Tolkien chega aos cinemas amanhã (23) e o Beco já foi conferir e traz tudo em primeira mão para vocês. Estrelado por Nicholas Hoult e Lily Collins, o filme conta a história de J.R.R. Tolkien, o escritor de O Hobbit e a saga O Senhor dos Anéis. Tolkien é um romance biográfico que nos traz a vida do autor desde os seus tempos de criança, passando pela tragédia da morte de seus pais e seu apadrinhamento por um padre que consegue colocá-lo, junto com seu irmão, para morar com uma senhora muito rica que paga seus estudos em um renomado colégio inglês. Lá, Tolkien (Nicholas Hoult) forma a T.C.B.S. (Tea Club Barrovian Society), um grupo composto por ele e mais três amigos que costumavam se reunir em um clube de chá para discutir os mais diversos assuntos, entre eles, poesia, arte e política.
Conforme Tolkien vai crescendo, seu talento vai aflorando, e vemos ele desenvolvendo seus escritos, criando novas línguas e sendo aceito para estudar clássicos na Universidade de Oxford. Porém, ele perde a bolsa ao não atingir as notas necessárias e percebe que sua verdadeira vocação é com filologia (estudo científico do desenvolvimento de uma língua) e consegue outra bolsa de estudos com o professor de filologia de Oxford.
Tudo parecia bem, mas Tolkien fez uma escolha muito difícil ao aceitar ir para Oxford. Ele abriu mão de seu grande amor, Edith (Lily Collins), uma garota órfã, assim como ele, que foi criada como dama de companhia da senhora rica que patrocinou seus estudos. Edith estava com casamento marcado com outro homem ao ser abandonada por Tolkien, mas aí veio a Primeira Guerra Mundial e tudo mudou.
Durante todo o filme, encontramos referências das obras de Tolkien. Seja nas campinas verdejantes de seu antigo lar onde vivia com sua mãe e irmão, que parecem muito com a descrição do vale dos hobbits, seja na irmandade que criara, nos lembrando muito dos quatro amigos hobbits que estrelam toda a saga O Senhor dos Anéis, ou ainda nas barbáries da guerra, que devem ter sido usadas como inspiração para escrever a grande batalha em Senhor dos Anéis e o Retorno do Rei, último volume da série.
Tolkien tenta nos passar o tempo todo a imensa criatividade do autor biografado com efeitos especiais que dificultam saber o que é real e o que é a imaginação dele, pois há situações em que vemos as coisas pelo olhar dele, e sabemos como é emblemático e peculiar o olhar de um gênio sobre o mundo.
Vemos também o processo de criação das várias línguas usadas na saga, como o élfico e a língua dos anões, e é aí que reside a verdadeira paixão de J.R.R. Tolkien, criar sistemas linguísticos inteiros, mas não somente isso. Assim como ele aprendeu com seu professor de filologia, uma língua sem cultura não quer dizer nada. A língua é a identidade de um povo e carrega história, costumes, tradições, enfim, tudo o que define uma comunidade. Portanto, não pode existir por si só, tem que ter um motivo.
As histórias de Tolkien nasceram ao redor das línguas que ele criou. Cada povo, cada personagem, cada história, cada nome… Ele criava a língua e depois suas ramificações. Como uma fã das obras e do autor, foi fascinante assistir esse processo, coisa que eu nunca achei que aconteceria. Além de conhecer mais sobre a vida de J.R.R. Tolkien, que, aliás, não foi nada fácil, o filme também nos possibilita tentar entender um pouco da sua mente criativa e o jeito diferente que ele via o mundo, como também o processo de criação de uma das obras mais renomadas da contemporaneidade. Vemos a importância que os amigos tiveram em sua vida e, para quem leu as obras, vai ser fácil identificar qual deles corresponde a cada hobbit. J.R.R. Tolkien é o Frodo, obviamente. Tolkien chega aos cinemas brasileiros dia 23 de maio e é uma experiência mágica que vale a pena ser vivida.
Finalmente, eu fui assistir o tão esperado, o tão desejado, o tão aguardado Vingadores: Ultimato! Porém, ao invés de fazer uma crítica como todas as outras, eu decidi comentar realmente o filme, então, esta crítica tem spoilers. Portanto, se você ainda não assistiu o filme e não quer saber de nenhum spoiler, fique longe! Depois, não diga que eu não avisei.
[SPOILER ALERT] Você foi avisado.
Vingadores: Ultimato chegou aos cinemas do Brasil dia 25/04. O filme já bateu recordes de bilheteria logo na pré-venda, com milhares de salas lotadas por todo o país e filas gigantescas para quem estava à procura dos últimos ingressos. São nada mais, nada menos do que 1,2 bilhões de dólares em seu final de semana de estreia. Fora isso, o filme já chegou quebrando vários recordes cinematográficos, entre eles: maior pré-venda da história, trailer mais visto do Youtube, maior lançamento no Brasil e maior bilheteria em um dia nos EUA. Mas a lista segue e, até o momento, foram o total de 16 recordes quebrados.
Já era esperado que esse seria o maior lançamento de todos os tempos, afinal, foram 10 anos e um total de 22 filmes para chegarmos a esse momento. Com mais de três horas de duração, Vingadores: Ultimato não intimidou o público. Eu conheço um blogueiro que, só entre a pré-estreia e o domingo, foi assistir o filme quatro vezes. Recomendo que você assista, pelo menos, duas vezes, pois, na primeira, ficamos emocionados demais para prestar atenção em todos os detalhes. Mas, para quem já assistiu e quer esquematizar melhor todos os acontecimentos, ou, para quem ainda não assistiu e gosta de saber de tudo antes, eu montei uma listinha com tudo que se deve saber sobre Vingadores: Ultimato.
Relembrando, o filme é a continuação do Guerra Infinita, quando Thanos consegue, finalmente, realizar o feito da sua vida e extermina metade da população viva do Universo. Detalhe: os animais também entram nessa conta. Em Vingadores: Ultimato, vamos ter um grupo de Vingadores consideravelmente pequeno, já que uma parte foi exterminada na conta dos 50%, e, a outra metade, está extremamente desmotivada e sem rumo, já que não há mais nada o que fazer além de viver com a derrota e a perda. Só isso já dá um ar mais sombrio para o filme, mesmo com algumas cenas cômicas para manter o padrão Marvel de ser. Talvez seja também a sensação de despedida, mas a vontade de chorar permanece do início ao fim.
