avós maternos, encontrou em sua imaginação uma forma de lidar com a solidão de sua infância. Apesar de se dedicar à escrita desde jovem, formou-se professora e atuou na área por alguns anos. Em 1908, estreou como romancista com a publicação de “Anne of Green Gables”, sucesso instantâneo que deu origem a outros livros protagonizados por Anne Shirley. Ao longo de sua carreira, publicou 20 romances, mais de 500 contos e diversas poesias. Faleceu em 1942, aos 68 anos, deixando a Ilha do Príncipe Eduardo imortalizada por meio de suas descrições sensíveis acerca da natureza e do estilo de vida de seus habitantes na época.

Capa do livro O Conto da Aia
Filmes, Livros, Resenhas

RESENHA: O CONTO DA AIA, DE MARGARET ATWOOD

Sinopse: O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017.

 O Conto da Aia mostra a vida na República de Gilead, anteriormente o território dos EUA, após o país sofrer uma revolução teocrática e ser governado por radicais cristãos. Regidos por interpretações exageradas do Velho Testamento, os novos governantes excluem as mulheres da vida em sociedade e as dividem em castas funcionais: as Marthas, são pelos serviços domésticos; as Esposas, administradoras do lar; as Aias, como reprodutoras; e as Tias, senhoras que educam as mulheres para a servidão e submissão.

Em Gilead, sem direito a opinar, de se expressarem ou mesmo de serem alfabetizadas, as mulheres estão no nível mais baixo da sociedade. Além disso, através das informações que são passadas pela protagonista, sabemos que Gilead está passando por conflitos contra outras nações – e que alguma radiação trouxe infertilidade ao país. Sendo essa a razão de algumas mulheres, saudáveis e ainda férteis, serem tomadas como aias.

Contra-capa-conto-da-aia

Imersa nesse contexto, Offred é uma aia que vai nos contando sua rotina na casa do Comandante, tendo ali a estrita função de lhe dar um filho. Entre lembranças do seu passado com seu marido e filha e sua realidade no presente, cheia de horrores, Offred vai tecendo sua narrativa que, conforme a autora brinca com hipérboles, guarda semelhanças com a realidade do século XXI.

Publicado em 1985, o livro tem inspirações visíveis na Revolução Islâmica que ocorreu no Oriente Médio, em meados do século passado – tornando o Irã uma república islâmica teocrática, pautada pelo radicalismo, e retirando quase totalmente a liberdade feminina no Afeganistão. Ao parafrasear esse contexto para uma versão cristã de dominação, Atwood subverte alguns dos princípios ocidentais e nos releva até que ponto o radicalismo religioso pode levar a sociedade.

Nesse sentido, o maior trunfo do O Conto da Aia é seu flerte com a realidade. Seguindo a tradição do gênero distópico, que se apropria de hipérboles sociais para criar um cenário impactante ao leitor, por um lado o livro nos apresenta uma situação que beira ao absurdo – já que nossa própria narrativa ocidental tem caminhado em uma direção contrária a esse estado radicalista. Afinal, na maior parte dos países da Europa e América, as politicas costumam ser pautadas pela liberdade de credo, de sexualidade e maior autonomia feminina.

Contudo, a obra ainda permanece relevante, pois o objetivo da ficção cientifica é nos alertar dos perigos de nossas próprias intolerâncias e preconceitos. O propósito da obra não é simplesmente retratar a realidade do mundo, mais apresentar uma perspectiva de futuro assombrosa – propondo uma reflexão profunda do que nos levaria até tal ponto como sociedade, e possibilitando que tomemos um outro rumo.
Ao apresentar uma realidade onde o patriarcado e o radicalismo triunfão em pleno ocidente, Atwood nos direciona para o extremo oposto – nos deixando receosos e desejosos pela liberdade.

Contudo, também não se pode negar que toda a violência contra a mulher revelada, sem censuras, dentro da história são uma maximização do que ocorre nas vielas e becos de muitas cidades brasileiras e ao redor do mundo. A violência e opressão sofridas por Offred e todas as aias, ainda que não aconteça em escala governamental, é uma analogia ao que ocorre em muitos lares e relacionamentos abusivos – onde os homens ainda persistem em subjugar ao mulheres, simplesmente por serem aquilo que são. Impondo-lhes uma realidade de terror e escravidão social.

interior do livro o conto da aia

O Conto da Aia não deve ser lido de forma leviana, nem é um mero entretenimento. Sua mensagem poderosa deve ser absorvida e refletida, para que possamos cada vez mais nos distanciar da sociedade de Gillead, e avançar para uma mais libertária, igual e digna.

Vale ressaltar também o poder da escrita de Atwood, que possuí uma enorme superioridade em relação a alguns dos romances dessa mesma temática. No Canadá, o livro de Atwood é considerado um clássico na literatura nacional, sendo estudado em escolas e universidades, não apenas por seu conteúdo impactante, mas também pela sua força literária.