[SPOILER ALERT] Essa é a sua última chance de voltar atrás sem maiores estragos. Continue por sua conta e risco.
Agora, vamos à listinha:
Família do Gavião Arqueiro
Vingadores: Ultimato começa com uma cena que podemos considerar como continuação do Vingadores: Guerra Infinita. Clint, o Gavião Arqueiro, está na fazenda com sua família no que parece ser um churrasco de domingo, quando, do nada, todos desaparecem, menos ele. Vemos as características partículas cinzas voando pelo ar e um Gavião totalmente perdido e desorientado, já que ele estava em prisão domiciliar e não sabia de nada do que estava acontecendo. Aí que vemos a importância da revelação da família de Clint em Vingadores: Era de Ultron, coisa que, até então, não foi visto com muita importância, mas serviu para criar uma das cenas mais emocionantes do MCU. Considerando que já levamos esse soco nos primeiros minutos de filme, fica claro que o que ainda está por vir não vai ser nada fácil.
Capitã Marvel
Eu li muitas críticas falando sobre a “pequena” participação da Capitã Marvel diante do tamanho da propaganda. Até cheguei a concordar, mas, quando paramos para refletir, entendemos que o foco não era ela. Seria extremamente injusto dar toda glória para alguém que chegou aos 45 minutos do segundo tempo. Foi preciso contê-la para que o foco fosse dado a quem já estava ali desde o início e eu falarei mais para a frente sobre isso. Carol Danvers salvou o Homem de Ferro de uma morte lenta e dolorosa por falta de comida e oxigênio vagando naquela nave sem rumo, e isso já é algo muito importante, pois, sem o Homem de Ferro, sem final feliz. Já dizia o Dr. Estranho: “Tony, era o único jeito.”
Morte do Thanos
Sim, o Thanos morre. Sua cabeça é gloriosamente cortada pelo Rompe Tormentas de Thor, mas isso não resolve o problema. As joias do infinito viraram pó e foram devolvidas ao Cosmos, e a única coisa encontrada naquela fazenda é um titã velho e doente, totalmente sem propósito, agora que o seu destino fora cumprido e sua filha estava morta. O problema é que, junto com ele, morre também toda a esperança dos Vingadores. Já que, sem as joias, sem jeito de desfazer tudo. Vendo o Thanos daquele jeito, quase conseguimos ver um pouco de humanidade nele. Quase.
Desesperança
Cinco anos se passam desde que a cabeça do Thanos rolou pelo chão de sua cabana suja. Capitão América se dedica a um grupo de apoio para pessoas que perderam alguém na tragédia. Tony Stark resolve viver uma vida normal e constitui família com a Pepper em uma casinha simples no interior, onde cria a sua filha, Morgan. Alguns Vingadores se dividem pelo mundo para ajudar os países a superar a crise, Capitã Marvel vai ajudar outros planetas a superar a crise (fica nítida a diferença, né?), Viúva Negra fica coordenando tudo do antigo QG dos Vingadores, Bruce Benner some e Gavião Arqueiro enlouquece. Nada muito glorioso, mas é compreensível.
Ao perder sua família, Clint resolve limpar o mundo de todos os bandidos que sobreviveram, ocupando o lugar de pessoas inocentes que mereciam viver. Ele incorpora realmente o título “Vingador” e se torna meio que o Batman da Marvel. Já o Thor… Bem, o Thor merece um tópico a parte.
Thor
O grande deus dos trovões, vivo há milhares de anos, aquele digno da magia do Mjolnir e portador do Rompe Tormentas, virou o alívio cômico do filme. Sim, você não leu errado. Depois que o Homem Formiga sai do universo quântico graças a um rato (longa história… Na verdade, não é. Um rato aperta um botão na van que salva o Homem Formiga, simples assim), ele procura os Vingadores com uma ideia de viagem no tempo através do universo quântico. Assim, eles vão atrás do Stark que nega ajuda, depois atrás do Hulk que virou o professor Hulk depois de conseguir juntar sua personalidade com a do grandão verde, e, finalmente, eles vão atrás do Thor.
Thor está vivendo em Nova Asgard, onde reside o que restou de seu povo, trancado em uma casa com dois amiguinhos que conheceu lá no Ragnarok, jogando vídeo-game e se enchendo de cerveja (aquela pança que o diga). Depois da reação de riso inicial, paramos para pensar em por que o Thor ficou desse jeito. Ah, mas ele perdeu o pai, a mãe, o irmão, o reino e, depois de todo aquele sacrifício para fazer o Rompe Tormentas, acertou o Thanos no lugar errado. Porém, eu esperava encontrar o Thor de outra forma. Não sei vocês, mas eu não consigo aceitar que um deus nórdico tão poderoso vai acabar preso em uma cabana brigando com meninos de 13 anos em uma call de um jogo qualquer, enquanto usa uma calça de pijama de flanela.
Achei que ele ficaria mais como o Clint ou que enlouqueceria atrás das joias do infinito, não aceitando a derrota. Não que viraria um barbudo barrigudo e bêbado sem nenhuma credibilidade e condição de fazer nada. Que só aceitou ajudar em troca de mais cerveja e que ameaça cair no choro cada vez que houve o nome do Thanos. Ou sobre a sua mãe. Ou sobre a Jane. Ou sobre qualquer coisa. Mas essa é só a minha opinião.
Capitão América
Finalmente, ele se tornou digno! Ao voltar no tempo para buscar a joia do poder que estava em forma líquida dentro da Jane, assim como vimos em Thor: Mundo Sombrio, Thor traz de volta o Mjolnir, que se mostra de extrema utilidade quando o Capitão América o impulsiona e salva o dia. Bom, não todo o dia, mas salva a vida do Thor. Olha que irônico. A partir daí, os dois revezam as duas armas na grande luta contra o Thanos.
Minha teoria é que o Capitão América só se tornou digno agora porque ele entendeu que não é um soldado, mas sim, um herói, e, diante de tudo o que ele passou, conseguiu evoluir e cumprir a sua verdadeira missão: usar o seu poder para ajudar as pessoas e salvar o mundo, não só obedecer ordens de pessoas que, na maioria das vezes, não se mostraram estar tanto do lado bom.
Aliás, só eu sabia que ele não ia voltar? Assim que o Capitão América pegou as joias para devolver cada uma para o seu tempo depois que tudo já estava ganho e resolvido, eu sabia que ele não voltaria. Foi um final digno para um herói arrancado de seu tempo e do amor da sua vida, voltar e viver a vida tão desejada ao lado da Peggy. Eu queria ter visto mais sobre a vida dele, se teve filhos, se ajudou na criação da Shield. Mas não tem como negar que ver o Steve Rogers velhinho depois de uma vida plena e feliz, e ainda mais entregando o escudo para o Sam continuar o seu legado, foi uma das coisas mais emocionantes que vimos nesses 10 anos.
Homem de Ferro
Muito especulou-se sobre quem morreria, mas já era esperado que o Homem de Ferro sairia da franquia, já que Robert Downey Jr. declarou que não iria mais interpretar o herói no cinema após o final dos Vingadores. Porém, seu final foi muito além do que era esperado. Um final digno para um grande herói que, em seus erros, só queria ajudar e proteger as pessoas. Os dois maiores vingadores tinham que terminar a saga com chave de ouro. Um vivendo a vida que lhe fora roubada, e o outro, dando a vida para salvar a de todos os outros.
“Eu sou o Homem de Ferro”, frase que começou e terminou sua jornada, ao criar sua própria manopla e eliminar Thanos e seu exército, salvando a todos e garantindo que ninguém mais seria exterminado novamente. O velório do Tony Stark foi uma viagem no tempo, uma retrospectiva por esses 10 anos e 22 filmes que marcaram uma geração. Não teria uma partida mais digna e mais heroica que aquela.
É difícil achar uma cena no filme que não mereça ser mencionada, comentada e ovacionada. A guerra final com todos os Vingadores nos faz querer gritar o grito de guerra de Wakanda. Vê-los explicando como o filme “De volta para o futuro” é só uma ficção nos coloca em um looping onde um filme de ficção zomba de outro filme de ficção como se este fosse a realidade e o outro, só uma história.
Eu ainda não entendi muito bem essa coisa da viagem no tempo, mas seria algo parecido como o Flash Point? Você sempre vai voltar para uma realidade alternativa. Ou seria algo mais como você não pode realmente mudar o que aconteceu, cada coisa está acontecendo em uma linha temporal distinta? Enfim, são só detalhes. Também não entendi por que as memórias da Nebulosa do futuro foram parar na cabeça da Nebulosa do passado, o que fez Thanos descobrir todo o plano, ir para o futuro e quase estragar tudo. Também ficou aquela dúvida se o Loki realmente sumiu ao pegar o Tesseract naquela missão fracassada do Homem de Ferro e do Homem Formiga, e se isso vai interferir em algo no futuro. Fica aí uma coisa para se pensar.
Momentos que eu chorei: morte da família do Clint logo no começo, morte da Viúva Negra, todos os Vingadores aparecendo para lutar contra o Thanos através de portais criados pelo Dr. Estranho, exército de Wakanda bradando seu grito de guerra, Homem de Ferro reencontrando o Homem Aranha e o velório do Tony Stark.
É impossível contar toda a história e comentar tudo, pois, além de ser um filme de três horas (coisa, aliás, que a gente nem sente), Vingadores: Ultimato reúne todos os finais de todos os pontos abertos até agora. Portanto, não se culpe ao não perceber tudo logo de primeira. Assista de novo, de novo e de novo. É um filme que vale a pena ser saboreado e degustado aos poucos. Cada referência, cada piada, cada volta ao passado que reviveu cenas épicas dos filmes anteriores merece nossa total atenção. Me pergunto se há algum motivo especial de a Viúva Negra ter sido a escolhida para morrer em troca da joia da alma. Não desmerecendo a personagem, mas foi algo totalmente inesperado.
Viu como há muitas coisas para se pensar? Vingadores: Ultimato segue em cartaz e, pelo o que tudo indica, continuará firme e forte por um bom tempo. Ah, e rompendo a tradição MCU, não tem cenas pós-crédito, o que denota que é mesmo o fim. 🙁
Capitã Marvel chegou aos cinemas mundiais dia 07 deste mês e nós precisamos falar sobre isso. Com 152 milhões de dólares de orçamento, o filme já lucrou os impressionantes US$ 825 milhões ao redor do mundo, o que o faz quebrar o recorde da Mulher Maravilha, com US$ 821 milhões. Com esse número, o filme garantiu a 11ª melhor bilheteria entre os 21 filmes lançados pelo Universo Cinematográfico Marvel (MCU) – deixando para trás produções como Homem-Formiga e a Vespa (623 milhões), Homem de Ferro 2 (624 milhões), Thor: O Mundo Sombrio (645 milhões) e Capitão América 2: O Soldado Invernal (714 milhões). Além disso tudo, Capitã Marvel foi a maior estreia da história de um filme protagonizado por uma mulher e a sexta melhor estreia de um filme de qualquer gênero em todos os tempos.
O primeiro filme do MCU protagonizado por uma mulher conta a história da piloto da aeronáutica americana Carol Danvers que, após a explosão de um motor alienígena, é contaminada com radiação e levada pelos Kree para o planeta deles. Lá, ela se torna uma guerreira Kree treinada e super forte e luta junto com seu esquadrão para manter a paz no universo. O detalhe é que Carol perdeu a memória durante a explosão, não lembra de onde veio nem nada sobre sua vida antes de chegar em Hala, e tudo o que sabe é o que os Kree a contaram. De acordo com eles, há uma raça chamada de Skrull que atua como uma praga no universo destruindo os planetas, e é obrigação dos Kree, como guerreiros heróis, detê-los e garantir a paz. No meio de uma missão que dá errado, Carol, que é chamada em sua nova vida de Vers, se separa do seu esquadrão e acaba na Terra rastreando um Skrull. Assim, ela encontra Nick Fury que, até este momento, não acreditava em extraterrestres e nem passava por sua cabeça que haveria seres superpoderosos por aí que um dia se denominariam “Vingadores”.
Visto como um filme de introdução da Capitã Marvel somente para que haja sentido no seu aparecimento em Vingadores: Ultimato, Capitã Marvel nos conta mais do que era esperado e esclarece várias questões que concordo não serem tão significativas, mas quem nunca quis saber como que o Fury perdeu o olho? Ou como o Tesseract veio parar na Terra? Ou ainda como nasceu a Iniciativa Vingadores? Podemos dizer que Carol Danvers é a “mãe” dos Vingadores, pois, sem ela, o agente Fury não teria descoberto a existência dos alienígenas, testemunhado uma guerra interestelar e visto a necessidade de que a Terra tivesse protetores a altura desse tipo de ameaça. Outra questão interessante neste filme é o nome Marvel, ou Mar-Vell. Não vou entrar em detalhes, pois a graça do filme está em identificar essas referências e ir respondendo as pequenas perguntas que ficaram soltas durante todos esses anos de MCU. Mas alerto sobre uma coisa: fiquem de olho no gato, ele não é o que parece ser!