Baseada na obra, a série The Handmaid’s Tale estreiou em 2016, pelo serviço de streaming Hulu, e já venceu 8 Emmys e 2 Globos de Ouro. Atualmente, a série está em sua 3º temporada e pode ser acompanhada pelo Globoplay

O livro pode ser encontrado nas maiores livrarias do país, e também pode ser adquirido em lojas online como a Amazon, Americanas, Livrarias Cultura, Submarino ou por qualquer outra de sua preferência.

Sobre a Autora: Escritora canadense que atua como romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária. Reconhecida por inúmeros prêmios literários internacionais de grande importância. Recebeu a Ordem do Canadá, a mais alta distinção em seu país. Em 2001, foi incluída na calçada da fama canadense e muitos dos seus poemas foram inspirações para contos de fada europeus. Desde 1976, é membro fundadora de uma organização não governamental que atua em apoio da comunidade de escritores canadenses ou que residem no país. Desde 1976, é membro fundador do Writers’ Trust of Canada, uma organização não governamental que atua em apoio à comunidade de escritores canadenses ou que residem no país. Suas obras são conhecidas por mesclarem uma veia irônica e lúdica com sua aguçada perspicácia para questões contemporâneas – como as relações de gênero e o meio ambiente.

Ficha Técnica:
Capa comum: 368 páginas
Editora: Rocco; Edição: 1 (7 de junho de 2017)
Idioma: Português
Autora: Margaret Atwood
Tradução: Ana Deiró
ISBN-10: 8532520669
ISBN-13: 978-8532520661
Dimensões do produto: 20,8 x 14,2 x 2,4 cm
Peso de envio: 363 g

Margaret Atwood com seu livro

Crítica: As Panteras (Charlie's Angels, 2019)
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: As Panteras (Charlie’s Angels, 2019)

Estamos vivendo um boom de continuações e remakes dos filmes e séries que amamos. Devo confessar que não sou grande entusiasta do formato mas nunca dispenso a oportunidade de ver filmes com mulheres que dão socos e pontapés. E foi assim que eu fui parar na cabine do novo “As Panteras”, escrito e dirigido por Elizabeth Banks.

Se você tem por volta dos 20 e poucos anos e quase ou nenhum interesse pelo universo dos anos 70/80 que que seus pais provavelmente viveram (e amaram), saiba que As Panteras (Charlie’s Angels) nasceu no formato de série de televisão nos anos 70 com todo o girl power e hair goals que se poderia ter. Lá pelos anos 2000, a franquia foi adaptada para a conhecida versão com Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu.

O Girl Power vende. Nós sabemos e Hollywood também – ainda mais após movimentos como o Me Too. Então, não é a toa todo o barulho que o filme vem trazendo ao se apresentar como feminista. De fato temos mudanças positivas da versão dos anos 2000 – e é impossível não comparar o atual com esta versão – tal qual saímos da hipersexualização das personagens e acrescentamos mulheres que podem hackear e manjam muito de tecnologia – papéis geralmente desempenhados por homens até pouco tempo (mas estamos virando esse jogo através de filmes e séries, alô Sense 8 e Oito Mulheres e Um Segredo).

Ainda no universo feminino, presenciamos nossas “anjas” passarem por situações como macho palestrinha levando crédito pelo que a mulher fez, assédio no trabalho e o homem chato que caga regra do que a mulher deveria fazer ou como eu chamo tudo isso: mais um dia na vida da mulher.

Porém, por mais que o filme tente, acaba encaixando suas protagonistas em caixinhas dos clichês. Sabina (Kristen Stewart) é a clássica menina que era problema durante a adolescência, ama curtir a vida adoidado e não tem filtro na hora de falar. Elena (Naomi Scott) é a que cai de paraquedas, inocente e querendo mostrar serviço e Jane (Ella Balinska) é a típica fortona que não chora e “não precisa de ninguém”. Mas a química entre o trio é visível e faz toda a diferença durante o longa.

Aqui vale elogiar a face comediante que conhecemos de Kristen Stewart. Torcer o nariz para os filmes da atriz com base em Crepúsculo é golpe baixo em 2019. A atriz se entregou em vários papéis diferentes – de filmes mais independentes como Para Sempre Alice até trabalhos com o diretor francês Oliver Assayas, no qual foi premiada com o César por Personal Shopper. A personagem de Stewart é carismática e traz leveza para o filme.

Outro ponto positivo é a boa fotografia do filme mas o que realmente chama a atenção é a trilha sonora com um compilado de vozes femininas. A trilha ficou na responsabilidade de ninguém menos que Ariana Grande, que arrasou nas escolhas. Entre a seleção, está a música “tema” do filme “Don’t Call me Angel” com participação da própria ao lado de Miley Cyrus e Lana Del Rey, passando por um remix de “Bad Girl” de Donna Summer e o original “Pantera” de Anitta, que abre o filme numa cena de um Rio de Janeiro fake.

Vale lembrar que o filme tem cena pós-créditos e vale pela espera.

As Panteras é uma feliz surpresa – ainda mais naqueles dias que a gente só quer ver um filme com ritmo e ir para casa sem pensar muito. No mais, elas que lutem.