Desde os quadrinhos do Capitão Marvel lá pelos anos 60 que, curiosamente, era um nome de um herói da DC que virou Shazam! após uma briga judicial, essa é uma das poucas vezes que o nome é dado a uma mulher e podemos ver como uma conquista essa versão ter ganhado os cinemas e integrado o mundo dos Vingadores. Durante as especulações antes do lançamento do filme, muito foi falado sobre a manobra arriscada da Marvel de “apostar no feminismo” para “lacrar”, tanto que uma manchete da época me chamou muito a atenção: Quem lacra, não lucra. Porém, de acordo com os números surpreendentes dessas 2 semanas, não foi isso que aconteceu, não é mesmo? O que podemos ver foi uma aceitação enorme de que uma mulher pode sim ser uma heroína forte e destemida, salvar o mundo, proteger seus amigos e não precisa ter nenhum romance no meio da história. Um filme sobre uma heroína não é um filme de mulher. Ou de homem, pois, para uma mulher salvar o mundo, ela também não precisa estar super sexualizada com uma roupa nada prática, nem fazer o uso da sedução para derrotar seus inimigos. Ela pode ser mais forte, mais rápida e mais esperta que um homem e as curvas do seu corpo não tem nada a ver com isso. Outra cena para ficar de olho: “eu não preciso provar nada para ninguém” – Carol Danvers.
O saldo geral é que Capitã Marvel é um filme excelente que não deixa nada a dever aos outros filmes do MCU. A história mantém o mesmo padrão fluído e cômico, a protagonista é forte, destemida e representa muito bem os heróis Marvel, muitas perguntas são respondidas, muitas referências são feitas e, mesmo sendo um daqueles filmes independentes que só existem para introduzir o herói ao grupo, contrariou todos os pessimistas e se mostrou extremamente necessário. Não podemos esquecer também do sentimento de representatividade que sentimos em Pantera Negra, pois já estava na hora de uma protagonista guerreira e herói que representasse a nós mulheres também no Universo Marvel, e Brie Larson, a ganhadora do Oscar por Quarto de Jack, soube dar vida a essa protagonista como ninguém.
Carol ou Vers não é fofa, gentil, delicada, ingênua, nem ostenta nenhum outro estereótipo atribuído às mulheres. Tanto que podem até dizer que ela é mal humorada por manter sempre sua expressão séria e focada. Não diriam isso se fosse um homem, fica a dica. Ela é uma guerreira, que antes fora uma militar, e se comporta como tal. Ouviu durante toda a sua vida que não deveria ter os sonhos que tem, nem estar nos lugar que está por ser mulher e isso serviu de combustível para sua determinação em subir cada vez mais alto, ser cada vez mais forte e seguir cada vez mais veloz. Alguma semelhança com o Capitão América? Ninguém mais havia resistido àquele experimento, assim como não é qualquer um que aguentaria uma carga radioativa do porte que Carol aguentou, absorveria essa carga e converteria em poder.
Claro que também não posso deixar de falar sobre a linda homenagem a Stan Lee logo na abertura do filme que, ao contrário dos outros, ao invés de mostrar aquela abertura com os quadrinhos da Marvel, mostra quadros das participações de Stan Lee durante todos esses anos, terminando com um “Obrigado, Stan”. Ele também aparece no meio do filme e especulasse que também aparecerá em Homem-aranha: longe de casa.
Capitã Marvel segue o padrão MCU também com as cenas pós-crédito. São duas, uma no começo e outra bem no final, mas bem no final mesmo. Podemos comparar com a cena que quase não apareceu de Homem de Ferro 3. O filme segue em cartaz em todo o país ainda com várias salas e não dá indício de queda de popularidade, o que mostra que sua bilheteria só tende a aumentar e talvez tenhamos mais alguns recordes quebrados. Vale a pena conferir tanto pelo próprio filme que é ótimo, quanto para se preparar para Vingadores: Ultimato que chega aos cinemas dia 26 de abril. Enquanto ficamos na espera, sigamos sempre alto, forte e veloz, baby.
Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega hoje aos cinemas. Algumas sessões foram disponibilizadas entre os dias 13 e 14 e foi em uma delas em que o Beco esteve e traz tudo o mais rápido possível para vocês. Depois de 2 anos, o que esperar da continuação da nova franquia de J.K. Rowling?
Começamos o filme com Grindelwald preso no MACUSA, a espera de sua transferência para o Reino Unido, onde será julgado e enviado para Askaban. Claro que ele consegue fugir ou não teríamos mais filmes e a Segunda Grande Guerra Bruxa teria terminado por aí. Porém, como bem já sabemos pelos livros e filmes de Harry Potter, a franquia original, Grindelwald e Dumbledore têm sua grande luta, onde o futuro diretor de Hogwarts se torna o dono da Varinha das varinhas, então, não sabemos em qual dos próximos filmes isso vai acontecer, mas vai.
Voltando a Animais Fantásticos 2, Newt Scamander continua sendo o nosso herói lufano que, acusado de tentar salvar o Obscurial em Nova Iorque durante o primeiro filme, está impedido de sair de Londres. Vamos aqui dar uma atenção especial a pitoresca casa do Newt: um sobrado tipicamente britânico até você chegar no porão, onde um imenso santuário para criaturas mágicas contendo vários habitats diferentes nos mostra que nosso magizoologista não desistiu de sua missão.
Jacob, Tina e Queenie estão de volta junto com uma gama de novos personagens. Conhecemos Teseu, o irmão de Newt, e Leta, seu antigo amor que agora está noiva de seu irmão (tenso!). Viajamos para Paris atrás de Credence e temos a primeira grande revelação do filme: Nagini. Ela já apareceu no trailer e não há mais surpresa na sua maldição sanguínea que a condenará um dia a ser uma cobra para sempre (como sabemos bem). Ainda não há traços de maldade na jovem Nagini, então não tem como saber como ela virou aliada de Voldemort no futuro, mas talvez, isso será esclarecido mais para frente.
Como já foi especulado, nesse segundo filme fica mais provado que cada um se passará em um lugar diferente. Nova Iorque, Paris… Será que o próximo será no Brasil? Infelizmente, não apareceu nada sobre Beauxbatons como eu estava esperando, e o Ministério da Magia francês só passa rapidamente em uma cena, então, não tem como vermos muito a respeito. O ano é 1927 e a cidade não parece muito diferente da Nova Iorque do primeiro filme, não aparece nem a Torre Eiffel. O máximo de diferente vai ser o equivalente ao Beco Diagonal francês, onde fica o circo em que Credence e Nagini estão presos até conseguirem fugir no início do filme.
Em geral, o filme é ótimo, levando em conta o roteiro original, os efeitos especiais, trilha sonora, ação, romance, e claro, o universo de Harry Potter que nunca deixa de surpreender. Porém, comparado com o primeiro filme, pecou um pouco na falta de conteúdo. A impressão que temos é que Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald é um filme intermediário que está ali somente para nos introduzir aos próximos episódios.
Muitas apresentações de personagens novos, histórias de famílias e uma preocupação enorme com cenas de ação tiraram a fluidez e dinâmica tão presente em Animais fantásticos e onde habitam. Tudo se resume a “onde está Credence?” Os crimes de Grindelwald que é bom, nada. Depois de assistir o filme, o título fica meio sem sentido e nos perguntamos que crimes foram esses? Ele fugiu do Ministério, claro. Matou alguns aurores… Mas, fora isso, vemos um Grindelwald político tentando recrutar bruxos através de uma boa argumentação e um grande poder de persuasão, o que fez o MACUSA até retirar sua língua durante a custódia devido a sua facilidade em recrutar os guardas. Grindelwald realmente acredita que está certo e que tudo está sendo feito para um bem maior e consegue convencer muita gente disso. Nada muito diferente do que já vimos acontecer durante a nossa História.
Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega aos cinemas hoje (15/11) com aproximadamente 2 horas de filme e trazendo uma produção excelente, mas nada tão demais como se era esperado depois de 2 anos de expectativa.
Há sete anos, chegava aos cinemas a versão de David Fincher (diretor de Se7en e Clube da Luta) para a saga Millennium, concebida por Stieg Larsson (1954-2004). Com Rooney Mara (Carol) e Daniel Craig (007 contra Spectre) no elenco e roteiro de Steven Zaillian (A Lista de Schindler), Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres foi aclamado pela crítica e, naturalmente, se esperava uma sequência pelas mãos de Fincher. Porém ela não veio.
Após a morte de Stieg Larsson, David Lagercrantz foi escolhido para dar continuidade à série, escrevendo até o momento mais dois volumes. Pois bem, após três filmes suecos que lançaram a atriz Noomi Rapace (Prometheus) ao estrelato e a versão americana de Fincher, chega aos cinemas Millennium: A Garota na Teia de Aranha, inspirado no livro homônimo de Lagercrantz
Na direção, sai David Fincher e entra Fede Alvarez (diretor de O Homem nas Trevas e da nova versão de A Morte do Demônio). Claire Foy (The Crown) assume o papel da hacker justiceira Lisbeth Salander no lugar de Rooney Mara, e Sverrir Gudnason (Borg vs. McEnroe) substitui Daniel Craig como o jornalista Mikael Blomkvist. Diante de tamanha responsabilidade, a nova equipe não faz feio.
Sem deixar claro se é um reboot ou uma sequência, Millennium: A Garota na Teia de Aranha funciona bem como ambos. Na trama, Salander é contratada por um analista da NSA, Frans Balder (Stephen Merchant, de Logan), para recuperar um programa capaz de controlar todo o arsenal nuclear do mundo. Poderia ser uma missão simples, se um perigoso grupo criminoso, denominado “Os Aranhas”, não estivesse em busca do mesmo software.
(Divulgação/Sony Pictures)
(Divulgação/Sony Pictures)
É evidente a mudança no tom entre os filmes de Fincher e Alvarez. Se no primeiro Millennium a história se desenrolava lentamente, com mais profundidade, o novo filme abraça uma trama mais ágil, enxuta e menos subversiva. A estratégia funciona, e tem tudo pra agradar uma parcela do público mais acostumada com filmes de ação, mas tem seu preço. Os personagens secundários não passam de meros coadjuvantes. E o principal prejudicado é Mikael Blomkvist. Se antes o jornalista dividia o posto de protagonista ao lado de Salander, agora o personagem é apenas um assistente da hacker.
Em contrapartida, Claire Foy não decepciona com sua versão de Lisbeth Salander. É um risco enorme assumir uma figura tão emblemática, ainda mais depois de Rooney Mara ter sido indicada ao Oscar pelo mesmo papel. Porém, com seu olhar expressivo e encarnando o sotaque e os trejeitos da personagem, Claire Foy surpreende e entrega uma Salander com nuances diferentes das exploradas por Mara e Rapace, sem deixar de ser fiel aos livros.
O uruguaio Fede Alvarez entrega uma direção segura, que reverencia na medida o trabalho de David Fincher, como no contraste de luz e sombra e na fotografia de cores mais frias, por exemplo. Mas também dá seu toque autoral, com movimentos de câmera mais subjetivos, cortes rápidos nas cenas de ação e uma atmosfera de suspense e tensão muito bem construída.
Como filme de ação e investigação, Millennium: A Garota na Teia de Aranha cumpre o seu papel. Mesmo deixando pra trás parte do seu viés erudito e abraçando o cinema de entretenimento, o saldo é positivo. Mais acessível, o filme promete conquistar novos fãs. E se o desempenho nas bilheterias for satisfatório, é provável que Lisbeth Salander retorne para uma nova missão em breve.
Estreia hoje em alguns cinemas pelo país Os invisíveis, um filme alemão que fala sobre o nazismo. Depois de algum tempo, já se sabe que muitos alemães não concordavam com as decisões de Hitler e, uma delas, era o genocídio judeu. Este filme fala sobre um assunto que pouco foi tratado até então, os judeus que permaneceram escondidos em Berlim durante o massacre e tiveram que se tornar invisíveis.
Em junho de 1943, o governo declarou Berlim livre de judeus, porém, 7 mil continuaram escondidos, e destes, 1,5 mil se salvaram. Entre eles, conhecemos a história de quatro jovens que, com muita coragem, esperteza e ajuda de alemães que eram contra o regime, viveram até o fim da guerra escondidos no meio da multidão.
O filme intercala dramatização e depoimentos dos quatro judeus já idosos dando detalhes do que viveram e sentiram enquanto lutavam por suas vidas, o que dá mais emoção quando assistimos as cenas. É quase como se pudéssemos sentir o cheiro das ruas, a dor da fome no estômago, o medo…
Paramos para pensar pela primeira vez naqueles que conseguiram fugir das câmaras de gás, mas, apesar disso, não estavam seguros. Eram obrigados a se esconder como ratos, colocando todos ao redor em perigo. Separados de suas famílias e sozinhos, caçados como animais a serem mandados para o matadouro.
Outra parte também muito interessante do filme é conhecermos essa outra face da história, o que nos faz ver que, apesar de sabermos tanto sobre o nazismo e o holocausto, ainda há muito a aprender. Como a história dos judeus que se aliaram aos alemães e entregaram outros judeus, tentando assim poupar suas próprias vidas, mas acabaram também capturados no final.
Porém, o melhor de tudo é ver que, mesmo no meio de um dos capítulos mais sombrios da História, também havia luz. Pessoas boas e dispostas a ajudar dando abrigo e comida, mesmo correndo risco de serem também mandadas aos campos de concentração como traidoras. Quando pensamos em nazismo, logo pensamos nos alemães e em como mataram milhões de pessoas inocentes, mas não pensamos em todos os outros alemães que eram contra isso e fizeram coisas para ajudar.
No filme, vemos um alemão rico que distribuía documentos falsos para judeus escondidos. Vemos um oficial do exército que ajuda duas moças judias as empregando em sua casa como babás de seus filhos. Vemos uma senhora que pinta o cabelo de uma das personagens principais para que ela possa se misturar melhor. Enfim, ao mesmo tempo em que vemos muita dor com todos os perigos e privações, também vemos esperança.
Para mim, a parte mais impactante no filme foi o final quando um dos personagens, o Cioma, já idoso, olha para a câmera com os olhos marejados e nos questiona: Por que eles fizeram isso com tantas pessoas inocentes? Isso é algo que eu nunca vou entender.
Ninguém pensava que aquilo um dia poderia acontecer. Ninguém esperava e, se isso fosse questionado alguns anos antes, seria visto como uma loucura. Mas aconteceu. E isso deve ser lembrado, estudado e questionado infinitas vezes para que o mundo não corra o risco de que algo assim aconteça de novo.
Se pensarmos em todo o contexto histórico, a Alemanha se encontrava em um colapso econômico após a derrota na Primeira Guerra. O povo estava desesperado e Hitler surgiu prometendo resolver todos os problemas e tornar a Alemanha uma potência próspera e bem sucedida, mas claro que alguém deveria ser culpado, o “bode expiatório”. Hitler conseguiu convencer toda uma nação de que esse “culpado” eram os judeus. Os alemães pensavam que Hitler poderia salvá-los. E nós conhecemos o resto da história.
Estima-se que 6 milhões de judeus foram mortos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Seis milhões de pessoas inocentes foram torturadas, queimadas, sufocadas em câmaras de gás até a morte, fuziladas, expostas a experimentos científicos grotescos, estupradas… Por serem consideradas inferiores e impuras só por serem judias. O Cioma não sabe por que isso aconteceu. E eu também não.
Martin Clement, nascido Marvin Bijou, escapou. Ele escapou de uma pequena aldeia no campo. Ele escapou de sua família, da tirania de seu pai e da renúncia de sua mãe. Ele escapou da intolerância, da rejeição e do bullying que sofreu por ser apontado como “diferente”. Contra todas as probabilidades, ele encontrou aliados.
Primeiro, Madeleine Clement, a diretora do ensino médio que o apresentou ao teatro e cujo nome ele adotará mais tarde como símbolo de sua salvação. Em seguida, Abel Pinto, seu mentor e modelo, que irá encorajá-lo a contar sua história no palco. Finalmente, Isabelle Huppert irá ajudá-lo a produzir seu show e trazê-lo para a vida. Marvin/Martin arriscará tudo para criar esse show que representa muito mais do que sucesso: é o caminho para a reinvenção.
Marvin (Marvin ou La Belle Éducation), da diretora Anne Fontaine (Agnus Dei e Coco antes de Chanel), é um filme francês que chega hoje aos cinemas. Estrelado por Finnegan Oldfield, sua principal missão é chocar. Há um tema específico, mas, ao mesmo tempo, não há. É um filme sobre tudo e todos, expondo a hipocrisia humana e essa necessidade quase visceral que temos de estabelecer um padrão e permanecer nesse padrão, não importa o que aconteça. E eu não estou só falando sobre a homossexualidade de Marvin. Este não é nem de longe o choque da história.
Em uma aldeia no interior da França, um menino frágil comparado aos outros de sua idade sofre bullying na escola. Ele é perseguido e assediado porque decidiram que ele era diferente. Quando este menino chega em casa, ele encontra uma mãe que não queria muito estar ali e ser mãe, mas teve que ser para cumprir o que era esperado dela. Ele encontra um pai infeliz e insatisfeito. Ele encontra um irmão mais velho que pensa igual àqueles garotos que o perseguem na escola. Ele está sozinho. Durante quase todas as cenas do filme, vemos Marvin sozinho. Ou melhor, não totalmente sozinho, mas acompanhado de sua tristeza, sofrimento e incompreensão. Cenas silenciosas onde a dor nos olhos do pequeno Marvin diz tudo.
O filme começa com Marvin, agora chamado Martin Clement, como um ator de sucesso com uma peça de sucesso, aparecendo em vários programas de televisão, lançando um livro, enfim, ele chegou lá. Porém, com o decorrer das cenas, alguns flashbacks começam a aparecer, mostrando tudo o que ele passou para “chegar lá”. Definiram quem ele era antes que ele mesmo soubesse e decidisse o que ser. Estigmatizaram, julgaram, perseguiram… E ele estava sempre sozinho.
Até que a diretora do colégio, notando essa solidão, o indicou para o grupo de teatro da escola. E foi no teatro que Marvin encontrou sua válvula de escape, externando tudo o que estava guardado em seu interior por tanto tempo. Encenando seus pais, seu irmão, suas impressões de cada cena que ele havia presenciado. Aliás, a tão famosa peça de teatro que leva Marvin ao estrelato, a qual foi escrita, estrelada e dirigida por ele, nada mais é do que o retrato de sua família e sua vida, dotada de comentários e impressões pessoais, os quais, na época, ele não pôde expressar e, agora, usa o palco e sua arte para colocar para fora quem ele é.
Marvin é um filme intenso devido à sua verdade. Uma verdade nua e crua que choca e incomoda, assim como a maioria das verdades fazem. Quantos Marvins estão por aí vivendo a mesma coisa? Quantas crianças são perseguidas e humilhadas por não se encaixarem em determinado padrão social que definiram para elas? Quem definiu? Por quê? Quem tem a autoridade de definir como a vida de outra pessoa deve ser?
Por mais que o tema principal da história seja um garoto descobrindo sua sexualidade, Marvin vai muito além. Ele nos faz questionar sobre nós mesmos. Somos quem realmente gostaríamos de ser ou o que disseram que deveríamos ser? Somos como a mãe de Marvin que exercia um papel que não a deixava feliz, mas, nascida mulher, era o que “tinha para hoje”? Ou somos como aquela diretora que foi sensível o bastante para notar o sofrimento de um aluno no meio de tantos outros? Enxergamos os Marvins ou fingimos que eles não estão ali em pró do padrão maior? Assista ao filme, encare os olhos de Marvin e responda para si mesmo.
Anomalisa (2015), de Charlie Kaufman, passava pela minha página inicial da Netflix com frequência já há um tempo. E toda vez eu clicava, lia a sinopse e voltava. Por ser uma animação em stop motion, a vontade de ver o filme era grande. Mas eu sempre terminava pensando “não, hoje eu não tô preparada pra esse filme”.
Depois de um tempo lendo a sinopse
“O palestrante motivacional Michael se sente desanimado e isolado, até que ele conhece uma mulher extraordinária que reacende sua paixão pela vida”,
decidi que era hora.
Anomalisa se mostrou exatamente o que eu previa: um filme que precisa de tempo para ser digerido. Fiquei uma semana com ele na cabeça, pensando em cada detalhe, nas emoções que experimentei. Agora acho que consegui reunir algumas partes desse quebra-cabeça e falar em voz alta o que pensei por esses dias.
REALISMO MÁGICO
Mais uma vez, vou recorrer primeiro à literatura. Também conhecido como realismo fantástico ou realismo maravilhoso, o realismo mágico é uma corrente literária que surgiu na América Latina, na segunda metade do século XX, como uma reação aos governos ditatoriais da época.
Essa corrente inclui grandes nomes da literatura como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Jorge Luis Borges.
A principal característica dessa literatura é construir histórias por um viés realista, mas incorporar situações mágicas no cotidiano. O mais interessante é como as personagens reagem àquilo, ou melhor, não reagem. O maravilhoso é tratado como algo banal que faz parte da realidade e não é digno de espanto.
MAS E O FILME?
Fonte: divulgação.
Bom, passada uma semana de reflexão, é exatamente dessa forma que eu definiria Anomalisa – uma excelente expressão de realismo mágico no cinema.
– ALERTA DE SPOILER –
Um dos primeiros elementos a chamar a atenção são as vozes dos personagens. Exceto Michael e Lisa, TODAS as outras vozes (homens e mulheres) foram gravadas pelo ator Tom Noonan. Logo no começo, tal fato causa uma sensação de estranhamento. Depois de alguns minutos, concluí que era exatamente esse o propósito: causar estranhamento.
Olha, eu estava errada. Passados os 90 min de filme, só conseguia pensar em uma frase que um grande amigo sempre diz: “Essa é a magia do cinema!”.
Michael Stone é um personagem melancólico que aparenta estar desanimado de tudo em sua vida: do casamento, do trabalho, das relações. Michael passa por um momento de profunda monotonia. Imagino que sua frase preferida seria “o inferno são os outros”. E é aí que o bagulho fica loco! As vozes! As vozes causam monotonia! Elas causam também estranhamento, mas é exatamente assim que Michael enxerga a vida: como se todos fossem a mesma pessoa, nada de novo, tudo sempre igual.
No final, Michael retorna para casa e é surpreendido por uma festa de aniversário. Sua esposa diz que “todo mundo veio vê-lo”, as pessoas o cumprimentam, mas Michael não reconhece ninguém.
O filme é todo pontuado por esses momentos em que o extraordinário se insere no banal. A única questão que me incomodou um pouco foi o fato de o filme, em alguns momentos, tentar explicá-los. Seria interessante deixar todo o enigma para o espectador.
Em uma cena, Michael sai do banho e seu rosto se contorce em várias expressões, a música fica mais tensa, e as coisas voltam à normalidade quando ele ouve vozes no corredor. Mais para frente, em um diálogo, Michael diz que não consegue chorar, que seu rosto se contorce, mas ele não consegue chorar.
O ponto alto do filme é a relação do protagonista com Lisa Hesselman. Naquele mundo de vozes (e rostos) iguais, Lisa se destaca. Sua voz é diferente e doce. Os dois vivem uma noite agradável, bebem, se divertem e transam. Ao acordar, Michael decide que deixará sua esposa por aquela mulher. Durante o café da manhã, ao propor a Lisa que os dois fiquem juntos, enquanto a personagem concorda em ficar com Michael, sua voz vai se transformando até ficar igual a dos outros personagens.
O inferno não são os outros, mas está dentro de Michael. A partir do momento que algo pode se tornar rotineiro, ele se cansa e cai em monotonia.
Anomalisa segue a tendência dos filmes de Kaufman, como Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004): é um olhar para dentro em que o estado psicológico dos personagens pode ter representações no mundo exterior mas, ainda assim, é o interior o que mais intriga.
Uma das poucas críticas negativas que encontrei falava que Kaufman não apresenta soluções, só mostra o problema. Mas não é esse um dos papéis da arte?
Fazer com que lancemos um olhar para nós mesmos enquanto vemos, na tela, a dor do outro?
Os incríveis 2 chega finalmente aos cinemas brasileiros dia 28 de junho, mas a animação já quebrou recordes em sua estreia mundial que foi ontem (18/06). Com US$ 231,5 milhões em bilheteria – US$ 180 milhões apenas nos Estados Unidos -, Os incríveis 2 superou Procurando Dory, até então a líder de bilheteria das animações com US$ 135 milhões. Mas os recordes não param por aí. A animação se tornou a terceira maior estreia de 2018, atrás apenas de Vingadores: Guerra Infinita (com US$ 257,6 milhões) e Pantera Negra (com US$ 202 milhões). Está bom ou quer mais? Sim, tem mais. Não satisfeita, Os incríveis 2 ainda ficou entre as oito maiores estreias do cinema americano, ficando até na frente do live-action A Bela e a Fera. Valeu à pena esperar 14 anos, hein?
A história começa exatamente no final do primeiro filme, com o Escavador invadindo a cidade e a família Pêra toda unida e uniformizada combatendo o crime. Então, só para esclarecer, não teve aquela passagem de tempo que costumam colocar nos filmes quando demoram muito para lançar a continuação, ou seja, na animação, não passaram os 14 anos que se passou no mundo real. As crianças ainda são crianças, os super heróis ainda são ilegais e o Sr. Incrível ainda continua sem um emprego.
Acontece que salvar a cidade do Escavador não deu muito certo e, agora, os super heróis são até procurados pela polícia como criminosos, e a família Pêra acaba escondida em um hotel. O filme poderia parar aí extremamente triste e pessimista, mas, como em toda boa história, um milionário admirador de heróis aparece para salvar o dia. Sim, no maior estilo fada madrinha, o tal milionário leva toda a família para uma mansão super tecnológica e contrata a Mulher Elástica para atuar em seu plano de mudar a lei que transforma os super heróis em criminosos para que eles possam atuar novamente. Hein? A Mulher Elástica? Sim, a Mulher Elástica. O plano do milionário é financiar um super herói para que ele possa combater o crime e mostrar que super heróis são bons, necessários e que a lei deve ser revogada. E, para isso, ele decide que a Mulher Elástica é a melhor opção porque, segundo um estudo cheio de gráficos, ela apresenta mais chances de resultados positivos com menos estragos do patrimônio público.
É neste ponto que vemos a primeira mudança que nos salta aos olhos, apesar de dever ser vista como algo normal e corriqueiro, mas, infelizmente, não é. A animação mostra a mãe saindo para trabalhar e o pai ficando com os filhos em casa. Mostra a frustração do Sr. Incrível por não poder ser o provedor da família naquele momento e até uma certa inveja do sucesso da esposa que se mostra totalmente capaz de desempenhar a mesma função de super herói que ele. O filme aborda as mesmas piadas que já foram muito vistas em comédias românticas sobre os pais que não aguentam a rotina das mães e se descabelam na primeira crise e, infelizmente, isso ainda causa graça.
Vemos um pai despreparado, uma mãe preocupada em deixar a casa e os filhos sob a supervisão dele e, em pleno século XXI, ainda sentimentos estranheza nessa situação e ainda achamos engraçado um pai não saber trocar uma fralda. Ainda achamos comum e justificável a preocupação e a culpa da mãe por não estar lá para ajudar no dever de casa de matemática ou achar os sapatos perdidos. Ainda sentimos pena do pai que não consegue dormir direito e se atrapalha todo ao preparar o café da manhã. Coisa que toda mãe deve saber fazer com maestria porque não faz mais do que sua obrigação, não é?
Porém, podemos dizer que, graças às conquistas do século XXI, esse tipo de assunto é exposto em uma animação infantil, mostrando que a mãe também trabalha fora e o pai também troca fraldas, algo inimaginável há poucos anos atrás. Os incríveis 2 segue a evolução dos filmes de super heróis que tem abordado mais as heroínas femininas e mostrado que salvar o dia não é um trabalho só para os homens. Assim como os contos de fadas que vem mostrando que as princesas não precisam de um príncipe para escreverem sua própria história e nem de um casamento para alcançarem o seu felizes para sempre.
O enredo é envolvente e coerente apesar de ter se passado tanto tempo, mas não se pode dizer que há um motivo em questão de qualidade e tecnologia para ter sido preciso 14 anos para que a animação fosse feita, apesar do que nos levou a crer vários memes no Facebook. A mensagem também é crucial e necessária de ser discutida. Infelizmente, ainda tem que ser discutida, mas ainda bem que pode ser discutida. O desfecho também é brilhante e mostra que cada um pode ocupar o seu lugar sem ter que diminuir ou tirar o lugar do outro e que super heróis, mais do que salvar o dia, trazem esperança de um dia melhor e nos inspiram a ser melhores. Por fim, o saldo geral é que valeu muito à pena esperar esses 14 anos.
O filme Eu não sou um homem fácil (Je Ne Suis Pas un Homme Facile) da diretora francesa Eléonore Pourriat tem chamado a atenção desde sua estreia no site de streaming americano Netflix. O filme parte da premissa que o machão Damien, interpretado por Vincent Elbaz, sofre um pequeno acidente e acorda num mundo em que os papéis de gêneros foram invertidos e as mulheres ocupam agora o lugar de dominância na sociedade.
Por se tratar de uma comédia com um que de besteirol o enredo retrata o machismo com muita leveza, entretanto as críticas são escrachadas. Damien logo no começo é assediado por uma mulher em seu ambiente de trabalho e é compelido a mudar todo seu físico para se encaixar e voltar para o mercado de trabalho. Além disso todos os personagens homens nesse novo mundo representam exatamente os estereótipos femininos são todos dóceis, frágeis e subordinados enquanto as mulheres são fortes e cheias de virilidade.
As referenciais sutis das cenas também são muito provocativas, como por exemplo a parte em que as mulheres estão jogando pôquer e a carta da rainha é mais forte que a do rei e vence a partida mostrando que a figura feminina é forte naquele universo paralelo em todos os âmbitos. Outra passagem interessante são os beijos trocados por Damien e Alexandra (Marie-Sophie Ferdane) em que a máscula escritora levanta o protagonista contra a parede num gesto claro de dominação.
Por não ser uma produção americana certos aspectos da cultura francesa tornam o filme ainda mais interessante como por exemplo o padrão de beleza dos personagens. Tanto Damien quando Alexandra não seriam personagens considerados extremamente atraentes numa criação estadunidense, entretanto isso só deixa a narrativa ainda mais verídica uma vez que retrata uma sociedade muito genuína uma vez que não se engessa nos moldes hollywoodianos.
“Eu não sou um homem fácil” é aquele tipo de comédia que poderia ter três horas de duração que ainda sim haveriam assuntos para serem abordados. Os personagens não têm toda aquela profundidade, estão mais presos ao momento do que a suas individualidades, mas mesmo assim faz sentido dentro do contexto criado pelo enredo. Com opiniões ácidas posicionamentos bem claros, o filme de Eléonore é aquele tipo de entretenimento leve, mas o mesmo tempo conscientizador de domingo a noite.